Encontro com Rama é um daqueles livros gigantes da ficção científica, e não estou falando do número de páginas, mas do impacto e influência que teve sobre grande número de publicações do gênero.
Longe de ser o melhor trabalho de Arthur C. Clarke (1917-2008) – ele próprio um dos gigantes da fc – e ainda sofrendo com um desenvolvimento pobre dos personagens, a obra conseguiu manter o “sentido do maravilhoso” ao qual se referem tantos estudiosos da literatura fantástica como um dos elementos básicos para que essas histórias funcionem adequadamente.
O livro foi publicado originalmente em 1973, após anos de “silêncio” do escritor, que havia lançado 2001: Uma Odisseia no Espaço em 1968, adaptando o filme de Stanley Kubrick, por sua vez baseado em seu conto A Sentinela (1951). Ganhou todos os principais prêmios da ficção científica: Hugo, Nebula, Jupiter, Locus, John W. Campbell Memorial e o British Science Fiction Association Award.
No ano 2130, um imenso asteroide é detectado próximo a Júpiter, mas os cientistas logo percebem, pela velocidade e trajetória, que não se trata de um asteroide. É uma nave gigantesca, atravessando o sistema solar, vinda do espaço interestelar. Ela não responde às tentativas de comunicação, de modo que uma sonda espacial é lançada de Phobos para averiguar o objeto, confirmando que se trata de uma construção cilíndrica com 54 quilômetros de comprimento e 20 quilômetros de diâmetro, confirmando o primeiro encontro da humanidade com uma espaçonave alienígena, que é denominada Rama.
A seguir, uma nave terrestre tripulada é enviada a Rama. Eles conseguem entrar na nave, não tripulada, e tentam estuda-la da melhor maneira possível antes que ela deixe o sistema solar, para um destino desconhecido. A nave é um mundo fechado, com uma rotação que cria gravidade artificial, e repleta de cidades, rios e vegetação.
O que talvez seja mais marcante no livro é que, com tão pouca ação – como se tornou tão comum nas obras do gênero, em particular no cinema –, consiga manter constante interesse e ser sempre intrigante, propondo mais mistérios do que solucionando-os.
Para Proteger a Terra
No livro, Arthur C. Clarke inventou um projeto para detectar objetos próximos à Terra, em particular aqueles em rota de colisão com a Terra. Ele o chamou de Projeto Spaceguard.
Em 1992, o Congresso dos Estados Unidos deu autorização e orçamento para que a NASA desenvolvesse um projeto semelhante, que foi chamado Spaceguard, em homenagem à ideia original de Clarke.
Arthur C. Clarke, em sua casa no Sri Lanka, em 2005 (Foto: Amy Marsh).
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Sequências
Outros três livros foram escritos na sequência de Encontro com Rama, em colaboração com o escritor Gentry Lee. Segundo se diz, Lee escreveu os livros e Clarke apenas fez a edição e sugestões: O Enigma de Rama (Rama II, 1989); O Jardim de Rama (The Garden of Rama, 1991); A Revelação de Rama (Rama Revealed, 1993).
Todos foram publicados no Brasil, mas estão longe de apresentarem a mesma qualidade do original.
No Cinema
O ator Morgan Freeman tem tentado levar Encontro com Rama para o cinema há muito tempo, por meio de sua companhia, Revelations Entertainment, mas tem encontrado dificuldades. Entre elas, a de desenvolver um roteiro adequado. O projeto chegou a ser tido como cancelado, mas ainda aparece no site do IMDb como previsto para 2013.
Recentemente, Morgan Freeman afirmou em entrevista que ainda está tentando produzir o filme, e o diretor David Fincher, também ligado à produção, afirmou que, após terminar o filme 20.000 Leagues Under the Sea: Captain Nemo – também programado para 2013 – irá começar a trabalhar em Encontro com Rama.
Na Vida Real
A proposta de um mundo como o de Rama foi levantada pelo físico Gerard K. O’Neill, em seu livro The High Frontier: Human Colonies in Space (1976), no qual propunha a colonização do espaço pelos terrestres, no século 21.
Foi assim que visualizou o que ficou conhecido como cilindro de O’Neill, ou habitat Ilha Três. É mais ou menos o mesmo conceito utilizado na elaboração da fictícia estação espacial Babylon 5, da série da TV.
Colônia espacial imaginada pela NASA, a partir da ideia de O'Neill.
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Encontro com Rama
Arthur C. Clarke
Tradução de Susana Alexandria
Editora Aleph
288 páginas
R$ 44,00