Apesar de ter sido publicado na conhecida coleção de FC portuguesa e ser de autoria de um dos maiores escritores do gênero, o livro pode ser enquadrado mais facilmente na categoria fantasia, ainda que seja possível imaginar-se que a ação se passa numa Terra paralela ou alternativa, na qual o rumo dos acontecimentos seguiu de forma um tanto diferente. Malacia é uma cidade com milhares ou milhões de anos de idade, em que nada é alterado. Os habitantes falam de Constantinopla, mas na cidade vivem seres com asas, existem caçadas a animais ancestrais que, pelas descrições, assemelham-se aos répteis de grande porte do período Jurássico. Existe até mesmo uma região de caça chamada Jurácia. Qualquer tentativa de alterar a sociedade, de introduzir melhoramentos ou aparelhos modernos, é punida com a morte, ainda que nada seja muito explícito. A narração é feita na primeira pessoa por Perian de Chirolo, um ator que, como todos os habitantes de Malacia, vive de forma superficial, bebendo, divertindo-se, fazendo amor e traindo os amigos. Até que entra em contato com uma espécie de resistência ao sistema, que procura introduzir modificações e derrubar a classe dominante composta por nobres sem escrúpulos. Em meio a sacerdotes, magos, previsões e visões de um outro mundo, Chirolo muda seu modo de pensar. Uma beleza de história.

(Capa: A. Pedro)