Tornou-se popular nos últimos anos o termo “evento de impacto” (impact event), ou seja, a possibilidade da colisão de um objeto celeste com a Terra, seja um meteoro, asteroide ou cometa. Na verdade, o termo refere-se ao impacto com qualquer planeta, e não apenas com a Terra. O cinema ajudou, especialmente com os filmes Impacto Profundo e Armageddon, ambos de 1998 e que tratavam o mesmo tema.
Esse evento pode ser global e catastrófico, ou apenas local, dependendo do tamanho do objeto. Alguns cientistas passaram a considerar essa possibilidade após levantar-se a hipótese de que a extinção em massa dos dinossauros, ocorrida há 65 milhões de anos, pode se dever a um evento de impacto. Existem outras teorias a respeito dessa extinção, mas a da colisão de um objeto celeste permanece forte.
O choque de objetos com a Terra é constante, mas geralmente de objetos pequenos. Diz-se que existe uma relação inversa entre o tamanho dos objetos e a frequência com que eles atingem o planeta; ou seja, os objetos menores atingem a Terra com mais frequência do que os maiores. Assim, um corpo com cerca de 1km de diâmetro atingiria a Terra a cada 500 mil anos; uma colisão de um objeto com 5km ou mais ocorreria a cada 10 milhões de anos, e o último impacto teria sido exatamente o que ocorreu há 65 milhões de anos.
Os objetos menores que atingem a Terra todo ano explodem e são vaporizados ao atingirem a mesosfera. Para alguns cientistas, um exemplo disso é o que teria ocorrido em Tunguska, na Rússia, em 1908 (ver abaixo).
Segundo as observações do espaço, existe pelo menos um asteroide com diâmetro superior a 1km com probabilidade de colidir com a Terra, mais exatamente em março de 2880. A possibilidade de impacto é calculada em escalas, como a Escala Torino, que vai de 0 a 10, sendo 0 uma probabilidade insignificante. O asteroide em questão, chamado (29075) 1950 DA, foi classificado como 2 na escala.
São raros os impactos capazes de produzir crateras como a de Barringer, no Arizona, EUA, tida como a primeira a ser comprovada como resultante de um impacto de um objeto celeste.
Vista aérea da cratera de Barringer.
Geralmente, os impactos com a Terra ocorrem e sequer são observados do solo. Estima-se que, entre 1975 e 1992, os primeiros satélites captaram 136 grandes explosões na mesosfera. Em novembro de 2002, a Nature apresentou um estudo que calculou em cerca de 300 explosões causadas por meteoros de 1 a 10 metros de diâmetro nos oito anos anteriores. Estimava ainda que uma explosão como a de Tunguska ocorreria a cada 400 anos.
Diz-se que até os anos 1980, a ideia de um grande impacto na Terra não era muito considerado nos meios científicos, mas isso começou a mudar, especialmente a partir da descoberta da cratera Chicxulub (ver abaixo), em 1978, e em 1994, quando o cometa Shoemaker-Levy 9 atingiu Júpiter.
Imagem do impacto de 2009, em Júpiter, captada pelo Telescópio Keck II, do Observatório de Mauna Kea (F. Marchis).
A partir de então, foram criados alguns programas visando detectar asteroides próximos à Terra, tais como: LINEAR (Lincoln Near-Earth Asteroid Research, projeto conjunto da Força Aérea, NASA e o Lincoln Laboratory, do MIT, a partir de 1998); NEAT (Near Earth Asteroid Tracking, projeto da NASA e do Jet Propulsion Laboratory, de 1995 a 2007); LONEOS (Lowell Observatory Near-Earth- Object Search, da NASA com direção do Lowell Observatory, de 1993 a 2008).
Algumas colisões com o Sol também já foram detectadas, como a de 1998, quando dois cometas chocaram-se em dois dias seguidos, ou a de 1979, quando o imenso cometa Howard-Koomen-Michels colidiu com uma energia equivalente a um milhão de bombas de hidrogênio.
A primeira vez que um objeto foi detectado antes de colidir com a Terra foi em outubro de 2008, quando o meteoróide nomeado 2008 TC3, com 2 a 5 metros de diâmetro atravessou a atmosfera e caiu no Sudão.
Em julho de 2009, um novo impacto foi registrado em Júpiter, provocando o surgimento de uma mancha na atmosfera do planeta, do tamanho do oceano Pacífico.
Tunguska
Nos meios esotéricos, diz-se que o que aconteceu em Tunguska, em 30 de junho de 1908, não está relacionado a qualquer objeto celeste, como um meteoro, mas a um evento ainda desconhecido. As teorias vão desde a explosão de um OVNI até a explosão de um fragmento de antimatéria.
Árvores derrubadas em Tunguska, em 1908 (Foto da expedição de Leonid Kulik, em 1927).
Para os cientistas, tratou-se da explosão de um fragmento de meteoro ou cometa a uma altitude de 5 a 10 quilômetros da superfície terrestre. Seja como for, o resultado foi desastroso e os efeitos foram sentidos em quase todo o planeta. Diz-se que o ruído foi ouvido num perímetro de mil quilômetros. Sismógrafos da Ásia e Europa registraram o evento como o equivalente a um terremoto de 5 pontos na escala Richter. Produziu alterações na pressão atmosférica registradas até em Londres.
Nos dias seguintes à explosão, as noites da Ásia e da Europa ficaram tão iluminadas que em Londres e Paris era possível ler sem qualquer iluminação artificial.
Cratera Chicxulub
Representação do asteroide que teria colidido com a Terra, provocando o desaparecimento dos dinossauros (Desenho de Donald E. Davis/ NASA).
A cratera está associada ao impacto que teria provocado o desaparecimento dos dinossauros e de outras espécies da Terra, há 65 milhões de anos.
A descoberta é atribuída a Glen Penfield, um geofísico que trabalhava no Iucatã, no México, na prospecção de petróleo. Estudos posteriores indicaram que a cratera teria mais de 180km de diâmetro, levando à suposição de que o objeto que colidiu com o planeta teria cerca de 10km de diâmetro. Estudos mais recentes foram mais longe, apontando um diâmetro de 300km para a cratera.
Apophis
Em 2004, a NASA divulgou a descoberta de um asteroide, 2004 MN4, registrado em 2005 com o número 99942, mas mais conhecido pelo nome Apophis, que não parece ter sido escolhido ao acaso. Apophis é o nome grego do deus egípcio Apep, representação da escuridão e do caos.
Na época, os cálculos de sua órbita indicavam uma possibilidade de cerca de 3% de que ele atingisse a Terra em 2029. Cálculos posteriores eliminavam essa possibilidade, assim como a de um impacto com a Lua.
Ainda depois disso, o astrônomo Boris Shustov, diretor do Instituto de Astronomia da Rússia, afirmou que ele ainda poderia representar uma ameaça ao planeta.
Para alguns cientistas que analisam a questão dos eventos de impactos, existe a possibilidade de que Apophis passe por uma fenda de ressonância gravitacional em 2029, o que poderia levar a um impacto com a Terra em 2036. Uma fenda de ressonância gravitacional é uma pequena região do espaço que pode alterar o curso de um asteroide, fazendo com que colida com o planeta em sua próxima passagem.
Diz-se que se isso ocorresse, seria um impacto ainda maior do que aquele atribuído ao objeto que explodiu em Tunguska.