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POLTERGEIST – O FENÔMENO
(Poltergeist, 1982)
Direção de Tobe Hooper.
Os fantasmas comunicando-se pela televisão, em Poltergeist, O Fenômeno (Metro-Goldwyn-Mayer/ SLM Production Group).
Na época do lançamento de Poltergeist, alguns críticos apontavam Steven Spielberg como o grande responsável pela qualidade do filme. O diretor Tobe Hooper tinha como crédito poucos trabalhos, entre eles O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), A Mansão Marsten (Salem’s Lot, 1979) e Pague Para Entrar, Reze Para Sair (The Funhouse, 1981). Por mais que “O Massacre” tenha ficado conhecido e até reverenciado como um cult do terror, nada indicava que Hooper poderia ter feito um trabalho com a qualidade apresentada em Poltergeist. Junte-se a isso o fato de que a produção e o roteiro foram de Spielberg, e a desconfiança ganha espaço.
De qualquer forma, o filme foi um sucesso imenso de bilheteria e também muito bem recebido pela crítica, e tornou-se um dos clássicos do cinema de terror, sendo imitado mais vezes do que deveria.
Os fantasmas assustando a família e a equipe de investigação.
Curiosamente, os eventos fantasiados no filme nada têm a ver com os verdadeiros fenômenos de poltergeist estudados pela parapsicologia. Claro que, na ficção, tudo é ampliado, mas com toques geniais, a começar pela tranquila e comum vida da família do subúrbio da Califórnia que começa a ser totalmente desestruturada pelos acontecimentos.
No início, apenas curiosidade e a tentativa de entender o que está acontecendo. A famosa cena das cadeiras na cozinha foi repetida de muitas formas pelos filmes de terror.
A ação vai crescendo aos poucos, iniciando pelo cômico – como as primeiras manifestações, com as cadeiras sendo empilhadas na cozinha, ou a pequena Carol Anne (Heather O’Rourke) sendo carregada pelo chão, por uma força invisível, usando um capacete de futebol – continuando pelo extraordinário, com a equipe de parapsicólogos filmando os fantasmas descendo a escada, e chegando ao aterrorizante e extremamente perigoso, com a manifestação semelhante a um animal estranho e capaz de atacar as pessoas.
Outra das cenas famosas do filme, com os fantasmas descendo a escada e sendo gravados em vídeo.
A explicação para os eventos, de que a casa foi construída no terreno de um antigo cemitério indígena, sem que os ossos fossem removidos, seria repetido, literalmente ou com ligeiras alterações, em inúmeros filmes de terror nos anos seguintes. Da mesma forma com o conceito de que um espírito maligno teria força suficiente para atuar nos acontecimentos do mundo dos vivos.
O terror e o perigo assumem formas mais claras, com o monstro ectoplásmico que guarda a entrada para o Além.
Claro que os pontos de vista e críticas sobre o filme nunca são unânimes, e alguns não colocam Poltergeist entre os clássicos do gênero. John Grant (em The Encyclopedia of Fantasy) entende que o filme nada mais é do que uma forma de entretenimento espetacularmente produzida, porém monótona, concentrando-se em efeitos especiais maravilhosos. O crítico e pesquisador Phil Hardy (The Aurum Film Encyclopedia: Horror) também não é um grande fã da obra, ainda que destaque algumas boas cenas. Baird Searles (Films of Science Fiction and Fantasy) diz que o filme sofre com o fato de não se decidir entre o assustador e o engraçado. Para ele, o humor acaba minando o terror, e o filme acaba sendo um estudo do que acontece quando uma família suburbana saída de um comercial de detergente descobre que sua casa é assombrada. Michael Weldon (The Psychotronic Encyclopedia of Film) diz que com exceção de uma cena chocante de um rosto se desintegrando, o filme é quase um retrocesso aos bobos, mas divertidos, sustos do diretor William Castle em 13 Fantasmas.
A cena de alucinação à qual o crítico Michael Weldon se referiu.
Talvez haja exagero nos pontos de vista, tanto em entender o filme como um clássico, como em vê-lo como uma obra menor e desinteressante. Sem dúvida, os efeitos especiais têm papel primordial, como passaram a ter em qualquer filme de ficção científica, terror e fantasia a partir do final dos anos 1970. Uma das vantagens, em Poltergeist, é que os efeitos não são tão desconectados da história, como viria a acontecer (e acontece ainda mais hoje em dia) em muitas produções posteriores, nas quais se tem a impressão de que a história foi escrita “em torno” dos efeitos, que passam a ser o ponto central do filme. A história de Poltergeist não é particularmente inventiva, mas é efetiva, e o filme fica longe de ser monótono.
A médium Tangina (Zelda Rubinstein) na entrada para o mundo dos fantasmas.
Nos filmes seguintes da série a figura do espírito maligno ganharia forma mais definida, mas as histórias sempre foram fracas demais para se comparar com o original.
POLTERGEIST II: O OUTRO LADO (Poltergeist II: The Other Side, 1986)
Direção de Brian Gibson.
Mais uma vez, os fantasmas conversam com Carol Anne, em Poltergeist II: O Outro Lado (Metro-Goldwyn-Mayer/ Freddie Fields Productions).
JoBeth Williams e Craig T. Nelson repetem seus papéis como os pais, reaparecendo também Heather O’Rourke e Oliver Robbins como os filhos, e a fantástica médium Tangina, interpretada por Zelda Rubinstein.
Nada de interessante na história, com o ator Julian Beck surgindo como o espírito do mal que quer a pequena Heather para si. Um monstro foi criado pelo artista H.R. Giger, o mesmo de Alien, o Oitavo Passageiro, mas nada funciona muito bem no filme.
POLTERGEIST III: O CAPÍTULO FINAL (Poltergeist III, 1988)
Direção de Gary Sherman.
Heather O'Rourke e Zelda Rubinstein continuam a saga em Poltergeist III: O Capítulo Final (Metro-Goldwyn-Mayer).
Heather O’Rourke e Zelda Rubinstein reaparecem em seus papéis, com a menina agora vivendo com seus tios, mas o espírito do mal continua atrás dela. Também conhecido pelo título Poltergeist 3 – Cresce o Pavor, o que parece uma piada de mau gosto, já que o terror está diminuindo cada vez mais.
POLTERGEIST: O FENÔMENO (Poltergeist, 2015)
Direção de Gil Kenan.
Refilmagem absolutamente desnecessária do original, com algumas modificações (o nome dos personagens, por exemplo), mas nada mais a acrescentar.
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MAU-OLHADO
(Julia, 1975)
Peter Straub.
Este é o terceiro livro de Peter Straub, e apenas o segundo a ser publicado, antes dele atingir o sucesso como escritor de terror com seu Os Mortos Vivos (Ghost Story, 1979).
O escritor transformou-se num dos grandes nomes do gênero na atualidade, às vezes rivalizando com Stephen King, com quem fez parceria no excepcional O Talismã (The Talisman, 1984) e em A Casa Negra (Black House, 2001), duas histórias ligadas ao universo e aos eventos da saga A Torre Negra, de Stephen King.
O livro originou um filme.
DEMÔNIO COM CARA DE ANJO
(The Haunting of Julia, 1976)
Direção de Richard Loncraine.
Mia Farrow, em Demônio com Cara de Anjo (Canadian Film Development Corporation/ Classic/ Famous Players/ Fetter Productions/ Merit).
Uma produção do Canadá e Inglaterra, que também ficou conhecida com o título Full Circle. Traz Mia Farrow como a personagem central, Julia Lofting, e Keir Dullea como seu marido Magnus.
A história não muda muito, com Julia mudando-se para uma nova casa, abandonando o marido após a morte da filha. Só que o local está assombrado por um fantasma de uma menina, e o fantasma não é nada bonzinho, ameaçando a vida de todos os que rodeiam Julia.
O filme não fez uma grande carreira nas bilheterias e não teve grande recepção da crítica.
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A MULHER DE PRETO
(The Woman in Black, 1983)
Susan Hill.
O livro da premiada escritora inglesa tem como subtítulo “Uma História de Fantasma”, e foi publicada no Brasil pela Editora Record. Conta a história do jovem advogado Arthur Kipps, que é chamado à distante e estranhíssima Casa do Brejo da Enguia, que se ergue em meio ao pântano na Passagem das Nove Vidas. A casa fica totalmente ilhada na maré alta. Ou seja, o cenário perfeito para uma história de fantasma.
Ele vai acompanhar o enterro de Alice Drablow, que era a única moradora do local, mas logo se sente desconfortável com a presença de uma jovem vestida de preto, e quando tenta saber mais a respeito da figura com os moradores locais, todos evitam falar sobre o assunto. Arthur tem de se hospedar na casa para colocar em ordem os papéis daquela que era a mais importante cliente da firma onde trabalha.
O advogado começa a ouvir cada vez mais sons estranhos, incluindo o choro de uma criança e, aos poucos, consegue conhecer a história do que se passou na casa e a origem dos fantasmas que a habitam, especialmente a presença malévola da Mulher de Preto, que assombra a vida de Arthur Kipps até muitos anos depois dos eventos na casa.
O livro teve uma adaptação para o teatro, a partir de 1987, com texto de Stephen Mallatratt e, pelo menos até alguns anos atrás, ainda estava sendo apresentada em Londres.
Uma adaptação foi realizada para a TV em 1989, com direção de Herbert Wise e roteiro de Nigel Kneale, e muito bem recebido pela crítica. Até onde sei, não chegou por aqui.
A adaptação mais recente foi a do filme produzido em 2012 com a famosa Hammer Films da Inglaterra, com direção de James Watkins. Um dos destaques é a presença de Daniel Radcliffe, em seu primeiro papel após interpretar Harry Potter por muitos anos, e saindo-se muito bem.
Daniel Radcliffe, na mansão assustadora de A Mulher de Preto (Cross Creek Pictures/ Hammer Film Productions/ Exclusive Media Group).
A própria Hammer participou da produção de A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte (The Woman in Black 2: Angel of Death, 2014), que não tem nada a ver com a história original, mas aproveita-se do relativo sucesso do filme original.
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O SOLAR DAS ALMAS PERDIDAS
(The Uninvited, 1944)
Direção de Lewis Allen.
Ruth Hussey e Ray Milland, em O Solar das Almas Perdidas (Paramount Pictures).
Baseado no livro Uneasy Freehold (1941), de Dorothy Macardle, o filme tem as presenças de Ray Milland e Ruth Hussey como dois irmãos que se mudam de Londres para uma casa na costa da Cornualha, que compram por um preço incrivelmente barato. Logo, começam a perceber que há algo diferente no local, especialmente depois que recebem a visita da jovem Stella (Gail Russell) que morou ali antes. A mãe dela morreu na residência, e seu avô a proibiu de entrar na casa novamente, o que, é claro, acontece.
A famosa sessão mediúnica com o copo, comunicando-se com os fantasmas que moram na casa.
O filme foi feito de forma despretensiosa, mas acabou se tornando um clássico no subgênero “histórias de fantasmas”; não é exatamente um filme de terror, ainda que tenha momentos arrepiantes.
O crítico Baird Searles (Films of Science Fiction and Fantasy) escreveu que o filme “foi, talvez, o mais perto que Hollywood jamais chegou de produzir uma história de fantasma clássico, pura e não adulterada”. O que não deixa de ser um comentário não muito apropriado quando consideramos que o resultado final do filme foi adulterado pela produtora, a Paramount, que resolveu adicionar cenas que não existiam. O crítico Phil Hardy (The Aurum Film Encyclopedia: Horror), diz que a Paramount estava insegura quando à forma de divulgar o filme e, assim, impôs algumas cenas em que ocorrem aparições fantasmagóricas ectoplásmicas, que o diretor Lewis Allen não desejava; a ideia era que o público tivesse certeza de que era um caso de evento sobrenatural e não freudiano. Na Inglaterra, essas cenas foram cortadas pela censura, de modo que o filme foi exibido da forma como o diretor queria, o que rendeu aplausos da crítica pela coragem de fazer um filme de fantasmas sem fantasmas.
Ray Milland socorre Gail Russell.
A sensação de que algo está errado no local é passada por pequenos detalhes, e antes para o público do que para os personagens, como na cena em que uma rosa é levada para um aposento e imediatamente murcha; os espectadores veem isso acontecer, mas os personagens, não.
Ainda bem que o filme foi lançado no Brasil em DVD (Versátil), porque não há muitas oportunidades de revê-lo na televisão.
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AINDA ESTAMOS AQUI
(We Are Still Here, 2015)
Direção de Ted Geoghegan.
Barbara Crampton, em Ainda Estamos Aqui (Snowfort Pictures/ Dark Sky Films).
O filme chegou a ser bem visto entre os amantes de filmes de terror, mas traz uma história bem comum sobre o casal Anne e Paul Sacchetti – Barbara Crampton e Andrew Sensenig; ela, famosa por sua participação em filmes de terror como Re-Animator e Do Além, nos anos 1980. Os dois vão morar numa casa numa pequena cidade do interior após a morte de seu filho num acidente de carro.
Claro que, assim que eles chegam ao local, a depressiva Anne começa a dizer que o filho está na casa, enquanto um vizinho diz que eles devem sair dali. Os ingredientes são muito conhecidos nos filmes do gênero, com a casa tendo um passado nebuloso, e Anne convidando um casal de amigos espiritualistas que, ela espera, possam entrar em contato com o espírito do filho.
Mas os fantasmas do local são bem violentos e capazes de matar seres vivos, o que acontece.
Um dos problemas com muitos filmes de fantasmas modernos é que eles se tornam um tanto confusos, misturando espíritos dos mortos com espíritos demoníacos.
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O ESTRANGULADOR
(Strangler of the Swamp, 1946)
Direção de Frank Wisbar.
O Estrangulador (Producers Releasing Corporation).
Uma refilmagem americana da produção alemã de 1936, do próprio Frank Wisbar, A Barqueira Maria (Faehrmann Maria).
Rosemary La Planche interpreta a barqueira; ela passa a cuidar de um velho barco nos pântanos após a morte de seu avô. Os moradores do local são assombrados pelo fantasma de um velho barqueiro (Charles Middleton) que foi enforcado por um crime que não cometeu. Ele retorna para sua vingança e os responsáveis pelo enforcamento são encontrados, adivinhem, enforcados. Os supersticiosos locais entendem que para acabar com a maldição, que passa para os descendentes, é preciso um sacrifício humano. La Planche se oferece para o sacrifício quando percebe que o escolhido será o homem que ama, interpretado pelo futuro diretor Blake Edwards (de Bonequinha de Luxo, A Pantera Cor de Rosa, A Corrida do Século, Um Convidado Bem Trapalhão, entre tantos sucessos). O fantasma vingativo considera suficiente a boa intenção da jovem e, assim, retorna para o mundo dos mortos.
O filme foi rodado em estúdio com resultados surpreendentes, inclusive nas cenas em que o fantasma surge, sem a utilização de efeitos especiais.
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OS MORTOS VIVOS
(Ghost Story, 1979)
Peter Straub.
O crítico Peter Nicholls disse (em Horror: 100 Best Books) que não queria soar pretensioso, mas que acha que Ghost Story é parcialmente um livro sobre como nós criamos em nossas mentes as coisas que mais nos apavoram. Segundo ele, o livro é um trabalho sério de ficção mainstream que tem como tema um escritor de ficção de terror que transforma os horrores da vida real em arte, ou é isso que aparenta à primeira vista. Mais tarde, ele diz, parece como se os horrores da vida real fossem, de fato, sua arte, como se ele de alguma forma os sonhasse e trouxesse à existência.
“O título do livro”, escreveu Nicholls, “é uma escolha muito cuidadosa; é uma história de fantasma e é sobre uma história de fantasma, e dentro dele existem muitas histórias de fantasma, incluindo aquelas contadas por quatro homens quase velhos o bastante para serem fantasmas”.
Stephen King, com quem Straub iria colaborar no sensacional O Talismã, também é um admirador do livro, dizendo que “(...) o livro sugere que nós necessitamos de histórias de fantasmas porque nós, na verdade, somos os fantasmas”. King diz que é fácil, na maioria das vezes, dividir os romances de horror de uma ou outra forma – aqueles que lidam com o “mal interior” (como em O Médico e o Monstro) e aqueles que lidam com o “mal exterior” ou predestinado (como em Drácula). “Entretanto”, diz King, “ocasionalmente surge um livro em que se torna impossível descobrir exatamente onde passa a linha. Um desses livros é A Assombração da Casa da Colina; outro é Ghost Story”. Stephen King ainda diz que “vários escritores que tentaram uma incursão nas histórias de horror também perceberam que é exatamente esta obscuridade a respeito de onde está surgindo o mal que diferencia o bom ou meramente efetivo do excelente; no entanto, realização e execução são duas coisas diferentes e, na tentativa de produzir o paradoxo, a maioria consegue somente produzir uma confusão. (...) É o caso em que ou você acerta a mosca ou erra totalmente o alvo. Straub acerta a mosca”.
O livro foi adaptado para o cinema.
HISTÓRIA DE FANTASMAS (Ghost Story, 1982)
Direção de John Irvin.
Os atores veteranos de História de Fantasmas (Universal Pictures).
O título é do lançamento em VHS. Quando lançado em DVD ficou como Histórias de Fantasmas. Ou seja, erraram nas duas vezes.
Traz um elenco de grandes nomes, com Fred Astaire, Melvyn Douglas, Douglas Fairbanks Jr., John Houseman e Patricia Neal, e conta ainda com o excelente trabalho de direção de fotografia de Jack Cardiff.
O filme foi bem nas bilheterias e teve boa acolhida devido às excelentes atuações, mas não há dúvida de que é uma simplificação da história de Peter Straub. O crítico Phil Hardy chamou o filme de uma adaptação sem vida do romance de Straub, perdendo toda a sutileza da história original.
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O ESTRANHO SEM NOME
(High Plains Drifter, 1973)
Direção de Clint Eastwood.
Clint Eastwood, em O Estranho Sem Nome (Universal Pictures/ The Malpaso Company).
Um filme que gerou alguma polêmica, em particular nos Estados Unidos, por unir o gênero faroeste com as histórias de fantasmas. Mas o filme é muito legal.
O próprio Eastwood interpreta um pistoleiro sem nome que chega a uma pequena cidade do oeste americano, num momento em que os habitantes estão passando por muitos problemas com bandidos da região, e os moradores oferecem a ele o trabalho de deter os bandidos que estão para sair da prisão e se dirigir à cidade.
O pistoleiro não é nenhum cara bonzinho. De chegada, ele mata três sujeitos que ficaram zombando dele, e que eram os que tinham sido contratados para defender a cidade. Além disso, ele simplesmente estupra uma mulher que o insulta.
O que ficamos sabendo aos poucos é que um delegado federal, Jim Duncan, foi morto por bandidos contratados pelos próprios moradores da cidade depois que ele descobriu que a mina local, a fonte de sustento da cidade, está em terras do governo e opera ilegalmente.
O pistoleiro aceita o trabalho, ainda que pouco faça e, com suas atitudes rudes e propositadamente violentas, acaba mostrando a indolência as pessoas da cidade e as preocupações mesquinhas que têm consigo mesmos.
O fato é que tudo indica que o pistoleiro sem nome é o fantasma vingador do delegado federal, retornando não apenas para punir os bandidos que o mataram, mas toda a cidade, humilhando-a de forma definitiva. Ao sair da cidade, o único morador que o ajudou arruma o túmulo onde o delegado foi enterrado, e diz ao estranho que nunca ficou sabendo como ele se chamava, ao que o estranho responde: “Sim, você sabe”. Dirige-se ao deserto e sua imagem desaparece aos poucos.
Bem legal.
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O TERROR
(The Terror, 1963)
Direção de Roger Corman.
Boris Karloff e Jack Nicholson, em O Terror (The Filmgroup/ AIP).
Este ficou mais conhecido por ser uma das produções instantâneas de Roger Corman. Ele tinha acabado de filmar O Corvo (The Raven) e quis aproveitar tanto os cenários quanto o contrato que ainda mantinha com Boris Karloff. Assim, diz-se que o filme foi rodado inteiramente em três dias.
Claro que o resultado não poderia ser outro que não uma grande bagunça, com roteiro e história improvisados e vários diretores dirigindo partes do filme, ainda que não tenham sido creditados. Pelo menos cinco são citados constantemente: Coppola, Monte Hellman, Jack Hill, Dennis Jacob e Jack Nicholson, que também faz o papel de um oficial do exército napoleônico, perdido em algum lugar da costa do Báltico. Ele procura por uma mulher que encontrou na praia. Ele vai parar no castelo do barão von Lippe, obviamente interpretado por Karloff, onde percebe que a falecida esposa do barão é exatamente a mulher que ele estava procurando.
A história é confusa, mas o fantasma da mulher continua por ali com o objetivo de atormentar o barão que a matou após flagrá-la na cama com seu amante.
O filme também foi apresentado com o título The Haunting e, no Brasil, como Terror no Castelo e Sombras do Terror, este último dando o crédito aos demais diretores e com um prólogo e um final diferentes.
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O GATO PRETO
(Yabu No Naka no Kuroneko, 1968)
Direção de Kaneto Shindo.
O Gato Preto (Toho Co.).
Kaneto Shindo é o diretor do consagrado Onibaba. Aqui ele situa a história no Japão do século 12, quando uma mulher e sua nora são violentadas e assassinadas por um samurai. Elas retornam como fantasmas com capacidade de se transformar em gatos, e passam a matar todos os samurais que encontram.
Em Japanese Cinema Encyclopedia, os autores Thomas Weisser e Yuko Mihara Weisser dizem que Kuroneko é “o famoso filme de horror antissamurai”. Eles dizem que o filme apresenta uma combinação interessante de imagens com efeitos nojentos, temperados com um pouco de psicologia barata.
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A COLINA ESCARLATE
(Crimson Peak, 2015)
Direção de Guillermo del Toro.
A Colina Escarlate (Legendary Entertainment).
Tenho a impressão de que as críticas favoráveis ao filme se devem mais ao respeito que Guillermo del Toro obteve com seus trabalhos anteriores do que à qualidade do filme propriamente dito. É verdade que a mansão decrépita onde os fantasmas abundam é uma construção espetacular do cinema de terror.
A história segue o plano diabólico de dois irmãos incestuosos em obter dinheiro para sustentar sua mina de argila vermelha, sobre a qual se ergue a casa caindo aos pedaços, pingando e suando a terra vermelha. Como já fizeram antes, o irmão se casa com uma mulher rica, a irmã/amante, totalmente louca, mata a esposa, e os dois ficam com o dinheiro.
A casa na colina, provavelmente o melhor do filme.
Existem vários fantasmas na mansão, e a pretensa vítima atual do irmão vê as criaturas, enquanto vai sendo lentamente envenenada pela irmã/amante doidaça.
Na verdade, nada demais, a não ser os valores da produção em si, cenários e efeitos visuais.
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A DAMA DE BRANCO
(The Lady in White, 1988)
Direção de Frank La Loggia.
Lukas Haas, em A Dama de Branco (New Sky Productions).
A história é bastante confusa, com um enredo muitas vezes difícil de ser destrinchado, mas o filme consegue ser interessante, em grande parte graças à atuação de Lukas Haas, então com 12 anos. Ele já havia trabalhado, e bem, em Herança Nuclear e A Testemunha, entre outros.
Uma das cenas assustadoras de A Dama de Branco, com uma estranha visita noturna.
Não se trata exatamente de um filme de terror, ainda que tenha algumas cenas realmente assustadoras. A história começa com um escritor retornando à sua pequena cidade natal e revivendo os acontecimentos de 1962, nos quais esteve envolvido, quando teve um encontro com o fantasma de uma garotinha que tinha sido assassinada. Trancado num armário de sua escola, ele revê o crime, e ele mesmo escapa de ser morto. Nos dias seguintes, ele continua a ter visões com o fantasma da menina, que pede sua ajuda para encontrar sua mãe.
A mulher de branco do título é o fantasma da mãe da menina que, ao saber de sua morte, jogou-se de um penhasco e passou a frequentar o local. Haas ajuda os dois espíritos a se encontrarem.
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ECOS DO ALÉM
(Stir of Echoes, 1999)
Direção de David Koepp.
Ecos do Além (Artisan Entertainment/ 20th Century Fox Home Entertainment).
Inspirado pelo livro de Richard Matheson, A Stir of Echoes (1958). Kevin Bacon interpreta um sujeito que é hipnotizado por sua cunhada e passa a ter visões do fantasma de uma menina que morava na vizinhança e desapareceu há alguns meses. Ela não apenas aparece a ele, como insiste para que ele investigue o caso e descubra o que aconteceu com ela.
Quase enlouquecendo com a presença constante e insistente do fantasma, ele resolve investigar e o que ele descobre quase acaba com sua vida e coloca sua própria família em perigo.
Seja como for, o fantasma consegue o que desejava quando ele descobre o corpo emparedado da menina e tem visões sobre os culpados por seu assassinato.
Uma sequência, ainda que sem ligação com o original, foi filmada em 2007, como Ecos do Além 2 (Stir of Echoes: The Homecoming), com direção de Ernie Barbarash. Rob Lowe interpreta um comandante na Guerra do Iraque que, ao retornar para casa, depois de ficar um tempo em coma, começa a ter visões de pessoas mortas, e um dos fantasmas pede que ele resolva o caso de seu assassinato.
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O INTERMEDIÁRIO DO DIABO
(The Changeling, 1980)
Direção de Peter Medak.
George C. Scott, em O Intermediário do Diabo (Chessman Park Productions).
O filme tem a seu favor uma história interessante, a direção de Peter Medak, e as presenças no elenco de grandes nomes como George C. Scott, Melvyn Douglas, Trish Van Devere e Jean Marsh, entre outros.
Na exibição na televisão, o filme recebeu o título A Troca, bem melhor do que o original do cinema, já que não existe diabo algum na história, e sim um fantasma.
Scott é um músico e compositor que se muda de Nova York para Seattle, indo morar numa casa estilo vitoriano, onde sua vida muda bastante. Não demora muito a ele começar a ouvir estranhos ruídos e ver portas abrindo e fechando sozinhas. Ele consulta uma médium para saber o que está acontecendo, e ela lhe diz que na casa vive o espírito de um menino que viveu ali há 70 anos. A casa pertencia a um senador (Douglas) e o fantasma surge para alertar as pessoas a respeito dele, que é um impostor, envolvido na morte da criança anos antes.
A crítica não é unânime quanto às qualidades do filme, mas em seus melhores momentos ele é realmente assustador, e nos piores, continua a ser muito interessante e bem feito.