OS MUNDOS ALTERNATIVOS
Na matéria Outros Mundos já comentamos sobre as diferenças entre mundos alternativos e paralelos, e também comentamos algumas das primeiras histórias que trabalham com as alterações em determinados pontos da história que levam ao desenvolvimento de um mundo alternativo.
Os pesquisadores citam algumas obras que discutem uma história alternativa da Terra, mas fora do gênero FC, como a coleção de ensaios editada por J.C. Squire em 1931, If It Had Happened Otherwise: Lapses Into Imaginary History, que apresentou textos, entre outros, de G.K. Chesterton, André Maurois e Winston Churchill, apresentando alternativas para o que teria acontecido se Napoleão tivesse fugido para a América, se o assassinato de Lincoln não tivesse ocorrido e outras situações. Já em 1907 surgia um ensaio semelhante, If Napoleon Had Won the Battle of Waterloo, escrito pelo historiador G.M. Trevelyan no Westminster Gazette, especulando, como diz o título, o que teria acontecido se Napoleão tivesse vencido a batalha de Waterloo.
Em The Visual Encyclopedia of Science Fiction, o texto sobre histórias alternativas considera que a FC abordou esse tema ainda antes do texto de Trevelyan. No entanto, destaca que é importante perceber a existência de dois tipos diferentes de histórias sobre mundos alternativos; o primeiro seria a abordagem histórica, na qual o autor segue os eventos que poderiam ter ocorrido se algum momento de nossa história tivesse seguido por um caminho diferente; o segundo tipo seria o das histórias com mundos puramente fictícios nas quais o autor apresenta mudanças num futuro criado por um personagem inventado por ele. E é nesse último tipo que a enciclopédia se baseia para apresentar um exemplo mais antigo de história sobre um mundo alternativo, com Um Conto de Natal (A Christmas Carol, 1843), de Charles Dickens, com o famoso personagem Ebenezer Scrooge, que é visitado pelos fantasmas do Natal Passado, do Natal Presente e do Natal Futuro. Não é um ponto de vista que parece ser compartilhado por muitos pesquisadores do gênero, e a história só pode ser considerada como pertencendo ao tema dos mundos alternativos com muita boa vontade.
A versão atualizada on-line da The Science Fiction Encyclopedia, no verbete “Alternate History”, cita a obra Napoleão Invencível (Napoléon et la conquête du monde, 1812-1832: Histoire de la monarchie universalle. Livraria Clássica Editora, Portugal), de Louis Geoffroy (1836), como o primeiro exemplo inequívoco de uma história do gênero, na qual Napoleão consegue escapar intato de sua invasão à Rússia, em 1812, e conquista o mundo. As enciclopédias que discorrem sobre o assunto citam outros exemplos surgidos nos anos posteriores: The Battle of Dorking (1871), de George Chesney, que mostra o exército prussiano invadindo Londres logo após sua vitória na Guerra Franco-Prussiana (1870-71); Aristopia: A Romance-History of the New World (1895), de Castello Holford, que imagina uma sociedade utópica fundada na América, pelos colonizadores da Virginia; It May Happen Yet (1899), de Edmund Lawrence, dessa vez com Napoleão Bonaparte invadindo a Grã-Bretanha; The Climax: Or, What Might Have Been: A Romance of the Great Republic (1902), de Charles Felton Pidgin; e What Might Have Been: The Story of a Social War (1907), de Ernest Bramah, que se diz ter sido inspiração para o famoso 1984, de George Orwell.
A seguir, vamos apresentar algumas das obras que tratam do tema na literatura, cinema e televisão. Certamente, não estão aqui todos os livros filmes e seriados (ou episódios de seriados), mas já dá para ter uma ideia de como as abordagens são diferentes e como o conceito de mundos alternativos abre possibilidades quase infinitas para a criação de histórias, sejam na ficção científica, na fantasia ou no terror.
As obras são apresentadas em ordem cronológica.
HISTÓRIA MARAVILHOSA DE D. SEBASTIÃO IMPERADOR DO ATLÂNTICO
Samuel Maia
1940
Tido como o primeiro livro de FC lidando com um mundo alternativo escrito em Portugal, a obra imagina que o rei D. Sebastião, de Portugal, venceu a batalha de Alcácer Quibir, travada em 1578, na qual, em nossa realidade, os portugueses foram derrotados pelo sultão Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi, perto da cidade de Alcácer Quibir, no Marrocos. Na batalha, o rei desapareceu, além de vários nobres presos ou mortos, e Portugal teve de gastar imensas fortunas para pagar o resgate dos prisioneiros.
Na história de Samuel Maia, com a vitória de Dom Sebastião, Portugal se torna o principal império, dominando toda a região do Atlântico.
Não se tem notícia de que o livro tenha sido publicado no Brasil e, pelas pesquisas realizadas, parece ser bem raro também em Portugal.
A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (It’s a Wonderful Life, 1946)
Direção de Frank Capra.
(Liberty Films).
Uma produção da RKO, baseada no conto The Greatest Gift (1943), de Philip Van Doren Stern. É um dos clássicos do cinema e dos filmes mais conhecidos do excepcional diretor Frank Capra, com James Stewart no papel principal, George Bailey, um sujeito que sempre fez o bem para todos em sua pequena cidade. No entanto, ele está prestes a cometer suicídio, entendendo que sua vida não tem mais sentido. Henry Travers interpreta o anjo de segunda classe que desce à Terra para impedi-lo de se matar e mostrar-lhe que as coisas não são tão ruins como ele imagina. Assim, o anjo faz com que ele viva em uma realidade alternativa, mostrando o que poderia acontecer em sua cidade sem a sua presença.
AGÊNCIA DE MÁGICOS (Magic, Inc., 1940)
Robert A. Heinlein.
Conto publicado originalmente na revista Unknown Fantasy Fiction, com o título The Devil Makes the Law. Posteriormente, publicado em Agência de Mágicos (Waldo & Magic, Inc., 1950).
A história de Agência de Mágicos se passa num mundo alternativo no qual a magia é uma realidade e utilizada normalmente em diversas atividades.
Em The Encyclopedia of Fantasy, Mike Ashley escreveu que no conto a fantasia é tão racionalizada que a história parece ser FC.
E TUDO O TEMPO LEVOU (Bring the Jubilee, 1953)
Ward Moore.
Publicado em Portugal, pela Clássica Editora. O livro é um – e, talvez, o mais famoso – de uma longa lista de histórias que apresentam uma América alternativa tendo como ponto de partida o conceito de que o Sul venceu a Guerra de Secessão e conseguiu separar-se do resto do país, formando um estado autônomo e independente. O chamado “ponto de divergência” aqui ocorre em 1863, quando os Confederados vencem a Batalha de Gettysburg. A história ainda apresenta uma viagem no tempo realizada pelo personagem Hodge Backmaker, que resolve visitar o passado e testemunhar o momento exato em que o Sul ganhou a guerra.
O livro também poderia estar incluído no especial sobre viagens no tempo, uma vez que a viagem ao passado realizada por Hodge altera os eventos, criando uma linha temporal em que o Sul é derrotado, como em nossa própria linha, e Hodge fica preso no passado, uma vez que o futuro de onde veio não mais existe e a máquina do tempo não foi desenvolvida.
A longa lista de histórias e ensaios abordando o que poderia ter ocorrido de diferente na história a partir de um resultado diferente na Guerra de Secessão vai ganhar mais uma obra que, mesmo antes de ser exibida na televisão, já começa a gerar polêmica. Trata-se do seriado Confederate, que a HBO está desenvolvendo para ocupar o espaço de A Guerra dos Tronos. Na história alternativa, os estados do Sul conseguiram separar-se da União e formaram um país em que a escravidão continuou sendo legal. Foi o suficiente para gerar uma série de protestos, entendendo que a série poderia reforçar posturas dos grupos supremacistas brancos.
A HISTÓRIA EM PERIGO (Times Without Number, 1962)
John Brunner
(Capa: Brian Lewis).
O livro é o que nos EUA e Inglaterra se chama de fix-up, ou seja, a união de várias histórias em uma só. No caso, John Brunner escreveu três histórias para a revista Science Fiction Adventures em 1962: Spoil of Yesterday, The Word Not Written e The Fullness of Time. Com mudanças, ele publicou como o livro com o título acima; e novamente em 1969, numa edição ampliada.
A história se passa num mundo alternativo no qual a Armada Espanhola teve êxito em invadir a Inglaterra em 1588. Uma das transformações que isso causou na linha temporal foi a manutenção do domínio católico na Europa e o desenvolvimento da Espanha como a grande potência europeia. Eles acabam sendo invadidos novamente pelo Califado islâmico e movem o centro do seu império para a Grã-Bretanha, conquistando também a América do Sul e Central, e armando os nativos mohawk, da América do Norte, para que dominem as demais tribos locais, do Atlântico ao Pacífico.
Nessa linha temporal, a viagem no tempo foi descoberta em 1892, mas mantida como um monopólio das forças de elite e controlada pela Sociedade do Tempo.
David Pringle (em The Ultimate Guide to Science Fiction) considerou o livro intrigante e lembrou que foi escrito antes de Pavane, de Keith Roberts, e de The Alteration, de Kingsley Amis, ainda que a abordagem de Brunner não tenha sido tão bem considerada.
O livro de Roberts, Pavana (Pavane, 1968. Em Portugal, publicado pela Clássica Editora e pela Saída de Emergência), mostra uma sociedade bem mais atada do que a de Brunner. Aqui também a Espanha governa a Inglaterra depois que a rainha Elizabeth I é assassinada e Filipe da Espanha herda o trono, com a Armada conseguindo conquistar a Grã-Bretanha. Assim, ele apresenta uma Europa em que a Igreja Católica predomina, brecando o avanço da ciência e da tecnologia, e na qual a Inquisição ainda atua.
É o segundo livro de Roberts, que estreou em 1966 com Vieram do Espaço (The Furies), e apresenta várias histórias conectadas. John Clute diz (em The Science Fiction Encyclopedia) que é uma descrição soberba de um mundo alternativo, e as histórias são sombrias, eloquentes, tristes e totalmente convincentes.
(Capa: Tom Adams. Jonathan Cape Publisher).
The Alteration (1976), vencedor do Prêmio John W. Campbell de 1977, também apresenta um mundo alternativo no qual a Reforma protestante não só não ocorreu, como Martinho Lutero entrou em acordo com a Igreja e, posteriormente, tornou-se Papa. O livro ganhou o prêmio John W. Campbell de 1977 e, segundo David Pringle, é uma história muito bem narrada, com aventura, comédia e muitos toques satíricos. O personagem central é um garoto de 10 anos, Hubert Anvil, é um corista da Basílica de Saint George, que tenta fugir da ameaça de castração que a Igreja pretende realizar para preservar sua voz maravilhosa.
Nesse mundo apresentado no livro também existe outro livro, O Homem do Castelo Alto, escrito por um certo Philip K. Dick, que imaginou um mundo alternativo no qual a Reforma ocorreu.
O HOMEM DO CASTELO ALTO (The Man in the High Castle, 1962)
Philip K. Dick.
(Capa: Robert Galster. G.P. Putnam's Sons).
Um dos clássicos da FC e entre os melhores de Philip K. Dick, o mundo alternativo apresenta um cenário em que os nazistas e os japoneses venceram a Segunda Guerra Mundial. O ponto de virada na história desse mundo ocorre em 1934, quando o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, é assassinado. A Grande Depressão econômica, então, estende-se até a Segunda Guerra, de modo que os nazistas conseguem dominar a Europa e a União Soviética, enquanto o Japão ocupa a China, Índia e Oceania, e a Itália domina a África. O Japão ainda invade a costa oeste dos EUA, os alemães a costa leste e a América do Sul. Um pequeno território norte-americano permanece intocado, nas Montanhas Rochosas, aparentemente mais por absoluto desprezo por parte dos alemães.
Ainda que nos EUA chineses sejam vistos como cidadãos de segunda classe, o I Ching se torna uma ferramenta de uso diário muito comum entre os japoneses dominantes. Os japoneses também não têm muito em comum com os alemães, que eles entendem que estão se dirigindo para sua autodestruição, enquanto os japoneses parecem cada vez mais incomodados por estarem dominando o povo americano.
Ao ajudarem os italianos em sua conquista da África, os nazistas destroem o continente. Eles impedem a concorrência industrial criando carteis gigantescos, e conseguem chegar à Marte, ainda que tenham se mostrado incapazes em desenvolver algumas tecnologias mais simples, como a televisão.
Nesse mundo alternativo surge um livro, The Grasshopper Lies Heavy, considerado revolucionário e proibido nos territórios conquistados pelos alemães, mas ainda assim muito lido, e que conta em forma de ficção científica a história de um mundo no qual os Aliados venceram a guerra. Mais do que isso, esse outro mundo “alternativo” tampouco é o nosso, apresentando algumas pequenas diferenças.
(Capa: Richard Powers. Berkley Books).
O I Ching é o centro do livro, ou dos livros, uma vez que o próprio Grasshopper foi escrito a partir de consultas ao oráculo, como confessa o próprio autor. Ele funciona como uma porta para os universos possíveis, descobrindo não apenas a realidade visível à nossa volta, mas buscando-a profundamente dentro das pessoas e no universo. Quando é consultado diretamente sobre a razão de ter escrito o livro, a resposta do I Ching é o hexagrama “A Verdade Interior”, que revela os desejos íntimos das pessoas. Desmascara a realidade aparente para confirmar que os EUA realmente venceram a guerra e que essa realidade é tão válida quanto qualquer outra.
Assim, entende que a possibilidade de universos diversos existe, de fato, interiormente, de acordo com as decisões e o sentido de percepção de cada pessoa. O livro de PKD é um universo em si mesmo e os personagens têm existência real nesse mundo paralelo. Mas ao mesmo tempo eles têm a possibilidade de perceberem que são criações de um escritor de um mundo paralelo ao deles, no qual a história seguiu um curso diferente. Assim como seu universo foi dotado de um livro que descreve outra realidade, o nosso também o foi. O I Ching existe nos dois mundos como um ponto de referência neutro, alheio às vontades de quem o consulta, uma vez que não baseia suas afirmações nos desejos individuais.
É uma situação típica da obra de PKD, na qual as coisas não são necessariamente o que aparentam. Verdade e mentira se confundem e o que prevalece é a noção que cada indivíduo tem do universo. As obsessões pessoais tornam-se realidade e confundem-se com mais obsessões, tornadas reais num jogo sem fim.
(Berkley Books).
PKD consegue desmontar a realidade dos personagens, deixando-os perplexos, surpresos diante da fragilidade de suas vidas, e ao mesmo tempo deixa o leitor de O Homem do Castelo Alto em situação semelhante, questionando nossa própria realidade e como nos portamos dentro dessa realidade, a nossa verdade interior, e o que fazemos para tornar o mundo um lugar melhor. Da mesma forma, também podemos duvidar da participação real de PKD como o escritor do livro O Homem do Castelo Alto, ou até que ponto ele é de fato o mentor da ideia ou se a recebeu de algum plano mais complexo, como o I Ching indica, por exemplo.
A história originou um seriado com o mesmo título produzido pela Amazon em 2015, criado por Frank Spotnitz, famoso por sua participação no seriado Arquivo X, e também em Millennium, Harsh Realm, The Lone Gunmen e Night Stalker (a versão moderna). Ridley Scott ainda assina a produção executiva, e a série teve boa recepção da crítica e do público, ainda que tenha apresentado algumas modificações com relação ao livro. Até agora, a terceira temporada está programada para estrear em 2018.
MUNDO ALTERNANTE (Worlds of the Imperium, 1962)
Keith Laumer.
JAMES WEST (The Wild, Wild West, 1965/1969)
Robert Conrad e Ross Martin em James West (Bruce Lansbury Productions/ CBS/ Michael Garrison Productions).
Criação de Michael Garrison com Robert Conrad como o agente do Serviço Secreto James T. West, e Ross Martin como Artemus Gordon, seu colega. A série é uma mistura de faroeste, espionagem e ficção científica, com histórias situadas durante a presidência de Ulysses Grant (1869-1877), e os dois agentes enfrentando uma série de vilões com planos grandiosos e/ou megalomaníacos, como o sensacional anão Dr. Miguelito Loveless (Michael Dunn), que odiava qualquer um maior do que ele e inventava robôs, viagens no tempo, máquinas para diminuir as pessoas e para atravessar para outras dimensões.
Robert Conrad e Michael Dunn.
As invenções e aparelhos que surgiram com frequência no seriado eram totalmente fora de sua época, de modo que o programa chegou a ser considerado um dos precursores do subgênero steampunk, imaginando um mundo alternativo mais próximo da era vitoriana de Jules Verne do que do nosso mundo. Em The Sci-Fi Channel Encyclopedia of TV Science Fiction, os autores Roger Fulton e John Betancourt disseram que a combinação de faroeste e de drama de espionagem com ironia produziram uma das fantasias mais puras e bizarras jamais realizadas para a televisão.
Will Smith e Kevin Kline em As Loucas Aventuras de James West (Peters Entertainment/ Sonnenfeld Josephson Worldwide Entertainment/ Todman, Simon, LeMasters Productions/ Warner Bros.).
Em 1999, tentaram levar o mesmo clima para o cinema, com As Loucas Aventuras de James West (Wild Wild West), com Will Smith como James West e Kevin Kline como Artemus Gordon, e direção de Barry Sonnenfeld, que vinha muito bem credenciado pelos sucessos de A Família Addams (1991) e Homens de Preto (1997). Mas o resultado foi péssimo; de alguma forma, não conseguiu reviver o mesmo clima surreal e alucinante do seriado, ainda que tenha utilizado ainda mais elementos do steampunk. Talvez o exagero tenha prejudicado o filme, e Sonnenfeld não conseguiu reviver a boa dupla com Will Smith e o bom humor de Homens de Preto.
A série ainda pode ser vista na Rede Brasil TV (canal 13), com a dublagem original – o que às vezes é péssimo, devido à qualidade. Mas sempre vale a pena rever.
Outro seriado que também tem relação com faroeste e com o steampunk é Brisco Jr. (The Adventures of Brisco County Jr.; no Brasil, também com o título As Aventuras de Brisco County Jr.), produzido pela Warner Bros. Television, com 27 episódios apresentados na Fox entre 1993 e 1994.
O personagem central é Brisco County Jr., interpretado por Bruce Campbell, um advogado que se torna um caçador de bandidos no oeste, em 1893, concorrendo e, eventualmente, tornando-se parceiro de outro caçador, Lord Bowler (Julius Carry). Ao longo das aventuras, uma série de fenômenos e máquinas estranhas surgem, em particular uma esfera esverdeada, o Orbe, que surge sabe-se lá de onde e que é guardada por um homenzinho misterioso; e, claro que os bandidos querem obter o domínio da esfera, que tem poderes incríveis, entre eles o de reviver Brisco quando ele é morto por um bandido.
O seriado tem muitos momentos de humor e um cavalo que entende tudo o que Brisco lhe diz, lembrando o cavalo inteligente de Lucky Luke, dos desenhos animados do belga Morris (Maurice de Bevere), criados em 1946.
Parte do seriado chegou a ser lançada em vídeo no Brasil, pela Warner, com o título As Aventuras de Brisco County Jr.
PERIGO: RELIGIÃO (Danger: Religion, 1966)
Brian W. Aldiss
Conto publicado no livro A Árvore da Saliva (The Saliva Tree, 1966), mostrando um mundo no qual a história desenvolveu-se de maneira ligeiramente diferente do que ocorreu no nosso mundo.
FENDA NO ESPAÇO (The Crack in Space, 1966)
Philip K. Dick.
AS PORTAS DO UNIVERSO (The Gate of Time, 1966)
Philip José Farmer.
O SONHO DE FERRO (The Iron Dream, 1972)
Norman Spinrad.
(Avon).
O livro de Spinrad despertou opiniões opostas na crítica, uns amando, outros entendendo que se trata de uma obra menor. Ganhou o Prix-Tour Apollo, na França, e foi indicado para o Prêmio Nebula; na Alemanha, chegou a ser banido em 1982 por, supostamente, promover o nazismo.
Isso tudo porque o livro apresenta um mundo alternativo no qual Adolf Hitler não se tornou o principal nome e promotor do chamado III Reich, mas imigrou para os Estados Unidos, onde se tornou inicialmente um ilustrador para revistas de ficção científica e, posteriormente, um escritor consagrado no gênero.
A obra de Spinrad traz um livro dentro do livro, uma vez que ele apresenta a principal obra de Adolf Hitler, O Senhor da Suástica, que narra em forma de fantasia alucinante na linha “espada e feitiçaria”, que reproduz de forma simplista e fantasista o que realmente ocorreu na Segunda Guerra Mundial em nossa Terra.
A escritora Ursula K. Le Guin, escrevendo para o Science Fiction Studies em 1973, disse que, visto como uma paródia da linha “espada e feitiçaria”, o livro atinge todos seus objetivos. Segundo ela, lá está presente o Herói, o Macho Alfa com seus músculos de aço e seus olhos claros, e seu destino claro; existem os Amigos do Herói; existem os inimigos desprezíveis e sub-humanos; existe a Espada do Herói, no caso um bastão estranhamente construído; existem os testes, procuras, batalhas, vitórias, culminando com a celestial vitória final do Super-homem. Não existem mulheres, não existem palavrões, qualquer tipo de sexo.
(Capa: Rowena Morrill. Timescape/Pocket Books).
Mas Ursula K. Le Guin também entende que o livro também pode ser visto como uma paródia a um tipo de história de aventura de FC, um tipo de história que pode ter como exemplo “Robert A. Heinlein, que acredita no Macho Alfa, no papel do homem superior inato (geneticamente), nas virtudes heroicas do militarismo, na conveniência e necessidade de um controle autoritário, etc.”, entendendo que Heinlein ainda apresenta argumentos persuasivos para aquilo em que acredita. Assim, segundo Le Guin, O Sonho de Ferro pode ter o efeito de um “contrapeso moral” uma vez que, ao ler todas as situações familiares sobre “a glória da batalha, a maldade dos inimigos da verdade, o prazer da obediência a um líder verdadeiro, o leitor é forçado a se lembrar de que é Hitler dizendo todas essas coisas e, dessa forma, questionar o que é dito, repetidamente”.
Norman Spinrad fecha seu trabalho de forma notável, apresentando um texto de um crítico da NY desta Terra alternativa ao livro de Adolf Hitler, que tem a tripla função de denunciar Hitler como um escritor medíocre, como uma pessoa com uma personalidade doentia e ainda brincar com pretensas críticas de caráter psicológico que surgem em nosso próprio universo, principalmente no que se refere à FC. Ursula K. Le Guin cita esse texto final como sendo “a última virada da faca de Spinrad”, quando o crítico diz que, “afinal, isso não pode acontecer aqui”. Ela diz que nós somos forçados a pensar sobre nós mesmos, nossos conceitos morais, nossas ideias de heroísmo, nossos desejos de liderar e sermos liderados, nossas guerras justas. “O que Spinrad está tentando nos dizer”, escreve Le Guin, “é que está acontecendo aqui”.
Spinrad ainda teve o cuidado de escrever o livro de Adolf Hitler como se ele realmente estivesse escrevendo e fosse um autor medíocre; os problemas na narração são evidentes, os exageros na construção das cenas e a violência exagerada. O crítico do mundo paralelo percebe em Hitler os traços doentios de personalidade que ele realmente possuiu em nosso mundo, mas as referências freudianas aos símbolos fálicos presentes em autores de FC é realmente uma grande brincadeira de Spinrad com o exagero de críticas que pretendem encontrar, por assim dizer, pelo em casca de ovo. O crítico levanta os problemas existentes no mundo paralelo naquele momento, quando a URSS ameaçava o mundo com seu domínio, só sendo contida pelos EUA e pelo Japão, e levanta a questão do desejo de grande parte do povo no surgimento de um líder como o personagem do livro de Hitler, que detivesse o avanço comunista que, na verdade, era o que estava implícito no livro de Hitler. Mas o crítico duvida que um líder com aquelas características pudesse realmente ter êxito, e agradece a sorte de que tal monstro exista apenas nas páginas de um livro de FC, o que nos coloca – nós, que vivemos no mundo em que ele existiu de fato – no centro do pesadelo proposto por Spinrad.
A HISTÓRIA DENTRO DO LIVRO
(Capa: Catherine Huerta. Bantam Spectra).
No livro de Hitler é apresentada a nação Heldon como o berço dos “homens verdadeiros”, aqueles que possuem os genes perfeitos dos seres humanos, cercados por seres mutantes que ameaçam sua existência. Surge um herói, Feric Jaggar, que consegue organizar o povo de Heldon e marchar com forças militares surpreendentes, eliminando a “sujeira genética” dos países vizinhos, até conseguir atingir Zind, o maior de todos os males. Grande parte dessa Terra está contaminada radioativamente devido a uma guerra anterior na qual armamentos nucleares foram utilizados, daí o surgimento das mutações. A maior parte da história dedica-se a uma série de cenas de guerra, massacres, destruições, membros decepados e atos heroicos nos quais a pureza racial dos habitantes de Heldon é destacada ad nauseum, e a força dos puros é impossível de ser detida. Tudo termina com a destruição total dos impuros mutantes, ainda que o último deles consiga ativar uma bomba nuclear dos Antigos e causar a contaminação do sêmen de todos os “homens verdadeiros”, impedindo sua procriação. Só que seus cientistas descobriram a técnica da clonagem e começam a repovoar a Terra com seres perfeitos, altos, louros e fortes, verdadeiros deuses, e ainda se preparam para espalhar a raça perfeita pelo universo, partindo em suas naves para Tau Ceti e outros planetas.
O OUTRO DIÁRIO DE PHILEAS FOGG (The Other Log of Phileas Fogg, 1973)
Philip José Farmer.
O ENIGMA DE MALACIA (The Malacia Tapestry, 1976)
Brian W. Aldiss.
OS MUNDOS DE CRESTOMANCI
Diana Wynne Jones.
AN ENGLISHMAN’S CASTLE (1978)
Produção da BBC, muito bem recebida na Inglaterra e, até onde se sabe, inédita no Brasil. Foi apresentada em três episódios com direção de Paul Ciappessoni, com Kenneth More interpretando o personagem central, Peter Ingram, roteirista de uma novela de televisão chamada An Englishman’s Castle, situada em Londres no ano de 1940, época da invasão nazista ao país.
Nesse mundo alternativo, os alemães venceram a Segunda Guerra Mundial e a Inglaterra passou a ser administrada por um governo colaboracionista e fascista. Os ingleses parecem terem se acostumado com o atual estado das coisas, levando suas vidas pacificamente, e os governantes impedem qualquer tentativa de rebelião torturando os dissidentes sem que a população saiba o que está ocorrendo.
Ingram leva a vida como muitos concidadãos, sem dar muita atenção ao controle exercido pelos nazistas, mas existe um movimento subterrâneo que planeja uma sublevação e retomada do país. Ele começa a se envolver com a causa quando fica sabendo que sua amante e principal estrela da novela, é judia e faz parte do movimento rebelde.
A OESTE DO ÉDEN (West of Eden, 1984)
Harry Harrison.
(Capa: David Schleinkofer. Bantam Books).
Um livro notável de Harry Harrison, imaginando uma Terra alternativa que não foi atingida por um asteroide há 65 milhões de anos, de modo que a vida não foi extinta naquela época. Assim, os répteis conseguiram se desenvolver a ponto de se tornarem uma raça inteligente e dominante no planeta, em particular os que se chamam Yilané, obtendo um surpreendente nível de controle do meio ambiente, em particular por meio de engenharia genética. Com milhões de anos de evolução a seu favor, conseguem estabelecer uma sociedade complexa e tão evoluída quanto a dos humanos de nossa Terra, sem ter de utilizar as tecnologias que desenvolvemos, assim como a industrialização ou o fogo. Tudo, desde suas roupas e agasalhos para o frio, até suas casas e as cidades, são moldadas à partir dos conhecimentos aplicados da engenharia genética.
A história começa num momento crítico de sua história, quando o frio começa a tornar a existência das cidades impossível e os Yilané precisam procurar novas terras para morarem. Dessa forma, um grupo avançado atravessa o oceano e elabora uma cidade na região da Flórida, nos EUA, onde o calor permite que continuem a desenvolver sua civilização. O que não contavam era encontrar uma raça diferente de mamíferos civilizados morando na região, mais ao norte, mas também enfrentando problemas com os invernos cada vez mais rigorosos que impedem sua subsistência, obrigando-os a se deslocarem para o sul para encontrarem caça. Como são nômades, o caminho das duas raças se cruzam. Esses seres semelhantes a humanos são chamados Tanu e desenvolveram-se a partir de uma raça de macacos originária do continente americano, que ficou milhões de anos sem a presença dos Yilané.
Tanto os humanos quanto os répteis não imaginavam que era possível a existência de outros seres desenvolvidos e civilizados, com fala própria e cultura mais ou menos desenvolvida. Para completar o quadro, existe uma situação de ódio absoluto de uns em relação aos outros. Os Yilané entendem que a única possibilidade de se estabelecerem em paz e tranquilidade no novo continente é eliminando completamente os humanos. Estes, não tão organizados quanto elas (todo o comando da civilização Yilané é realizado pelas fêmeas), começam tentando simplesmente fugir, para enfim obterem uma organização forte o suficiente para combatê-las e, eventualmente, derrotá-las, obrigando-as a fugirem para o outro lado do oceano.
(Capa: Bill Sanderson. Panther).
Essa expulsão dos répteis, no entanto, só se torna possível devido ao jovem chamado Kerrick, um sobrevivente de um massacre realizado pelas Yilané e criado junto à elas. Ele aprende seus costumes e sua linguagem. Quando consegue fugir, anos mais tarde, orienta os humanos nas formas de combatê-las. Grande parte da história centra-se nas atividades de Kerrick, uma vez que ele será o centro dos acontecimentos que irão mudar o mundo e a visão dos Tanu, mais atrasados, mas que sabem que deverão mudar sua forma de encarar a vida daí por diante. As Yilané continuam existindo e serão sempre uma ameaça.
Por alguma razão, Harrison desenvolveu a sociedade Yilané extremamente conservadora, e a humana, apesar de recheada de pensamentos arcaicos, com maior facilidade em adaptar-se às novidades, e é isso que os permite derrotar o inimigo. As Yilané fazem as coisas sempre da mesma forma, rejeitando o novo sempre que for inevitável. Kerrick consegue transformar as pequenas tribos o suficiente para mudar o panorama. Ele é quem detém o conhecimento das duas sociedades, combinando-os para obter o melhor resultado possível. O único fator que permite a vitória dos humanos é a imobilidade das Yilané com relação a certos assuntos. No mais, são sempre superiores.
Apesar de algumas críticas ao livro, trata-se de uma das grandes construções de mundos alternativos na FC, com interessantes especulações científicas na área da biologia.
AGENTE DE BIZÂNCIO (Agent of Byzantium, 1987)
Harry Turtledove.
(Capa: J.K. Potter. Congdon & Weed).
Outro excelente livro sobre um mundo alternativo, no caso uma Terra em que o Islamismo não se desenvolveu, uma vez que Maomé converteu-se ao Cristianismo. Como o Império Bizantino não caiu, ele conseguiu desenvolver-se de forma estupenda, firmando-se como uma grande potência, assim como a Pérsia.
Harry Turtledove, além de ser um escritor de FC, também é um historiador, com PhD na história bizantina, o que deve ter facilitado muito a elaboração do mundo proposto. O livro teve diferentes edições, com adição de histórias subsequentes. Nesta, são seis histórias interligadas; uma edição de 1993 traz mais duas histórias.
A história inicia no ano 6.814, no calendário bizantino, o Etos Kosmou, ou Anno Mundi, que equivale ao período de 1 de setembro de 1.305 a 31 de agosto de3 1.306. O personagem central é Basil Argyros, soldado e agente do Império que, numa batalha ao norte do Danúbio, percebe que um dos chefes carrega um tubo que ele consegue roubar e que se trata de uma luneta primitiva. Argyros é promovido e leva o aparelho a Constantinopla, para que seja estudado.
A história seguinte situa-se no ano 6.816, quando Argyros encontra-se em Constantinopla realizando um inesperado trabalho de escritório, quando a varíola começa a atacar a população. Mais uma vez, o personagem estará no centro de uma descoberta fundamental, ajudando a combater a varíola e prevenir futuros surtos da doença.
(Capa: Barclay Shaw. Baen).
Na terceira história, em 6.824, Argyros está na fronteira norte do Império onde os franco-saxões estão atacando com uma nova arma desconhecido. O agente consegue infiltrar-se no inimigo e fica sabendo que os religiosos descobriram a mistura de carvão, enxofre e salitre que possibilita a construção de bombas primitivas. Claro que Argyros leva o conhecimento à capital.
As histórias vão mostrando a imensa capacidade do Império em adaptar-se aos novos conhecimentos e utilizá-los ainda melhor do que seus inimigos. A fé religiosa ainda controla grande parte de seus costumes, mas ainda assim os bizantinos são imensamente superiores aos demais povos, geralmente muito supersticiosos ou totalmente desorganizados.
A quarta história introduz uma personagem, a agente persa Mirrane, que está usando um sistema de impressão para produzir cartazes insuflando o povo contra o governo. Ela volta a aparecer na quinta história, no ano 6.826, época em que surge a possibilidade de uma cisão religiosa no Império. Na sexta história, Argyros e Mirrane têm de trabalhar juntos para conter uma invasão que ameaça tanto o Império Bizantino quanto o Persa.
UMA CILADA PARA ROGER RABBIT (Who Framed Roger Rabbit?, 1988)
(Touchstone Pictures/ Amblin Entertainment).
Excelente filme dirigido por Robert Zemeckis, baseado no livro Who Censored Roger Rabbit? (1981), de Gary K. Wolf. Um trabalho sensacional de animação, com os personagens dos desenhos animados trabalhando ao lado dos humanos, num mundo em que a convivência entre personagens desenhados e seres humanos é constante e comum.
A CASCA DA SERPENTE (1989. Editora Bertrand Brasil)
José J. Veiga.
J.J. Veiga é, provavelmente, o maior autor de literatura fantástica do Brasil, e aqui entra no universo dos mundos alternativos ao imaginar que Antônio Conselheiro conseguiu sobreviver ao ataque a Canudos e é levado pelo núcleo de fanáticos seguidores em direção à Serra da Canabrava e, posteriormente, para a fictícia Serra de Itatimundé, com o objetivo de fundar outro núcleo como o de Canudos.
Esse novo Canudos consegue sobreviver até a década de 1960, quando é destruído pelo regime militar.
FEITIÇO MORTAL (Cast a Deadly Spell, 1991)
(HBO/ Pacific Western).
Filme produzido para a TV, com direção de Martin Campbell, com história situada num mundo alternativo no qual o Necronomicon existe, o livro fictício inventado por H.P. Lovecraft nas histórias escritas em nosso mundo. Fred Ward interpreta um detetive chamado Lovecraft, nos anos 1940, contratado por um milionário (David Warner) para reaver o livro que lhe foi roubado. Nesse mundo alternativo, a magia é uma realidade e muitos seres estranhos andam pela cidade de Los Angeles.
NAÇÃO DO MEDO (Fatherland, 1994)
(Eis Film/ HBO).
Outra produção para a TV, com história baseada no livro com o mesmo título, de Robert Harris, publicado em 1992. Na época, a crítica nos jornais apresentou o filme como um “thriller político com toques de ficção”. Claro que se trata de uma ficção científica na linha dos mundos alternativos, com ação centrada na Berlim dos anos 1960, num mundo em que a Alemanha venceu a Segunda Guerra Mundial e se tornou a maior potência do planeta. Hitler está fazendo 75 anos e a Guerra Fria com os EUA está para chegar ao fim. A Alemanha deseja a reaproximação para poder acabar de vez a guerra com a União Soviética, que se estende por 20 anos. Tudo parece estar bem na Alemanha, mas a verdade é diferente. A SS transformou-se na polícia local, enquanto a Gestapo mantém sua atividade secreta e criminosa. Rutger Hauer é o oficial da SS que começa a investigar um crime e percebe que ele tem ligações maiores do que se poderia supor, na tentativa da Gestapo de encobrir os crimes de guerra dos nazistas contra os judeus, crimes dos quais, nessa Terra alternativa, ninguém ainda tem conhecimento.
A COR DA FÚRIA (White Man’s Burden, 1995)
John Travolta e Harry Belafonte, em A Cor da Fúria (A Band Apart/ Chromatic/ HBO/ Rysher Entertainment/ Union Générale Cinématographique).
Filme dirigido por Desmond Nakano e com John Travolta e Harry Belafonte nos papéis principais, com história situada num mundo em que os papéis raciais nos EUA estão invertidos, com os negros como a elite dominante e governante privilegiada, e os brancos mais pobres e desprotegidos. Travolta é empregado na fábrica de Belafonte e é encarregado de levar uma encomenda em sua mansão. Por acaso, vê a esposa do chefe sem roupa na janela e é despedido por isso. Sua vida se transforma num inferno, e ele decide sequestrar o patrão para exigir o dinheiro que ele lhe deve pelos anos de trabalho. O filme não foi muito bem recebido pela crítica e teve péssima bilheteria, mas tem seus momentos interessantes, em especial porque os dois atores centrais são muito bons.
FRONTEIRAS DO UNIVERSO (His Dark Materials, 1995/ 2000)
Philip Pullman.
O VAMPIRO DE NOVA HOLANDA (1998)
Gerson Lodi-Ribeiro.
THE NEANDERTHAL PARALLAX (2002/2003)
Robert J. Sawyer.
(Capa: Donato Giancola/ Tor Books).
Trilogia que lida com o contato entre o nosso mundo e um mundo alternativo no qual os Neanderthal se tornaram os hominídeos predominantes. Os livros são: Hominids (2002), Humans (2003) e Hybrids (2003). O primeiro surgiu inicialmente na revista Analog Science Fiction, e ganhou o Prêmio Hugo de 2003.
Sawyer também é o autor de Flashforward (1999. Editora Record), inspiração para o seriado com o mesmo título, que foi suspenso pela ABC após 22 episódios. Até onde pude verificar, a trilogia não foi publicada em português.
CROSSTIME TRAFFIC (2003/2008)
Harry Turtledove.
(Capa: Kazuhiko Sano. Tor Books).
Série com seis livros de um dos principais especialistas em histórias de mundos alternativos: Gunpowder Empire (2003); Curious Notions (2004); In High Places (2005); The Disunited States of America (2006); The Gladiator (2007); The Valley-Westside War (2008).
A premissa é que uma Terra com desenvolvimento diferente da nossa conseguiu descobrir a forma de acessar diferentes mundos alternativos. A empresa que mantém um monopólio mundial sobre a tecnologia chama-se Crossstime Traffic.
CONQUISTADOR (2003)
S.M. Stirling.
(Capa: Jonathan Barkat. Roc/ New American Library).
Um mundo alternativo no qual o império conquistado por Alexandre o Grande continua existindo, tendo conquistado quase toda a Europa e estendendo-se até a Índia. Entre as alterações que esse evento causa no mundo é que os europeus não colonizam as Américas, as invasões bárbaras na Europa são contidas e a tecnologia não tem grande evolução. No entanto, o personagem John Rolfe VI, capitão da infantaria em nosso mundo, acaba encontrando uma passagem para esse mundo alternativo, para o qual leva alguns companheiros de armas. Ao longo de 60 anos, eles conseguem conquistador um bom território do Novo Mundo, na Califórnia, e construir uma nação. E a história estende-se até nossos dias envolvendo uma disputa entre descendentes dos primeiros colonos nesse mundo alternativo e a tentativa de tomar posse da passagem entre os mundos.
O autor S.M. Stirling não é muito conhecido no Brasil, mas é um dos principais escritores da atualidade a lidar com histórias sobre mundos alternativos, o que ele fez em outras séries como The Lords of Creation – com os livros The Sky People (2006) e In the Courts of the Crimson Kings (2008) – na qual ele imagina que Marte e Vênus há muito tempo foram transformados em planetas habitáveis. Na série Draka ele apresenta um mundo no qual colonos americanos leais ao império britânico fogem para a África após a Guerra da Independência norte-americana, e lá fundam um império. A série conta com quatro livros e mais uma coletânea de contos situados no mundo alternativo.
JONATHAN STRANGE & MR. NORRELL (2004)
Susanna Clarke.
COMPLÔ CONTRA A AMÉRICA (The Plot Against America, 2004. Companhia das Letras)
Philip Roth.
A editora que diz não publicar ficção científica deve odiar ver o livro do grande escritor Philip Roth ser classificado como tal. E, obviamente, é disso que se trata.
Basicamente, Roth imaginou que o famoso aviador Charles Lindbergh não apenas criticou os EUA por atuarem na II Guerra Mundial contra os nazistas, mas criticou os judeus por forçarem o envolvimento do país na guerra. Lindbergh filia-se ao Partido Republicano e é indicado como candidato do partido para as eleições presidenciais, conseguindo derrotar Franklin D. Roosevelt. Essa situação acarreta uma transformação na sociedade norte-americana, em particular para os judeus – como o jovem Philip Roth, apresentado como personagem da história.
Lindbergh firma um tratado de paz com Hitler, prometendo não interferir na expansão nazista na Europa, e com o Império Japonês, com a mesma promessa quanto à expansão nipônica na Ásia e no Pacífico.
OUTROS BRASIS (2006. Editora Mercuryo)
Gerson Lodi-Ribeiro.
O escritor brasileiro Gerson Lodi-Ribeiro, já comentado anteriormente em O Vampiro de Nova Holanda, certamente é o mais conhecido autor de histórias na linha dos mundos alternativos. No prefácio do livro, outro grande escritor brasileiro, Braulio Tavares, reconhece que ele é quem tem explorado de forma mais consistente o subgênero, “[...] não apenas por sua obra de ficção, como também por seus numerosos artigos publicados em revistas e fanzines, e divulgados pela internet. Com quase quarenta ensaios publicados desde 1994 em sua coluna Terras Alternativas, no fanzine Megalon, de São Paulo, tem feito um inestimável balanço do subgênero, trazendo preciosas resenhas de obras estrangeiras que exploram este infinito leque de possibilidades”.
Lodi-Ribeiro tem se concentrado na história do Brasil, imaginando “pontos de virada” nos acontecimentos e lidando com as consequências dessas alternativas de forma competente e, muitas vezes, brilhante. Braulio Tavares lembra que “Os Brasis sugeridos neste livro são outros, mas também este onde vivemos, porque mesmo quando as funções de onda de probabilidade da História colapsam em benefício desta ou daquela alternativa, as condições que tinham tornado possível a alternativa oposta continuam latentes; não são zeradas por um passe de mágica”.
Os contos reunidos nesse volume incluem o já citado O Vampiro de Nova Holanda e A Ética da Traição, de 1993, inicialmente publicado no Isaac Asimov Magazine número 25.
A MÃO QUE CRIA (2006. Editora Mercuryo)
Octavio Aragão.
XOCHIQUETZAL: uma princesa asteca entre os incas (2009. Editora Draco)
Gerson Lodi-Ribeiro.
O primeiro romance do autor, mais uma vez com história de um mundo alternativo que imagina o que poderia ocorrer se o rei de Portugal tivesse aceitado a proposta de Colombo. A aventura é narrada pela princesa asteca, que foi levada a Lisboa e educada como cristã, além de ter se casado com o navegante Vasco da Gama.
Apesar de Portugal dominar o que para nós é o continente americano, e no romance é Cabrália, eles não liquidam ou sufocam as culturas locais, estabelecendo um relacionamento bem mais harmonioso.
SELVA BRASIL (2010. Editora Draco)
Roberto de Sousa Causo.
Um dos principais escritores, crítico e pesquisadores da ficção científica brasileira, Roberto Causo também abordou o subgênero imaginando uma invasão militar brasileira das Guianas como parte dos planos do Presidente Jânio Quadros; ao mesmo tempo, a Argentina invade as Malvinas, no Atlântico (invasão que ocorreu em 1982, quando a Argentina tomou as ilhas e entrou em conflito com a Inglaterra). Nessa história, Inglaterra, França, Holanda e Estados Unidos reagem à invasão e passam a dominar parte da Amazônia brasileira. O resultado é um estado de conflito permanente na região e alterações drásticas na política e economia brasileiras. Causo ainda imagina uma experiência que pode ser capaz de abrir uma passagem entre esse mundo alternativo e o nosso.
A OUTRA DIMENSÃO (Paradox, 2010)
(American World Pictures/ Bron Studios).
Filme produzido para a TV, com direção de Brenton Spencer, a partir da graphic novel de Christos Gage, com Kevin Sorbo no papel do detetive Sean Nault, de um mundo alternativo no qual a ciência quase não existe e a magia é uma realidade, o que lembra o mundo de Feitiço Mortal, comentado anteriormente. E ele investiga exatamente uma série de crimes que vêm sendo cometidos com o auxílio da ciência. Nesse mundo existe um feiticeiro de 130 anos chamado Winston Churchill que sabe da existência de outro mundo no qual a magia não existe e a ciência é comum. Nault deverá ir a essa mundo para solucionar os problemas que afligem o seu próprio universo.