Se existissem categorias diferenciadas entre os clássicos da ficção científica, Um Cântico Para Leibowitz provavelmente seria um peso pesado. Não pelo volume, mas certamente pelo impacto causado.
O livro de Walter M. Miller Jr. destaca-se não apenas entre as obras do gênero que lidam com o tema da hecatombe nuclear – bastante comum na época em que foi publicado, em 1960 – mas também por lidar com a religião, sempre um tema sensível.
A história começa 600 anos após um holocausto nuclear ter quase dizimado a civilização humana, no século 20. Num cenário de desolação, instalou-se a Ordem Albertina de Leibowitz, fundada por um engenheiro elétrico judeu que sobreviveu à guerra e converteu-se ao Catolicismo. A ordem tem como prioridade conservar e resgatar o conhecimento humano, sepultado pelos escombros da civilização arrasada e também pelo período conhecido como a “Simplificação”, no qual turbas enlouquecidas atacavam e matavam aqueles que eram apontados como os responsáveis pelo ocorrido. Assim, as pessoas com conhecimentos científicos foram as mais visadas.
Houve uma época em que o livro chegou a ser apontado como uma espécie de apologia à religião, uma vez que Walter M. Miller Jr era católico, mas essa é uma aproximação simplista; mesmo porque Miller não dispensa algumas ferroadas à instituição. Talvez ele tenha imaginado uma igreja ideal que, em momentos de crise, faz de tudo para manter-se íntegra e realizar algo de positivo para a humanidade, com todos os problemas políticos e as questões éticas e morais que inevitavelmente surgem.
A história estende-se por 1.800 anos da história humana, com a sociedade voltando a se reorganizar, porém em moldes semelhantes aos que haviam antes da destruição, de modo que o ciclo de conflitos é retomado, tornando a obra da Ordem de Leibowitz cada vez mais importante.
Várias críticas e estudos sobre o livro ressaltam o conceito da história vista como um ciclo repetitivo. Sem dúvida é um dos temas centrais, senão “o” tema central da obra, que também lida com a forma de utilização do conhecimento científico, muitas vezes distorcido para uso destrutivo devido a interesses políticos ou pura ganância.
Um Cântico Para Leibowitz (A Canticle for Leibowitz, 1960)
Walter M. Miller Jr.
Editora Aleph
400 páginas