Quando vi o título do novo livro do Stephen King, Conto de Fadas, imediatamente imaginei que a história não deveria ser exatamente na linha dos contos de fada tradicionais. Para quem conhece a produção do escritor, é algo meio óbvio. E, é claro, não deu outra. King preferiu a narrativa dos contos de fadas como eles surgiram originalmente, ou seja, com momentos violentos, terríveis, intercalados com o tradicional confronto entre o bem e o mal, e ainda traçando um paralelo entre um mundo de fantasia e o nosso.
Em alguns momentos, lembra um pouco outro livro de fantasia do autor, O Talismã (The Talisman, 1984), escrito em parceria com Peter Straub. Mas, ao contrário daquele, esse conto de fadas não tem relação aparente com os mundos de sua série mais famosa, A Torre Negra.
Ele apresenta o personagem que será o herói característico, o jovem Charlie Reade, enfrentando não apenas os problemas típicos de um adolescente de 17 anos, mas uma vida complicada pela perda da mãe e pelo problema de alcoolismo do pai após a morte violenta e inesperada da esposa.
Charlie acaba entrando inesperadamente na vida do velho solitário e excêntrico Howard Bowditch, um vizinho que mora em uma casa mal cuidada que as pessoas costumavam chamar de a Casa do Psicose, porque lembrava a casa do filme de Hitchcock. E também de sua cachorra Radar, que terá um papel fundamental nas decisões de Charlie.
Ao ganhar a confiança e a amizade do senhor Bowditch, Charlie também fica sabendo de seus segredos, de como ele conseguiu um balde cheio de ouro, e do que se esconde no barracão atrás da casa, uma passagem para outro mundo, uma terra de contos de fadas, assolada por um mal que transforma as feições das pessoas.
Charlie precisa levar Radar a um local específico desse mundo, no centro de uma imensa cidade dominada por criaturas malévolas, e que a qualquer momento pode despertar um mal ainda maior, vindo sabe-se lá de onde. Ao envolver-se com os habitantes locais, Charlie acaba se tornando o possível libertador desse mundo.
Pelos olhos de Charlie, King vai estabelecendo alguns paralelos entre as personagens do mundo paralelo com personagens dos contos de fadas de nosso mundo, e a partir de suas considerações e comparações, também ressalta os aspectos “mágicos” do nosso mundo e de como certas coisas que são tidas por nós como comuns, são vistas pelos habitantes do mundo paralelo como mágicas e incompreensíveis.
Como nos bons contos de fadas, a história envolve uma missão com objetivo definido, uma jornada na qual o personagem encontra perigos, o encontro com criaturas fantásticas que ajudam ou atrapalham sua missão, e a transformação do personagem central, seu crescimento moral e ético.
Provavelmente, é o melhor dos livros mais recentes de Stephen King.
CONTO DE FADAS (Fairy Tale, 2022)
Stephen King.
624 páginas.
Editora Suma.