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5 FILMES ANTIGOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA E TERROR – ÀS VEZES ESTRANHOS, OUTRAS VEZES NÃO MUITO BONS – QUE ME ASSUSTARAM E ALEGRARAM QUANDO EU ERA PETIZ, MAS AGORA NEM TANTO

FILMES/Matérias

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data20/09/2018
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A Mosca da Cabeça Branca (Twentieth Century Fox).

5 FILMES ANTIGOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA E TERROR – ÀS VEZES ESTRANHOS, OUTRAS VEZES NÃO MUITO BONS – QUE ME ASSUSTARAM E ALEGRARAM QUANDO EU ERA PETIZ, MAS AGORA NEM TANTO.


Bom... o título curtinho já explica quase tudo. Acho que assisti a esses filmes na televisão. Pelo menos não me lembro de ver algum deles no cinema. Como eu era, como disse, um petiz, um pequenino Gilbertinho, na década de 1960, não deve ter feito muita diferença. Mesmo porque os filmes mais antigos, da década de 1950, já tinham saído de cartaz.
Lembro que foram filmes que me impressionaram bastante, mas que revistos anos depois não se mostraram tão interessantes e nem um pouco assustadores. É uma mostra não apenas de como as crianças são facilmente impressionáveis, mas também de como os efeitos especiais mudaram no cinema; ou ainda como as crianças mudaram. Sei lá, mil coisas.
Os filmes são apresentados em ordem cronológica.


O MISTÉRIO DA TORRE (The Maze, 1953)
Eu conheci o filme com esse título, que recebeu na apresentação na TV. Hoje, também é conhecido como O Terror da Torre. Não sei por que não traduziram simplesmente como “O Labirinto”, já que é o título original e, adivinhem, tem um labirinto no filme.
A direção é de William Cameron Menzies, que começou sua carreira como diretor de arte – e considerado entre os melhores – e começou a dirigir nos anos 1930. Já vinha de dois trabalhos bem considerados com Daqui a Cem Anos (Things to Come, 1936), da história de H.G. Wells, e Invasores de Marte (Invaders From Mars, 1953).

Veronica Hurst e Katherine Emery chegando à mansão do sapo (Allied Artists Pictures).

Mas esse é realmente demais. Tem uma atmosfera bem carregada e uma história estranhíssima – que também pode ser traduzida como sendo “sem pé nem cabeça”, baseada em livro de Maurice Sandoz. Richard Carlson – bastante conhecido por seus filmes de FC e o herói de Veio do Espaço (It Came From Outer Space), um clássico do diretor Jack Arnold, no mesmo ano – interpreta o herdeiro de um castelo na Escócia, para onde é chamado pouco antes de seu casamento com Veronica Hurst. Como ele não retorna, ela vai atrás dele, apesar dele tê-la advertido para não segui-lo. Ao chegar ao local, ela descobre que o noivo envelheceu prematuramente e que o local é repleto de mistérios, entre eles um labirinto com um lago no centro. À noite, pessoas desconhecidas reúnem-se no local.
A tia da noiva, que a acompanhou na viagem, é quem consegue ver o monstro do filme, um homem-sapo, um ser com mais de 200 anos de idade e que, à noite, circula pelo castelo e pelo labirinto, e que nada mais é do que o ancestral de Carlson.

O sapão, no momento em que escorrega na escada e (imagino) arrebenta o joelho.


O filme foi rodado em 3-D e tem momentos muito bons, principalmente porque Menzies é um diretor competente. O crítico Phil Hardy diz que o filme sofreu bastante com a falta de recursos financeiros, o que pode ser percebido pelos “efeitos especiais”: o sapão é um caso à parte. Fico imaginando o infeliz mal pago que se candidatou a uma ponta no filme e lhe disseram que ele iria vestir uma roupa de sapo feita pela tiazinha do departamento de figurino – departamento provavelmente composto por ela mesma e mais ninguém – e ficar andando de quatro por um castelo. E o sujeito aceitou. Tem uma cena lamentável em que o sapo é escorraçado escada acima e o infeliz mal pago escorrega e dá uma joelhada num degrau, mas tem de continuar subindo. E os caras nem mandaram refazer a cena.

 


GUERRA ENTRE PLANETAS (This Island Earth, 1955)
O filme dirigido por Joseph Newman tem seus admiradores, até mesmo entre críticos considerados. Mas, vamos combinar, não dá para ver, sem rir, os cabeções dos alienígenas se passando por humanos, ou mesmo as interpretações caricatas dos heróis terrestres.

Quem não desconfiaria de um sujeito com essa aparência e com conhecimentos científicos muito além dos terrestres? Jeff Morrow como Exeter, o testudo (Universal International Pictures).


O filme foi baseado no livro This Island Earth (1952), de Raymond F. Jones, por sua vez publicado em três partes na revista Thrilling Wonder, entre 1949 e 1950. A história, se alguém ainda não conhece, não é muito complicada. O planeta Metaluna está em guerra com o planeta Zagon, e enfrenta problemas com o campo de força que defende sua última cidadela, o que significa que eles estão levando um cacete. À procura de novas fontes de energia, procuram ajuda na Terra. Para isso, disfarçam-se de terrestres e contratam vários cientistas para ajudar nas pesquisas. Rex Reason interpreta o cientista dr. Cal Meacham, é o último a chegar ao local onde os demais cientistas se encontram, mas logo desconfia que algo não está muito certo. Pelo tamanho das testas dos alienígenas, seria de se desconfiar de cara.
Os aliens tentam obter a ajuda dos terrestres na boa, mas quando encontram dificuldades se tornam mais violentos. Seja como for, o cientista e a dra. Ruth Adams, interpretada por Faith Domergue – uma presença constante em filmes de ficção científica da época – são levados a Metaluna pelo alienígena Exeter (Jeff Morrow). Eles chegam tarde demais, e o campo de força foi destruído, de modo que o planeta será destruído pelos inimigos de Zagon. Exeter tem uma última boa ação e ajuda os terrestres a retornarem ao seu planeta antes da destruição. As cenas finais da destruição foram filmadas por Jack Arnold, que certamente tem em seu currículo filmes muuuuito melhores do que este.

Rex Reason e Faith Domergue, sendo levados para Metaluna.


Depois de ver a “revisão” do filme em O Filme Mais Idiota do Mundo (Mystery Science Theater 3000: The Movie, 1996), fica difícil não achar engraçado. Meu maior problema foi mesmo com os aliens, com aquelas testas monstruosas e seus cabelos brancos; e, é claro, com a atuação de canastrão de Rex Reason.
Entre a crítica, como disse, tem defensores, mas também há quem não goste. Adam Roberts, no livro A Verdadeira História da Ficção Científica (Ed. Seoman), recentemente publicado no Brasil (não percam!), disse que “(...) é um filme estranhamente desequilibrado”, considerando que dois terços dele representam um mistério com bom ritmo, realizado com sobriedade (apesar das testas gigantes). Para o final o ritmo muda e surgem até os impagáveis “monstros de olhos esbugalhados” típicos da ficção científica mais popular da época. Mesmo Phil Hardy, um defensor do filme, considera que, na superfície, trata-se um exemplar perfeito da ficção científica chamada space opera, com direito a uma guerra interplanetária e os monstros de olhos esbugalhados. Mas também diz que no fundo o filme apresenta um tema profundamente perturbador.
Lá nos anos 1960, como já disse, achei bem perturbador mesmo. Mas já passou.


A MOSCA DA CABEÇA BRANCA (The Fly, 1958)
Um bom exercício: assistir a A Mosca da Cabeça Branca e, em seguida, assistir a A Mosca (The Fly, 1986), dirigido por David Cronenberg. É bom para perceber como o mundo mudou em menos de 30 anos. E não estou falando apenas da ficção científica, mas de uma visão bem mais inocente do mundo. E, claro, também dos filmes do gênero. Em 1958 seria impensável, por exemplo, apresentar um cientista que, ao fazer experimentos de transferência de matéria e começar a ficar muito poderoso, aproveita para transar incansavelmente, como ocorre com o cientista interpretado por Jeff Goldblum na versão mais recente. E, claro, de novo, também um, digamos, realinhamento das especulações científicas que são a base da história.

A esposa se desespera diante do cientista com cabeça de mosca (Twentieth Century Fox).


O filme de 1958 foi dirigido por Kurt Newman, que faleceu no mesmo ano, e teve roteiro de James Clavell, que ficaria muito famoso com seu livro Shogun (1975). E foi um imenso sucesso de bilheteria, originando duas sequências: A Volta da Mosca da Cabeça Branca (Return of the Fly, 1959) e A Maldição da Mosca (Curse of the Fly, 1965), ambas inferiores.
Para quem ainda não conhece a história, David Hedison – que ficaria mais conhecido como o Capitão Lee do seriado Viagem ao Fundo do Mar – interpreta o cientista Andre Delambre, realizando experiências de transmissão de matéria num laboratório montada em sua própria residência. As coisas não saem exatamente como ele previa, pois uma mosca se intromete no processo. Resultado: ele fica com uma cabeça imensa de mosca, além de um braço moscão; e a mosca fica com uma cabecinha humana e um bracinho de cientista.
A esposa do cientista (Patricia Owens), apesar de horrorizada com o resultado, tenta ajudá-lo a reverter o processo, mas para isso precisam encontrar a mosquinha com cabecinha de cientista, e não conseguem.

Cena clássica: o terror da esposa visto pelos olhos multifacetados do cientista-mosca.

O crítico Phil Hardy diz que o final infeliz é atípico dos filmes de Hollywood, e é verdade. O cientista fica meio doidão e precisa ser morto pela própria esposa, e de uma forma bem violenta: ela põe a cabeçorra do marido-mosca numa prensa e a esmaga.
A mosquinha com cabeça humana acaba sendo encontrada pelo irmão do cientista (Vincent Price), quando ele está no jardim e ouve uma vozinha humana pedindo ajuda. Price vê que a mosca está presa numa teia de aranha, prestes a ser devorada. O Inspetor Charas (Herbert Marshall), que investigava o caso, destrói teia, aranha e mosca com uma pedra.

Pouco antes da pedrada final, a mosca- cientista pede ajuda.


É verdade que toda a ideia é bem ridícula e foi utilizada de forma mais apropriada no filme de Cronenberg. Mas me lembro daquela cena final, com aquela cabecinha de David Hedison na mosca, pedindo: “me ajude, me ajude”. Foi arrepiante. Mas já passou.


 


FORÇA DIABÓLICA (The Tingler, 1959)
Esse não apenas tem Vincent Price, um dos maiores nomes do gênero em todos os tempos, mas ainda a direção e produção de William Castle, um dos produtores que mais inventou truques para atrair e amedrontar o público nos cinemas, e com Força Diabólica não foi diferente.
O filme foi rodado em preto e branco com um orçamento extremamente pequeno, e foi lançado em DVD no Brasil (Columbia Pictures). Como disse na abertura, eu vi na TV, lá pelos anos 1960, à noite, com medo, muito medo. A história apresenta Price como o dr. Warren Chapin, um patologista que descobre que os seres humanos tem dentro de si um parasita que se alimenta do medo. Na verdade, ele só se desenvolve em situações de extremo pavor, crescendo rapidamente e apertando a espinha das pessoas, matando-as. É o “tingler”, ou o “arrepio”, na dublagem da época, ou ainda a “coisa que espeta”, numa tradução literal. Parece uma centopeia gigante, nojentona. Ele percebe que a forma de matar o bicho, ou mesmo impedi-lo de se desenvolver, é gritar.

Vincent Price, também passando maus momentos com o "arrepio" (Columbia Pictures Corporation/ William Castle Productions).

O doutor não é exatamente um sujeito muito equilibrado e resolve que precisa de qualquer maneira tirar o bicho de uma pessoa para continuar com seus estudos. Mas se a pessoa grita ao sentir medo e impede o arrepio de se desenvolver, como fazer para obter um? A resposta vem quando um sujeito pede que ele trate sua esposa doente. Ela é surda e muda, ou seja, será incapaz de gritar quando sentir medo.
Os críticos gostam do filme – e ele é bem legal mesmo, ainda que não assuste tanto hoje em dia. Michael Weldon (em The Psychotronic Encyclopedia of Film) escreve que “William Castle descobre o grito primal e faz um filme de truques brilhante e lendário”. Phil Hardy (em The Aurum Film Encyclopedia: Horror) diz que este é o melhor filme de Castle, ainda que muito do crédito se deva ao roteiro de Robb White, um colaborador regular de William Castle em filmes como Macabro (Macabre, 1958), A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill, 1959), 13 Fantasmas (13 Ghosts, 1960) e Trama Diabólica (Homicidal, 1961).

A dona do cinema, sendo assustada até a morte (Judith Evelyn).

A mulher objeto da pesquisa “científica” dirige um cinema localizado abaixo do apartamento do médico, especializado em filmes mudos. E, para o marido, não vai ser um problema, uma vez que ele quer se livrar dela, o que faz criando situações aterrorizantes. O médico recebe permissão para extrair o arrepio, mas o bicho escapa, indo parar no cinema. E é aí que entram os truques de William Castle, no processo que ele chamou de “Percepto”. Ele sempre tinha um nome para seus truques. Esse consistia em ter alguns assentos do cinema em que Força Diabólica era exibido aparelhados com equipamentos que emitiam um zumbido e um choque suave. No momento em que o arrepio foge para o cinema, ele mata o projecionista, e no cinema real a tela e o cinema escureciam e um narrador gritava que o arrepio estava no cinema e podia estar debaixo das cadeiras, e pedia que todos gritassem, o que, é claro, a audiência fazia.
Stephen King, ao falar sobre o filme em seu livro Dança Macabra, lembra que os truques eram absurdamente ridículos, mas que funcionaram, “apesar de certamente ajudar o fato de eu estar com onze anos quando o assisti”, ele completa. King também lembrou de Castle como o rei dos artifícios. “Foi ele, por exemplo”, diz King, “quem criou a ‘Apólice de Seguros Contra Sustos’, de 100 mil dólares; se você caísse duro em meio à exibição do filme, seus herdeiros receberiam o dinheiro. Depois houve o grande artifício ‘Enfermeiras de Plantão em Todas as Exibições’, e ainda o ‘Deve-se Conferir a Pressão Arterial no Vestíbulo Antes de Assistir a Esse Filme Tenebroso’ (esse foi usado como parte da promoção de A Casa dos Maus Espíritos), e toda sorte de outros artifícios”.

O "arrepio" mata o projecionista, antes de iniciar a bagunça no cinema.


Phil Hardy diz que a apólice de seguro ocorreu em seu filme de estreia, Macabro, e que era de mil dólares. A Casa dos Maus Espíritos foi anunciado como sendo mais impressionante do que o processo 3-D, mas na verdade o que havia era um esqueleto preso por fios rodando por cima do público. Em 13 Fantasmas era o sistema “Illusion-O”; o público recebia um cartão com dois visores quadrados de plástico transparente coloridos: o vermelho era para ver os fantasmas; o azul para removê-los da tela. E muito mais.


MIL SÉCULOS ANTES DE CRISTO (One Million Years B.C., 1966)
Esse eu revi faz pouco tempo, e é uma lástima. Mas imaginem o seguinte: lá pelos anos 1960 e início dos 1970 (de novo), os pôsteres eram uma febre entre a molecada. Era pôster de tudo: mulherada, carros, bandas de rock, imagens da Terra, da Lua, psicodélicas, surrealistas, flores, planetas, pessoas famosas. Tinha de tudo mesmo. Na Rua Augusta havia pelo menos uma loja (que eu me lembre) que só vendia pôsteres, e eu às vezes comprava lá. E, é claro, eu tinha o pôster com a famosa pose de Raquel Welch de biquíni, nesse filme (além de outras atrizes preferidas da época, como Barbara Bouchet).

Raquel Welch, na pose famosa para o pôster (Hammer Films).


Trata-se de uma refilmagem da produção O Despertar do Mundo (One Million B.C., 1940), com Victor Mature e Carole Landis, que também já tinha muitas pernas à vista, mas nada que se compare com o desfile de moda desta produção.
O filme teve os efeitos especiais de Ray Harryhausen, um dos maiores nomes da área, um inovador, mas eles são insuficientes para dar qualquer credibilidade à história. Para início de conversa, imagina que os humanos primitivos conviveram com os dinossauros, o que é um erro de cálculo gigantesco. Ninguém fala nada no filme; são apenas grunhidos, o que deve ter sido um alívio para os atores que têm dificuldade em decorar as falas, para não falar do roteirista, que ganhou um turu para não escrever diálogos.
Tem a tribo das rochas e a tribo das conchas. E uma infinidade de situações em que eles enfrentam animais pré-históricos impossíveis, além de problemas entre eles, o que inclui as duas mulheres antagônicas (Welch e Martine Beswick) lutando por seu homem, um vulcão explodindo e sabe-se lá o que mais. É um horror, ainda que Harryhausen, como sempre, dá conta do recado.
Seja como for, o pôster ficou para a história como um dos mais icônicos de todos os tempos. O meu já sumiu faz tempo.