O tema é amplo e abarca mais do que a mutação de seres em criaturas monstruosas, e tem sido bastante utilizado na ficção científica, tanto na literatura quanto no cinema. Às vezes, de forma bem exagerada.
(Capa: Jack Perkins/ E.P. Dutton). (Capa: Lawrence).
Segundo Brian Stableford e David Langford (em The Science Fiction Encyclopedia), um dos primeiros autores a utilizar a noção das mutações na ficção foi John Taine, pseudônimo do matemático escocês Eric Temple Bell, a começar com o livro The Greatest Adventure (1929), posteriormente publicado na revista Famous Fantastic Mysteries (1944). Na história, os corpos de sáurios gigantescos surgem no oceano e descobre-se que experiências em mutações foram realizadas na Antártida. Taine continuou escrevendo sobre mutações em The Iron Star (1930), dessa vez com uma expedição à África descobrindo que a queda de um meteoro provocou mutações, inclusive fazendo humanos reverterem à condição de macacos. E em Seeds of Life (1931), publicado em Amazing Stories Quaterly, a radiação transforma um homem em super-homem.
Para Stableford e Langford, “histórias como essas, que atribuem qualidades metamórficas mágicas à radiação, devem mais a De Vries do que à teoria ortodoxa da mutação, e mesmo assim elas se tornaram lugar comum ao longo da história da ficção científica”. Eles referem-se ao conceito desenvolvido pelo botânico e geneticista holandês Hugo de Vries no livro Die Mutationstheorie (A Teoria da Mutação, 1901-1903), que popularizou a ideia de mutação postulando que a evolução pode ocorrer mais frequentemente por meio de mudanças em larga escala do que por meio do gradualismo proposto por Charles Darwin, sugerindo uma forma de saltacionismo, que, em biologia, é uma grande e repentina transformação mutacional de uma geração para a geração seguinte.
De fato, grande parte das histórias do gênero utilizam mutações repentinas como parte dos enredos, mas nem sempre é assim. Já em 1895, H.G. Wells escrevia A Máquina do Tempo (The Time Machine), apresentando os morlocks, do ano futuro 802.701, que nada mais são do que humanos que passaram por um processo de mutação, lentamente adaptando-se ao seu novo ambiente.
Wells tentou uma aproximação diferente do tema em O Alimento dos Deuses (The Food of the Gods and How It Came to Earth, 1904), no qual um químico e um professor pesquisam uma substância capaz de acelerar o processo de crescimento. Eles não só conseguem descobrir a substância como, após testarem com sucesso em galinhas, permitem por pura inépcia que o “alimento dos deuses” entre na cadeia alimentar de outros animais e plantas. O resultado é o surgimento de plantas gigantes, vespas e ratos imensos e, finalmente, seres humanos gigantes, provocando uma série de problemas na sociedade.
O livro geralmente é considerado entre os mais fracos do autor, mas ainda assim é muito melhor do que as adaptações para o cinema feitas pelo diretor Bert I. Gordon, já citado na matéria Gigantes Atômicos e Outros Monstros. Gordon tinha uma certa fixação por gigantes, humanos ou não. A primeira adaptação, muito distante da história de Wells, foi A Cidade dos Gigantes (Village of the Giants, 1965), aproveitando a onda de filmes com adolescentes dos anos 1960 e apresentando um grupo de jovens cujo carro quebrou numa estrada e dirige-se a uma cidade próxima para conseguir ajuda.
(Berkeley Productions/ Embassy Pictures/ Joseph E. Levine Productions).
Na cidade vive um jovem conhecido como Gênio, um prodígio que cria um alimento que faz as pessoas crescerem, que chama apenas de “goo” (grude). Claro que os jovens comem o grude e crescem até atingirem nove metros de altura e, percebendo o poder que têm, resolvem isolar e tomar conta da cidade. Os gigantes aterrorizam a cidade, mas nem tanto, uma vez que é para ser uma diversão leve.
O Gênio foi interpretado por Ron Howard, que mais tarde se tornaria um dos mais conhecidos diretores do cinema norte-americano.
Não satisfeito em produzir um filme ruim baseado no livro de H.G. Wells, Gordon retomou o tema em A Fúria das Feras Atômicas (The Food of the Gods, 1976). Aqui, a “comida” em questão brota do chão em uma ilha canadense, e é utilizada por um fazendeiro para alimentar suas galinhas. A comida faz com que elas se tornem gigantes, e logo vários animais começam a crescer e causar problemas. Segundo Phil Hardy, Gordon aproveitou a onda de filmes dos anos 1970 na linha conhecida como “vingança da natureza”, para apresentar sua versão baseada, como dizem os créditos do filme, “em uma parte do romance de H.G. Wells”, mas sem sucesso. Em 1989, surgiu A Praga Assassina (Food of the Gods II), dirigido por Damian Lee, apresentado como uma sequência ao filme de 1976, mas tendo ainda menos relação com a história de Wells. Um hormônio transforma ratos em animais imensos e assassinos que provocam matança em uma universidade. Um lixo.
Parece que as histórias envolvendo mutantes na literatura de ficção científica concentraram-se mais no desenvolvimento de capacidades mentais ou físicas dos seres humanos, enquanto que o cinema concentrou-se principalmente em apresentar monstros horrendos, transformados pelos mais variados motivos.
Esses filmes de monstros mutantes sempre existiram, mas no final dos anos 1980 e nos anos 1990 houve um aumento considerável de produções, geralmente paupérrimas, com histórias ruins, quando não grotescas. Nessa época, praticamente todo tipo de inseto foi transformado em monstro, além dos tradicionais ratos, crocodilos, morcegos e outros. São poucos os filmes do período que podem ser considerados razoáveis, mas como já se tornou comum, muitas pessoas gostam de assistir aos piores filmes possíveis como forma de diversão. Eu continuo preferindo assistir a filmes bons, e já tive minha cota de porcarias indizíveis no campo da monstruosidade.
Seja como for, apresentamos uma listagem – incompleta, é clara – de filmes que trazem algum tipo de mutação em direção à monstruosidade.
Veja os filmes aqui.