UMA SOMBRA QUE PASSA (Death Takes a Holiday, 1934)
Direção de Mitchell Leisen.
Evelyn Venable e Fredric March (Paramount Pictures).
A história foi baseada na peça italiana La Morte in Vacanza, de Alberto Casella, adaptada para a Broadway por Walter Ferris, em 1929. Fredric March interpreta a Morte, preocupada com a razão pela qual as pessoas a temem tanto. Ela incorpora a figura do Príncipe Sirki e resolve passar três dias na Terra para entender e conhecer melhor os humanos. Mas como recebe também os sentimentos humanos, apaixona-se por Grazia (Evelyn Venable).
A Morte tem dificuldade em decidir se leva Grazia com ele para o mundo da morte, ou se a deixa ficar. No fim, quem toma a decisão é ela.
Em 1871, foi produzida uma adaptação para a televisão, também muito boa, com direção de Robert Butler, com Monte Markham e Yvette Mimieux. Outra versão surgiu em 1998, com Encontro Marcado (Meet Joe Black), com direção de Marton Brest, e Brad Pitt e Anthony Hopkins no elenco.
O HOMEM QUE FAZIA MILAGRES (The Man Who Could Work Miracles, 1936)
Direção de Lothar Mendes.
(London Film Productions).
O filme às vezes é apresentado como uma ficção científica, mas na verdade trata-se de uma fantasia baseada no conto The Man Who Could Work Miracles (1898), de H.G. Wells, que teve participação no roteiro juntamente com Lajos Biró.
Três deuses observam a Terra e um deles não acredita que os humanos sejam tão inferiores quanto os outros dois acreditam e, para provar o que os humanos podem fazer se possuírem poderes superiores, concede a um homem absolutamente comum a capacidade de realizar quase tudo o que desejar, apenas pensando no que precisa ser feito.
Quando suas capacidades tornam-se conhecidas, uma quantidade de pessoas quer dar palpites sobre a melhor forma de utilizá-las, mas ele acaba se cansando e resolvendo ele mesmo o que deve ser feito, exigindo dos governantes do mundo que melhorem a vida na Terra. Inadvertidamente, ele para a rotação do planeta e os deuses têm de intervir, fazendo com que a situação retorne ao que era antes.
Mais uma vez, H.G. Wells tenta apresentar uma imagem pacifista na qual todo tipo de poder é condenado e a incapacidade dos humanos para governarem a si mesmos de forma coerente é denunciada. Não é um filme tão forte ou bem feito quanto o outro filme com história de Wells naquele ano (Depois de Cem Anos), mas tem seus momentos.
CASEI-ME COM UMA FEITICEIRA (I Married a Witch, 1942)
Direção de René Clair.
Veronica Lake e Fredric March (Rene Clair Productions/ Paramount Pictures/ Cinema Guild Productions).
Veronica Lake interpreta uma bruxa que foi queimada em Salem, centenas de anos antes, mas que surge nos tempos modernos em companhia de seu pai, com o objetivo de destruir os descendentes daquele que foi responsável por sua destruição. Mas seus planos não saem exatamente como esperava.
A história original, The Passionate Witch (1941), é de Thorne Smith, o mesmo criador de Topper, com inclinação para a fantasia, comédia e romance. Assim, ao invés de partir para a destruição, Lake apaixona-se por Fredric March, que não sabe muito bem o que está acontecendo.
No Brasil, lançado em DVD.
MISTÉRIOS DA VIDA (Flesh and Fantasy, 1943)
Direção de Julien Duvivier.
Edward G. Robinson (Universal Pictures).
Um dos mais antigos e considerado um dos melhores filmes de fantasia dividido em várias histórias. Elas foram baseadas em histórias de Ellis St. John, Oscar Wilde (O Crime de Lord Arthur Saville, 1891) e László Vadnay. Originalmente, o filme deveria ter quatro histórias, mas a quarta foi ampliada para o filme O Milagre da Fé, comentado a seguir.
Na primeira história, a jovem Henrietta (Betty Field), ressentida com a vida, tem uma paixão secreta por um estudante de Direito e, quando vai a uma estranha loja, um homem misterioso lhe dá uma “máscara de beleza”, que ela deve devolver à meia-noite. Em uma festa, ela encontra o jovem e lhe dá conselhos para melhorar sua vida. E quando ela retira a máscara, seu rosto continua lindo; o fato de ter mudado sua atitude fez com que sua aparência se transformasse.
A segunda história é baseada no livro de Oscar Wilde, e tem Edward G. Robinson como o sujeito que se torna obcecado e maníaco após ter sua mão lida por um adivinho (Thomas Mitchell), que lhe diz que ele irá matar alguém. Para resolver seu problema e obsessão de uma vez por todas, ele resolve matar uma senhora que, segundo ele pensa, não irá fazer falta a ninguém. Mas as coisas não saem como ele queria.
No terceiro episódio, o trapezista O Grande Paul Gaspar (Charles Boyer), desenvolveu uma apresentação de trapézio única no mundo, e muito perigosa. Ele tem sonhos recorrentes com uma linda mulher que grita de medo no momento em que ele erra seu salto e cai.
DE ILUSÃO TAMBÉM SE VIVE (Miracle on 34th Street, 1947)
Direção de George Seaton.
Natalie Wood, assistindo ao desfile de Natal (Twentieth Century Fox).
Um clássico das histórias de Natal do cinema norte-americano – segundo o crítico John Grant, é “o” clássico americano dos filmes de Natal – e sempre considerado entre os bons filmes de fantasia, ainda que a fantasia esteja apenas implícita, jamais se definindo como tal.
Maureen O’Hara interpreta a divorciada Doris Walker, que mora com a filha Susan (Natalie Wood, então com 9 anos), e trabalha em uma grande loja de departamentos para a qual está organizando a festa de Natal. Na hora H, o sujeito que iria fazer o Papai Noel fica bêbado, e ela contrata um sujeito exatamente igual à imagem tradicional do Papai Noel e que se diz chamar Kris Kringle (Edmund Gwenn).
Edmund Gwenn.
Ele acaba se tornando famoso por sua honestidade ao falar com as crianças e sugerir, inclusive, outras lojas onde podem comprar brinquedos mais baratos. No entanto, mas sua sanidade é posta em dúvida quando afirma ser Papai Noel – ou Kris Kringle, que os americanos dizem ser o seu nome. O caso vai parar na justiça, que é obrigada a reconhecê-lo como o Papai Noel.
A dúvida permanece no ar, mas uma série de “milagres” ocorrem ao longo da história, entre eles o fato de Doris, que era extremamente racional, mudar de ideia com relação à real identidade de Kris.
Edmund Gwenn ganhou o Oscar como melhor ator coadjuvante; Valentine Davies também ganhou o Oscar pela melhor história original e George Seaton pelo roteiro.
No Brasil, lançado em DVD (com o título Milagre na Rua 34).
MIRANDA, A SEREIA (Miranda, 1948)
Direção de Ken Annakin.
Glynis Johns e Griffith Jones (Sydney Box Productions/ Gainsborough Pictures).
Produção inglesa, na linha de comédia e fantasia, o primeiro de dois filmes com uma sereia no mesmo ano. O Dr. Paul Martin (Griffith Jones) vai pescar na costa da Cornualha e acaba sendo puxado para o mar pela sereia Miranda (Glynnis Johns), que o mantém preso em uma caverna submarina até que ele prometa levá-la para conhecer Londres. Ele concorda e ela se passa por uma paciente incapaz de se mover.
Miranda mexe com a cabeça dos homens e só resolve retornar ao mar quando a esposa do dr. Martin, Clare (Googie Withers) fica sabendo da verdade e entende que ela deve ser tornada pública. Nas cenas finais, Miranda surge com um bebê sereia, não se sabe filho de quem.
Segundo o crítico Baird Searles, a sereia inglesa tem uma qualidade pagã e misteriosa que torna possível imaginá-la atraindo navegantes para suas mortes.
ELE E A SEREIA (Mr. Peabody and the Mermaid, 1948)
Direção de Irving Pichel.
Ann Blyth e William Powell (Inter-John Productions/ Nunnally Johnson Productions).
O segundo filme com uma sereia a estrear em 1948. Uma comédia e fantasia baseada no livro Peabody’s Mermaid (1945), de Guy e Constance Jones.
William Powell é o senhor Peabody do título original, que vai com a esposa (Irene Hervey) para o Caribe. Lá, durante uma pescaria, ele encontra uma sereia (Ann Blyth) e sua vida muda radicalmente. Ele a transporta para um lago de peixes existente no resort onde está hospedado com a esposa, e se envolve em muitas confusões.
A história é contada em flashback, quando Peabody consulta um psicanalista e fica convencido de que tudo não passou de uma alucinação provocada por uma crise da meia idade.
No Brasil, lançado em VHS, na versão colorizada (Herbert Richers).
DEMÊNCIA (Dementia, 1953)
Direção de John Parker.
SORTILÉGIO DE AMOR (Bell, Book and Candle, 1958)
Direção de Richard Quine.
James Stewart e Kim Novak (Columbia Pictures Corporation/ Phoenix Productions).
Comédia e fantasia deliciosa com elenco de primeira, com história baseada na peça com o mesmo título apresentada na Broadway em 1950, de John Van Druten.
Kim Novak interpreta a feiticeira Gillian Holroyd, que se envolve com o mortal e comum Shepherd Henderson (James Stewart), apaixonando-se por ele. Toda a família da feiticeira é composta por feiticeiras e bruxos, um deles seu irmão Nicky, interpretado por Jack Lemmon. Sem ter a mesma recepção por parte de Shepherd, ela lança um feitiço que faz com que ele se apaixone por ela.
No Brasil, lançado em DVD, com o título Sortilégio do Amor.
A LENDA DOS ANÕES MÁGICOS (Darby O'Gill and the Little People, 1959)
Direção de Robert Stevenson.
Albert Sharpe e Jimmy O'Dea (Walt Disney Productions).
Fantasia da melhor fase dos estúdios Disney, com direção do especialista Stevenson, autor de muitos dos sucessos da Disney, inclusive Mary Poppins. Efeitos especiais excelentes, efetivos ainda hoje.
Albert Sharpe interpreta Darby O’Gill, um irlandês que vive contando histórias sobre duendes, os leprechauns da Irlanda, e de seu encontro com o Rei dos Duendes (Jimmy O'Dea). Os mais velhos da vila acreditam, os mais novos ridicularizam-no, até que surge em cena Sean Connery, que se apaixona pela filha dele (Janet Munro), enquanto o velho lavrador tem mais um encontro com o Rei dos Duendes, conseguindo prendê-lo por alguns dias após visitar seu reino no interior de uma montanha. Uma beleza de filme.
AS SETE FACES DO DR. LAO (7 Faces of Dr. Lao, 1964)
Direção de George Pal.
Tony Randall (George Pal Productions).
Adaptação do livro As Sete Faces do Dr. Lao (1935), de Charles G. Finney. O Dr. Lao do título é interpretado por Tony Randall, um mágico chinês que chega a uma cidade do velho oeste com seu circo, e consegue transformar a vida das pessoas. O circo apresenta verdadeiras maravilhas, como o fauno Pã, o mago Merlin, Medusa, o Abominável Homem das Neves e Apolônio de Tiana.
A cidade está enfrentando um momento difícil, uma vez que o ricaço local, Stark (Arthur O’Connell), está tentando comprar todas as propriedades, tendo a informação de que uma ferrovia irá chegar ao local em breve. Ele é enfrentado pelo editor do jornal local, Ed Cunningham (John Ericson), com pouco apoio além da bibliotecária viúva Angela Benedict (Barbara Eden).
O show apresentado por Lao acaba revelando algumas verdades sobre os habitantes locais, e também mostra o que aconteceu com uma cidade mítica, destruída devido à ganância de seus moradores.
Segundo o crítico Baird Searles, o livro de Finney definitivamente não é para crianças, enquanto o filme, sim. John Grant disse que o filme tem muitas falhas, mas ainda assim permanece como um dos filmes centrais do cinema fantástico, sendo que até recentemente era uma obra quase desconhecida fora do universo de fãs de fantasia, até que se entendeu que suas forças consideráveis são muito mais pesadas do que suas fraquezas.
William Tuttle ganhou o Oscar pelo trabalho de maquiagem, realmente excepcional.
No Brasil, lançado em DVD.
UM HOMEM DE SORTE (O Lucky Man!, 1973)
Direção de Lindsay Anderson.
Malcolm McDowell e Rachel Roberts (Memorial Enterprises/ Sam).
Uma fantasia surrealista espetacular, com Malcolm McDowell interpretando o personagem Mick Travis – um nome recorrente em três filmes de Lindsay Anderson com o mesmo McDowell: Se... (If..., 1968); Um Homem de Sorte; e Hospital dos Malucos (Britannia Hospital, 1982).
Aqui, Travis é um vendedor de café e percorre o norte da Inglaterra e a Escócia, e começa a se envolver nas situações mais inusitadas, enquanto está dividido entre manter seu sentido de ética e a necessidade de ganhar dinheiro. De alguma forma, ele acaba se envolvendo em negociatas estranhas, não muito bem explicadas, proibidas, quase é morto devido a um projeto altamente secreto das Forças Armadas, entra em um hospital no qual são realizados os mais impossíveis transplantes, com seres humanos sendo unidos a animais.
O clima constante é de estranhamento e de pesadelo, com a história aberta a diversas interpretações. A trilha sonora é de Alan Price, que foi tecladista da famosa banda de rock The Animals, nos anos 1960.
O FANTASMA DO PARAÍSO (Phantom of the Paradise, 1974)
Direção de Brian De Palma.
William Finley (Harbor Productions/ Pressman-Williams Enterprises).
Excelente adaptação de O Fantasma da Ópera para os tempos modernos. William Finley interpreta Winslow, um compositor de grande talento que tem suas músicas roubadas pelo diabólico empresário Swan (Paul Williams). Além de perder suas músicas, tem sua face deformada em uma prensa de discos, passando a utilizar uma máscara e a movimentar-se furtivamente pelas passagens secretas do enorme teatro de Williams, o Paraíso.
Winslow acaba se entendendo com Swan, em um pacto típico de Fausto, para que sua amada Phoenix (Jessica Harper) tenha lugar no grande show de estreia do Paraíso.
Músicas excelentes de Paul Williams, com boas interpretações, e uma atuação no palco inesquecível de Gerrit Graham, como Beef, o cantor que morre em plena apresentação, para delírio dos fãs.
No Brasil, lançado em DVD.
ESTRANHO PODER DE MATAR (The Shout, 1978)
Direção de Jerzy Skolimowski.
Alan Bates e Susannah York (Recorded Picture Company/ Jeremy Thomas Productions/ The Rank Organisation).
Nem o título nacional infeliz consegue estragar o filme excelente do diretor polonês Skolimovski, aqui em uma produção inglesa que, certamente, não deve agradar a todos os fãs do terror e do fantástico. Ainda que geralmente seja apresentado como um filme de terror, talvez seja mais apropriado classificá-lo como uma fantasia com tons bem escuros.
Alan Bates interpreta Charles Crossley, internado em um sanatório, que conta sua história a um interno recém-chegado. E a narrativa é apresentada em pedaços desconexos, intercalando os tempos de narração. Ele é uma espécie de mago, que viveu muito tempo na Austrália com os aborígenes, onde aprendeu práticas rituais que incluem um grito capaz de matar pessoas.
Ele se intromete na vida do casal Fielding (John Hurt e Susannah York) quando percebe que o marido não dá a devida atenção à esposa e sai com outras mulheres. Apresenta-se de maneira estranha e, aos poucos, vai dominando tanto um quanto o outro. A ela, por meio de um objeto dela que ele guarda consigo, transformando-a em uma espécie de escrava com quem mantém relações sexuais. O marido ouve o grito e quase morre. Quando ele resolve abandonar a casa, eles retornam à vida normal, até que o marido resolve voltar às atividades extraconjugais.
Charles retorna, mas Fielding encontra uma pedra na praia com a qual é capaz de dominar o mago, que acaba sendo preso e internado no sanatório, promovendo um caos generalizado nas cenas finais. Charles apresenta-se como uma espécie de juiz, mas ao mesmo tempo sua moral também não é irrepreensível. Ele parece ter algo a transmitir às pessoas, um conhecimento que encontrou, mas que não compreende totalmente, uma vez que é parte algo alheio à sua cultura original.
O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 1978.
John Hurt.
Os eventos após o surgimento de Bates podem ser entendidos, à primeira vista, como se carregassem uma carga de misticismo, mas é justamente esse tipo de abordagem que o diretor rejeita. Várias coincidências surgemn na história, uma cadeia de acontecimentos que Carl Gustav Jung chamou de sincronicidade, e que para Skolimowski é apenas o seu modo natural de ver as coisas. Ele disse que presta muita atenção em todo tipo de coincidências que nos seguem ao longo da vida e que, quando surgem em seus filmes, por vezes em momentos isolados, podem ser tidos como acontecimentos místicos, mas que na verdade são perfeitamente normais na vida dos personagens.
Na cóía e, VHS ou DVD, o grito de Alan Bates perde muito do impacto pretendido. Foi gravado em sistema dolby, com mixagens de 48 sons diferentes, entre eles aviões, foguetes, as quedas do Niágara, um tiro de revólver disparado próximo a um microfone, e muitos sons de equipamentos sofisticados como sintetizadores e pedais de efeitos. Skolimowski tentou cobrir todas as frequências de sons incômodos possíveis, ao mesmo tempo em que manteve o som do grito humano como a corrente principal.
A noção das coincidências é reforçada no filme pelo fato de Bates encontrar-se internado em um sanatório. Pode ser um louco, realmente, uma vez que toda a história é contada por ele a um interno. Mas o final do filme apresenta outras sugestões além da loucura. As coincidências podem alcançar uma intensidade quase inacreditável.
Seja o que for que se pense, é um filme interessante, e muito bonito.
FORÇA OCULTA (Dark Forces, 1980)
Direção de Simon Wincer.
Carmen Duncan, David Hemmings e Robert Powell (F.G. Film Productions/ Farflight Investments/ The Australian Film Commission/ West Australian Film Council/ Ace Cinemas/ Greater Union Organisation).
Também com os títulos: Harlequin; The Minister's Magician. Mais um bom exemplo do cinema australiano da época, uma fantasia sobre um mago ou feiticeiro moderno, Gregory Wolfe (Robert Powell), que surge na vida do casal Nick Rast (David Hemmings) e Sandra Rast (Carmen Duncan). Nick Rast é um senador e seu filho (Mark Spain) está morrendo de leucemia.
Na trama complicada que se segue, o feiticeiro salva a vida do garoto, curando-o de fato e passando a influir na vida do casal. A mulher apaixona-se por ele e o garoto começa a descobrir sua própria capacidade de magia, enquanto o senador não consegue saber se ele é realmente um mago ou um impostor.
Robert Powell e Mark Spain.
O homem modifica a vida das pessoas, buscando o que há de mais profundo em cada um, seus desejos, seus anseios e as coisas boas, o que causa um confronto com os políticos que pretendem orientar a carreira do senador, ocasionando uma sequência trágica de eventos.
O interessante do filme é que nunca se fica sabendo realmente o que acontece, se são truques de prestidigitação muito bem executados ou se o sujeito é realmente um ser com poderes fora do comum. Em alguns momentos lembra o Mandrake, em outros uma pessoa com poderes paranormais fantásticos. O que importa é que ele tem a capacidade de fazer as pessoas descobrirem dentro de si forças que não sabiam existirem.
No Brasil, lançado em VHS (Herbert Richers).
REBORN (Reborn, 1981)
Direção de Bigas Luna.
(Clear Concept Productions/ Diseno y Produccion De Films).
Também com o título (infeliz) Golpe do Milagre. Um estranho, interessante e bonito filme do diretor catalão Bigas Lunas. De certa forma ele recria a história do nascimento de Jesus Cristo, adaptando-a aos nossos dias, tanto apresentando imagens de grande sensibilidade quanto metáforas de difícil explicação. Ao mesmo tempo, apresenta uma visão crítica às chamadas religiões populares, tão comuns nos Estados Unidos – e, hoje, também no Brasil – e que apresentam soluções fáceis e imediatas aos problemas dos fiéis que assistem aos serviços religiosos através da TV, pedindo donativos e facilitando o envio de dinheiro e a compra de uma série de símbolos especialmente preparados.
O ótimo Dennis Hopper é o reverendo Tom Hartley, líder de uma dessas congregações, com sua própria estação de TV e milhares de fiéis. Ele realmente acredita no que faz, tem bons propósitos, mas sua igreja acabou se tornando um grande negócio, com óbvias ligações com o crime organizado.
Sua produção encarrega Mark (Michael Moriarty) de levar ao programa Maria (Antonella Murgia), uma mulher que realiza milagres. Eles se apaixonam, ela engravida, e realiza um milagre ao vivo na TV. Eles conseguem fugir dos criminosos que realmente dirigem a organização.
As indicações religiosas são várias ao longo do filme. Na abertura, uma luz que surge no céu é, na verdade, um helicóptero, que volta a surgir na janela do apartamento em que os dois fazem amor e, posteriormente, acima do carro em que fogem com o filho. No posto de gasolina onde a criança nasce, são atendidos por três homens, um deles negro, como os três reis magos. E, claro, o nome da mãe, Maria.
Tudo dá a entender que ocorreu o retorno de Cristo, inclusive no título. O reverendo chama os membros de sua congregação de renascidos, mas tudo é uma farsa, por maior que seja a boa vontade de todos, e a ideia que permanece é a de que o renascimento programado de Cristo ocorreu, mas em uma época de tamanha confusão social que se tornou impossível ser reconhecido e registrado como tal, a não ser pelos que presenciaram o acontecimento, o pai e a mãe.
No Brasil, lançado em VHS.
A HORA MÁGICA (La Hora Bruja, 1985)
Direção de Jaime de Armiñán.
(Serva Films/ Televisión Española).
Também com o titulo inferior A Hora do Feitiço. Produção espanhola sobre um casal que percorre a Espanha em seu ônibus, apresentando filmes antigos. César (Francisco Rabal)m casado com Pilar (Concha Velasco) tenta reviver um espetáculo de mágica, mas apenas espanta o público, esquecido de seus dotes de criança, quando decorava milhares de poesias. Sua memória desapareceu, assim como a poesia de sua vida.
As coisas começam a mudar quando surge em suas vidas um ser, que inicialmente se apresenta como um homem, um filósofo que instiga em César o medo da morte, na qual o ex-mágico não mais acredita. Depois, surge na figura da jovem Saga (Victoria Abril) que se intromete na vida do casal, fazendo com que, ao se apaixonarem por ela, apaixonem-se pela vida e descubram a magia novamente.
Uma cena lembra as histórias de Além da Imaginação, quando o casal resolve gastar dinheiro em um restaurante finíssimo, em uma cidade onde se encontram. No dia seguinte, ao retornarem ao restaurante, percebem que o local está em ruínas há muito tempo. Um filme interessante.
AS BRUXAS DE EASTWICK (The Witches of Eastwick, 1987)
Direção de George Miller.
Susan Sarandon, Cher e Michelle Pfeiffer (Warner Bros./ The Guber-Peters Company/ Kennedy Miller Productions).
Mais um filme muito bem dirigido por Miller (de Mad Max), baseado em romance de John Updike (O Sabá das Feiticeiras), e com um elenco recheado de estrelas: Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer, como as bruxas do título, e Jack Nicholson, como o mago sedutor.
Elas moram na pequena e chata cidade de Eastwick, as três sem marido. Reúnem-se todas as quintas feiras para conversar e jogar, e desejam profundamente que algo de diferente ocorra em suas vidas. E acontece, quando Nicholson chega à cidade, comprando uma mansão que, segundo se dizia, era o local onde as feiticeiras eram queimadas antigamente.
Ele seduz cada uma delas, utilizando- se de artifícios específicos oference a cada uma aquilo que ela deseja.
E, depois, as três começam a viver com ele na mansão, enquanto ele as utiliza para manter seu poder, que aos poucos começa a mostrar a elas. Em um jogo de tênis, a bola para no ar; em uma piscina, as três flutuam acima da água, e ele diz que esse é o poder delas. Na cidade, começam os comentários sobre a vida que eles levam na mansão, e elas decidem abandoná-lo, deixando-o furioso e investindo seus poderes contra elas que, eventualmente, revidam. Muito humor e bons efeitos, em um filme delicioso.
No Brasil, lançado em DVD.
LADRÕES DE SABONETE (Ladri di Saponette, 1989)
Direção de Maurizio Nichetti.
(Bambú Cinema e TV/ Reteitalia).
Humor e crítica no estilo do diretor Nichetti, um dos mais respeitados do cinema italiano da época. Nichetti, o diretor do filme em preto e branco Ladrões de Sabonete – uma homenagem ao cinema neorrealista dos anos 1950 – vai a um estúdio de televisão para a apresentação de seu filme, que começa a ser mutilado pelos comerciais da TV, causando sua irritação. As coisas complicam-se ainda mais quando personagens dos comerciais começam a surgir em seu filme, e os do filme saem para os comerciais, alterando completamente o enredo original. O próprio Nichetti entra em seu filme para tentar colocá-lo novamente nos eixos, mas sem sucesso.
Além de apresentar uma crítica bem humorada ao excessivo drama do antigo cinema italiano, é uma crítica mordaz à forma como a televisão trata o cinema.
No Brasil, lançado em VHS (Alvorada).