O mapa da ilha do tesouro elaborado por Robert Louis Stevenson.
Acho que todo pirata que tenha um mínimo de apreço por sua piraticidade deveria ter um tesouro escondido numa ilha qualquer. Nem que fosse um anelzinho de ouro.
Grande parte da fama das ilhas com tesouros enterrados veio do excepcional livro de Robert Louis Stevenson, A Ilha do Tesouro (Treasure Island. Várias editoras), publicado em 1883, que não só se tornou um sucesso internacional como influenciou grande parte dos livros e filmes com piratas e seus tesouros.
Diz-se que a ideia para o livro veio de um mapa de uma ilha imaginária que Stevenson desenhou com seu enteado. Elaborado como uma história para crianças, a obra também conquistou os adultos, apresentando um desenvolvimento de personagens incomum para as histórias infantis da época, em particular na caracterização do personagem Long John Silver.
Claro que as lendas, boatos ou narrativas com fundo de verdade a respeito de piratas enterrando seus tesouros em ilhas, em locais que só eles poderiam conhecer, vêm de mais longe. Quando os bucaneiros dominavam as águas do Caribe, essas histórias eram comuns.
Na literatura, apesar da influência do livro de Stevenson, a importância do tesouro enterrado e do mapa do tesouro já surgia no clássico O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo), escrito por Alexandre Dumas (pai) em 1844. Traz o personagem central Edmond Dantès, enviado para a ilha-prisão de Château d’If, injustamente acusado de um crime. Sobrevivendo no local em condições terríveis e prestes a se suicidar, ele consegue manter contato com um prisioneiro que estava cavando um túnel para tentar fugir. É dele que escuta a história de um imenso tesouro escondido na ilha de Monte Cristo. E, depois de conseguir tramar sua fuga da prisão, consegue atingir a ilha do tesouro, encontrar uma fortuna incalculável e retornar à França para iniciar sua vingança contra aqueles que tramaram sua prisão.
É normal imaginar que os piratas reais, especialmente os do século 18, escondessem seus furtos em ilhas. Os caras conheciam os mares em que navegavam e ilhas isoladas não atrairiam muita atenção. E talvez seja mera coincidência que os piratas modernos também escondam seu dinheiro em ilhas do Caribe, se é que vocês me entendem.
Seja como for, a imagem romanceada desses salteadores invadiu a imaginação popular, sendo reforçada não apenas pelo livro de Stevenson, mas por dezenas ou centenas de histórias que invadiram o mercado desde então. E mesmo quando o tesouro em si não é o centro da história, ele é um ingrediente indispensável.
No cinema, já era assim em 1926, com O Pirata Negro (The Black Pirate), com Douglas Fairbanks, e continuou com centenas de filmes. Para se ter uma ideia, ainda em 2006 era produzida uma adaptação da história de Stevenson, para não falar do imenso sucesso da série Piratas do Caribe, iniciada em 2003, e que ainda tem filmes previstos até 2017.
Escavações e construções em Oak Island (Foto: Richard McCully, 1931).
No mundo real, a famosa Oak Island, na Nova Escócia, no Canadá, é o centro de uma procura por um suposto tesouro que se estende desde 1795. Existem inúmeras alegações do que poderia estar escondido (ou não) na ilha, entre elas a de que seria o tesouro do Capitão Kidd (1645-1701) ou do famoso Edward Teach, o Barbanegra (1680-1718), que teria dito ter escondido seu tesouro num local em que ninguém a não ser ele e Satã poderiam encontrar. Recentemente, o History Channel apresentou uma série, A Maldição de Oak Island, na qual um grupo de exploradores tenta desvendar o que de fato existe na ilha.
Nada indica que as histórias envolvendo ilhas com tesouros – reais, imaginários, históricos ou lendários – deixarão de existir tão cedo.
A ilha do tesouro é pequena. Ela é distante. A ilha do tesouro é misteriosa.