Mundos em Guerra

Mundos em Guerra

Há mais de 100 anos, os marcianos chegavam à Terra pela primeira vez. E vinham com intenções nada amigáveis. O responsável pela invasão chamava-se H.G. Wells, no livro A Guerra dos Mundos, um clássico absoluto da FC que deu início a uma série de tentativas de conquista.

Gilberto Schoereder

Em 1898, o grande e até então imbatível Império Britânico via a situação inverter-se. Naves e mais naves chegavam de Marte e davam início à tentativa de conquista violenta da Grã-Bretanha e, por tabela, da Terra.
O livro de H.G. Wells, a Guerra dos Mundos, tinha um tom de crítica política, como quase tudo o que fez, e deu origem a uma quantidade impressionante de livros sobre invasões de seres alienígenas ao nosso planeta, com as mais variadas intenções. Os "monstros de olhos esbugalhados", uma espécie de simplificação dos marcianos de Wells, tornaram-se um clichê da FC de pior qualidade, especialmente nas histórias pulp dos anos 1920 e 30. E, ainda hoje, temos de lidar com seres gosmentos de toda espécie tentando nos dominar ou exterminar.
No livro, os seres humanos encontram-se pela primeira vez diante da possibilidade da extinção total e absoluta, mas H.G. Wells deixa bem claro que o ser humano fez o mesmo com várias espécies animais. E mais, que o próprio exército britânico agiu de maneira semelhante com relação aos povos que conquistou pelas armas.

Ainda que A Guerra dos Mundos não tenha sido a primeira invasão alienígena da FC, ela definiu as bases para praticamente tudo o que foi feito posteriormente. A primeira invasão citada nos livros sobre o gênero foi publicado em 1892, pelo australiano Robert Potter. Trata-se de The Germ Growers, em que os aliens são capazes de assumir a forma de bactérias humanas. Mas, enquanto o livro e o seu autor foram esquecidos, Wells continua como um marco na literatura.
Os mesmíssimos marcianos tentaram mais uma vez invadir nosso planeta 40 anos depois. Dessa vez, mudaram a trajetória e iniciaram pelos EUA, causando uma onda de pânico que entrou para a história. Estamos falando da fantástica narração promovido por Orson Welles em 1938, no programa Mercury Theatre on the Air, da rádio CBS. Inventando uma nova forma de contar a história de H.G. Wells, ele narrou a invasão em estilo jornalístico, como se ela estivesse de fato ocorrendo naquele instante, com cobertura de repórteres enviados ao local de pouso, efeitos sonoros e tudo a que tinha direito.

Orson Welles, transmitindo seu famoso programa de rádio.

Centenas de ouvintes – ou milhares, segundo algumas fontes – acreditaram que Marte realmente estava iniciando uma invasão à Terra e saíram às ruas em desespero, espalhando a confusão e causando inúmeros problemas. Orson Welles chegou a ser processado por isso, mas passou à história como a mais famosa transmissão de rádio de todos os tempos.
Uma reação ainda mais violenta ocorreu em 1949, quando a rádio HCQRX, de Quito, no Equador, produziu a sua própria versão de Guerra dos Mundos. Muitos ouvintes entraram em pânico, como ocorrera nos EUA, mas quando ficaram sabendo que não se tratava de notícias verdadeiras, uma multidão enfurecida atacou o prédio onde se situava a estação de rádio e queimou-o, matando 15 pessoas.
Uma nova versão da transmissão clássica de Orson Welles foi produzida em 1988, pela National Public Radio dos EUA, comemorando seus 50 anos. O narrador escolhido foi Jason Robards, e uma série de inovações tecnológicas foram utilizadas. O roteiro original também sofreu adaptações e, evidentemente, o programa não teve a mesma repercussão.

Insistentes
Tendo sido derrotados pela segunda vez, os marcianos tentaram mais uma invasão, dessa vez em 1953, também descendo inicialmente na Califórnia, nos EUA, bem perto de onde Gene Barry estava passando suas férias. Foi o ano do filme A Guerra dos Mundos (War of the Worlds), dirigido por Byron Haskin e produzido pelo especialista no gênero, George Pal. Dessa vez, eles trocaram as máquinas invasoras – que no livro de Wells locomoviam-se sobre três pés – trazendo sofisticados discos-voadores esverdeados, capazes de disparar raios com poder de destruição jamais visto.

Guerra dos Mundos, o clássico.

Pela terceira vez foram derrotados, não por nossa astúcia, mas pelos germes terrestres, que afetam mortalmente seu organismo. Mas a história ainda não havia terminado. Eles retornaram em 1988 no seriado para TV A Guerra dos Mundos. Teve curta duração, apesar de ter estreado em alta nos EUA. Parte da crítica não gostou do seriado, mas foi um dos mais interessantes que surgiram na época. A CIC Vídeo lançou duas fitas, uma com o especial de abertura (Ressurreição), a outra com dois episódios.

A série da TV, que foi apresentada em 1988.

A história deu continuidade ao filme de 1953, imaginando que os corpos dos marcianos mortos foram mantidos guardados em silos especiais, assim como suas naves espaciais. A confusão volta ao planeta quando alguns marcianos revivem, conseguem assumir a forma humana, e reiniciam suas atividades para tentar enfraquecer a humanidade. Querem suas armas e tecnologia de volta, e um grupo de terrestres une-se para combatê-los.
O custo por episódio era bastante caro para a época, cerca de 680 mil dólares, gastos principalmente nos efeitos especiais e na reconstrução das naves, mantendo o visual daquelas utilizadas no filme de Haskin. Na segunda temporada, a ação tornou-se mais violenta, com a chegada de uma segunda leva de invasores, mais violentos, também capazes de assumir a forma humana, mas sem deixar que eles deteriorassem rapidamente, como acontecia antes.

Os marcianos da série de TV, em contato com o Eterno.

Esses invasores são conhecidos como Morthren, uma entidade em contato com o Eterno, uma presença semelhante a um deus, que guia suas ações. Para não perder tempo, eles acabam com os aliens que já estavam por aqui, por sua incompetência, e iniciam um trabalho de clonagem de seres humanos. Infelizmente, o seriado não teve uma conclusão adequada.