Não dá para começar uma matéria sobre possessão demoníaca falando de outra obra que não seja O Exorcista (The Exorcist). O filme é tido por muitos críticos – e mesmo por aqueles que não gostaram – como o mais conhecido e/ou influente filme de terror de todos os tempos. Existem poucas divergências quanto a isso, mas muitas discordâncias quanto à qualidade, tanto do livro de William Peter Blatty (1971), falecido em janeiro deste ano, quanto do filme dirigido por William Friedkin (1973).
Começando pelo que veio antes, o livro foi comentado pelo escritor F. Paul Wilson, em Horror: 100 Best Books, que inicia seu texto dizendo: “Mencione O Exorcista e o que vem à mente da maioria das pessoas? O filme, é claro: cabeças girando e vômito de sopa de ervilhas. Os excessos visuais podem ter sido necessários para transmitir os horrores da possessão demoníaca, mas eles embotaram o conteúdo moral da história, e obscureceram completamente a espiritualidade do livro que o originou”.
Wilson lembra que, ao longo dos anos, O Exorcista foi muitas vezes interpretado como um paradigma da adolescência, e isso de fato é muito fácil de ser visto em inúmeras críticas ao filme. Mas para Wilson, “Essa visão barata desvaloriza e trivializa uma história intensamente religiosa, despe-a completamente de seu poder espiritual, e tem sido mantida em moda por um grupo de escritores e críticos hipócritas que rejeitam como sendo lixo qualquer livro em que o mal tenha uma fonte externa”.
Um dos personagens centrais da história, o Padre Damien Karras, é um jesuíta que também é psiquiatra, e que passa por um momento difícil, lutando para ver se consegue manter sua fé. “Essa é uma das poucas áreas da história”, diz Wilson, “em que Blatty é inequívoco. E por uma boa razão. A crise de fé do Padre Karras é crucial para a história. Ele está ansioso para conhecer Deus, para encontrar uma resposta para o mal no mundo ao seu redor”.
A garota, Regan MacNeil, passa por uma série de exames médicos, mas a ciência não consegue encontrar uma explicação para seu estado lamentável e perigoso. Chega-se à ideia de realizar um exorcismo apenas como último recurso. Os médicos entendem que a jovem “acha” que está possuída e, assim “age” como possuída; é o que Wilson chama de “ideias fracas sobre histeria”. Assim, entende-se que um exorcismo pode funcionar para reverter a autossugestão que está transformando a vida da filha e de sua mãe num inferno.
Para realizar o exorcismo é chamado o Padre Merrin, que já estava aposentado, mas que já havia realizado exorcismos antes. O problema é que o demônio dá mostras de conhecer o Padre Merrin, e diz a ele: “Desta vez você vai perder”. O coração do Padre Merrin não aguenta o tranco e ele morre durante o exorcismo, que tem de ser finalizado pelo Padre Karras, resgatando sua crença.
F. Paul Wilson levanta alguns pontos interessantes do livro, no que se refere às ambiguidades apresentadas pelo autor, a começar pela cena final, quando o Padre Karras também morre, com os olhos “brilhando com júbilo”, depois de desafiar o demônio a tomar o seu corpo e deixar o da menina. Afinal, o demônio venceu, ou o júbilo do Padre Karras foi por tê-lo derrotado? Wilson também se refere ao próprio título do livro: a quem ele se refere? A Merrin ou Karras? “Merrin realizou exorcismo no passado, mas aqui é Karras que tem sucesso. Além disso, nos é dito que o possuído nunca é o alvo do demônio, mas sim aqueles em torno da pessoa atormentada. Quem é o alvo verdadeiro aqui? Merrin ou Karras?”
Wilson finaliza seu texto com seu próprio e interessante ponto de vista sobre o que acontece na cena final. “Eu acredito que sei o que Karras estava sentindo enquanto morria. Sua intenção ao provocar o demônio para tomar seu corpo foi, talvez, não totalmente altruísta. Se ele pudesse saber, se pudesse experimentar em primeira mão a abominável pureza do mal sobrenatural, então ele poderia mais uma vez acreditar no Bem Fundamental. Antes de ser jogado através da janela, ele teve essa experiência. Por isso o júbilo em seus olhos. Damien Karras finalmente resolveu sua crise de fé, finalmente encontrou sua resposta”.
Uma das cenas mais fortes de O Exorcista, com a jovem Regan (Linda Blair), com a cabeça invertida e violentando-se com um crucifixo (Warner Bros.).
O livro foi um imenso sucesso de vendas e inaugurou uma nova onda de histórias de exorcismos e corpos possuídos pelos mais variados demônios. E, é claro, também abriu o caminho para o gigantesco sucesso de bilheteria do filme que, por sua vez, também se tornou um marco, uma virada na abordagem dos filmes de terror, tanto por ter iniciado a onda de filmes com demônios possuindo corpos, quanto pela utilização de cenas fortíssimas para a época: uma jovem de 12 anos com a aparência de anjo sendo transformada em algo horrendo, masturbando-se violentamente com um crucifixo? Em 1973?
E também chegou aos cinemas antecedido por uma campanha publicitária avassaladora; as pessoas já entravam no cinema assustadas. Claro que tudo isso não impediu que o filme recebesse críticas negativas. Em The Aurum Film Encyclopedia: Horror (1985), editado por Phil Hardy, é dito que é surpreendente que o filme tenha sido levado a sério por tantas pessoas, que falavam solenemente sobre o fenômeno social e religioso que o filme representava. “Na verdade”, diz o texto sobre o filme, “o lado ‘sério’ do filme (e ele se refere à falta de fé do Padre Karras) é tão profundo quanto a convicção religiosa num épico bíblico de DeMille”. O texto continua dizendo que, de longe, o melhor do filme acontece lá pela metade, quando se pode esquecer dos significados e concentrar nos arrepios.
Imagem que marcou o filme, com a chegada do exorcista à casa de Regan.
Aquela interpretação acima, de F. Paul Wilson, cai bem para os eventos descritos no livro, uma vez que a cena do Padre Karras caindo pela janela não é contada. No filme, é diferente, uma vez que a cena é mostrada, com o padre jogando-se pela janela após ser possuído pelo demônio.
O demônio toma conta do corpo de Regan.
Em The Encyclopedia of Fantasy, John Grant diz que O Exorcista, “Provavelmente o mais famoso filme de terror de todos os tempos, choca em grande parte devido ao seu sensacionalismo”. Grant entende que o filme é perturbador em vários níveis porque, ignorando-se os impressionantes efeitos especiais, ele evoca vários de nossos medos primais, inclusive o medo de que algo semelhante possa acontecer aos “nossos” filhos. “A esse respeito”, ele escreve”, “o filme pode ser visto como uma versão imensamente exagerada do rito de passagem pelo qual cada adolescente passa ao sair da infância para uma forma rebelde de pseudomaturidade”. Ele entende que a estrutura, tanto do filme quanto do livro, tem problemas, uma vez que é possível criar uma empatia tanto com Regan quanto com sua mãe, enquanto os demais personagens sempre parecem ser temporários na cena, de modo que até a morte de Karras é emocionalmente seca. Não é difícil perceber a distância abismal entre esse ponto de vista e o apresentado por F. Paul Wilson, que vê em Karras o ponto central da história.
Outra imagem famosa do filme, com o demônio Pazuzu surgindo no quarto na forma da estátua ancestral.
Talvez o mais comentado na trilha sonora de O Exorcista tenha sido a utilização de um trecho do disco Tubular Bells, de Mike Oldfield. Não sei exatamente como o disco foi comercializado no resto do mundo, mas por aqui ele era apresentado com o rótulo de ser “a” trilha sonora do filme, o que evidentemente não é exato. Seja como for, o disco tornou-se um sucesso mundial e alavancou a existência da gravadora Virgin – o disco era seu primeiro lançamento – e é um feito excepcional, mesmo para a época, pois se trata de uma obra dividida em duas músicas com mais de 20 minutos cada. O disco é realmente muito bom (assim como os seguintes de Oldfield, Hergest Ridge e Ommadawn), mas não era de se esperar que ficasse 28 semanas entre os mais vendidos na Inglaterra, chegando a ficar uma semana em primeiro.
Uma das imagens subliminares levantadas pelos estudos sobre o filme, com Ellen Burstyn e a figura de um demônio na parede.
O trabalho de som do filme foi premiadíssimo, ganhando o Oscar da categoria, assim como também ganhou o prêmio pelo melhor roteiro adaptado. Com todas as lendas em torno do filme, uma delas dizia respeito à utilização de sons subliminares com a função de deixar o espectador desconfortável, como o som de abelhas raivosas voando. Tudo o que diz respeito a imagens e sons subliminares sempre desperta opiniões distintas, mas ao que tudo indica o mais respeitável estudo sobre o uso da técnica em O Exorcista foi feito por Wilson Bryan Key em seu livro Media Sexploitation (1976), referindo-se a várias imagens utilizadas e também a efeitos sonoros.
Seja lá o que cada um pense, o autor era colega de ninguém menos do que Marshall McLuhan, que assina a introdução de um de seus livros. Além disso, várias das imagens hoje podem ser vistas na internet em dezenas de sites, comprovando a utilização de mensagens subliminares.
A sequência foi Exorcista II – O Herege (Exorcist II: The Heretic, 1977), dirigido pelo consagrado John Boorman, com Linda Blair repetindo seu papel como Regan MacNeil, a menina que foi tomado pelo demônio Pazuzu no filme original. Ela não se lembra dos eventos e é acompanhada pela psiquiatra dra. Gene Tuskin (Louise Fletcher). Entra em cena o padre Philip Lamont (Richard Burton), outro que está com dúvidas com relação à sua fé, e é o responsável por descobrir o que realmente aconteceu na morte do padre Merrin.
Experiências científicas com Regan, em Exorcista II - O Herege (Warner Bros.).
O instituto psiquiátrico onde Regan é avaliada possui uma máquina que permite que duas pessoas que entrem em estado hipnótico ao mesmo tempo, de modo que suas ondas mentais fiquem em sincronia. Assim, o padre poderá ter acesso às memórias de Regan. Ao ter acesso aos eventos de anos antes, ele sabe que o Mal ainda está presente nela. Assim, refaz o caminho do padre Merrin, na África, onde ele realizara pesquisas sobre uma estranha seita ligada ao demônio Pazuzu. Ele vai à África sem a autorização do Vaticano, procurar o homem que supostamente tem poder sobre o demônio, e retorna aos Estados Unidos para dizer a Regan como dominá-lo e destruí-lo.
O enredo é bastante confuso, complexo, mais simbólico do que o original, o que não é de se estranhar uma vez que se trata de um filme de Boorman. Ele fala mais sobre o Bem e o Mal existente dentro de cada ser humano e de suas limitações, do que do Mal exterior, do demônio propriamente dito. Nesse sentido, vai numa direção totalmente oposta à história original.
Richard Burton, como o padre Lamont, enfrentando os demônios internos de Regan.
Em que pese tudo isso e uma certa dificuldade em se locomover através do enredo labiríntico, Boorman conseguiu obter momentos de grande beleza visual, procurando não tanto assustar os espectadores, como era a intenção declarada do primeiro filme, mas maravilhá-los com os poderes superiores do homem sobre a natureza.
O resultado é que o filme teve seguidores fanáticos e críticos ainda mais. Para uns, Boorman transformou o que seria um filme banal num espetáculo bonito e inteligente; para outros, ele simplesmente se perdeu na história e realizou um dos piores filmes de terror de todos os tempos.
O filme foi um fracasso de crítica e de bilheteria nos Estados Unidos e teve algumas cenas reeditadas para exibições na Europa. O crítico e historiador do cinema Phil Hardy disse (The Aurum Film Encyclopedia: Horror) que, em Exorcista II, John Boorman “pisou na mesma corda bamba de seu pretensioso trabalho anterior, Zardoz (1973), e é tão fascinante quanto”. Parece que vai ser uma crítica favorável, mas não: “Tentando dispensar as táticas cruas de chocar e a religiosidade de O Exorcista, e moldar sua sequência como uma odisseia espiritual pura, Boorman falha devido a uma persistente confusão temática e porque seu elenco parece ter sido programado para outro filme”.
Linda Blair/ Regan, conectada ao cérebro do padre Lamont.
Seguindo no esquema “bate e assopra”, Hardy ainda diz que “Por outro lado, o que o filme realmente tem é uma visão consideravelmente mais complexa do inter-relacionamento entre Bem e Mal, do que a dicotomia simples do filme anterior. Além disso, em algumas sequências, a direção de Boorman e o soberbo trabalho de câmera de William A. Fraker combinam-se para produzir uma qualidade genuinamente visionária; em particular a extraordinariamente poderosa evocação de uma paisagem primitiva, de cores ardentes e incandescentes, quando o demônio, como um novo Mefistófeles seduzindo seu Fausto, com a ajuda de uma impressionante exibição de mobilidade de câmera e efeitos especiais, leva Burton a uma jornada alucinatória de seus domínios”.
A intenção de Boorman era clara, como se lê numa fala em entrevista à revista Cinefantastique (e reproduzida no livro Science Fiction, Fantasy and Horror Film Sequels, Series and Remakes, 1997, de Kim R. Holston e Tom Winchester): “Nós iremos usar praticamente todas as variações de técnicas de efeitos especiais para fazer deste um filme que leva a audiência para dentro do território desconhecido da mente e para mundos estranhos que eles nunca antes encontraram”.
No livro Creature Features (2.000), de John Stanley, o autor também execra o resultado final do filme, afirmando que “As únicas coisas boas sobre esse fracasso é a cinematografia de William Fraker, o cenário (de John Austin) e a trilha musical de Ennio Morricone”. Já John Grant (The Encyclopedia of Fantasy) diz que o filme não é um marco do cinema de fantasia, mas é um bom filme, também realçando as imagens em flashback na África, a cinematografia e a direção de Boorman.
O terceiro filme da série só surgiu em 1990, O Exorcista 3 (The Exorcist 3), dessa vez baseado no livro O Espírito do Mal (Legion, 1983. Editora Record. Publicado pela Darkside Books com o título Legião), também de William Peter Blatty, que igualmente dirigiu o filme. A escolha do título para o livro no Brasil foi infeliz, uma vez que o título original diz respeito ao termo Legião, utilizado na Bíblia para designar o Diabo como uma congregação de demônios.
A história nada tem a ver com os eventos do filme anterior, com o qual Blatty não teve relação, e apresenta George C. Scott como o tenente Kinderman investigando uma série de crimes que levam a marca de um serial killer que, até onde se sabe, foi morto pela polícia há anos. Sua investigação leva-o até um hospital psiquiátrico onde ele encontra um paciente que se parece muito com o padre Karras, que morreu nos eventos da história original.
No geral, a crítica considerou o filme superior ao segundo, ainda que sempre tenham surgido críticas negativas, o que é quase que esperado quando se produzem sequências de um filme que se tornou um clássico do gênero. Ele certamente trabalha menos com efeitos especiais e mais com jogos de sombras e sonoridades.
George C. Scott, sem perceber um corpo possuído pelo demônio, andando no teto, em O Exorcista 3 (Morgan Creek/ Warner Bros.).
Blatty não gostou da edição do filme e durante alguns anos lutou para apresentar a “versão do diretor”, o que se tornou bastante complicado uma vez que a produtora, Morgan Creek Productions, dizia ter perdido grande parte das filmagens originais. Finalmente, em 2016 foi apresentada a versão do diretor, muito bem recebida pela crítica.
(Morgan Creek/ Warner Bros.)
Em 2004, surgiu o quarto filme da série, Exorcista – O Início (Exorcist: The Beginning), com direção de Renny Harlin, apresentado como a famosa prequel, a história que antecede O Exorcista, contando o primeiro encontro e batalha do padre Merrin contra o demônio Pazuzu.
O filme tem uma história complicada, porque quem iria dirigi-lo era Paul Schrader, com o título Dominion: Prequel to the Exorcist, mas a Morgan Creek achou que o filme não era assustador o suficiente e suspendeu a produção. Entregou a Renny Harln o trabalho de refazer a obra, e o resultado não foi nada bom, com o filme recebendo péssimas críticas e tendo uma bilheteria fraca. Em entrevista a Dave Kehr, em matéria do New York Times, William Peter Blatty disse que foi assistir ao filme em companhia de Paul Schrader. “Após uma estrondosa sequência inicial”, ele contou, “a prequela de Harlin deteriorou no que certamente foi a experiência profissional mais humilhante de minha vida, particularmente o final. Eu não culpo Renny Harlin, porque ele deu à Morgan Creek, eu garanto a vocês, exatamente o que a Morgan Creek exigiu: não obscenidade chocante, mas vulgaridade chocante”.
Com o resultado negativo, a Morgan Creek resolveu finalizar a versão de Paul Schrader, que foi lançada em 2005, porém com críticas apenas um pouco melhores.
Foto promocional com o elenco da primeira temporada do bom seriado The Exorcist (Morgan Creek/ 20th Century Fox Television).
Em 2016, a Morgan Creek associou-se à 20th Century Fox Television para produzir a série The Exorcist, no Brasil apresentada no canal FX, com 10 episódios em sua primeira temporada. Mostra o trabalho de dois padres, centrado especialmente em torno da família Rance, da qual faz parte Angela Rance, interpretada por Geena Davis. A primeira temporada traz uma história bem interessante, com uma horda de demônios invadindo corpos na cidade de Chicago, pouco tempo antes da visita do papa.
O exorcista é o Padre Marcus Keane (Ben Daniels), conhecido por suas atuações implacáveis nos rituais de exorcismo, mas que anda um pouco em baixa após perder um garoto num exorcismo realizado no México. E, apesar de ter sido excomungado, ele se junta ao Padre Tomas Ortega (Alfonso Herrera) para ajudar a família Rance.
Era mais ou menos óbvio que o sucesso de O Exorcista iria encorajar outras produções semelhantes, algumas feitas para a TV, outras para o cinema, mas geralmente de qualidade duvidosa.
Já no ano seguinte a O Exorcista, em 1974, surgiu a produção italiana Espírito Maligno (Chi Sei?, filme também conhecido pelos títulos em inglês: The Devil Within Her; Who?; e Beyond the Door). A direção foi de Oliver Hellman, mais conhecido como Ovidio G. Assonitis, juntamente com Robert Barrett. O crítico Phil Hardy lembra que “apesar da história boba e da direção inepta, o filme foi um grande sucesso na América”, combinando as histórias de O Bebê de Rosemary e de O Exorcista. Uma mulher que tem um caso extraconjugal fica grávida e o bebê é possuído pelo demo. Como se viu em O Exorcista, ela vomita jarros e mais jarros da então já famosa “sopa de legumes”, levita, fala obscenidades e sua cabeça gira 360 graus.
Em 1975, foi a vez de O Filho do Demônio (I Don’t Want to be Born), produção inglesa dirigida por Peter Sasdy – que teve melhores dias dirigindo seriados para a televisão, e até mesmo alguns filmes da Hammer, ainda que não em sua melhor fase. O elenco até que era razoável, com Joan Collins e Donald Pleasance, mas não ajudou. Aqui, Collins é a mulher cujo bebê está possuído pelo demônio. Mais uma vez, Phil Hardy detona o filme dizendo que “esta variação potencialmente interessante dos temas do exorcismo e do bebê demônio é arruinada por um roteiro ruim e uma direção preguiçosa”. Ainda ocorre um exorcismo realizado por uma freira, o que é bem estranho.
O demônio voltou a tomar conta de corpos em tempos mais recentes, até mesmo com uma espécie de renascimento do tema “exorcismo” a partir do início do século 21, inclusive com os já citados filmes inferiores da série O Exorcista.
Mas um bom filme de corpos tomados pelo mal foi Possuídos (Fallen, 1998), dirigido por Gregory Hoblit, com Denzel Washington, John Goodman, Donald Sutherland e James Galdolfini.
Denzel Washington, em Possuídos (Turner Pictures/ Warner Bros.).
A história mistura o demônio Azazel com investigação policial, com Denzel Washington como o policial John Hobbes que, finalmente, consegue prender um serial killer, que é executado. O problema é que o assassino estava possuído pelo demônio Azazel, na verdade, um anjo caído, e esse ser é capaz de passar de um corpo a outro pelo simples toque na pessoa. Quando o policial percebe o que está acontecendo, quase enlouquece, uma vez que já não sabe mais em quem confiar, em que corpo Azazel estará no momento seguinte.
O filme não foi muito bem nas bilheterias e recebeu críticas variadas, boas e ruins, geralmente com comentários de que o conceito do filme foi melhor do que a execução. No entanto, tem momentos realmente assustadores, e a narração em primeira pessoa prepara para o final inesperado.
(Showtime Networks).
Em 2000 foi a vez de Possuído Pelo Demônio (Possessed), titulo que não poderia ser mais explícito, uma produção para televisão com direção de Steven E. de Souza, que tem mais experiência como roteirista de séries conhecidas como O Homem de Seis Milhões de Dólares, A Supermáquina e V: A Batalha Final, e de filmes como Duro de Matar e Um Tira da Pesada 3. E, apesar do elenco com Timothy Dalton e Christopher Plummer, a história não anda. E é um daqueles filmes “baseado em história real”, no caso, uma série de exorcismos realizados nos anos 1940, de um jovem de 14 anos, conhecido pelo pseudônimo Roland Doe. Diz-se que esse caso também inspirou William Peter Blatty a escrever O Exorcista. Dalton, que já foi James Bond, interpreta o Padre Bowdern, responsável por tentar resolver o problema do garoto.
(Screen Gems/ Sony Pictures).
Também baseado num caso real é O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose, 2005), dirigido por Scott Derrickson. A base é a história da jovem alemã Anneliese Michel, que morreu após passar por uma sessão de exorcismo; o caso foi a julgamento em 1976, quando o promotor acusou os pais e o padre responsável de homicídio negligente.
Mais famoso e bem sucedido foi O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010), dirigido por Daniel Stamm. O filme foi realizado com orçamento pequeno – cerca de 2 milhões de dólares – faturando mais de 30 vezes esse valor. E o pequeno orçamento é justificado, uma vez que o filme segue na esteira de outros do gênero realizados nos últimos anos, em particular após o sucesso de A Bruxa de Blair (1999) e, mais recentemente, com o bom Atividade Paranormal (2007).
O reverendo Cotton Marcus (Patrick Fabian) resolve permitir que o filmem em atividade, exercendo pela última vez um exorcismo, atividade à qual renunciou após ler uma matéria num jornal sobre um jovem que havia morrido asfixiado durante um ritual semelhante. Ele revela à repórter que o acompanha que não acredita em demônios e, portanto, no exorcismo como forma de expulsá-los, mas que o exorcismo pode ajudar pessoas que acreditam nele. O reverendo tem uma série de truques para fazer com que as pessoas realmente acreditem que um demônio está presente, com fios que balançam objetos no quarto, um gravador com “vozes de demônios” e muito mais. Ele recebe cartas de pessoas solicitando rituais de exorcismo, e escolhe uma carta enviada de uma fazenda na Louisiana; o pai acredita que a filha está possuída.
O Último Exorcismo (Strike Entert./ Studio Canal/ Arcade Pictures).
Marcus realiza o exorcismo e, aparentemente, tudo funcionou, mas antes que deixem a cidade, a jovem Nell (Ashley Bell) volta a apresentar estranhos sintomas, e a partir daí tudo se transforma numa imensa e sangrenta confusão. Tudo indica que o reverendo estava enganado, e os demônios existem, no caso, um demônio chamado Abalam.
Não sei exatamente o que justificou a bilheteria do filme; para falar a verdade, não se trata de um tema novo no cinema de terror, e nem de uma abordagem inédita ou realizada com grande maestria, num filme apenas regular.
O sucesso comercial levou os produtores a pensarem: por que não fazer uma continuação? E fizeram, é claro, com o título O Último Exorcismo – Parte 2 (The Last Exorcism Part II, 2013), o que nos leva imediatamente a pensar que o primeiro exorcismo não era o último coisa nenhuma. Os produtores são os mesmos, e Ashley Bell ressurge como Nell, Abalam continua ativo, mas o filme é um amontoado de bobagens e exageros.
Anthony Hopkins, em O Ritual (New Line Cinema/ Warner Bros.).
Em 2011, o filme O Ritual (The Rite), dirigido por Mikael Hafström, traz Anthony Hopkins como um especialista em exorcismos, e Colin O’Donoghue como um padre recalcitrante, um daqueles que perdeu a fé, mas que vai estudar exorcismo com Hopkins e tem ele mesmo de realizar um ritual. Apenas razoável.
Esses filmes mais recentes, e mesmo a maioria dos mais antigos, não conseguem rivalizar com O Exorcista, que permanece como o grande e imbatível filme do gênero.