Artigos

OS PRIMÓRDIOS

ESPECIAIS/VE PLANETAS DA FC

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data22/12/2021
fonte
Antes mesmo do termo ficção científica surgir, os planetas já eram visitados pelos primeiros escritores da literatura fantástica.

FreeImages.com/ David Cowan.
Montagem mostrando o sistema solar (NASA, 1999).

Os planetas têm sido apresentados nas histórias de ficção científica – das mais variadas formas – desde seus primórdios; na verdade, bem antes do termo “ficção científica” ter sido criado.
Adam Roberts diz que “É íntima a relação entre a narrativa de FC de viagem interplanetária e a narrativa do romance de cavalaria de viagem terrestre exótica”. Ele descarta dessas primeiras narrativas, por exemplo, a obra Orlando Furioso (1532), de Ludovico Ariosto, algumas vezes apresentada entre os antecedentes da ficção científica. Segundo Roberts, para o autor, “(...) os céus não são materiais”, uma vez que ele segue a visão ptolomaica do sistema solar, na qual os céus são imutáveis, perfeitos e divinos.
É verdade que o conceito dos planetas como mundos materiais já existia há muito, e um modelo do sistema solar tendo o Sol como centro já tinha sido desenvolvido pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (c. 310-230 a.C.). Posteriormente, surgiram as propostas de Copérnico, em 1543, de Giordano Bruno, em 1584, e Galileu Galilei, por volta de 1609. Mas era muito perigoso defender essas ideias, vistas pela Igreja Católica como heresias que levavam as pessoas a julgamento e punição, como foi o caso de Giordano Bruno, queimado vivo em 1600.

A fascinação com os planetas mais próximos de nós, observáveis a olho nu ou por meio de aparelhos, pode ser verificada em uma série de histórias que antecedem o período moderno da ficção científica, e que continuou mesmo depois de os estudos científicos mais confiáveis terem informado que não havia vida em Marte, Vênus ou na Lua, locais constantes das primeiras viagens espaciais do gênero.

                                                                                                                                         Planeta Mercúrio (NASA, 1974).

Brian Stableford disse que os primeiros viajantes interplanetários invariavelmente descobriram mundos muito semelhantes à Terra. Segundo ele, sem ter uma teoria da evolução como guia, “(...) a criação imaginativa de vida em outros mundos foi um processo inevitavelmente aleatório e arbitrário”. Mas ressalta a “notável exceção” do Somnium (1634), de Johannes Kepler, o livro que Adam Roberts disse ser “(...) a primeira novela inequivocamente de ficção científica”, um texto que “(...) articula com precisão a dialética entre ciência racional protestante e expansão imaginativa mágica/demoníaca católica que molda o gênero emergente”.
Outras visões da Lua surgem em The Man in The Moone (1638), de Francis Godwin; Discovery of a World in the Moone (1638), de John Wilkins; O Outro Mundo (1657), de Cyrano de Bergerac.

Outros planetas também começam a surgir em narrativas que, às vezes, são apontadas entre as que formam a chamada “proto-ficção científica”, e às vezes são fantasias ou alegorias com pouca relação com o gênero.
Adam Roberts cita a novela Die Geschwinde Reise auf dem Lufft-Schiff nach der obern Welt, welche jüngstlich fünff Personen angestellt (Rápida Jornada em uma Aeronave para o Mundo Superior, Empreendida Recentemente por Cinco Pessoas, 1744), do alemão Eberhard Christian Kindermann, que apresenta cinco personagens representantes dos cinco sentidos que são levados para Marte em uma nave voadora feita de sândalo.
Em 1750 foi a vez de Relation du Monde de Mercure (Relato do Planeta Mercúrio), de Le Chevalier de Béthune, texto que, como informa Roberts, é “(...) uma obra original da antiga FC, pois não usa a descrição de uma imaginária sociedade mercuriana como veículo de sátira política ou fantasia utópica”. Ainda assim, como de costume na época (e em épocas posteriores), imagina o planeta habitado por pequenas criaturas aladas governadas por seres benevolentes que moram no Sol.
Em 1752 foi publicado Micrômegas, de Voltaire, obra escrita em 1730, e que apresenta um extraterrestre da estrela Sírio viajando pelo universo, inclusive os planetas do nosso sistema solar. É um dos livros muito citados entre os que compõem a proto-ficção científica e, como muitas obras da época, funciona como uma sátira à sociedade da época, com os alienígenas de Sírio e de Saturno observando os costumes humanos. Adam Roberts diz que a obra “Por um lado, é uma apresentação satírica das coisas que consideramos importantes para mostrar como essas coisas são triviais em uma escala cósmica. Mas não é só isso; assim como As Viagens de Gulliver, pelas quais foi diretamente inspirado, gera um memorável excesso imaginativo, alçando voo para as esferas de espanto que animam a melhor FC”.
Adam Roberts diz que a obra traz uma inovação ao inverter a premissa predominante na ficção científica do século 17, sendo a primeira a apresentar alienígenas chegando à Terra, e não viajantes terrestres encontrando alienígenas. “Os terrestres”, diz Roberts, “agem de acordo com a típica FC e tentam convencer os alienígenas da aplicabilidade universal da revelação cristã; mas Micrômegas duvida dessas certezas. A obra é ficção científica não apenas em sua premissa de visitantes alienígenas ao globo terrestre, mas na conexão ubíqua com os discursos científicos do momento e ao transformar esses discursos em ficção”.

                                                                                          Itinerarium Exstaticum, de Athanasius Kircher, edição de 1660.

Brian Stableford e David Langford citaram a obra do jesuíta Athanasius Kircher, Itinerarium Exstaticum (1656. Também como Iter Exstaticum), como a primeira visita ao planeta Mercúrio, e também uma das primeiras visitas a Vênus. O livro mostra o anjo Cosmiel levando o narrador da aventura por uma série de planetas, e foi descrito por Adam Roberts como uma obra místico-religiosa entediante, que navega entre a modalidade da quase-ciência e a viagem extraordinária, com uma “devoção francamente nauseante”. Roberts diz que Kircher rejeitava a cosmologia copernicana e aceitava o modelo proposto por Tycho Brahe, “(...) que acreditava que o Sol orbita a Terra e é por sua vez orbitado pelos planetas e pelas estrelas fixas. Esse modelo permitia que Kircher mantivesse a ortodoxia geocêntrica, exigida por sua fé, enquanto explorava o sistema solar como ele estava sendo revelado pela ciência contemporânea”.
Seguindo os passos de Kircher, explica Roberts, surgiu Emmanuel Swedenborg com sua obra De Telluribis (1758), obra que “(...) envolve expedições imaginárias a uma série de planetas, mas o todo está impregnado de um dogmático, se não insípido, misticismo mágico; os planetas e alienígenas encontrados só são diferenciados em sentido espiritual, e o conjunto funciona para justificar o culto religioso que Swedenborg estava estabelecendo”.
Stableford disse que o astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925) foi o primeiro escritor a aplicar as ideias de Lamarck (1744-1829) e de Charles Darwin (1809-1882) à construção de mundos alienígenas hipotéticos, nos livros Les Mondes Imaginaires et les Mondes Réels (1865; Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais) e em Lúmen (Lumen, 1872); e ainda, seu romance Urânia (Uranie, 1890), que trata de reencarnação, também apresenta uma descrição, ainda que pouco detalhada, da biosfera de Marte.
Adam Roberts diz que Os Mundos Imaginários era uma obra de não ficção “(...) e incluía uma especulação astronômica sóbria acerca do sistema solar, com um resumo abrangente de anteriores viagens imaginárias ficcionais pelo sistema solar”. Já em Lúmen, segundo Roberts, o autor dramatizou grande parte do mesmo material de Os Mundos Imaginários. O Lúmen do título é um espírito desencarnado que pode viajar por todo o cosmos. Já Urânia, diz Roberts, “(...) é um acúmulo pouco articulado de uma miscelânea mística de FC, embora algumas descrições de estranhas formas de vida em outros mundos tenha a força de Lúmen”.
Outro autor citado tanto por Stableford quanto por Roberts é o francês C.I. Defontenay (1819-1856), em particular seu livro Star, ou Psi de Cassiopée (1854), que apresenta uma descrição abrangente da vida em outro planeta, no caso, o planeta Psi, que orbita três sóis de diferentes cores na constelação de Cassiopeia.

Para Adam Roberts, a obra de Flammarion “(...) expõe a relação cada vez mais íntima entre impulsos materialistas e místicos na FC do final do século; com base em um meticuloso conhecimento astronômico e científico, suas ficções devem grande parte da extrema popularidade à tônica espiritualista das narrativas”. Stableford entende, ainda, que “A maioria dos romances interplanetários do final do século 19 semelhantemente apresentam raças pseudo-humanas e são veículos para hipóteses políticas e sociológicas ao invés de biológicas”.
Esse aspecto espiritualista também surge na obra de Marie Corelli, Um Romance de Dois Mundos (A Romance of Two Worlds, 1886. Editora O Pensamento, 1933), uma das autoras mais populares da época. O livro é tido por Roberts como “(...) um retorno especialmente prolixo às jornadas místicas de Kircher e Swedenborg”, narrando uma viagem na narradora ao redor do sistema solar, em companhia do anjo Azùl, visitando sociedades de vida espiritual em Saturno, Vênus e Júpiter.

Capa de Paul Lehr, 1967. Berkley Highland; Capa de Richard Powers, 1985. Berkley Highland; Capa de Chris Moore, 2001. Gollancz/Orion.

A visão dos críticos com relação à FC do final do século estende-se a algumas obras do início do século 20. Como disse Brian Stableford, “Até H.G. Wells, um escritor cuja educação biológica o qualificava a assumir o trabalho de projetar um sistema de vida alienígena, esquivou-se da tarefa; a sociedade selenita em Os Primeiros Homens na Lua (The First Men in the Moon, 1901) recebe apenas a mais superficial ecologia de apoio”.
Adam Roberts diz que o livro é “(...) uma aventura agradável de se ler, mas não particularmente impressionante”, apresentando dois terráqueos que transferem-se para a Lua sem querer, “(...) onde correm um bocado de um lado para o outro para escapar dos selenitas insectoides”.
 


ALGUNS OUTROS LIVROS DO PERÍODO
 

A VOICE FROM ANOTHER WORLD
1865-1893
Wladyslaw Lach-Szyrma.

Capa de Ron Miller (Baen/ 2013).

Também publicado com o título Aleriel. O autor britânico era um sacerdote anglicano de descendência polonesa e escreveu uma série de histórias de ficção científica – ou o que Peter Nicholls e John Clute chamaram de ficções interplanetárias – centradas no personagem Aleriel, um venusiano alado, a partir de 1865, publicando em diversas revistas. Em 1874, parte do material foi incorporado em A Voice From Another World, trazendo viagens pelo sistema solar.
Em visita à Terra, ele conhece o narrador da história e se faz passar por um corcunda, para disfarçar suas asas, e profundo conhecedor de ciência. Ele descreve Vênus como uma utopia e, eventualmente, retorna ao planeta e envia cartas descrevendo a vida em outros planetas. Aleriel explica ao narrador que o universo está repleto com bilhões de mundos e que todas as criaturas nesses mundos têm almas, afirmando que a Igreja Católica de Deus é universal.
Jess Nevins diz que as histórias de Aleriel são levemente divertidas, mas que a tentativa de Lach-Szyrma de fundir ciência com religião não é convincente e seu proselitismo se torna entediante. “A intenção de Lach-Szyrma ao escrever as historias de Aleriel não era de apresentar alienígenas realisticamente, mas sim combinar suas próprias ideias religiosas e filosofia moral com a questão do ‘pluralismo’, ou da vida inteligente em outros planetas”.


ACROSS THE ZODIAC: THE STORY OF A WRECKED RECORD
1880
Percy Greg.

Capa de Ron Miller (Baen/ 2013).

Além de apresentar uma espécie de energia antigravitacional, o “apergy”, e uma viagem a Marte, o livro também ficou conhecido por ter utilizado pela primeira vez a palavra “astronaut”, que é o nome da nave utilizada na viagem. Alguns críticos também dizem que apresenta a primeira linguagem alienígena do gênero.
John Clute e Brian Stableford disseram que o livro é significante por sua descrição detalhada da jornada a Marte e da construção da espaçonave. “Uma vez em Marte”, eles ponderam, “segue-se um detalhamento mais ortodoxo de uma utopia; a versão marciana, apesar de ser benignamente monárquica e tecnologicamente avançada, sofre de literalismo científico (pensamentos errados são criminosos) e moralidade sexual dúbia (mulheres são compradas e vendidas)”.
Em The Encyclopedia of Fantastic Victoriana, Jess Nevins diz que “O narrador descobre que a civilização Marcialista (do original “Martialist”) é uma espécie de pesadelo vitoriano. Embora os marcialistas sejam tecnologicamente mais avançados que os humanos, sua sociedade vai contra o que Greg e os vitorianos estimam. O sufrágio universal levou ao comunismo ateísta e, então, ao caos”. A situação faz surgir uma elite científica que impõe ordem ao planeta, criando e forçando uma cultura materialista ortodoxa rígida aos marcialistas. Mas as mulheres passam a ser vistas como bens móveis e as crianças criadas pelo estado; ao mesmo tempo, a filosofia geral é um racionalismo levado às últimas consequências, de tal forma que até mesmo a recusa em aceitar os resultados da ciência é motivo de punição.


AVENTURES EXTRAORDINAIRES D’UN SAVANT RUSSE
1888
Georges Le Faure e Henry de Graffigny.

Ilustração de Henriot para Aventures Extraordinaires D’un Savant Russe; Capa de Jean-Pierre Normand (Black Coat Press, 2009).

O livro teve três sequências: Le Soleil et les petites planètes (1889); Les planètes géantes et les comètes (1890); Le désert sideral (1896). Segundo John Clute, o livro é fortemente influenciado por Júlio Verne, apresentando o protagonista Mikhail Ossipov, cientista russo que descobre um explosivo poderoso que chama de selenita, em homenagem a sua filha, Selena. O enredo romântico envolve um vilão inimigo do cientista, o rapto de sua filha, uma viagem à Lua, Vênus, Mercúrio, Marte e para os planetas exteriores.
Em Vênus, encontram uma civilização que fala grego e cujos habitantes vivem em cidades flutuantes.
Brian Stableford disse que a importância histórica do livro deriva principalmente do fato de que foi uma tentativa determinada e extremamente ambiciosa de combinar a ficção de ação e aventura com a popularização da ciência para produzir um novo tipo de ficção.


MIRRIKH OR A WOMAN FROM MARS. A TALE OF OCCULT ADVENTURE
1892
Francis W. Doughty.
O autor ficou conhecido como um dos mais bem sucedidos escritores do que ficou conhecido como “dime novels”, basicamente “romances baratos”, escritos para um público jovem. Esse livro foi um dos que ele escreveu para público adulto, e não teve muito sucesso.
Fala sobre um marciano que vem à Terra, com seu espírito habitando um corpo, e podendo retornar quando bem entender. Ele encontra e salva americanos que estavam na Ásia e os convida a visitar Marte. Um deles aceita e realiza a viagem “em espírito”, descobrindo que em Marte, como na Terra, existe um companheiro ou companheira ideal para cada pessoa, e ele encontra a sua.


 

 


ROMANCES OF THE PLANETS
1894-1895
Gustavus W. Pope.
Dois livros do autor norte-americano, apresentados como “romances científicos”, e que alguns críticos dizem terem inspirado as aventuras em Barsoom, de Edgar Rice Burroughs. Os livros: Journey to Mars: The Wonderful World; its Beauty and Splendor; its Mighty Races and Kingdoms; its Final Doom (1894); Journey to Venus: The Primeval World, its Wonderful Creations and Gigantic Monsters (1895).
Um oficial americano naufraga na Antártida e salva a vida de um homem estranho, acordando três semanas depois cercado por seres de pele amarela, vermelha e azul que se comunicam com ele por telepatia. Ele descobre que são marcianos que estabeleceram uma base no Polo Sul. Quando retornam a Marte, levam o humano com eles, e ele descobre que o planeta é muito parecido com a Terra, ainda que com uma cultura mais próxima da Europa feudal. Eles têm tecnologia avançada e veículos que usam para viajar pelos planetas. O terrestre ainda apaixona-se por uma princesa marciana e tem de enfrentar um inimigo que rapta a princesa.
Na viagem seguinte a Vênus, ele e os marcianos encontram um planeta habitado por dinossauros.


A TRIP TO VENUS
1897
John Munro.

Capa de Ron Miller (Baen, 2013).

O livro inclui a história A Message From Mars, publicada em 1895 na Cassell’s Family Magazine, apresentada no livro como o primeiro capítulo. Fala de uma viagem realizada em uma espaçonave movida por antigravidade, encontrando uma sociedade utópica em Vênus, e também uma viagem a Mercúrio. O britânico Munro era engenheiro e escrevia livros populares sobre ciência. O grupo de viajantes inclui o cientista inventor da nova forma de energia, sua filha, um astrônomo e o narrador da história. Em Vênus, encontram um planeta semelhante à Terra, e o narrador apaixona-se por uma linda sacerdotisa local.
Em Mercúrio, também encontram um planeta habitável no qual podem respirar livremente e que está repleto de animais semelhantes a dragões.
Jess Nevins destaca que a obra tem poucas qualidades literárias, mas que é um interessante precursor da moderna ficção científica “hard”, com o autor mencionando foguetes com vários estágios, estações espaciais, a utilização de paraquedas em aterrisagens e até a viagem espacial utilizando naves geracionais.


A HONEYMOON IN SPACE
1900
George Griffith.

(C. Arthur Pearson, 1901); capa de Ron Miller (Baen, 2013).

Reunião de várias histórias que apareceram inicialmente em Pearson’s Magazine como Stories of Other Worlds. Jess Nevins cita o livro com o título A Visit to the Moon.
John Clute e John Eggeling destacam que os viajantes apresentados aqui visitam a Lua, Vênus, Marte, Ganimede e outros planetas, cada um deles surgindo em uma sequência de história, “(...) fornecendo a eles versões débeis de sociedades ideais contrastantes”.
Nevins diz que, durante algum tempo, Griffith chegou a ser um escritor mais popular do que H.G. Wells, “(...) mas ele não era um bom escritor e incorporou muitos dos piores aspectos da visão do mundo do império britânico. A Visit to the Moon tem substancial conteúdo da ficção científica vitoriana, mas é arruinado pelas falhas morais de Griffith”.
A história segue as viagens de um casal na nave Astronef. Na Lua, encontram monstros, esqueletos e uma pirâmide, mas a civilização que a erigiu em algum momento não mais existe. Marte tem uma civilização de pessoas com quase três metros de altura e que falam inglês; são “decadentes” e bélicos. Vênus tem uma atmosfera respirável e humanoides alados e inocentes. Nas luas de Júpiter, encontram cidades cercadas por domos de cristal. Saturno tem oceanos com monstros de duas cabeças, árvores e gorilas gigantescos.

Abaixo, ilustrações de Stanley Wood e Harold Piffard, para a primeira edição do livro.


Nevins diz que o livro parece uma aventura para crianças, mas “Infelizmente, Griffith concebeu o livro para um público adulto e incluiu subtextos ideológicos que o leitor moderno provavelmente vai achar detestável”. Segundo Jess Nevins, entre as mensagens recorrentes do texto estão a superioridade da raça anglo-saxônica, da Grã-Bretanha, e a correção do sistema de classes vitoriano.
Segundo Nevins, o livro também teve muita influência no desenvolvimento do subgênero steampunk, no final do século 20 e início do 21. O crítico termina dizendo que “Os clichês estilísticos e narrativos de A Visit to the Moon, sua quase nula caracterização, seu nacionalismo exacerbado e esnobismo deixam no leitor moderno uma impressão final de uma combinação de tédio e suave indignação”.