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AS GUERRAS NA FC

ESPECIAIS/VE AS GUERRAS NA FC

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data03/10/2022
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Seja em conflitos contra inimigos extraterrestres ou contra humanos, as guerras são parte importante das histórias de ficção científica.
Ilustração de Frank R. Paul (1922), com uma visão especulativa de como seria a guerra no futuro, a partir de entrevista de Nikola Tesla, com máquinas sem tripulantes, no ar, em terra e no mar, conduzidas à distância por ondas de rádio.

As histórias de guerras exercem um fascínio no público, seja na literatura, seja no cinema e televisão. Para muitos estudiosos do assunto, a guerra é uma atividade inerente à natureza humana, com alguns exemplos de confrontos sendo apresentados envolvendo civilizações de 15 mil anos atrás.
Obviamente, na ficção científica não seria diferente. Em The Science Fiction Encyclopedia, o escritor e crítico Brian Stableford disse que um dos principais estímulos imaginativos para as especulações futuristas e científicas tem sido a possibilidade da guerra e de como novas tecnologias podem transformá-la. Segundo o crítico, “Esse estímulo foi particularmente importante durante o período de 1879-1914 e nos anos que se seguiram à revelação da bomba atômica, em 1945”.
Na mesma enciclopédia, Stableford e David Langford disseram que os “excessos melodramáticos das guerras da space-opera perderam a força ao mesmo tempo que as revistas pulp, embora elas nunca tenham morrido totalmente”. O que surgiu dessas primeiras guerras apresentadas na fc foi “(...) uma noção mais realista do tipo de exércitos que poderiam travar guerras interplanetárias e interestelares, e os tipos de armas que poderiam utilizar”.
Em The Visual Encyclopedia of Science Fiction, o escritor Harry Harrison – ele próprio autor de algumas histórias envolvendo guerras especiais, e às vezes com humor – inicia um texto sobre o tema perguntando: “Quem pode negar as repelentes atrações da história de guerra, ou da própria guerra, que tanto tem atormentado a história da humanidade?” Ele diz que a violência militar tem sido utilizada pela fc desde seus primórdios, e provavelmente vai continuar a ser. “Ação e cor são o que faz a fc continuar em seu nível mais popular e, assim, a história de combate vai estar conosco para sempre”. E ainda, lembra Harrison, talvez de importância ainda maior, seja a história contra a guerra, o “(...) dedo reprovador que a fc agita tão bem. Se a ficção científica está na vanguarda da ficção intelectual, como eu acredito que está, e o fim das rivalidades nacionais e da guerra tecnológica são importantes para a sobrevivência da humanidade, como certamente são, então a ficção científica tem uma função vital”.
Essa atração pela guerra a que Harry Harrison se referiu é evidente ao longo da história da humanidade, e no caso da ficção científica nem é preciso ir muito longe, bastando verificar o gigantesco sucesso de todas as histórias da franquia Guerra nas Estrelas, por exemplo, que se estende até hoje. Harrison escreveu seu texto em 1977, no mesmo ano em que Guerra nas Estrelas iniciava sua história vitoriosa; e não é que ele estivesse profetizando algo ao dizer que as histórias envolvendo guerras estariam conosco para sempre – ou, pelo menos, até que a humanidade mude radicalmente –, mas ele estava apenas observando a história humana. Essas histórias, diga-se de passagem, não existem apenas no âmbito da ficção científica; livros e séries de TV abordam as guerras no passado e no presente pelos mais diversos ângulos.

Ilustração de Frank R. Paul para a história Armageddon 2419 A.D. (1928), de Philip Francis Nowlan.

Harrison também lembrou que a afeição que a ficção científica tem pelos mecanismos e vários tipos de máquinas, surge claramente nos equipamentos militares. “Isso, e mais o fato de que um robô para limpeza da casa é muito menos interessante do que um robô de guerra com um canhão no umbigo, desencadeou legiões tilintantes de máquinas de guerra”. O autor entende que é discutível se as armas reais foram desenvolvidas a partir de ideias surgidas nas histórias de fc, uma vez que esse conceito foi muito exagerado. “Se o gênero tem um papel”, diz Harrison, “é o novo, que está surgindo da crescente polarização da própria área, a crescente ampliação do âmbito à medida que o número de leitores aumenta, de modo que um espectro de literatura tem começado a substituir a antiga escrita orientada apenas para as revistas pulp. Em uma extremidade está o romance juvenil apenas de ação, melhor representado pela série Perry Rhodan; na outra estão livros de mérito tanto ficcional quanto literário como Os Negros Anos-Luz (Dark Light-Years, 1964), de Brian Aldiss. Entusiastas dos dois extremos deveriam apreciar e permitir os interesses dos outros. Ambos são importantes, uma vez que novos leitores devem ser adicionados continuamente e irão, espera-se, progredir para limites mais cerebrais da mídia”.
Ele entende que se a ficção científica tem alguma função além do mero entretenimento, ele estará na extremidade analítica do espectro, no qual os reais problemas da existência são encarados e discutidos.
E esses dois extremos continuam sendo devidamente representados, às vezes de forma mais elaborada, outras vezes de forma mais desleixada. E vamos falar sobre essas obras nas matérias seguintes.

É comum que as guerras sejam o ingrediente principal de ramificações da ficção científica como a ficção científica militar ou a space opera (ver mais sobre a space opera em O Nascimento dos Impérios e das Federações, em Primeiros Poderes e em Foguetes, Espaçonaves e Muitos Mais), mas certamente não se restringem a elas. Existem histórias situadas em mundos alternativos ou paralelos e que envolvem conflitos de vários tipos, inclusive trazendo guerras que realmente existiram em nosso mundo, como a Segunda Guerra Mundial, porém com resultados diferentes.
Elas podem surgir em histórias de contatos com raças extraterrestres, e vamos evitar falar sobre essas guerras em particular, uma vez que esse tema foi abordado em algumas matérias do especial Alienígenas na Terra. Também não vamos falar da Terra destruída e reconstruída após uma hecatombe nuclear, mais uma vez porque o tema foi abordado em algumas matérias do especial Fim do Mundo. As guerras podem ser importantes ou mesmo elementos centrais de histórias de robôs (ver o especial Robôs na FC) ou na formação de impérios galácticos (ver o especial Governos Galácticos).
Seja como for, assim como em nosso mundo, nos mundos da ficção científica as guerras são elementos importantes a serem observados, e vamos procurar fornecer uma visão geral do tema, sempre considerando que a quantidade de livros de fc militarista publicados é imensa, e nem todos serão citados.