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OS ZUMBIS CHEGAM AO CINEMA

ESPECIAIS/VE ZUMBIS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/09/2023
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Depois de surgirem em histórias nem sempre muito inspiradas da literatura, os zumbis chegaram ao cinema para inaugurar um subgênero de sucesso que dura até hoje.

(RKO).
Bela Lugosi, como Murder Legendre (Victor & Edward Halperin Productions).

Parece haver pouca dúvida de que Zombie, a Legião dos Mortos (White Zombie, 1932), dirigido por Victor Halperin, foi o filme que inaugurou o subgênero dos zumbis no cinema. Em The Encyclopedia of Fantasy, Stephen Jones disse que “Desde que o personagem ‘Murder’ Legendre, de Bela Lugosi, ordenou que os cadáveres revividos dos trabalhadores de sua plantação andassem pesadamente pela tela, em White Zombie, tem sido o cinema que mais influenciou nossa percepção dos mortos vivos”.
O crítico Phil Hardy (em Horror, 1985), diz que o filme é “Um dos clássicos underground do terror. Feito com pouco dinheiro e com atuações horríveis, apesar de tudo o filme surge como um conto de fadas estranhamente poético sobre um mestre dos zumbis e a beldade que ele atrai ao seu covil, e funciona de uma forma deslocada e irreal, que lembra o filme Vampiro (Vampyr, 1932), de Carl Dreyer”.

                                                                                                                                                      Madge Bellamy, como Madeline.

Madge Bellamy interpreta Madeline, que chega ao Haiti para se casar com o noivo Neil (John Harron) e, já na chegada, tem um encontro estranho com Murder Legendre (Bela Lugosi). Phil Hardy diz que a cena representa uma experiência tão desorientadora quanto a de David Gray no início de Vampiro. Uma carruagem leva os noivos por uma estrada e são interrompidos por um funeral sendo realizado no meio da estrada, segundo o cocheiro para que os corpos não sejam roubados. Em seguida, Murder Legendre está parado à beira da estrada e, após uma estranha conversa com o casal, pega o cachecol de Madeline. Na sequência, vários zumbis saem da escuridão e seguem Legendre, enquanto a carruagem foge para a mansão de Charles Beaumont (Robert Frazer), o homem que “contratou” Legendre para transformar Madeline em uma zumbi e ficar com ela para si. Mas o mestre dos zumbis tem outras intenções.

Bela Lugosi com um de seus zumbis.

Tom Hutchinson e Roy Pickard (em Horrors: A History of Horror Movies, 1983) já haviam comentado que o filme é um conto de fada, relacionado tanto com a lenda da Bela Adormecida quanto com qualquer dos rituais com os quais os zumbis do vodu estão associados. A ressalva que fazem é que o propósito de transformar a jovem em zumbi tem mais a ver com sexo do que com feitiçaria.
Legendre é um proprietário de terras e dono de uma fábrica de cana-de-açúcar, além de ter poderes hipnóticos e conhecimentos de feitiçaria, com os quais controla vivos e mortos-vivos, morando em um castelo no alto de um penhasco, como nos melhores filmes de terror.

Duas das cenas mais lembradas do filme, com os zumbis à beira do penhasco e de seu fim, e os zumbis despejando a cana no moedor.

A maioria dos críticos lembra uma das cenas memoráveis do filme, quando Beaumont visita a fábrica de Legendre, repleta de trabalhadores zumbis, lentamente carregando cestos de cana e depositando no moedor, uma roda gigantesca empurrada por homens sem qualquer vontade e que, segundo Legendre explica a Beaumont, trabalham de forma dedicada e não se preocupam com o horário de trabalho.
Os cenários receberam muitos elogios, mas Michael Weldon (em The Psychotronic Encyclopedia of Film, 1983) lembra que os cenários foram emprestados dos filmes Frankenstein (Frankenstein, 1931), Drácula (Dracula, 1931), O Corcunda de Notre Dame (The Hunchback of Notre Dame, 1923) e Rei dos Reis (King of Kings, 1927). Os produtores contrataram Bela Lugosi, que vinha do sucesso em Drácula, no ano anterior, e o filme rendeu milhões.
O filme foi lançado no Brasil em DVD (Versátil, Sessão Dupla de Cinema, com o título Zumbi Branco), e está disponível na Apple TV. É interessante para se conhecer o início do gênero no cinema, mas apesar de todas as críticas favoráveis, as interpretações são realmente muito fracas, o que atrapalha bastante o clima, com longas pausas nas conversas, como se a edição tivesse sido mal feita.

(Victor & Edward Halperin Productions).

O diretor Victor Halperin e seu irmão, o produtor Edward Halperin, tentaram reeditar o sucesso financeiro do primeiro filme com Revolta dos Zumbis (Revolt of the Zombies, 1936), mas o resultado foi desastroso. A história apresenta um regimento de soldados zumbis lutando durante a Primeira Guerra Mundial, criados por um sacerdote cambojano. Para erradicar o que consideram que pode ser uma ameaça mundial, várias nações resolvem enviar uma expedição ao Camboja para encontrar e destruir a fórmula que transforma os mortos em zumbis.
Segundo Phil Hardy, um dos críticos que gostaram do primeiro filme, esse logo se transforma em um triângulo amoroso tolo e tem atuações ainda piores do que em Zombie, a Legião dos Mortos. Peter Dendle (em The Zombie Movie Encyclopedia) disse que “O filme é interessante por pouco tempo, quando Armand (Dean Jagger) começa a despertar seu exército zumbi, mas eles realmente nunca fazem coisa alguma. Revolta dos Zumbis apenas é notável por ser singularmente pomposo para sua época: a rapidez com que Armand obtém o controle sobre a mente de toda uma nação antecipa as proporções apocalípticas dos filmes de zumbis posteriores”. Segundo Dendle, ainda que sejam chamados de zumbis ou “robôs humanos”, os sujeitos não são corpos reanimados de fato. Armand transforma as pessoas em suas escravas quando elas ainda estão vivas, e quando ele deixa de ter o poder, elas simplesmente retornam ao seu estado normal. “A não ser de uma cena breve no início, nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, quando os zumbis cambojanos avançam contra uma linha inimiga com armas e baionetas, o filme não mostra ter consciência do que faz os zumbis de Zombie, a Legião dos Mortos efetivos – aqui, eles não são desmazelados, sombrios, inescrutáveis ou profanos, mas puros, estéreis e controlados”.

                                                                           Fredi Washington, em Ouanga (George Terwilliger Productions).

Também em 1936, George Terwilliger dirigiu, produziu e escreveu o roteiro de Ouanga, também conhecido pelo título Drums of the Jungle. O filme teve problemas de produção; o diretor tentou filmar no Haiti, inclusive utilizando moradores locais, mas foi forçado a se mudar para a Jamaica assim que suas intenções se tornaram conhecidas e ele recebeu um ouanga, uma maldição vodu.
É estrelado pela atriz negra Fredi Washington, que tinha interpretado a jovem Peola no clássico Imitação da Vida (Imitation of Life, 1934). Aqui, ela é Klili Gordon, a proprietária de uma plantação que se apaixona pelo proprietário branco Adam Maynard (Philip Brandon) que, apesar de ser seu amigo, teme que a relação vá mais longe devido à chamada “one drop rule”, ou “regra de uma gota”, uma forma de classificação racial existente nos EUA na época, segundo a qual qualquer pessoa com pelo menos um ancestral de origem africana subsaariana era considerada negra.
Assim, Adam escolhe ficar com Eve Langley (Marie Paxton), o que faz com que Klili procure o vodu e lance o feitiço conhecido como wanga para matar Eve. Sem sucesso, ela consegue criar 13 zumbis, mas no final as coisas não saem bem para ela.

(Paramount Pictures).

Nos anos seguintes, os zumbis continuaram a surgir nas telas, às vezes em comédias, outras em filmes de terror. Segundo Stephen Jones, o filme O Castelo Sinistro (The Ghost Breakers, 1940), dirigido por George Marshall e com Bob Hope como astro, definiu o tom para alguns filmes com pequena produção. E, apesar de ter uma inclinação para a comédia bem definida, segundo Phil Hardy quando a ação chega ao castelo do título as coisas mudam um pouco, e há um clima verdadeiramente ameaçador com o zumbi que se esconde em um barracão caindo aos pedaços junto a um píer envolto por uma neblina.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          (Lindsley Parsons Productions).

Igualmente inclinado para o humor é O Rei dos Zumbis (King of the Zombies, 1941), dirigido por Jean Yarbrough, e mal recebido pela crítica, apresentando um grupo de pessoas cujo avião cai em uma ilha remota, onde mora um homem que cria um verdadeiro exército de zumbis para servir a potências estrangeiras. Segundo Phil Hardy, o filme antecipa A Vingança dos Zumbis (Revenge of the Zombies, 1943), mas é bem menos interessante.

(Lindsley Parsons Productions).

Também conhecido como The Corpse Vanished, A Vingança dos Zumbis é dirigido por Steve Sekely e tem John Carradine como astro, interpretando um dr. Max Heinrich von Altermann, um dos “médicos loucos” que começaram a invadir o cinema na época. Ele mora em uma mansão num pântano da Louisiana e produz um exército de zumbis para lutar ao lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Ele também transformou a esposa Lila (Veda Ann Borg) em zumbi e está tentando reverter o processo.
O Rei dos Zumbis e A Vingança dos Zumbis são considerados os dois primeiros filmes a misturarem zumbis e nazistas, uma tradição que se estendeu até o século 21, geralmente com filmes muito ruins.

                                                                A Vingança dos Zumbis.

Peter Dendle também diz que A Vingança dos Zumbis foi o primeiro filme a presumir que o público soubesse o que é um zumbi, sem fornecer qualquer explicação. “O fenômeno dos mortos-vivos, diferente da maioria dos filmes de zumbis anteriores, é mais exatamente o resultado da ciência do que do vodu. Altermann explica que tecidos e células podem ser mantidos indefinidamente por um processo de refrigeração, enquanto aquelas regiões do cérebro controlando a vontade e decisões independentes podem ser interrompidas. Dessa forma, ele pretende construir um exército de mortos-vivos que não irão necessitar de alimento e vão continuar a lutar apesar do fogo, gás e severos danos corporais, desde que o cérebro permaneça intacto (Na verdade, essa é a primeira menção embriônica em um filme de zumbi de que a criatura só pode ser morta destruindo seu cérebro)”.

Christine Gordon, Frances Dee e Darby Jones, em A Morta-Viva (RKO).

Mas o ano de 1943 ficou marcado na história dos zumbis pelo filme A Morta-Viva (I Walked With a Zombie), dirigido por Jacques Tourneur e com produção de Val Lewton. Tourneur vinha do sucesso com o clássico Sangue de Pantera (Cat People, 1942), também produzido por Val Lewton, e fez do filme uma adaptação sinistra do clássico Jane Eyre (1847), de Charlotte Brontë, com elementos da história com o mesmo título, de Inez Wallace, com roteiro de Curt Siodmak e Ardel Wray.
Frances Dee interpreta a jovem enfermeira Betsy Connell, que aceita um emprego na ilha de Saint Sebastian, no Caribe, para cuidar de Jessica Holland (Christine Gordon), esposa de Paul Holland (Tom Conway), dono de uma plantação. A mulher sofre de uma estranha doença, incapaz de se comunicar ou fazer mais do que andar sem rumo pela propriedade, e Betsy fica sabendo que, pouco antes de ficar doente, o marido a impediu de fugir de casa com o cunhado Wesley Rand (James Ellison). Obviamente, a “doença” de Jessica é que ela foi transformada em uma zumbi, com a participação da mãe dos irmãos (Edith Barrett).

                                                                                                                        Darby Jones, como o zumbi Carrefour.

O filme foi considerado por Phil Hardy “uma pequena obra-prima, (...) um lindo poema, assustador como um pesadelo, com tambores vodu, luar misterioso e mulheres sonâmbulas em roupas brancas flutuantes, levados à perfeição pela direção de Tourneur, o trabalho de câmera de J. Roy Hunt e os diálogos de Ardel Wray”.
Tom Hutchinson e Roy Pickard ressaltaram a caminhada da mulher zumbi com a enfermeira, considerando um dos grandes momentos do terror. “A caminhada”, dizem, “é para ver se os celebrantes vodu podem ajudar a mulher em seu trauma, e o passeio é recheado de choques repentinos – ossos rituais pendurados em uma árvore, o rosto de um homem vislumbrado em branco na escuridão – o que o torna um episódio extraordinário dos mortos-vivos”. Os dois críticos não gostaram muito das atuações, mas consideraram a atmosfera construída e mantida de forma admirável, afirmando que “A Morta-Viva é, sem dúvida, de uma capacidade capaz de provar que o filme de zumbi pode atingir qualidade”.

Christine Gordon, como a mulher zumbificada, na aterrorizante caminhada com sua enfermeira, Frances Dee.

Peter Dendle diz que o filme “(...) criou uma visão atmosférica e inteligente inigualável nos filmes de zumbis”. Ele lembra que existem dois zumbis no filme: a branca Jessica e o nativo Carrefour (Darby Jones), um negro magro e assustador, cuja expressão dura contrasta com a aparência apática e silenciosa de Jessica. “O que há de mais interessante em Carrefour é que ele não parece tanto um monstro profano quanto uma parte natural dos campos de cana e da areia da praia (...), ele é como uma personificação da vontade dos nativos e da própria terra, uma vontade expressando a desaprovação das transgressões morais dos colonizadores decadentes”.

Bela Lugosi, John Carradine, Louise Currie, Mary Currier, Mici Goty, Ellen Hall, Claire James, Pat McKee, Wanda McKay, Terry Walker e George Zucco, em Mistério da Magia Negra (Sam Katzman Productions).

Bela Lugosi voltou a se envolver com vodu e zumbis em Mistério da Magia Negra (Voodoo Man, 1944), dirigido por William Beaudine. Ele interpreta o dr. Marlowe, cuja esposa (Ellen Hall) tem sido uma zumbi por 20 anos. Para tentar trazer a esposa de volta à vida, ele sequestra mulheres e realiza um estranho ritual para tentar encontrar uma mulher que tenha “o mesmo plano mental” da esposa, seja lá o que isso signifique. Ele não tem muito sucesso, e as mulheres sujeitadas ao ritual também se tornam zumbis.
Lugosi é ajudado em seus planos pelo dono de um posto de gasolina (George Zucco), que não apenas engana as mulheres e as leva até a propriedade de Lugosi, mas também conduz os rituais, como um adorador do deus vodu Ramboona. John Carradine também está no filme, como o assistente que cuida das celas do porão, onde as jovens zumbis são mantidas prisioneiras. Lugosi ainda utiliza um manto com símbolos supostamente esotéricos, que devem ter alguma utilidade em seus rituais.
O filme não está exatamente entre os grandes momentos do gênero, mas o crítico Phil Hardy disse que os melhores momentos estão nas cenas com John Carradine. Quando uma das zumbis chega ao porão, ele acaricia o cabelo dela, com um interesse sinistro, murmurando que ela é bonita. Vai saber o que aconteceu naquele porão.

(Republic Pictures).

Bem menos credenciado foi O Vale dos Zumbis (Valley of the Zombies, 1946), dirigido por Philip Ford, que ficou mais conhecido por uma série de faroestes medianos, alguns inclusive musicais, e nos anos 1950 por dirigir episódios de séries de TV como As Aventuras do Super-Homem (Adventures of Superman, 1956-58), com George Reeves, e Lassie (Lassie, 1954-74). O título engana, uma vez que existe apenas um zumbi e o vale é apenas citado. Ian Keith é um coveiro com o improvável nome de Ormand Murks, que esteve internado em um sanatório e, posteriormente, morreu em uma operação. Mas, segundo se diz, ele esteve no tal vale dos zumbis, onde obteve uma fórmula que o permite manter-se vivo, desde que tenha um suprimento de sangue fresco.
O clima é uma mistura de terror com policial, uma vez que a onda de mortes desperta a atenção de um detetive, enquanto Murks encontra seu suprimento atacando seus antigos inimigos. Phil Hardy disse que o filme é previsível, com um roteiro que parece ter esgotado seu estoque de sagacidade na escolha do nome Ormand Murks.

Segundo Peter Dendle, é costume dizer que os filmes de zumbis da época da Depressão e durante a Segunda Guerra Mundial serviram como um mecanismo cinematográfico para levantar a conscientização com as questões de gênero e o fortalecimento das mulheres. “Os filmes de zumbis desse período consistentemente descreviam mulheres ‘zumbificadas’ aparentemente subservientes a um macho dominante, mas não totalmente conquistadas”. Ele cita como exemplo a personagem Madeline, do filme White Zombie, que se mantém diferente de todos os demais zumbis do filme porque sua vontade não foi totalmente dominada por Legendre ou Beaumont.
Dendle diz ainda que os filmes de zumbis na época da guerra, entre 1941 e 1945, em grande parte neutralizaram o potencial para o terror, transformando-os em comédias de terror, com a notável exceção de A Morta-Viva.
Como lembra Stephen Jones (em The Encyclopedia of Fantasy), os anos 1950 viram um aumento significativo na quantidade de filmes nos quais os zumbis são criados “cientificamente”, ao contrário daqueles surgidos por meio de feitiçaria ou algum procedimento parecido, mas alguns filmes ainda apresentaram os métodos mais antigos.

(Clover Productions).

É o caso de O Fantasma de Mora Tau (Zombies of Mora Tau, 1957), dirigido por Edward L. Cahn, uma produção “B” de Sam Katzman, especialista em filmes de pequeno orçamento, geralmente bem ruins. E aqui ele não fugiu à regra. O roteiro é o que Phil Hardy chamou de “uma história boba” sobre um magnata que resolve procurar uma fortuna em diamantes em um navio naufragado há 60 anos, na costa da África. Os mergulhadores descobrem que o navio sofreu uma maldição e os tripulantes mortos do navio agora são zumbis anfíbios, protegendo a carga preciosa.

(Aubrey Schenck Productions/ Bel-Air Productions).

Também em 1957 surgiu outra atrocidade, A Ilha do Terror (Voodoo Island), dirigido por Reginald Le Borg, com a presença de outro veterano do cinema de terror, Boris Karloff. Uma equipe que foi ao Pacífico Sul procurar um local para um hotel, desaparece, com exceção de um homem que retorna, mas com a mente totalmente prejudicada. Karloff é quem vai investigar, encontrando a ilha do título, onde existem zumbis e plantas carnívoras. Segundo Peter Dendle, não há justificativas para localizar o vodu no Pacífico Sul, ainda que os personagens citem o nome e chamem os feitiços de “ouangas”. Além disso, segundo Dendle, “Os zumbis são basicamente decepcionantes. Eles não têm qualquer função narrativa no filme, mas ajudam a documentar a resposta confusa de Hollywood às criaturas durante um período de transição”.

                                             Henry Daniel e Paul Wexler, em O Mistério das Caveiras (Vogue Pictures).

Edward L. Cahn voltou ao tema com O Mistério das Caveiras (The Four Skulls of Jonathan Drake, 1959). Apresenta a família Drake, amaldiçoada há 180 anos por um feiticeiro de uma tribo de caçadores de cabeças na Amazônia equatoriana, massacrada por um ancestral da família. Desde então, todos os homens da família morreram aos 60 anos, decapitados, e suas cabeças foram encolhidas.
O caso é investigado pelo detetive Jeff Rowan (Grant Richards), que chega ao médico Dr. Emil Zurich (Henry Daniell) que, na verdade, é o feiticeiro que tem uma cabeça de um homem branco costurada ao seu corpo e é o responsável pelas mortes. Ele tem como assistente um zumbi nativo, Zutai (Paul Wexler), que tem sua boca costurada. Segundo Peter Dendle, “Zurich é, assim, uma abominação que fisicamente incorpora a estranha combinação de indígena nativo e europeu, enquanto seu escravo indígena morto-vivo (...) é uma parábola do nativo do Novo Mundo, silenciado e subserviente”.
Phil Hardy disse que o filme é ridículo, mas inegavelmente dinâmico. “A direção de Cahn é corriqueira, mas ele manipula a parafernália de caveiras e cabeças encolhidas com resultado assustador”.

Os anos 1950 e 1960 também iriam apresentar mudanças importantes nos filmes com zumbis, com cada vez mais histórias relacionadas à ficção científica e, no final da década de 1960, com a transformação definitiva do subgênero, com a obra de George A. Romero.