Um dos primeiros, senão o primeiro filme a apresentar uma catástrofe vinda do espaço foi Colisão de Planetas (When Worlds Collide, 1951. Também conhecido como O Fim do Mundo), baseado na história com o mesmo título (1933), de Edwin Balmer e Philip Wylie.
Inicialmente, o grande produtor Cecil B. DeMille planejava filmar a obra nos anos 1930, mas foi George Pal, um nome bem conhecido no gênero, que conseguiu produzir, com Rudolph Mate na direção, e com um orçamento bem menor do que esperava ter à disposição. Ainda assim, conseguiu levar o prêmio da Academia por melhores efeitos especiais, em grande parte graças ao trabalho do artista Chesley Bonestell.
A catástrofe aproxima-se da Terra na forma de uma estrela errante, denominada Bellus, que se encontra em rota de colisão com o planeta. Um astrônomo descobre o que está para acontecer e tenta alertar a ONU, pretendendo construir uma nave espacial em oito meses, o tempo que resta à humanidade, para levar alguns escolhidos até o planeta Zyra, que acompanha a estrela que está entrando em nosso sistema solar. Outros cientistas entendem que as previsões do astrônomo estão erradas, e o projeto é descartado pelas nações da Terra. No entanto, ele consegue o dinheiro com um ricaço numa cadeira de rodas, extremamente egoísta, que literalmente compra sua passagem para a sobrevivência.
A nave salvadora sendo construída, em Colisão de Planetas (Paramount).
A construção da nave é iniciada rapidamente, e logo os cientistas e as nações percebem que os cálculos do astrônomo estavam corretos, e também tentam construir suas naves. E o mundo enlouquece, com populações inteiras sendo transferidas do litoral para o interior, enquanto maremotos e terremotos começam a afetar a Terra.
Richard Derr e Barbara Rush, chegando ao novo lar, em Colisão de Planetas.
Alguns críticos, como Phil Hardy, não gostaram muito do filme – em parte devido ao enredo que envolve um romance básico entre dois personagens –, e estabeleceram uma conexão entre a destruição da Terra por uma colisão cósmica e a então crescente preocupação com uma guerra nuclear que dizimaria o planeta. Parece um exagero querer relacionar as duas coisas, como se fosse necessário uma metáfora ou um simbolismo para falar dos problemas nucleares na época; muitos filmes e livros abordaram diretamente a questão sem necessidade disso. É mais ou menos a mesma situação que ocorreu no mesmo período, relacionada aos filmes que supostamente se referiam ao perigo do comunismo. Muitos filmes de ficção científica foram criticados por estarem se referindo ao chamado “perigo vermelho” quando, na verdade, estavam apenas tratando de temas clássicos do gênero.
Bem interessante é o filme inglês O Dia em que a Terra se Incendiou (The Day the Earth Caught Fire, 1961), com produção e direção de Val Guest. Rodado em preto e branco, o filme se destaca por não apresentar os eventos do ponto de vista dos governos ou dos militares, o que era mais comum na época.
O calor fica insuportável na Terra, em O Dia em que a Terra se Incendiou (Pax Films/ British Lion).
Os EUA e a União Soviética realizam testes nucleares ao mesmo tempo, provocando a alteração da órbita da Terra, que se aproxima perigosamente do Sol. Quando percebem o que está acontecendo, os dois governos decidem que a melhor forma de fazer a Terra voltar à sua órbita original é, adivinhem, detonando mais bombas nucleares.
No centro da narrativa está um jornalista, nada contente com sua vida e bebendo demais, tentando descobrir a verdade por trás dos eventos, mas sem poder fazer muita coisa. Ao final do filme, o jornal prepara duas manchetes: uma sobre o fim do planeta, outra sobre a salvação do planeta. As bombas são detonadas, uma onda de impacto varre o planeta, e o filme termina com os sinos das igrejas tocando, sem que se saiba se para anunciar a salvação ou o fim do planeta.
Dana Andrews tenta arrumar a besteira que fez, em Uma Fenda no Mundo (Paramount).
Em 1965, foi a vez de Uma Fenda no Mundo (Crack in the World. Também conhecido no Brasil como O Fim do Mundo. Sim, de novo), com Dana Andrews como o cientista amargurado que, inadvertidamente, quase destrói o mundo. Procurando obter uma nova fonte de energia no interior do planeta, cientistas iniciam uma imensa escavação, até que encontram um obstáculo. Para ultrapassá-lo, o cientista resolve explodir uma bomba nuclear, o que provoca uma imensa fenda que começa a se espalhar cada vez mais pelo planeta, provocando maremotos e terremotos e ameaçando separar a Terra ao meio. Para deter o avanço da rachadura gigante, explode outra bomba. Conseguem resolver o problema, mas como consequência a Terra ganha uma segunda Lua, com a parte que se desprende.
É um dos bons filmes da época, com ótimos efeitos, atores e um clima convincentemente elaborado.
Um filme espetacular é Corrida Silenciosa (Silent Running, 1972), a estreia de Douglas Trumbull na direção; ele era mais conhecido por ser o responsável pelos efeitos especiais dos clássicos 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e O Enigma de Andrômeda (1971).
Difere de muitas produções sobre catástrofes e o fim do mundo por não mostrar a Terra sendo destruída. Toda a ação ocorre numa gigantesca nave espacial, com domos imensos que abrigam o que resta da vida vegetal do planeta. A Terra encontra-se sem qualquer tipo de vegetação, destruída pela poluição nuclear, e os espécimes são mantidos sob proteção pela tripulação de quatro pessoas, que ainda contam com a ajuda de três pequenos robôs. No entanto, apenas um membro da tripulação, Freeman Lowell (Bruce Dern) realmente se interessa pelo assunto, cuidando das plantas e levando seu trabalho a sério. Os demais passam o tempo inteiro divertindo-se e caçoando dele, totalmente desinteressados pelo futuro do planeta, como também parecem estar as autoridades planetárias, que dão aos astronautas a ordem de destruir os domos, uma vez que desistiram da ideia de reflorestar a Terra. Lowell recusa-se a obedecer a ordem e entra em violento confronto com os outros três.
Bruce Dern observa e cuida do que restou da vegetação da Terra, em Corrida Silenciosa (Universal).
O filme não é uma unanimidade entre os críticos; alguns consideram o roteiro fraco e a história um tanto boba, ainda que a atuação de Bruce Dern seja muito elogiada. Phil Hardy elogia o fato de que Trumbull conseguiu se fixar nos aspectos humanos da questão, mais do que nos efeitos especiais, centrando-se na luta do astronauta/ecologista em manter alguma esperança para o planeta, mesmo que isso custasse sua vida.
Dois dos robôs que auxiliam Bruce Dern na tarefa de cuidar das plantas, em Corrida Silenciosa.
E ainda tem os três robôs que estão entre os mais simpáticos do cinema. Ainda que sem forma humana e sem emitir sons humanos, no final eles representam a última esperança para o planeta. Eles receberam os nomes dos sobrinhos do Pato Donald, Huey, Dewey e Louie, ou Huguinho, Zezinho e Luizinho. Como Phil Hardy escreveu, a cena final do robô sobrevivente, solitário no domo vagando no espaço, regando uma planta, “tanto triste como otimista”, está entre as imagens mais fortes dos filmes modernos de ficção científica. E provavelmente ele está certo.
Grande parte das críticas ao filme Quinteto (Quintet, 1979), dirigido por Robert Altman, segue a linha de que ele é pretensioso e excessivamente lento. Altman também produziu e participou do roteiro, e o filme traz um elenco excelente, com Paul Newman, Vittorio Gassman e Bibi Andersson.
Paul Newman e Brigitte Fossey, em Quinteto (Fox).
No mundo do futuro que ele retrata, o planeta está enterrado numa nova idade do gelo – segundo algumas fontes, provocada por uma guerra nuclear – e os poucos sobreviventes reúnem-se no que restou das cidades. Eles participam de um jogo que chamam de “quinteto”, que não apenas é a única forma de provocar alguma emoção, mas também de eliminar os mais fracos.
Baird Seales, em Films of Science Fiction and Fantasy, escreveu que, por se tratar de Altman, Quinteto às vezes é obscuro e pretensioso; mas também por ser um filme de Altman, é um dos mais interessantes experimentos no gênero, merecendo uma reputação melhor do que a que recebeu. Na verdade, ultimamente alguns críticos, como John Kenneth Muir, reavaliaram o filme, encontrando inúmeras qualidades – entre elas a de não ter sido feito para obter sucesso comercial – e Quinteto chega a ter um status de cult, por mais difícil que seja de assistir a um filme tão gélido, com poucas cenas de ação e longos períodos em que os personagens nada falam. Para muitos, isso é proposital, ilustrando a absoluta falta de perspectivas para o futuro em que se encontra o que restou da sociedade humana.
Bibi Andersson participando do jogo, em Quinteto.
Em tempos mais recentes, um dos destaques, pelo menos de bilheteria, foi O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, 2004), de Roland Emmerich. A superprodução tem todos os ingredientes que fizeram do diretor um dos preferidos para esse tipo de blockbuster, desde seu imenso sucesso com o irritante Independence Day (1996).
Os impressionantes efeitos visuais de O Dia Depois de Amanhã (Fox).
Seguindo na esteira de relatórios que apontam o aquecimento global como um dos mais perigosos aspectos planetários a serem observados nos próximos anos, a história apresenta o planeta passando por uma transformação climática gigantesca, jogando a civilização em uma nova idade do gelo. Tempestades gigantes e tsunami sem precedentes antecedem o resfriamento do planeta, empurrando os sobreviventes do hemisfério norte em direção ao sul.
O mar invade Nova York, em O Dia Depois de Amanhã.
Os elementos patrióticos vistos em Independence Day repetem-se aqui, além do foco no relacionamento familiar e nos efeitos especiais espetaculares. Mas o roteiro apresenta pouco mais do que isso. O aspecto mais insatisfatório de muitas críticas apresentadas é que parece ter havido, em especial nos Estados Unidos, um verdadeiro movimento para repudiar os aspectos “científicos” do filme. Por mais que, do meu ponto de vista, seja um filme medíocre, criticar a ausência de ciência num filme de ficção beira a insanidade. Infelizmente, muitas pessoas ainda acham que a ficção científica tem de ser cientificamente plausível, quando não exata, esquecendo-se de que se trata de literatura ou cinema fantástico. É lamentável.
Emmerich voltaria à destruição do planeta, mais uma vez aproveitando um tema do momento, no igualmente lastimável 2012 (2012), produzido em 2009. Para os que têm memória curta, essa foi a época em que começaram a circular milhares de matérias em todo o mundo a respeito do chamado “apocalipse maia”, civilização que supostamente teria predito o fim do mundo para o ano de 2012.
E de novo, efeitos visuais impressionantes, em 2012 (Sony).
Prato cheio para Hollywood e Emmerich embarcarem em nova produção gigantesca, na qual foi apresentado um provável final para o planeta, ou quase isso. Neutrinos originários de uma imensa erupção solar aumentam a temperatura do núcleo do planeta, iniciando uma reação apocalíptica na Terra. Não há muito o que falar, a não ser que o diretor segue todas as regras para um filme do gênero fazer sucesso, com muita, muita ação, efeitos especiais mirabolantes e incríveis, ações heroicas e, claro, o relacionamento familiar no centro de tudo.
Os filmes do diretor dinamarquês Lars von Trier geralmente são bem recebidos pela crítica, mas nem tanto pelo público. Porém, inegavelmente, deixam sua marca. E com Melancolia (Melancholia, 2011) não foi diferente, despertando pontos de vista variados.
Segundo o diretor, a ideia surgiu de dois momentos diferentes. O primeiro, a partir de uma sessão de terapia em que o terapeuta disse a ele que pessoas depressivas – como ele – têm a tendência de agir mais calmamente do que outras quando sob forte pressão. O outro momento foi a ideia de uma colisão planetária, veiculada em alguns sites da internet.
A história se passa num momento em que um planeta que estava oculto atrás do Sol aproxima-se da Terra. Os cientistas dizem que ele vai passar perto do nosso planeta, antes de desviar-se para o espaço. Mas isso não ocorre.
Kirsten Dunst, em Melancolia (Zentropa Entert./ California Filmes).
O filme é divido em duas partes, mais uma introdução com cerca de 8 minutos. A introdução mostra imagens do espaço, dos planetas e alguns momentos do filme, em câmera superlenta. São imagens bonitas, mas nem todos os espectadores conseguiram ultrapassar a lentidão das filmagens.
Certamente é um dos mais belos finais de mundo já filmados. E ainda tem as atuações impecáveis de Kristen Dunst – pela qual recebeu o Prêmio de Melhor Atriz no festival de Cannes – e de Charlotte Gainsbourg.
Melancolia.
Também em 2012, o ano do fim do mundo, surgiu Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World), com o humorista Steve Carell e Keira Knightley.
Entre os recentes filmes que propõem a iminente destruição da Terra devido a uma catástrofe cósmica, este é um dos mais interessantes, em grande parte por não se deter nos aspectos técnicos/científicos do evento e, principalmente, por não propor soluções fáceis. Poderia facilmente ter enveredado por um caminho que o transformasse em mais um dos inúmeros filmes “água com açúcar”, do tipo “só o amor salva”, mas consegue ser muito mais do que isso e propor discussões interessantes acerca da sociedade e dos seres humanos quando se encontram sob pressão, ou quando as restrições sociais já não fazem sentido.
Já na primeira cena ficamos sabendo que um asteroide encontrava-se em curso de colisão com o planeta e que uma missão espacial para tentar detê-lo falhara, de modo que a destruição da Terra era questão de dias.
Steve Carell e Keira Knightley iniciam sua jornada em Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo (Paris Filmes).
A partir daí, as pessoas começam a se comportar das formas mais diversas, aguardando o fim. É claro que talvez esteja longe do que realmente poderia acontecer numa situação como essa, mas as reações e situações apresentadas certamente não são artificiais. Uns procuram sexo e drogas, outros, a violência; a natureza dos relacionamentos muda drasticamente já que não há mais sentido em mentir ou inibir os sentimentos, o que cria diálogos ríspidos e, muitas vezes, engraçados.
A lanchonete mais alucinada do fim dos tempos, em Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo.
Para Dodge, o personagem interpretado por Steve Carell, a situação é vista de forma diferente e sua noção básica de como ele deve ser e como deve se comportar não muda quase nada. O que muda é a possibilidade que se apresenta de realmente ser feliz, ainda que apenas por alguns dias. Isso acontece quando ele encontra sua vizinha Penny (Keira Knightley) e, juntos, iniciam uma jornada em busca de algo que acham que perderam ao longo da vida.
É possível até mesmo fazer uma leitura da mensagem do filme de um ponto de vista espiritual, entendendo que não importa se o fim está chegando em breve ou não, ou se já chegou, desde que você esteja com quem você quer, desde que seus pensamentos e ações estejam voltados para o bem e para o próximo, e não concentrados em ações egoístas.
Amigos na estrada (Keira Knightley e Steve Carell).
Pode ser que o filme tenha sido pensado e produzido tendo em mente as notícias sobre o “fatídico” ano de 2012 e o “fim do mundo” anunciado por algumas vertentes religiosas e esotéricas. Nos últimos anos, muitos filmes do gênero foram produzidos tendo “o fim do mundo em 2012” em mente. Ainda assim, trata-se de um trabalho muito bom, que não propõe soluções fáceis para a questão e não se prende a diálogos banais e heroísmos de última hora, deixando de lado as aventuras tecnológicas improváveis e sem qualquer preocupação com os efeitos especiais. O que importa, aqui, são as pessoas e como elas se relacionam diante de uma crise sem precedentes, revelando o que têm de melhor e de pior.
Não é surpresa que não tenha sido um grande sucesso de bilheteria, uma vez que não traz o chamado “final feliz”, ou aventuras heroicas para salvar o planeta ou, pelo menos, a família.
Sem final feliz, mas em paz. Steve Carell e Keira Knightley aguardam o fim dos tempos.
Em 2013, dois filmes trataram o tema da alteração climática global e, coincidentemente ou não, com propostas parecidas para os problemas que afetaram o planeta, ainda que as histórias tenham desenvolvimentos completamente distintos.
A classe mais baixa se rebela, em Expresso do Amanhã (Moho Film/ Opus Pic.).
Em Expresso do Amanhã (Snowpiercer), ocorre uma tentativa de deter o aquecimento global utilizando técnicas de geoengenharia, ou seja, alteração climática. Só que a tentativa não dá certo e o planeta entra em uma idade do gelo tão violenta que quase toda a vida no planeta é eliminada.
Os únicos sobreviventes encontram-se a bordo de um trem imenso criado por um magnata, e que viaja eternamente numa ferrovia que circunda o planeta. O trem não pode parar, e dentro dele desenvolvem-se classes sociais distintas; a classe mais baixa, situada na parte posterior do trem, revolta-se contra a elite que controla suas vidas de forma despótica.
A tropa de choque da elite se prepara para o confronto em Expresso do Amanhã.
De certa forma, lembra as histórias da ficção científica conhecidas como generation starship, nas quais naves viajam pelo espaço por tanto tempo que seus tripulantes não sabem mais que estão dentro de uma nave.
No outro filme, A Colônia (The Colony), mais uma vez são criadas máquinas para controlar o aquecimento global, mas o resultado é igualmente o congelamento do planeta. Aqui, os sobreviventes isolam-se em abrigos subterrâneos, mas enfrentam um novo grupo de sobreviventes canibais. Não chegou nem perto do sucesso do seu colega temático.
A mais interessante visão recente de um fim para nossa civilização veio com o sensacional Interestelar (Interstellar, 2014), dirigido por Christopher Nolan, que já havia premiado os fãs de ficção científica com obras sensacionais como Batman Begins (2005), Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), A Origem (Inception, 2010) e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012).
O astronauta Cooper (Matthew McConaughey) e sua filha Murph (Mackenzie Foy), na Terra empoeirada e sem alimentos de Interestelar (Paramount/ Warner Bros.).
A história situa-se num futuro em que as colheitas de todo o planeta morreram ou estão morrendo, e a humanidade apenas aguarda pelo fim, da melhor maneira possível, tentando plantar o que for possível para adiar o que parece inevitável. A única opção que surge é a de colonizar outro planeta, o que se torna possível com o surgimento de um buraco de minhoca no espaço próximo a Saturno, que pode servir de caminho para uma nave atingir outra galáxia.
Nessa sociedade do futuro, os jovens estudam apenas agricultura, que é o único conhecimento que interessa. Os professores mais jovens repudiam, por exemplo, toda a história da conquista espacial e do pouso na Lua como sendo uma farsa. A história é reescrita e a ciência deixada de lado, para desespero de Cooper (Matthew McConaughey), ex-piloto da NASA. Até que surge a oportunidade dele voltar a exercer sua profissão e ainda ajudar a Terra a resolver seus problemas.
Procurando um novo lar para a humanidade, em Interestelar.
Um conceito que permeia a história é o de que vivíamos num belo planeta e perdemos nossa oportunidade, estragando-o, poluindo e consumindo coisas de que não precisávamos em absoluto. Mesmo encontrando outro lugar para viver, não será a mesma coisa, pois não será nossa casa. Então, qualquer ação é apenas no sentido mais básico de preservação da espécie.
Devido ao que ocorre na ação e ao que os astronautas encontram no cosmos, é um filme extremamente otimista com relação ao futuro da humanidade, mas ainda assim a crítica ao que fizemos e estamos fazendo ao planeta se sustenta. O mundo coberto de poeira e de plantações agonizantes é uma visão poderosa e assustadora.
O Cinema Enlouquece com os Meteoros
Entre 1997 e 1999, parece que o cinema americano pirou com a possibilidade de meteoros, cometas ou outros corpos celestes caírem na Terra. Foi uma enxurrada de filmes do gênero, uns melhores, outros péssimos.
É verdade que a ideia não era nova, tendo sido abordada no fraquinho Meteoro (Meteor, 1979), dirigido por Ronald Neame, e um desperdício de bons atores como Sean Connery, Natalie Wood, Karl Malden, Henry Fonda e Martin Landau. Um meteoro – é claro – está em curso de colisão com a Terra e a única forma de detê-lo é disparando mísseis nucleares em sua direção. O problema é que os mísseis norte-americanos e soviéticos têm de ser disparados ao mesmo tempo, e as equipes têm de trabalhar juntas.
Em 1997, os novos filmes começaram a surgir com a produção para a televisão, Asteroide (Asteroid), com a excelente atriz Annabella Sciorra interpretando uma astrônoma que percebe que a passagem de um cometa pelo sistema solar colocou vários asteroides em curso de colisão com a Terra.
No mesmo ano, A Pedra do Juízo Final (Doomsday Rock, também conhecido como Cosmic Shock), imaginou um grande meteoro que poderia acabar com a vida no planeta. A ideia, mais uma vez, é detê-lo disparando mísseis nucleares.
Duas produções dominaram as telas em 1998: Impacto Profundo (Deep Impact) e Armageddon (Armageddon).
Parte do cometa chega à Terra, em Impacto Profundo (Paramount/ DreamWorks).
O primeiro foi dirigido por Mimi Leder e teve elenco espetacular, com Robert Duvall, Tea Leoni, Elijah Wood, Vanessa Redgrave, Maximilian Schell, Morgan Freeman. E efeitos especiais também espetaculares para contar a história de um cometa que entra em curso de colisão com a Terra e obriga as nações do planeta a se unirem para enviar uma missão espacial e tentar destruí-lo com armas nucleares.
Os sorteados chegam ao refúgio nas montanhas, em Impacto Profundo.
Mimi Leder foi muito feliz ao focar as ações não apenas nos efeitos especiais, mas na reação que a destruição iminente provoca nas pessoas. Claro que, como um bom blockbuster, o filme faz algumas concessões sentimentais, mas atinge seu objetivo. É um filme consistente e que tem resistido ao tempo.
Chegando às telas um pouco depois, a produção de Armageddon custou quase o dobro dos valores de Impacto Profundo, com resultados não tão bons junto à crítica, ainda que a bilheteria tenha sido maior. É outro elenco de grandes nomes, com Bruce Willis, Billy Bob Thornton, Liv Tyler, Ben Affleck, Steve Buscemi.
Bruce Willis e Ben Affleck liderando o grupo de perfuradores/ astronautas em Armageddon (Touchstone).
A história não é tão diferente, com um asteroide gigantesco em curso de colisão com a Terra, de modo que uma equipe tem de ser enviada ao espaço para plantar as bombas nucleares. O ponto fraco é o fato de escolherem perfuradores de petróleo ao espaço com um tempo mínimo de preparação. Ao contrário do filme de Mimi Leder, aqui os efeitos especiais e as ações heroicas são o grande destaque.
Outras produções menores ainda abordaram o mesmo enredo. Em Inferno (Inferno, 1998), feito para TV, um meteoro pode provocar o fim da civilização e causa um aumento brutal na temperatura do planeta. Em Tycus, Impacto Mortal (Tycus, 1998), Dennis Hopper descobre a existência de uma cidade subterrânea, construída para abrigar algumas pessoas selecionadas para sobreviver aos efeitos do cometa Tycus, que está prestes a acabar com o planeta. E ainda em Perigo Iminente (Judgment Day, 1999), produzido diretamente para o mercado de vídeo, mais uma vez a Terra está prestes a ser arrasada pelos fragmentos de um meteoro.