A Noite dos Mortos Vivos (Image Ten).
Existe um consenso entre os críticos e estudiosos dos filmes de terror e ficção científica de que A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968), dirigido por George A. Romero, mudou completamente a maneira de se entender e abordar os filmes de zumbis.
O filme foi realizado com um pequeno orçamento, cerca de 114 mil dólares, e com o tempo tornou-se o filme independente mais lucrativo da história, além de ser uma das mais impressionantes estreias de um diretor na história do cinema do gênero.
O roteiro foi escrito pelo próprio Romero com John Russo, e parte do pressuposto de que um foguete que retornava de uma missão a Vênus é detectado como carregando algum tipo desconhecido de intensa radiação e, assim, é destruído. No entanto, a tal radiação tem um efeito nos mortos, fazendo com que eles revivam e passem a atacar os vivos para comer sua carne. Ao longo do filme é estabelecido que eles só podem ser mortos destruindo seus cérebros, algo que seria repetido em centenas de filmes posteriores.
Duane Jones e Judith O'Dea.
Esses ainda são zumbis lentos e não muito fortes, mas resistentes e persistentes, também mostrando possuir algum tipo de inteligência, utilizando objetos para quebrar janelas ou atacar pessoas.
A maior parte da ação se passa dentro de uma casa, onde se refugiam Barbra (Judith O’Dea), cujo irmão foi morto por um zumbi em um cemitério próximo, Ben (Duane Jones), que conseguiu fugir de um grupo crescente de zumbis e acaba se tornando o líder das ações e a pessoa mais equilibrada do grupo; além deles, escondem-se na casa um casal com uma filha que foi atacada e ferida pelos zumbis, e um jovem casal.
A escolha de manter os personagens cercados na casa é correta, não apenas para manter a tensão crescente com a ameaça exterior, mas também elaborando uma tensão interna cada vez mais explícita.
Os críticos Tom Hutchinson e Roy Pickard (em Horrors, a History of Horror Movies, 1983), disseram que o filme revolucionou nossa forma de olhar para os mortos-vivos, além de dar um novo ímpeto ao gênero. Segundo eles, ainda que o filme levante algumas abordagens sociais acerca da falta de humanidade entre as pessoas, tem uma abordagem bem visceral.
A jovem zumbi Karen (Kyra Schon) alimentando-se do papai Harry (Karl Hardman).
John McCarty (em Splatter Movies, 1984), disse que a produção de Romero é o primeiro “splatter movie” a ganhar uma verdadeira reputação, abrindo caminho para diretores como Sean Cunningham, Wes Craven, David Cronenberg e tantos outros.
Para Phil Hardy, “(...) A força do filme está na forma como seu enredo básico (...) é levado até sua conclusão com uma lógica implacável e ironia sutil, no caminho reduzindo cada clichê que construiu. Assim, para pegar dois exemplos, o herói (Jones) faz tudo correto, mas em vão, enquanto a heroína (O’Dea), uma vez imobilizada pelo choque, permanece assim pelo resto do filme”. Hardy ainda diz que “A genialidade de Romero está na forma como ele constrói a tensão ao longo do filme – enquanto os zumbis crescem em quantidade, parecendo impossíveis de seres detidos – até que a sensação de terror se torna absoluta, intensificada pela rapidez com que seus personagens desmoronam sob o estresse de sua situação recém-descoberta. A ironia final do filme, Jones sendo atingido por engano por um civil armado, tem um tom similar àquele em Sem Destino (Easy Rider, 1969)”.
Peter Dendle rasga elogios ao filme, dizendo que “Romero é o Shakespeare dos filmes de zumbis, e esse é o seu Hamlet. Um dos poucos filmes de terror a fazer uma contribuição permanente além do gênero (sem considerar Hitchcock) A Noite é, de forma merecida, reverenciado tanto por críticos quanto pelo público”. O crítico diz que a tensão é implacável, e “(...) não existem tramas românticas paralelas ou interlúdios cômicos, mas apenas uma sensação crescente de impotência e claustrofobia”. Segundo Dendle, o pequeno orçamento pode ser percebido em vários aspectos da produção, mas o que mais sobressai é o firme controle do ritmo e do suspense, “(...) e o abandono desavergonhado das convenções genéricas (rapaz encontra moça, adolescentes não conseguem convencer as autoridades, os protagonistas descobrem as fraquezas dos monstros, etc.)”.
Curiosamente, a palavra “zumbi” não é utilizada em momento algum do filme, mas sim a palavra “ghoul”, mais relacionada com demônios. E a ideia central do filme não foi inspirada por alguma história de zumbis, mas pelo clássico Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 1954), de Richard Matheson, ainda que não tenha sido creditado no filme, mas apenas citado por Romero e Russo após a estreia.
E, ainda que ao final do filme não se tivesse uma ideia exata do que aconteceria a seguir, frequentemente o filme é apontado como um dos primeiros a encenar um “apocalipse zumbi”. E, ainda que não tenha sido exatamente o primeiro, como foi comentado nas matérias anteriores, certamente foi o que mais influenciou o subgênero que viria a fazer imenso sucesso e continua sendo amplamente produzido até hoje.
Despertar dos Mortos (Laurel Group/ Dawn Associates).
A sequência só surgiria 10 anos depois, com Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978. No Brasil, na versão em VHS da Castle Filmes, também com o título Zombie, o Despertar dos Mortos). O roteiro também ficou a cargo de George Romero, e Dario Argento, o famoso diretor italiano de filmes de terror, participou como coprodutor e com a trilha sonora.
Se em 1968 algumas pessoas ficaram horrorizadas com as cenas gráficas de A Noite dos Mortos Vivos, em 1979 não devem ter se espantado tanto com a carnificina e a quantidade de sangue e vísceras mostradas explicitamente em Despertar dos Mortos. Afinal, os filmes de terror da década de 1970 certamente prepararam a audiência para tanto.
Aqui, os zumbis de Romero continuam lentos, muito lentos, e fracos, geralmente vencendo pela simples quantidade absurda e sempre crescente de mortos vivos, às vezes soterrando suas vítimas enquanto arrancam pedaços de seus corpos e criam mais zumbis, nos mais variados graus de decomposição, graças às maquiagens e efeitos especiais de Tom Savini, que também faz uma ponta como líder de uma gangue de motociclistas criminosos.
E, enquanto o filme original não tinha qualquer traço de humor, esse é recheado de humor, ainda que sempre acompanhado de cenas violentas. E a crítica social que surgiu um tanto timidamente no primeiro filme, aqui é mais clara. Em alguns lugares do país, os próprios cidadãos se organizam, mais ou menos, e caçam os mortos vivos enquanto confraternizam e fazem festas à beira da estrada, praticando tiro ao alvo nos zumbis que se deslocam lentamente pelos campos, aparentemente totalmente alheios à situação extrema em que o país (e talvez o mundo) se encontra, com a situação tornando-se rapidamente irreversível.
O filme já inicia como se fosse uma sequência dos eventos descritos anteriormente, com um caos instalado em uma emissora de TV, com todos tentando entender o que está acontecendo na cidade, alguns não acreditando na explicação de que os mortos estão se erguendo e andando, atacando os vivos e comendo seus corpos, transformando as pessoas em zumbis, sempre em número crescente. Um pequeno grupo resolve fugir em um helicóptero e acabam se refugiando em um shopping center, entendendo que, ali, poderão encontrar todos os recursos de que necessitam, ainda que muitos zumbis estejam perambulando pelas ruas do shopping, e muitos mais começam a se amontoar do lado de fora.
Gaylen Ross, David Emge, Ken Foree e Scott H. Reiniger tentando sobreviver no shopping.
A lentidão dos zumbis dá às pessoas uma falsa sensação de segurança, de modo que eles fazem suas “compras” como se fosse uma brincadeira, atraindo zumbis de um lado e deslocando-se rapidamente para outro. Mas, é claro, não se trata de uma situação simples com a qual se pode brincar.
E também é um passo além na elaboração do apocalipse zumbi apenas sugerido no primeiro filme, ainda que nem todos os críticos concordem com isso. Phil Hardy disse que, visto da perspectiva de que a trilogia inicialmente imaginada por Romero era mostrar os zumbis tomando o controle do mundo, “(...) o filme, que termina com os mortos-vivos ainda desenfreados, é um fracasso, simplesmente porque eles são totalmente comuns como indivíduos e, como grupo, representam nada mais do que uma ameaça contínua à ordem estabelecida. Certamente, eles nunca foram concebidos como representando qualquer tipo de nova ordem social”.
A crítica parece fora de lugar, uma vez que, certamente, Romero – ou qualquer outro diretor de filmes de zumbis – jamais pensou nos zumbis como elementos capazes de criar uma nova ordem social (isso iria acontecer no livro A Menina Que tinha Dons, de M.R. Carey, em 2014, comentado na matéria Apocalipse Zumbi). Os zumbis são o elemento que destrói a ordem existente, que cria rupturas quase impossíveis de serem reparadas, além de criar uma tensão nos grupos sociais, inclusive exibindo mais claramente as diferenças entre eles, além de libertar os demônios interiores das pessoas.
Peter Dendle disse que “Romero esperou onze anos antes de fazer sua sequência a Noite dos Mortos Vivos e, justamente quando parecia que a onda dos zumbis tinha quase desaparecido, ele inaugurou uma segunda onda, de proporções ainda maiores, com sua alegoria social reflexiva e divertida”, apresentando a epidemia zumbi já espalhada além do controle e a sociedade em processo de colapso total. Para Dendle, o filme representou um divisor de águas na evolução do filme de terror, unindo as características dos filmes dos anos 1970 à ação mais agressiva dos filmes splatter dos anos 1980.
Richard Liberty, como o dr. Logan, fazendo suas experiências com os zumbis em Dia dos Mortos (United Film Distribution Company/ Laurel Entertainment Inc.).
Romero daria sequência à série com Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985), mais uma vez com efeitos e maquiagens de Tom Savini. A ação aqui concentra-se em uma base subterrânea onde alguns poucos militares e cientistas tentam sobreviver e realizar experiências com os zumbis. Na verdade, um cientista, bastante excêntrico, realiza experiências terríveis com os zumbis, tentando encontrar uma forma de controlá-los, enquanto os militares, sem qualquer tipo de organização ou respeito à ordem, querem matar todos os zumbis e ir embora daquele lugar, onde se sentem presos.
Joseph Pilato.
Eles têm armas e um helicóptero, e uma parte da base tem ligação com uma espécie de caverna na qual centenas, ou milhares de zumbis, se encontram. Eles atraem os zumbis para uma pequena entrada, como gado, para pegá-los para as experiências do médico alucinado. O militar no poder é tão louco e extremo quanto o cientista, e logo se vê que a tensão entre o grupo não vai acabar bem.
Peter Dendle disse que o filme, ainda que seja o menos popular da trilogia, em muitos aspectos é o mais refinado e sofisticado. “Os elementos de terror”, ele disse, “são eclipsados pelas explorações sobre a fisiologia e psicologia social dos zumbis e relações interpessoais entre os humanos. (...) O filme se aprofunda na natureza da civilização, encapsulando no nível microcósmico a inabilidade das pessoas em concordarem até mesmo nas prioridades e valores básicos”.
Sherman Howard, como o zumbi Bub, dando uma olhada no livro Salem's Lot, de Stephen King.
O filme também apresenta pelo menos um zumbi, Bub, fruto das experiências do médico doidão, que apresenta sinais de inteligência e até mesmo de sentimento, e que tem participação no confronto final do filme.
Apesar das críticas extremamente favoráveis de Peter Dendle, as atuações prejudicam muito o filme, o que já havia acontecido com o anterior. Muitas vezes a postura dos personagens é, na melhor das hipóteses, caricata, com ações exageradas que diminuem o impacto das cenas. E, certamente, é o mais visceral dos três filmes, com os zumbis rasgando carnes, arrancando cabeças e dividindo corpos ao meio, com órgãos espalhados por todo lado.
Patricia Tallman na refilmagem A Noite dos Mortos Vivos (21st Century Film Corporation/ Columbia Pictures).
Tom Savini, responsável pelos efeitos e maquiagens dos filmes anteriores, foi o escolhido para dirigir A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1990), a refilmagem do clássico de 1968, com roteiro do próprio George Romero e produção de John A. Russo.
Tony Todd, como Ben, tenta conter o avanço dos zumbis.
O filme seguiu de perto a história original, com pequenas alterações, como referências ao primeiro filme e modificações nos personagens. Peter Dendle cita também algumas sutis transformações referentes a mudanças ocorridas na sociedade desde 1968, como quando o personagem Ben (Tony Todd) tentar fazer barricadas na casa e só encontra madeira compensada. A personagem Barbara (Patricia Tallman) deixa de ser a mulher prostrada do filme original e passa a ser a mais capaz de sobreviver, e a animosidade entre Ben e Harry Cooper (Tom Towles) é colocada de maneira explícita como territorialidade masculina.
Peter Dendle ainda disse que “De qualquer forma, finalmente, após quase 60 anos e mais de 130 filmes de zumbi, alguém (Barbara) finalmente observa: ‘Eles são tão lentos – nós podemos simplesmente caminhar e passar direto por eles’.”
(Strike Entertainment/ New Amsterdam Entertainment/ Metropolitan Filmexport/ Toho-Towa).
Uma refilmagem de Despertar dos Mortos surgiu em 2004, com Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead), com direção de Zack Snyder e roteiro de James Gunn (que iria dirigir os filmes Guardiões da Galáxia), adaptando o original de Romero e mais orientado para ação. A produção envolveu empresas dos Estados Unidos, Canadá, Japão e França
A enfermeira Ana (Sarah Polley) e seu marido Luis (Louis Ferreira) chegam em casa e vão dormir, sem ter a oportunidade de se informar sobre estranhos acontecimentos ocorrendo na cidade. Pela manhã, uma menina da vizinhança entra no quarto deles, já transformada em zumbi, e mata Luis, que se transforma imediatamente e ataca Ana.
Ela consegue fugir e encontra sobreviventes tentando escapar dos zumbis em número cada vez maior. E eles se refugiam em um shopping center, onde já se encontram seguranças tentando conter o avanço dos zumbis. Eventualmente, mais sobreviventes juntam-se ao grupo e eles enfrentam inúmeras dificuldades com os mortos-vivos e nos relacionamentos entre eles. Depois de muita ação e muitas mortes, alguns deles conseguem fugir em direção a uma ilha que, para azar deles, está infestada de zumbis.
Jake Weber, Sarah Polley, Ving Rhames, Mekhi Phifer, Inna Korobkina, Michael Kelly e Kevin Zegers.
Foi uma produção bem cuidada e cara, e teve sucesso imediato de público. Os filmes de zumbis já vinham tendo um “renascimento” bem sucedido com Extermínio (28 Days Later, 2002) e Resident Evil: O Hóspede Maldito (Resident Evil, 2002), e Madrugada dos Mortos foi ainda melhor em termos de bilheteria, de certa forma impulsionando o gênero “apocalipse zumbi” que tomou conta do cinema nos anos seguintes. Peter Dendle disse que essa refilmagem deixa de lado a lenta elaboração de suspense e opta pela ação frenética. “A contínua tensão dos personagens e a fúria imparável dos mortos-vivos, sob a condução efetiva do diretor estreante Snyder, assegurou que o filme – como seu antecessor 25 anos antes – se tornasse icônico para toda uma década de cinema zumbi”. Para o crítico, depois desse filme, os zumbis velozes estavam aqui para ficar.
A multidão de zumbis, cercando os veículos dos sobreviventes.
Os zumbis são uma multidão, cercando o shopping em números tão grandes que é quase impossível sair. As filmagens incluem ainda imagens panorâmicas da cidade, de tal forma que podemos ter a exata noção de que a coisa está feia mesmo, com incêndios por toda parte. “Muitos filmes de zumbis”, diz Dendle, “querem transmitir a impressão da civilização entrando em colapso; este faz com que você acredite”. E os zumbis, além de terem a agilidade e energia daqueles em Extermínio, parecem ter uma força extra, talvez devido ao próprio vírus que os transformou, ainda que, como explica Dendle, assim como nos filmes de Romero, aqui também nenhuma explicação fisiológica para o fenômeno seja fornecida.
Além dessas diferenças, o filme não flerta com o humor, como o original, e apresenta zumbis que são realmente uma ameaça, implacáveis e violentíssimos; aqui, não é possível simplesmente andar entre eles para escapar.
(Universal Pictures/ Atmosphere Entertainment MM/ Romero-Grunwald Productions/ Wild Bunch/ Rangerkim).
Em 2005, foi a vez do próprio George Romero voltar ao tema, com Terra dos Mortos (Land of the Dead), dessa vez recebendo um orçamento maior para trabalhar e contando com os sucessos recentes dos filmes de zumbis. Enquanto os três primeiros situavam a ação durante ou logo após a epidemia que tomou conta do mundo, esse se passa alguns anos depois, com sobreviventes habitando em uma cidade isolada e cercada por mortos vivos.
Os zumbis estão mais espertos dessa vez, obtendo formas cada vez mais engenhosas para entrar na cidade e liquidar os humanos. E, é claro, continuam as tensões internas entre os humanos, com alguns aproveitando-se da situação para obter mais e mais poder. Os ricos isolam-se e levam uma vida opulenta, enquanto os demais lutam por sua sobrevivência.
As alterações de comportamento dos zumbis são uma espécie de continuidade ao que Romero apresentou em Dia dos Mortos, com os seres repetindo movimentos que faziam quando eram vivos. Como não têm mais quem comer, já que os humanos quase desapareceram, eles ficam andando de um lado para outro, indo a lugares dos quais se lembram e tentando pateticamente repetir atividades que tinham antes de se transformarem.
Big Daddy (Eugene Clark) lidera os zumbis.
Peter Dendle entende que os comentários sociais de Romero como a luta de classes, críticas ao capitalismo e referências à administração Bush, parecem distantes e grosseiros para a época, que exibia filmes saturados de excitação em ritmo acelerado, como os citados Extermínio e Madrugada dos Mortos. Ao final do filme, o líder dos zumbis, Big Daddy (Eugene Clark), leva os zumbis para um local diferente, e o líder dos humanos resolve não lançar um ataque com mísseis contra eles, dizendo que, como os humanos, os zumbis estão apenas tentando encontrar um lugar para onde ir. “Se isso for verdade”, diz Dendle, “então é um importante desvio de seu impulso inato de procurar por carne humana, visto nos três filmes anteriores de Romero. Parece forçado. Romero até gera simpatia por Big Daddy ao fazer com que ele não coma ninguém, de novo um desvio de comportamentos estabelecidos. Será que essas mudanças representam uma sutil evolução dos zumbis e uma nova fase para o desenvolvimento do mito, ou clara inconsistência do roteiro com o objetivo de deixar transparentes posições ideológicas?”
(Artfire Films/ Romero-Grunwald Productions).
O filme seguinte de Romero foi Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007), e não é uma sequência ao filme anterior, mas uma espécie de releitura dos primeiros dias da epidemia zumbi. Segue um grupo de estudantes que está filmando seu próprio filme de terror quando os mortos começam a reviver como zumbis, e um dos membros do grupo começa a filmar os acontecimentos.
O resultado é um filme com técnica bem diferente de seus trabalhos anteriores, com a famosa narrativa do ponto de vista de quem está filmando, e com aquelas imagens tremidas que se tornaram comuns em tantos filmes da época, em particular nos chamados “filmagens encontradas” (found footage). Na mesma época, estavam sendo produzidos Zumbis: Os Mensageiros do Apocalipse (The Zombie Diaries, 2006), [REC] (2007) e Cloverfield: Monstro (Cloverfield, 2008).
Romero havia dito em entrevista à revista Cinema Blend que queria fazer um filme sobre as mídias que estavam surgindo e, assim, fazer algo não muito caro e simples, de forma que o filme se referisse aos primórdios dos zumbis. Peter Dendle disse que o filme gasta mais tempo nos elementos de suspense e terror (retornando às raízes de Noite dos Mortos Vivos), em oposição aos filmes anteriores, mais orientados para ação e enredo.
(Blank of the Dead Productions/ Devonshire Productions/ New Romero/ Sudden Storm Productions).
A série de filmes com os zumbis de Romero se encerra com A Ilha dos Mortos (Survival of the Dead, 2009) que, apesar de ter seus defensores e admiradores, é um filme muito inferior aos anteriores. Com exceção de alguns poucos momentos de humor negro, nada funciona a contento; a história nada acrescenta ao universo que ele elaborou; os personagens são fracos; as interpretações são ruins; e as críticas sociais que sempre marcaram seus filmes, não têm força.
A história situa-se após o mundo inteiro ter sido atingido pela praga que criou os mortos-vivos, e um conflito se instala em uma pequena ilha dos Estados Unidos, envolvendo dois homens que mais parecem ter saído de um faroeste. Um deles pretende liquidar imediatamente todos os que se tornaram zumbis, enquanto o outro, seguindo algum desígnio de sua religião, pretende mantê-los vivos, aguardando que uma cura seja descoberta. Ao mesmo tempo, alguns militares, agora totalmente por conta própria, são atraídos à ilha e envolvem-se no conflito.
Mais favorável ao filme, Peter Dendle diz que a abordagem de Romero, apesar de ser distante dos filmes de zumbis, e de seus próprios filmes, apresenta uma boa história com novas dinâmicas interessantes na exploração dos zumbis como criaturas, especialmente quando ele continua a apresentar a possibilidade de que os zumbis possam não apenas evoluir, ainda que lentamente, mas ser ensinados a terem determinados comportamentos não agressivos contra os humanos. Mas, no geral, é um filme inferior.
Segundo informações, aquele que seria o sétimo filme com zumbis de Romero foi anunciado pelo próprio Romero em 2017, com o título Twilight of the Dead, mas o projeto foi suspenso devido à morte do diretor, no mesmo ano. Recentemente, voltou-se a falar sobre a produção do filme que, tudo indica, deverá ser finalizado em 2023.