Clifford D. Simak ficou conhecido, entre outras coisas, pelos livros em que apresenta a Terra sendo visitada por seres extraterrestres e de outras dimensões, em épocas muito recuadas de nossa história. Como Doris Lessing e H.P. Lovecraft, ele imaginou que a passagem desses seres pelo planeta explicaria uma série de lendas e mitos que se mantêm ao longo dos séculos. E, apesar de muitas vezes algumas dessas histórias terem recebido críticas pesadas, muitas delas apresentam enredos bastante originais dentro da ficção científica.
É comum ele trabalhar com a noção do Bem e do Mal atuando na Terra e no universo, e sua relação com nossa vida, às vezes conectada com a presença de extraterrestres. Abordagens que tratam da religiosidade dos seres, humanos ou não, são constantes em suas obras, seja como ponto central no desenvolvimento do tema, seja como uma relação paralela ao tema central.
(FreeImages.com/ Chris H.)
Esse tipo de observação acerca da manifestação da espiritualidade conectada a temas modernos da FC parece ter surgido já em seus primeiros trabalhos e, ainda que em algumas oportunidades o tema não tenha sido desenvolvido em torno de uma narrativa muito bem elaborada, oferece algumas ideias que podem ser consideradas entre as mais interessantes do gênero.
(Capa: Tony Roberts. Magnum Books/ Methuen Paperbacks).
Essas noções começaram a surgir timidamente já em seu segundo livro, Guerra no Tempo (Time and Again, 1951), no qual ele apresenta a ideia do Destino como algo com uma existência real, física, localizável no tempo e espaço. Em meio a um enredo complexo, talvez até mesmo complicado, CDS apresenta o Destino representado por seres que habitam um planeta distante, os quais enviam uma mensagem para o universo por intermédio de um homem que tem sua estrutura modificada por eles para melhor cumprir sua tarefa. Essa tarefa é, justamente, divulgar a informação de que todos os seres vivos possuem o seu próprio destino, ligado a eles como uma espécie de vida simbiótica. O Destino ligado a cada pessoa é que forneceria a elas as informações necessárias a respeito dos rumos e atitudes mais apropriadas a serem seguidas em cada ocasião.
(Capa: Romas Kukalis/ Ace Books).
O mundo que esses seres habitam é impenetrável aos seres humanos e a qualquer tipo de energia conhecida, de modo que eles são apresentados na história com um status de deuses, atuando beneficamente na vida dos humanos e de todos os demais seres vivos, inclusive os androides, que conquistaram a condição humana. Esses seres podem ser vistos quase como o oposto dos alienígenas que surgem no livro de Colin Wilson, Parasitas da Mente, que se alimentam da energia dos humanos sem dar nada em troca. No livro de CDS não existe um Mal propriamente dito, a não ser os próprios humanos que tentam subverter a atuação do Destino como forma de obter mais poder.
(Capa: Ed Emshwiller).
No conto O Van Gogh do Espaço (The Spaceman’s Van Gogh, 1956, publicado no livro Mundos Sem Fim. Originalmente publicado na revista Science Fiction Stories), CDS apresenta a procura de um homem pela fé, mas não a fé como algo interior, pertencente à pessoa, mas como algo com existência real, física, em algum lugar do universo. Procura a fé como um fato ou princípio maior do que a fé como os humanos a conhecem; e faz isso a partir de uma pintura na qual, ele acredita, o artista conseguiu reproduzir um local, um planeta, cuja simples visão já era uma evidência da existência da fé.
Essa tentativa de encontrar um princípio que norteie a vida e a religiosidade, com uma existência física no universo, também seria um dos pontos a serem explorados em livros como O Deus Impassível (A Choice of Gods, 1972) e Projeto Papa (Project Pope, 1981).
(Capa: Ralph Brillhart. Del Rey/ Ballantine).
A história de O Deus Impassível situa-se num futuro longínquo, quando a humanidade já abandonou o planeta dirigindo-se para três planetas diferentes, deixando apenas alguns poucos humanos e robôs na Terra. Os humanos que ficaram mantêm contatos telepáticos com a humanidade que se encontra distante, e conquistam a capacidade da teleportação, enquanto os robôs dividem-se; uns estudando e tentando recuperar a antiga fé religiosa que moveu os humanos por tanto tempo e, com isso, assumindo pensamentos, posturas e objetivos exatamente iguais aos humanos; outros empenhados num Projeto.
Nos contatos telepáticos fica-se sabendo que os humanos que viajaram pelas estrelas encontraram indícios da existência de uma inteligência alienígena situada no centro da galáxia, tão superior à humana que se torna difícil até mesmo tentar fazer uma comparação. Um dos humanos que retorna à Terra e que diz ter estado muito próximo dessa inteligência, explica que sentiu algo muito estranho, quase inexplicável. Não se trata de uma entidade má, mas pode ser considerada ainda pior do que isso, pois é indiferente, sem qualquer vestígio de emoção, sem “um único pensamento que possa ser apreciado pelo espírito humano”. Entende-se que seja um princípio vivo, o provável organizador do caos em que o universo vivia, com uma idade incalculável em termos humanos. A ideia do Princípio existente em algum lugar do universo liga-se à antiga ideia de um Deus supremo, a noção que a raça humana possuía antes de desaparecer do planeta em direção ao universo. Ao mesmo tempo, o Projeto que está sendo elaborado por alguns robôs também detecta a existência de uma inteligência no centro da galáxia. O Projeto, na verdade, é um gigantesco robô, preso à Terra, que faz parte de um plano muito maior e incompreensível para os humanos.
O Projeto fornece respostas a determinadas perguntas, vindas diretamente desse Princípio/Deus no centro da galáxia. Quando os humanos que estão nos outros planetas resolvem retornar à Terra, trazendo com eles sua forma de civilização absolutamente tecnológica, o Princípio manifesta-se através do Projeto para impedir que voltem a ocupar o planeta, dizendo que não irá permitir qualquer tipo de interferência na Terra, uma vez que ela também faz parte da experiência que ele está realizando. Em outras palavras, foi essa inteligência superior quem tomou a decisão de separar a humanidade, enviando grupos para planetas diferentes e mantendo alguns na própria Terra, com o objetivo de observar o desenvolvimento sob condições diversas.
(Capa: Michael Hinge. G. P. Putnam's Sons / SFBC).
As questões propostas por CDS nesse livro seguem por dois caminhos diferentes, ainda que quase sempre tratados de forma muito próxima. Simak parece entender que existe certa dificuldade em conciliar modos de vida diferentes, desenvolvimentos de civilização distintos, de modo que um desenvolvimento excessivamente ou totalmente voltado para o aspecto tecnológico teria como resultado imediato a perda de certas capacidades mentais, justamente aquelas ligadas aos chamados poderes paranormais como a telepatia e, nesse caso, também a teleportação. CDS não propõe soluções, mas procura estender a visão sobre o assunto, o que ocorreu também em vários livros posteriores, quase sempre sem a mesma grandiosidade com que faz aqui. Em alguns momentos, ele dá a impressão de procurar um meio termo, um ponto em que os dois modos de pensar se integrem, e geralmente isso ocorre quando surgem os seus autômatos, robôs que podem ser comparados aos humanos em absolutamente tudo.
O Projeto, no entanto, é algo completamente diferente. Apesar de os humanos que permaneceram na Terra terem atingido um desenvolvimento sem precedentes, e não tecnológico, é com o Projeto que o Princípio/Deus se comunica, uma vez que o Projeto aproxima-se mais do tipo de inteligência fantástica do Princípio do que a humanidade jamais poderá fazê-lo. O Projeto também se coloca acima do tipo de inteligência dos robôs, uma vez que foi construído a partir de informações fornecidas pelo “deus” e, portanto, ultrapassando tudo o que já foi construído por humanos ou robôs. Não sendo humano, é incompatível com qualquer das formas de pensamento. A humanidade que possuía a fé em um Deus, em uma inteligência ordenadora do universo, criadora desse universo, finalmente faz contato com Deus, só que ele está mais próximo de ser uma máquina, um engenho inconcebivelmente desenvolvido, do que um ser puramente biológico e, assim, mais próximo da humanidade. Os humanos constroem as máquinas que constroem outras máquinas com as quais se comunicam com Deus, que lhes responde afirmando que a humanidade não tem a menor importância uma vez que é um fator transitório.
Em outras palavras, Deus existe, mas não está nem aí conosco. Talvez seja uma ideia mais terrível do que a da presença do Mal entre a humanidade, tentando corromper e atrapalhar o desenvolvimento. Aqui, a fé que moveu a humanidade ao longo de sua história é simplesmente exterminada, ao mesmo tempo em que a humanidade descobre que não foi mais do que rato de laboratório para esse Deus.
(Capa: Rowena Morrill. Del Rey/ Ballantine).
Em Projeto Papa a questão da religiosidade voltaria a ser explorada, entremeada com outros temas que acompanharam sua obra. Num planeta conhecido como Fim-de-Nada, num ponto esquecido do universo e num futuro tão longínquo que a lembrança da Terra é muito tênue, alguns autômatos reuniram-se no local conhecido como Vaticano 17 e, por mil anos, elaboram o que chamam de Projeto Papa, depois que sua participação na religião dos humanos foi proibida.
A evolução dos robôs durante esse longo período faz com que se tornem criaturas bem diferentes dos humanos, ainda que tenham sentimentos e emoções que se aproximam muito das humanas. Incorporando à fé terrestre original uma série de pensamentos alienígenas, eles resolveram construir um supercomputador que deveria funcionar como seu Papa, um ser infalível e imortal que diariamente recebe informações novas sobre as crenças de todo o universo conhecido. Para obter informações, utilizam-se de sensitivos que vasculham o universo com suas mentes.
A pretensão original era a de que o Papa lhes fornecesse respostas imediatas, instantâneas e infalíveis às questões formuladas por eles, seguindo o pensamento racional e objetivo dos robôs. Mas percebem que o Papa não poderá funcionar segundo esses critérios, uma vez que ele pensa em termos universais, programando respostas para centenas ou milhares de anos. Para eles, é importante o conhecimento, pois sua fé baseia-se nisso, ao contrário da fé humana, de modo que uma das mulheres humanas utilizadas no processo de busca de informações pelo universo é de fundamental importância uma vez que, antes de ficar doente, ela afirmou ter visto o Céu.
(Capa: Iain McCaig. Sidgwick & Jackson).
Após uma série de problemas e dificuldades que envolvem a política interna do Projeto Papa e a atuação de humanos e alienígenas, consegue-se chegar ao Céu, mas descobre-se que o local é um centro de estudos galácticos, semelhante ao Vaticano 17, ainda que mais antigo e voltado para uma área mais física do que espiritual. E mais; sabem que o local é uma ameaça a eles uma vez que alguns dos seres ali presentes têm objetivos de conquista e de poder.
Mais uma vez, como em O Deus Impassível, encontram o que estavam procurando, mas percebem que não é exatamente o que imaginavam. A tentativa de encontrar a fé, Deus, ou uma religião transformada em fatos físicos, palpáveis e mensuráveis, não parece ser possível, e até mesmo os autômatos começam a perceber isso, ou pelo menos alguns deles. O Projeto continua procurando um princípio universal, mas não mais como um local específico, e sim como uma ideia a ser transmitida, ou revelada e partilhada com quem se interessar por ela.
As conclusões que surgem ao final da leitura refletem alguns dos pensamentos centrais dos livros de CDS, como a necessidade de se estabelecer um relacionamento perfeito entre os seres, afastando-se dos conceitos de conquista e obtenção de poder a todo custo. Como pode ser visto nos chamados “livros de jornadas” do autor, aqui também a aventura por que passam os personagens modifica-os para melhor, faz com que compreendam que o caminho para se chegar a esse relacionamento perfeito inclue o conhecimento do que significa cada ser vivo, sem o que os indivíduos não podem estreitar suas relações.
Ao apresentar essas noções, CDS demonstrou uma preocupação com a forma pela qual se desenvolvem as sociedades preconceituosas. Para ele, os conhecimentos não devem ser adquiridos e utilizados separadamente. A ciência e a fé religiosa podem estar em lados opostos, mas apenas intelectualmente. Na realidade, completam-se, como partes de uma realidade maior. Quando parte em uma busca desesperada por uma situação melhor, a humanidade deixa de perceber a necessidade de observar as questões por vários ângulos, de modo a formar conceitos mais complexos a respeito da vida, da morte e do universo, com suas infinitas relações. Dessa forma, alimenta uma estruturação de sociedade baseada em pontos de vista preconceituosos, e não tem possibilidade de se livrar desses pontos de vista quando essa ação se torna absolutamente necessária, uma vez que essa estrutura social adquire tamanha complexidade que passa a funcionar praticamente por conta própria, como uma máquina que alimenta a si mesma de energia. A ideia que ele transmite com alguma frequência é a de que o ser humano, ao longo dos anos, tentou encontrar a si mesmo por meio da religião, de um deus, real ou imaginário. Não tendo alcançado seu objetivo, esqueceu a religião ou, para ser mais exato, o lado espiritual, e voltou-se completamente para a ciência e a tecnologia; e o resultado final foi o mesmo. A única possibilidade de solução é pela conjugação dos modos diferentes de pensar o universo e a si mesmos.
(Retrato desenhado de Clifford D. Simak publicado na revista Wonder Stories, dezembro de 1931. Stellar Publishing. Artista não identificado).
Existe uma diferença visível na forma como C.S. Lewis via a função da ciência e, consequentemente, da tecnologia. Em momento algum CDS entende que a ciência e a tecnologia sejam, em si, a porta de entrada do Mal, como CSL elaborou em seus livros – em particular na trilogia Além do Planeta Silencioso, Perelandra e Uma Força Medonha –, talvez porque a religião expresa por Simak em seus livros seja algo muito mais apegado à terra, aos valores humanos, do que a deuses propriamente ditos exercendo seu poder sobre o planeta e seus habitantes. Os personagens de CDS não têm a atitude do rebanho dos oyarsa apresentado por Lewis e sua procura por um princípio – ainda que se manifeste externamente, e ainda que seja, muitas vezes, dirigida para o universo, para outros planetas – é uma procura interna, é uma tentativa de buscar respostas que satisfaçam internamente e que recomponham um equilíbrio que ele entende ter sido rompido em algum momento da história.
A procura do equilíbrio proposta por CDS está, na verdade, muito mais próxima do conhecimento ao qual se referiu PKD. O equilíbrio é de fato a união de modos de pensar diferentes que, teoricamente, propiciariam uma visão mais ampla da realidade. Os mundos de CDS estão afastados uns dos outros e as pessoas não têm noção disso porque estão presas a determinadas formas de pensar. Então, da mesma forma como, em PKD, o conhecimento levanta o véu de Maia e nos deixa ver o verdadeiro mundo com suas múltiplas realidades, em Simak esse conhecimento também possibilita ter acesso ou ciência da existência de múltiplas realidades que, um dia, já compuseram um único mundo. As lendas humanas referem-se, então, a esse período em que todas as criaturas conviviam num mesmo espaço físico. A diferença entre os pontos de vista é que PKD, assim como Doris Lessing e CSL, propôs a intervenção extraterrestre no planeta, a presença de um Bem e de um Mal exteriores, agindo sobre a sociedade e sobre as mentes dos terrestres, enquanto que em CDS o Bem e o Mal são questões que dizem respeito muito mais à estrutura interna dos seres humanos do que a qualquer agente exterior. Quando se procura o Bem no exterior, encontra-se indiferença, um deus absolutamente impassível que se importa muito pouco ou mesmo nada com nossos desígnios. O Mal é a própria ruptura causada pelos seres humanos – ainda que também seja o “não conhecimento” da realidade, como em PKD – assim como o Bem pode ser representado pela reunião dos diferentes princípios.
(Capa: Davis Meltzer/ Ace Books).
Para alguns críticos da obra de CDS, a noção de distanciamento entre o desenvolvimento de poderes psíquicos ou de um crescimento espiritual, e o desenvolvimento de uma civilização tecnológica, tem origem na tendência do escritor para uma literatura que já foi considerada como antiurbana ou rural, ressaltando os sentimentos próprios da vida tranquila do campo. Existe uma procura por uma forma de tecnologia que favoreça a humanidade ao invés de agir no sentido de sua destruição, e os robôs de CDS são quase sempre o maior exemplo da união de alta tecnologia e bons sentimentos humanos. Essa tendência pode ter sido favorecida tanto por sua origem como homem simples do meio-oeste norte-americano quanto pelo fato de ter presenciado de perto as mudanças drásticas, rápidas e violentas causadas no planeta pelo desenvolvimento da ciência e tecnologia – especialmente a aplicação política e bélica dessa tecnologia – a partir da metade do século (CDS nasceu em 1904).
Ao contrário do que muitos possam pensar, essa postura não é desenvolvida em seu trabalho de forma radical – o que ocorre com outros autores e livros de meados do século –, mas parece ser motivada por uma preocupação real. De certa forma, CDS antecipou em uma década uma série de discussões que somente seriam levadas à FC nos anos 1960. Ele não desprezava a tecnologia como um todo, mas sim quando ela funcionava em nome da destruição ou de uma transformação que impedisse ou bloqueasse outras formas de desenvolvimento para os seres humanos. A frequente humanização dos robôs que ele apresenta em suas histórias pode ser um exemplo do que ele entendia como um equilíbrio ideal entre o que seria próprio da tecnologia e o que seria próprio da humanidade.
(Capa: Ed Valigursky. Ace Books).
A noção da oposição entre mental ou espiritual e tecnologia – vistos como fontes de poder e conhecimentos diferentes que precisam ser unidas – muitas vezes surge na obra de CDS diretamente ligada, como já foi dito anteriormente, à figura dos robôs ou autômatos, mas também à existência de seres lendários como gnomos e duendes. A humanização das máquinas já havia sido desenvolvida em Guerra no Tempo, com os robôs assumindo posturas muito próximas das humanas, mas tem seu ponto alto no melhor livro de CDS, Cidade (1952), um dos clássicos da ficção científica.
Ao longo dos contos que compõem a história do declínio dos humanos e o surgimento dos cães como a raça predominante na Terra, o autômato Jenkins passa do estado de um simples, ainda que eficiente, autômato mordomo, para o único elo de contato com a raça humana, a última memória de tudo quanto existiu de humano no planeta e, mais do que isso, o último ser humano na Terra, ainda que carregando sua humanidade dentro de um corpo de robô. Jenkins desenvolve tudo aquilo que um robô e um ser humano podem ter de melhor, unindo-os de forma concreta e visível. Ao vê-lo e ouvi-lo falar ninguém pode ter qualquer dúvida de que se trata de um robô e de um ser humano. É, com certeza, uma das maiores criações da FC, um dos robôs mais bem elaborados, senão o melhor, por um escritor do gênero. Em nenhum outro livro CDS conseguiria elaborar sua ideia de união entre dois modos diferentes de pensar com tamanha percepção e sensibilidade.
(Capa: Robert E. Schulz. Ace Books).
Em 1953, ele retornou ao tema com Mundos Simultâneos, introduzindo também o conceito da existência de mundos paralelos. O enredo é bastante complexo, como é comum com o autor, apresentando uma série de elementos misteriosos que vão se combinando e se explicando ao longo da história para fornecer a ideia geral. O personagem central é um humano que teve sua mente unida a um corpo androide com o objetivo de desenvolver determinadas capacidades psíquicas. A existência da Terra em outros segmentos de tempo, como mundos paralelos, iria tornar-se uma constante nos livros de CDS, e aqui já se vê o ponto central de suas teorias a esse respeito. O mundo paralelo é visto pelos personagens centrais como uma espécie de país de fadas onde a vida é muito melhor do que em nossa Terra.
Para CDS, houve um ponto fundamental na história do planeta em que alguma coisa aconteceu, um desenvolvimento não desejado ou que não era o ideal, e que levou-nos para um caminho menos interessante, enquanto em outros segmentos, em um mundo paralelo, seguiu-se o caminho correto, ou seja, o caminho que propicia o desenvolvimento e a união das capacidades fornecidas pela aplicação da tecnologia e as capacidades mentais e psíquicas que originam fenômenos como telepatia, precognição ou o teletransporte.
(Capa: Ed Emshwiller).
Juntamente com essa noção da separação dos mundos, que implica também na separação já citada entre mente e tecnologia, começaram a surgir seres lendários, como os gnomos. Uma das primeiras referências a eles aparece no já citado conto O Van Gogh do Espaço, no qual surgem como habitantes de um planeta nos confins da galáxia. No mesmo ano de 1956 eles voltaram a aparecer, agora como personagens centrais, no conto Tesouro Galáctico (Galactic Chest, publicado no livro O Homem Que Via o Futuro. Originalmente publicado na revista Science Fiction Stories, 1956), e ainda seguindo a proposta de que seriam seres extraterrestres que, numa época remota, estiveram na Terra, tendo sido repelidos ou mal interpretados pelos humanos de então, e tentavam nova aproximação, querendo ajudar a humanidade no que fosse possível. Ocorre uma onda de notícias de pessoas que viram os pequenos seres, de pessoas que são ajudadas por eles de formas variadas, desde a simples limpeza da casa ou objetos, até cientistas que são auxiliados na resolução de complicadas pesquisas.
(Capa: Richard Powers. G. P. Putnam's Sons / SFBC).
Os gnomos como seres alienígenas voltariam a surgir em 1967 no livro Terra Insólita (The Werewolf Principle), no qual também são discutidas questões referentes à natureza do ser humano e seu relacionamento com o universo, sua procura por uma inteligência superior, um deus ou um princípio norteador da vida.
Mas é a partir de 1968 que os pequeninos são apresentados como o ponto central de uma série de histórias que, para alguns críticos, representam o que CDS fez de pior. Mesmo considerando-se que ocorre certa repetição do tema, é nos livros escritos a partir dessa época que o autor define mais claramente suas ideias a respeito da separação dos mundos e a participação dos seres lendários em nossa história.
Publicação original de The Goblin Reservation, na revista Galaxy Science Fiction (Capa: Gray Morrow).
O primeiro desses livros é O Tempo dos Duendes (The Goblin Reservation). Sem utilizar o recurso de apresentar os duendes, gnomos e companhia como habitantes de um mundo paralelo, CDS mostra-os como seres que se encontram na Terra há milhões de anos, muito antes dos peludos e violentos seres humanos começarem a dar as cartas. Quando os humanos começaram a espalhar-se desordenadamente pelo planeta, eles foram obrigados a se esconder para não serem totalmente dizimados. No futuro distante em que se desenvolve a história, quando os humanos já viajam pelo universo a velocidades fantásticas, ocorre uma tentativa de recuperar a história dos “pequeninos”, criando-se assim uma espécie de reserva, a “goblin reservation” do título original, a reserva dos duendes, ligada à Universidade do Wisconsin e ao Colégio de Fenômenos Sobrenaturais.
(Capa: Richard Powers. G. P. Putnam's Sons).
Os principais acontecimentos giram em torno da tentativa de um dos professores da universidade em obter informações a respeito da existência dos dragões, seres citados nas lendas de todo o planeta, mas a respeito dos quais não existe qualquer pista, ao contrário dos demais seres.
Além das velocidades fantásticas obtidas nas viagens pelo espaço, os humanos também desenvolveram a tecnologia da viagem no tempo e, assim, obtiveram um objeto no período jurássico, a que dão o nome de Artefato. Não têm qualquer ideia do que possa ser, mas ele é desejado por alienígenas que habitam o planeta mais antigo do universo, chamado de Planeta de Cristal, capaz de se movimentar pelo espaço e que contém o conhecimento de dois universos, o nosso e o universo que existia anteriormente a esse, antes da explosão que o criou. O Artefato também é desejado por seres do outro lado da galáxia, tidos como aterrorizantes e violentos. No desenrolar da trama ficamos sabendo que os pequeninos eram originários do antigo planeta, tendo chegado à Terra como colonos, há milhões de anos, e os alienígenas aterrorizantes eram seus escravos, agora libertos e com desejo de vingança.
(Capa: Bruce Pennington. Corgi).
O Artefato na verdade é um dragão adormecido, que se liberta em determinado momento. O que os seres do planeta de cristal desejavam, em seu momento de morte, uma vez que estão nos estágios finais de suas vidas, era apenas libertar o dragão, um dos representantes de sua raça. Um gesto de bondade tão grandioso quanto o que tiveram quando perceberam o crescimento da humanidade e, sabendo que poderiam simplesmente deter a evolução do homem antes que atingisse um ponto perigoso para eles, resolveram não interferir, preferindo esconder-se e serem perseguidos a ter de destruir a vida. CDS deixa clara sua ideia de que o entendimento e a convivência pacífica entre os seres, por mais diferentes que sejam, é mais importante do que todo o conhecimento do universo.
(Capa: Herbert Norton Rogoff. Berkley Medallion).
Já no livro Mundo Paralelo (Out of Their Minds), de 1969, CDS deixa de lado os gnomos para apresentar uma explicação possível para o surgimento dos universos ou mundos paralelos, ao mesmo tempo em que contrapõe os valores tradicionais da sociedade aos valores modernos, tidos como responsáveis pela decadência da civilização ocidental. A noção básica é a de que ocorreu, no processo evolucionário do planeta e, em particular, do ser humano, o surgimento de um novo ser, ou vários tipos de seres, que são completamente diferentes dos seres humanos, algo que vai além do humano e com propósitos incompreensíveis para nós. Esses seres habitariam um mundo à parte, paralelo ao nosso, um mundo criado a partir do pensamento humano que trabalharia impulsionado por um tipo de energia absolutamente desconhecido por nós. Assim sendo, o pensamento conjunto da sociedade, de muitos grupos de seres humanos, seria capaz de dar vida àquilo que é imaginado, pensado, tudo o que é criado na mente das pessoas, seja algo aterrorizante ou não.
Os seres desse outro mundo teriam a capacidade de, em ocasiões específicas, surgir em nosso mundo, mesmo que por alguns instantes. Assim, torna-se possível surgir ao longo da história todo tipo de personagens e objetos, do Mickey ao próprio Diabo, de dinossauros a discos-voadores, de Dom Quixote a quaisquer outros personagens literários. Aqui não surgem os duendes e gnomos, mas é perfeitamente possível imaginar-se que eles possam estar vivendo nesse mundo, ou em algum outro mundo paralelo só deles, uma vez que foram imaginados pelos seres humanos durante tanto tempo.
(Capa: Bruce Pennington. Sidgwick & Jackson).
Não é um dos grandes momentos de CDS, mas sem dúvida está muito longe de ser o péssimo livro como parte da crítica entende. Traz ainda alguns momentos de humor, especialmente no desenvolvimento do personagem Diabo, que é quem tenta resolver a questão por meio de uma negociação forçada com o governo. Pode-se dizer que CDS e o Diabo são igualmente tradicionais, mas a verdade é que existe uma preocupação, mais do que com os valores tradicionais, com os valores superficiais que compõem grande parte da sociedade atual. O Diabo pede que as pessoas pensem em coisas verdadeiramente boas ou ruins, e não em personagens sem caráter, que não podem ser definidos e sem profundidade. Ao mesmo tempo CDS também ridiculariza alguns dos chamados valores tradicionais do interior ao colocar seu personagem central sendo perseguido implacavelmente pelos bondosos habitantes de uma cidadezinha que, pouco antes, haviam-no acolhido tão bem.
(Capa: Paul Lehr. Berkley/Putnam).
Em outros três livros CDS dá sequência à série de histórias ligadas aos “pequeninos” apresentados em O Tempo dos Duendes. O primeiro deles é O Outro Lado do Tempo (Enchanted Pilgrimage, 1975) no qual ele, de certa forma, desenvolve uma ideia apresentada anteriormente, e com maior competência, em O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien. Ali, ao final das aventuras de Frodo, é dado a entender, sutilmente, que o tempo dos hobbits, elfos e outros seres da Terramédia está chegando ao fim, porque o Homem começa a tomar seu espaço no mundo. Existe uma espécie de tristeza, como se soubessem que não poderiam competir com eles. A gente pequena à qual CDS se refere igualmente desapareceu da Terra, recolhendo-se para alguma dimensão invisível, paralela, assim que os humanos começaram a se espalhar desordenamente pelo planeta.
Em O Outro Lado do Tempo a noção de um rompimento entre as duas raças é ainda mais nítida. Os duendes e seus colegas formam o que chamam de a Irmandade, vivendo nas Terras Perdidas, após terem sido expulsos de suas terras com a chegada dos homens, com os quais chegaram a travar uma série de guerras.
(Capa: Colin Hay. Fontana / Collins).
Aqui não pode existir qualquer dúvida quanto ao fato de os humanos serem os responsáveis pelo rompimento do equilíbrio com a natureza. Ao se espalharem pelo mundo, abateram árvores sagradas, destruíram os prados encantados onde as fadas dançavam, abriram estradas e construíram cidades que eram a marca viva desse desequilíbrio. No entanto, em seu refúgio nas Terras Perdidas, os seres ainda podem manter o que resta de sua magia e poder; e a maldade também existe, proveniente daqueles seres que ainda não se esqueceram dos tempos das guerras e de tudo o que os homens lhes tiraram.
Essas Terras Perdidas na verdade são, na verdade, um mundo paralelo que há muitos anos compunha um único mundo com o nosso. Com o desenvolvimento, em nossa Terra, de uma civilização científica e tecnológica, ocorreu uma separação dos mundos, cada qual seguindo um caminho diferente e distanciando-se cada vez mais, até o ponto em que se tornaram independentes. Ao deixarem de acreditar na possibilidade da magia, os humanos empurraram os seres pequeninos definitivamente para outro mundo, outra dimensão. Quando a separação começou, ainda era possível confundir um mundo com o outro, de modo que as pessoas da nossa Terra ainda podiam ter vislumbres dos seres da outra Terra, em determinados momentos, como se os mundos se tocassem levemente, apenas em alguns pontos. Mas quanto mais o tempo passa, e quanto mais cada mundo se desenvolve, mais eles se distanciam e mais difícil fica o contato. Dessa forma, tudo o que sabemos, em nossa Terra, sobre esses seres lendários, vem da época em que ainda vivíamos num mesmo planeta, não separados. E, mais do que isso, o autor ainda apresenta a ideia de que um terceiro mundo, uma terceira Terra, também teria se desenvolvido a partir do planeta original, seguindo um rumo diferente dos outros dois, nem tanto para a magia, nem tanto para a tecnologia e ciência, mas obtendo um equilíbrio maior entre as duas formas de pensar.
(Capa: Peter Elson. Mandarin).
A presença do Mal é bem mais nítida nesse livro do que nos anteriores, mas surge muito mais na forma de um sentimento de que algo foi perdido, a possibilidade de um desenvolvimento mais equilibrado para todos os seres. A perda do contato não é a responsável pelo surgimento do Mal nos humanos, que já o possuíam na forma de uma total insensibilidade para as demais formas de vida e de pensamento, mas é a responsável pelo desenvolvimento do Mal nos pequeninos. O desequilíbrio, na verdade, causa problemas para todos, e todos os seres sentem-no de uma forma ou de outra. O rompimento dos mundos assemelha-se, de certa forma, ao desequilíbrio estelar proposto por Doris Lessing, no sentido de que também impede o desenvolvimento de formas de pensar mais adequadas, mais completas. A unidade foi perdida e, ao invés de um mundo inteiro, temos três mundos vibrando em ondas diferentes, sujeitos a energias diferentes e propiciando pensamentos diversos e conflitantes.
(Capa: Paul Lehr. Berkley/Putnam).
Em Os Herdeiros das Estrelas (A Heritage of Stars, 1977), CDS retomou os principais temas, ainda que não se refira a uma divisão de fato do mundo em dois ou mais mundos paralelos e não sejam citados os pequeninos. Mas também nessa Terra de um futuro longínquo ocorreu um Colapso que acabou com a civilização altamente tecnológica existente, propiciando o surgimento de novas formas de organização social, em especial o reaparecimento de potencialidades psíquicas, de poderes paranormais. Mais uma vez, é a noção de que a tecnologia age como fator repressivo no surgimento ou desenvolvimento dos poderes paranormais. Com a queda da civilização, encontra-se um campo livre para o desenvolvimento desses poderes, mas ao mesmo tempo CDS apresenta uma sociedade que não encontra um caminho adequado para seguir. Ainda existe um pouco de tecnologia sendo conservada nas cidades, mas sem utilização efetiva. A ruptura ocorre, aqui, num único mundo, sem que seja proposto o surgimento de paralelos.
(Capa: Chris Moore. Magnum).
As maiores críticas ao livro estão no fato dele apresentar os mesmos temas, desenvolvidos de forma ligeiramente diferente. Mais uma vez, realiza-se uma jornada em que surgem todos os principais personagens e ingredientes dos livros dessa fase: o jovem estudante de uma universidade, um manuscrito que se refere a um local lendário, pessoas com poderes paranormais, um autômato humanizado, alienígenas que estudam a civilização humana, uma cidade gigantesca. Os poderes psíquicos aqui têm como objetivo final acessar determinados dados que se encontram num computador, representando a ideia do autor da necessidade de unir as diferentes formas de desenvolvimento possíveis para se alcançar um mundo mais equilibrado. Mais uma vez, o Mal está na própria sociedade, na forma como ela se desenvolve criando padrões de pensamento insuficientes, incompletos, que precisam ser resgatados de alguma forma, eliminando o Mal que se instalou. É o conhecimento de todas as coisas, e não de apenas uma parte delas, que pode restaurar a unidade.
Ele retornaria ao tema em 1978, com A Irmandade do Talismã (The Fellowship of the Talisman), trocando as Terras Perdidas de O Outro Lado do Tempo, pela Terra Devastada, uma região aterrorizante atacada pela Horda, um bando que reúne uma quantidade incrível de seres malévolos, com poderes mágicos ou simplesmente com força descomunal, composto por demônios e espíritos malignos que representam o Mal em estado puro, arrasando tudo por onde passam. Surgem a cada 500 anos, atacando em lugares diferentes, seja na Síria, na Macedônia ou na Península Ibérica.
(Capa: Michael Whelan. Del Rey / Ballantine).
Essa Terra onde a Horda ataca também não é a nossa. Em nosso planeta, o Mal é apenas pressentido por algumas pessoas, mas nunca visto diretamente. CDS fornece um ponto específico da história que fez com que o desenvolvimento dos dois mundos divergisse. Assim, no momento em que portugueses e espanhois estavam para iniciar as viagens que iriam resultar no controle econômico e político dos novos continentes, nesse mundo paralelo a Horda devastou a península ibérica, fazendo com que os esforços da humanidade se concentrassem em sua destruição, uma vez que ameaçava se espalhar pelo mundo. E se, no outro livro, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia impediu que os pequeninos continuassem a existir em nosso mundo, aqui é o contrário: o surgimento e os ataques da Horda impediram que a ciência se desenvolvesse.
Os Devastadores que formam a Horda são alienígenas vindos de estrelas distantes com o objetivo de impedir o desenvolvimento da Terra ou simplesmente com a ideia de arrasar com tudo, uma vez que o Mal não precisa de desculpas para agir. A gente pequena, sejam aqueles ligados ao Bem ou ao Mal, são originários da Terra e, assim, preferem unir-se aos humanos para enfrentar o Mal que vem do espaço. Apesar de continuarem ressentindo-se dos humanos que ocuparam seus espaços no planeta, invadindo suas terras e tratando-os com desprezo, sabem que os aliens representam o Mal absoluto, que deve ser combatido. O talismã ao qual se refere o título surge como a única possibilidade de acabar com a Horda, mas a jornada que se realiza, mais uma vez, é o ponto central, uma vez que representa a possibilidade de humanos e não humanos voltarem a viver em paz, ou seja, na harmonia e equilíbrio propostos por CDS.
Esse Mal apresentado por CDS é muito mais próximo daquele apresentado por H.P. Lovecraft, algo incompreensível vindo das estrelas. Os próprios seres do Mal dessa Terra paralela não entendem o Mal cósmico e resolvem lutar contra ele. O autor não oferece qualquer tentativa de explicar as ações da Horda. Eles simplesmente são o que são. Também surge o conceito de que a nossa Terra foi salva do Mal que, por outro lado, concentrou-se nesse mundo paralelo. O manuscrito, que é o verdadeiro talismã, é um relato fiel das atividades de Jesus Cristo e, por si só, uma poderosa fonte de Bem, capaz de destruir a Horda.
Ao contrário do que propôs Philip K. Dick, que entendia que nossa Terra estava sob o domínio do Mal, CDS entende que nossa Terra foi salva pela atuação de Jesus, remetendo a Horda, todo o Mal em sua forma mais pura, para essa Terra paralela onde, mais uma vez, as palavras do Cristo deverão ser responsáveis pela destruição e libertação do planeta. Esse é, com certeza, o livro de CDS em que noções religiosas aparecem mais nitidamente expressas e a figura de Jesus Cristo como um autêntico combatente a favor do Bem.
(Capa: Michael Whelan. Del Rey / Ballantine).
Simak ainda escreveria a respeito de mundos divididos em 1982, em O Mundo do Caos (Special Deliverance), igualmente apresentando uma jornada de um grupo de pessoas por um mundo estranho, onde devem resolver determinados problemas que, na verdade, servem como um teste para classificar suas personalidades. O teste é providenciado por alienígenas que perceberam que os humanos estão à beira da extinção e que seus mundos estão se dividindo em mundos paralelos nos pontos de crise, o que é a mesma ideia apresentada nos livros anteriores, apenas dando a impressão de que existiria um número muito maior de paralelos.
(Capa: Michael Whelan. Del Rey / Ballantine).
É um livro bem inferior ao que CDS fez nos anos anteriores, mas ainda assim melhor do que o outro livro escrito no mesmo ano, Onde Mora o Mal (Where the Evil Dwells), que representou uma triste despedida para um dos mais importantes autores da FC. Além de ser um livro mal desenvolvido, com ideias incompletas e personagens fracos, CDS apresentou noções que contrariam tudo o que havia escrito até então, como se uma espécie de pessimismo tivesse tomado conta de sua obra. No mundo proposto no livro também ocorreu um desenvolvimento diferente da sociedade, provavelmente a partir da queda do Império Romano, que ali não ocorreu. E o Mal está presente em toda a parte, representado por todos os seres chamados de pequeninos, sejam eles os ogres, trolls e demônios, sejam as fadas, gnomos e elfos, que sempre receberam melhor tratamento do autor. Eles formam um bloco único, atacando em várias partes do mundo, destruindo sem piedade. CDS não apresenta qualquer tipo de explicação para sua atividade, reunindo-os numa Terra Vazia, o local onde mora o Mal. A visão que CDS apresentara a respeito da necessidade de união entre os seres, entre os diferentes pontos de vista e formas de desenvolver uma sociedade, não são vistos aqui. Em outras oportunidades, até mesmo os seres do Mal entre os pequeninos eram tratados com alguma condescendência pelo autor e desenvolvia-se constantemente um relacionamento amigável entre eles e os seres humanos. Nada disso tem espaço nesse livro, no qual os humanos, que devem ser os responsáveis pela extinção do Mal, também não são flor que se cheire. São mesquinhos, centrados em seus próprios interesses, sem a menor sombra de compaixão ou interesse em saber por que os ataques da gente pequena, possuindo atitudes fascistas com relação a tudo o que os cerca.