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VIAGENS NO TEMPO E NO ESPAÇO

ESPECIAIS/VE VIAGENS NO TEMPO

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data05/10/2017
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Interestelar.

Na ficção científica, com alguma frequência é utilizado o recurso da viagem para o futuro a partir da realização de viagens espaciais a velocidades próximas à da luz. Como exemplo, pode-se imaginar uma pessoa viajando numa nave espacial para algum ponto distante 25 anos-luz da Terra, uma velocidade de 98% a velocidade da luz. Pela marcação de tempo da Terra, a viagem iria durar 51 anos, mas para quem estiver na nave, a viagem vai durar 10 anos. Se imaginarmos viagens de ida e de volta – como já foi mostrado em algumas histórias do gênero – o passageiro (ou passageiros) iria retornar a um planeta bem mais envelhecido do que ele.

Uma viagem no tempo bem interessante foi apresentada no livro O Vagabundo das Estrelas (L’Orphelin de Perdide, 1958), do escritor francês Stefan Wul (pseudônimo de Pierre Pairault, 1922-2003). Ainda que Wul não esteja entre os grandes escritores do gênero, o conceito é interessante, iniciando a história no planeta Perdide, repleto de perigos, onde um pai e seu filho de quatro anos, Claude, tentam escapar de uma horda de insetos imensos. O pai tenta entrar em contato com seu amigo Max, pedindo ajuda, mas morre, deixando o menino sozinho com um receptor, com o qual ele começa a conversar com Max, que tenta alcançar o planeta.
Depois de enfrentar vários problemas e viagens espaciais, Max consegue chegar a Perdide, apenas para descobrir que 100 anos se passaram e, agora, o planeta já está colonizado. Max percebe que, ao viajar a 99% da velocidade da luz, criou um lapso de tempo entre a nave e o garoto que pretendia resgatar.
No caminho para Perdide, Max faz uma parada em um planeta, onde encontra um antigo amigo, Silbad, um sujeito já envelhecido que no passado tinha sido atacado por uma das imensas vespas de Perdide e, por isso, tinha uma placa de metal na cabeça. Silbad acompanha Max e mantém contato com o garoto, contando histórias a ele. Quando chegam a Perdide e Silbad fica sabendo do lapso de tempo que foi criado, tem um ataque cardíaco. Max descobre que o garoto Claude tinha sido criado por um amigo, Bader, que tinha encontrado e salvado o jovem de um ataque de vespas. Claude perdeu a memória e passou a ser chamado Sylvain Bader, mas era conhecido como Silbad.

                                                                                                                                               (Télécip/ TF1 Films Production).

A adaptação para o cinema, no desenho animado O Garoto do Espaço (Les Maîtres du Temps, 1982), foi dirigida por René Laloux – que já havia adaptado outra história de Stefan Wul em 1973, com Planeta Fantástico (La Planète Sauvage). O desenho é mais interessante do que o livro, não apenas pelo trabalho de Laloux, mas também pela presença de Moebius, que assinou o roteiro junto com Laloux e Jean-Patrick Manchette, e também foi responsável por boa parte das ilustrações.
O filme teve poucas exibições no Brasil, restritas, nos anos 1980, a um pequeno circuito alternativo. E, até onde se sabe, não foi lançado em vídeo ou em DVD.



O escritor polonês Stanislaw Lem (1921-2006), mais conhecido por seu clássico Solaris (1961), também imaginou uma viagem espacial como uma viagem no tempo, para o futuro, em Regresso das Estrelas (Powrot z Gwiazd, 1961), e elaborou a história como forma de apresentar o contraste entre duas épocas distintas e as possibilidades de uma sociedade utópica.

Capa da primeira edição polonesa (Czytelnik).

A história segue a jornada de Hal Bregg, astronauta que partiu da Terra em uma missão a Fomalhault – estrela que fica a cerca de 25 anos-luz da Terra. Quando retorna, apenas 10 anos se passaram para ele, mas 127 anos na Terra, de modo que ele encontra uma sociedade completamente diferente daquela que tinha deixado.
Aparentemente, é uma sociedade perfeita, sem guerra, sem violência, e com tantos avanços tecnológicos que Bregg mal consegue acompanhar. Por outro lado, a história começa a revelar outros aspectos dessa nova sociedade, estagnada, sem vontade e impulso necessários para novas iniciativas. Os seres humanos passaram por um processo que neutraliza seus impulsos agressivos e, como consequência, eles também não se arriscam. Até mesmo a exploração espacial que Hal tanto preza passa a ser vista como um risco desnecessário, pertencente a uma época em que a humanidade agia por impulsos infantis.
 

Anita Kajlichova, Milos Kopecký, Otomar Krejca e Vít Olmer, em O Homem do Século XXV (Filmové studio Barrandov).

Outro que retorna a uma Terra modificada é o personagem Joseph (Milos Kopecky), no filme O Homem do Século XXV (Muz z Prvniho Stoleti, 1961), produção tchecoeslovaca em ritmo de comédia, dirigida por Oldrich Lipsky. Joseph acidentalmente lança uma nave ao espaço, com ele dentro. Ele retorna à Terra no ano 2447, e junto com ele vem um ser de outro planeta, encontrando um planeta bastante modificado e dominado pelas máquinas. Eventualmente, ele consegue retornar para 1962.
O diretor é praticamente desconhecido no Brasil, mas o filme teve pelo menos uma apresentação em circuito alternativo.

 

Uma história bastante conhecida na ficção científica é a do livro Tau Zero, de Poul Anderson, com a viagem da nave espacial Leonora Christine. Ela partiu da Terra levando 50 pessoas, homens e mulheres, para colonizar um planeta distante. Para os viajantes, deslocando-se a uma velocidade próxima à da luz, deverão se passar 5 anos, enquanto na Terra se passarão 33 anos. A ideia é passar metade da viagem acelerando, e a outra metade desacelerando, mas as coisas começam a dar errado quando os motores da nave são avariados e a tripulação não consegue consertar.

                                                                                                                                                          Capa da primeira edição (Doubleday).

Assim, a tripulação faz com que a nave continue a acelerar, para que possam deixar a Via Láctea e poder realizar os consertos necessários. Claro que a velocidade cada vez maior faz com que aumente também a velocidade da passagem do tempo do lado de fora. Eles chegam a um ponto em que entendem que, no momento em que eventualmente conseguirem encontrar um planeta para viver, a humanidade não mais existirá.
Além das questões (e problemas) técnicos e científicos apresentados no livro, e com detalhes, a história também procura lidar com os problemas dos tripulantes, não apenas enclausurados na nave por muito tempo, mas sabedores de que certamente serão os últimos representantes da raça humana, com implicações no comportamento de cada um deles.
Não me lembro ou tenho conhecimento de qualquer história sobre viagem no tempo realizada devido à dilatação do tempo que vá tão distante no futuro, chegando ao momento de contração e de novo big-bang do universo.
 

Frank Aletter e Jack Mullaney como os astronautas em contato com a tribo pré-histórica em Viagem no Tempo (Redwood Productions/ Gladysya Productions/ United Artists Television).

Duas produções utilizam a ideia de naves viajando a velocidades próximas ou maiores do que a da luz para apresentar viagens no tempo, mas para o passado, o que não tem absolutamente nada a ver com o conceito apresentado em Tau Zero e outras histórias do gênero.
No seriado Viagem no Tempo (It’s About Time, 1966-1967. No Brasil também conhecido pelo título Os Astronautas), criado por Sherwood Schwartz, dois astronautas (interpretados por Frank Aletter e Jack Mullaney), viajam mais rápido do que a luz e são enviados para a pré-história, onde se tornam amigos de homens das cavernas. A série teve apenas 26 episódios e, é claro, tratava-se de uma comédia leve, no mesmo tom da série mais famosa de Schwartz, A Ilha dos Birutas (Gilligan’s Island, 1964-1967).
Eventualmente, os astronautas conseguem retornar ao seu tempo e levam com eles alguns dos humanos pré-históricos. É uma grande bobagem, é claro, com dinossauros convivendo com os humanos e muitos outros clichês.

Mais interessante, mas igualmente realizando uma viagem incompreensível para o passado, é Jornada nas Estrelas 4 – A Volta Para a Terra (Star Trek 4 – The Voyage Home, 1986. Posteriormente, recebeu o título Jornada nas Estrelas 4 – A Volta Para Casa), dirigido por Leonard Nimoy, e com toda a turma da série Jornada nas Estrelas clássica.
A maioria dos críticos concorda que esse é o melhor filme da série, bastante divertido e bem dirigido. No século 23, uma sonda espacial alienígena aproxima-se da Terra causando imensos problemas com um sinal desconhecido. Primeiro, consegue apagar todas as comunicações e cortar a energia de estações no sistema solar; depois, ameaça a existência do próprio planeta, provocando alterações climáticas catastróficas.
Descobre-se que a sonda está enviando um sinal ao mar, semelhante ao som produzido pelas baleias jubarte, aguardando uma resposta que não chegará jamais, uma vez que no século 23 as baleias estão extintas; ao que tudo indica, os extraterrestres estiveram na Terra milhares de anos atrás e perceberam a existência das baleias, e estavam retornando para averiguar seu desenvolvimento.
Para salvar o planeta, a Enterprise resolve fazer uma viagem no tempo, para o ano 1986, para tentar capturar pelo menos uma baleia e levá-la para o futuro, para que a sonda alienígena tenha sua resposta.


A tripulação da Enterprise, perdida em São Francisco e tentando "passar despercebida" (Paramount Pictures/ Industrial Light & Magic).

Claro que não existe uma explicação plausível para a Enterprise conseguir realizar a viagem para o passado, e retornar ao seu tempo, mas isso é apenas um detalhe num filme delicioso que, apesar dos momentos de tensão e da mensagem ecológica, tem seus momentos de humor, especialmente quando os tripulantes do futuro entram em contato com a sociedade do século 20.

Recentemente, o filme mais interessante a realizar uma viagem no tempo utilizando uma nave espacial foi Interestelar (Interstellar, 2014), dirigido por Christopher Nolan, e um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos muitos anos.
Um buraco de minhoca surge nas proximidades de Saturno, num momento em que a Terra está passando por seus momentos finais, exausta, assolada por tempestades de areia e com as colheitas já incapazes de sustentar a população. Os cientistas percebem que a passagem no espaço poderá levar naves espaciais a uma galáxia distante, onde podem existir planetas habitáveis, o que será a salvação da espécie. Mas, é claro, a viagem implica em deixar para trás a vida e os familiares, uma vez que ao se aproximar do buraco, o tempo passará de forma diferente para os astronautas e para quem vive na Terra.


(Paramount Pictures/ Warner Bros./ Legendary Entertainment/ Syncopy/ Lynda Obst Productions).

É assim que o astronauta Cooper (Matthew McConaughey) consegue, ao atravessar para outra galáxia e, eventualmente, retornar para o sistema solar, consegue reencontrar sua filha, agora já uma senhora idosa, próxima da morte.
O filme também poderia estar inserido na categoria das histórias com “arcos fechados no tempo”, uma vez que Cooper percebe que a passagem no espaço foi aberta por meio de manipulação temporal realizada por humanos do futuro. Assim, eles possibilitam que a raça sobreviva e se desenvolva para, no futuro, abrir uma passagem no tempo para salvar a si mesma.
É um grande filme, quase uma raridade nas grandes produções do gênero hoje em dia, com os efeitos especiais sendo utilizados para sustentar a história, e não como o ponto central da produção.