(6th & Idaho Productions/ Amazon Studios/ Fox 21 Television Studios).
Essa eu demorei para descobrir. A série Contos do Loop (Tales From the Loop, 2020) está disponível no Prime Video, em oito episódios. E ainda bem que resolvi assistir, porque é uma das séries de ficção científica mais espetaculares dos últimos tempos.
Antes de mais nada, um aviso: aqueles que esperam séries de FC com muita ação e efeitos especiais, essa não é sua opção. Em última análise, provavelmente não vai agradar a todos, com seu ritmo lento, histórias reflexivas e um clima quase sempre melancólico, com personagens isoladas, solitárias e sofrendo com os eventos que as afetam. E são histórias maravilhosas, mostrado como a tecnologia pode modificar a vida das pessoas, para melhor ou para pior, e como as pessoas procuram ultrapassar o isolamento e a solidão.
A série foi desenvolvida por Nathaniel Halpern, baseado no livro de arte do artista sueco Simon Stalenhag, que combina paisagens rurais de sua infância com imagens da ficção científica, e também no livro de contos Winesburg, Ohio (1919), de Sherwood Anderson. O centro das ações é a pequena cidade imaginária de Mercer, Ohio, nos Estados Unidos, e a mistura proposta pelo artista sueco é reproduzida de forma magnífica, introduzindo paisagens rurais, objetos antigos e construções supostamente futuristas, ainda que quase sempre não se saiba exatamente o que são ou quais seus propósitos.
A cidade abriga um projeto científico chamado Loop, construído nos subterrâneos. De alguma forma, todos na cidade estão relacionados ao Loop, seja trabalhando no local como cientistas, técnicos ou outras ocupações, seja sendo afetados pelos eventos inexplicáveis que ocorrem na região, e que podem ou não estar relacionados com os trabalhos desenvolvidos no Loop.
Os eventos estranhos, misteriosos e, às vezes, perigosos, não são explicados em detalhes, deixando para a imaginação do espectador o trabalho de completar os cenários. Mesmo porque o foco está mais nas pessoas, como elas são afetadas pelo ambiente em que vivem, e como reagem aos eventos que transformam suas vidas, muitas vezes de forma dolorosa.
Celeiros com estranhas estruturas metálicas no topo, robôs que circulam pela floresta sem qualquer motivo aparente, estruturas gigantescas no meio de um lago, uma esfera destruída e enferrujada capaz de produzir um eco que indica quantos anos a pessoa vai viver; e muito mais. Tudo isso misturado com carros que parecem ter saído dos anos 1970 ou mais antigos. E os estranhos eventos que envolvem deslocação temporal, universos paralelos, a criação de androides ou um aparelho capaz de paralisar o tempo.
O aspecto mais impressionante das histórias talvez seja a forma como os temas da ficção científica, os eventos e objetos estranhos, não se sobrepõem à vida das personagens, no sentido de que eles não se tornam os elementos mais importantes ou dominantes dos acontecimentos, mas estão perfeitamente sincronizados com as ações dessas personagens, de certa forma refletindo a solidão e melancolia de suas vidas.
Uma série espetacular e que, ao que parece, não recebeu a atenção merecida. Para quem procura o que existe de mais criativo, profundo e maravilhoso na ficção científica, é imperdível.