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PERDIDO EM MARTE

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data04/11/2014
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Livro de estreia de Andy Weir mostra a luta de um astronauta para sobreviver em Marte, com momentos bons e alguns nem tanto.

Não consegui chegar a uma conclusão sobre o que achei do livro Perdido em Marte, a estreia de Andy Weir.
O fato de eu ter lido em apenas dois dias deveria ser uma indicação de que a leitura é interessante. E, de fato, é! Eu queria chegar ao fim logo e saber o que ia acontecer com o astronauta perdido em Marte. Mas também pode significar que eu “meio que pulei” algumas partes do livro. E ele tem alguns problemas.
A expedição Ares 3 chegou a Marte como parte de um extenso programa de exploração do planeta, mas os astronautas são forçados a deixar o planeta rapidamente devido a uma gigantesca tempestade de areia. O problema é que um deles, Mark Watney, é deixado para trás.
Tido como morto durante a tempestade, mas ainda vivo e muito bem, ele precisa utilizar todos os recursos à sua disposição para manter-se vivo num ambiente hostil. E, sem comunicação com a Terra, ele não sabe se o centro de operações terrestre sabe que ele está vivo.
A narrativa alterna as entradas no diário de Watney com os eventos na Terra e, posteriormente, na nave Hermes, já na viagem de regresso.
Duas situações chamam a atenção. Por um lado, a descrição detalhada dos procedimentos técnicos e conhecimentos científicos necessários para imaginar e executar as ações que podem garantir a sobrevivência do astronauta toma tanto espaço da narrativa que a tendência – a julgar por este leitor – é se desligar do que está sendo descrito. E isso simplesmente devido à absoluta impossibilidade em compreender o que Watney está falando e fazendo. Para um leitor leigo em química, física, astrofísica, engenharia e outros ramos da ciência, faz pouca diferença se ele descrever os procedimentos ou não. Ou, pelo menos, sem tantos detalhes. Como ele é botânico e engenheiro mecânico, imagino que os leitores leigos recebam essas informações como verdadeiras, e seguem em frente.
Por outro lado, a situação do coitado é tão desesperadora, e ele lida com a situação com tanto humor e desprendimento, que é impossível não torcer por ele e seguir em frente, tentando ver o que mais ele pode fazer para tentar sobreviver.
Li algumas críticas ao livro, quase sempre considerando-o bom ou muito bom, exatamente por apresentar esses detalhes técnicos. A Wikipedia cita, por exemplo, o The Wall Street Journal, que considerou o livro a melhor novela de pura ficção científica em anos, o que diz mais a respeito da ignorância da mídia com relação ao gênero do que sobre o livro em si. Na verdade, a maior parte dos bons e excelentes livros de ficção científica não se prende a tantas explicações científicas, plausíveis ou não. Mesmo quando se trata do que se costuma chamar de ficção científica “hard” – um termo cada vez menos utilizado – esse detalhamento não é essencial, e raramente é central ao andamento da história.
E, acreditem, quando eu falo sobre muitos detalhes técnicos, não estou exagerando. É mais do que o suficiente para se ter uma ideia do quanto é complexo e perigoso explorar um planeta distante e o volume impressionante de conhecimento que cada integrante da equipe deve possuir.


PERDIDO EM MARTE (The Martian, 2011)
Andy Weir
Editora Arqueiro
336 páginas