O tema “viagem no tempo” acabou se tornando um dos mais abordados pela ficção científica, na literatura e no cinema. No entanto, ele antecede em muito o surgimento do gênero, com abordagens que o aproximam das histórias de fantasia. Em seus primórdios, as deslocações temporais não eram feitas com a utilização de máquinas ou mecanismos de quaisquer tipos, mas por ação de deuses, anjos, entidades sobrenaturais variadas ou simplesmente por obra da natureza.
(FreeImages.com/ Billy Alexander).
No livro The Encyclopedia of Fantasy (1997), os editores John Clute e John Grant chegam a separar os termos “time travel” e “timeslip”. O primeiro seria a viagem no tempo que ficou tradicionalmente estabelecida como pertencendo à ficção científica; o segundo seria algo como um “salto no tempo”, ou um deslocamento temporal para o qual não se tem qualquer explicação científica ou racional. O escritor Brian Stableford, falando sobre o assunto no verbete da enciclopédia, nota que os “saltos no tempo” abruptos e inexplicáveis são propriamente objeto da fantasia. Talvez a tradução mais adequada para timeslip poderia ser um lapso ou falha no tempo, um “escorregão” que leva uma ou mais pessoas para outra época.
Stableford também comenta que esses deslocamentos temporais raramente são aleatórios – seja a consciência individual que se desloca e se aloja em outro corpo ou em uma versão anterior de si mesma, seja um objeto ou pessoa extraída de sua linha temporal. Segundo Stableford, às vezes as histórias podem estabelecer uma relação entre um ancestral e seu descendente, ou podem ser histórias de amantes de tempos diferentes. “Considerando que o amor é tão frequentemente representado na ficção como uma espécie de força quase sobrenatural”, escreve Stableford, “talvez não seja surpreendente que ele ocasionalmente possa ter o poder de transcender o tempo de forma a assegurar uma união singularmente preciosa (ou, dado que muitos desses romances são claramente amargos, para exagerar a tragédia de sua impossibilidade)”.
Como a enciclopédia citada aborda especificamente os temas da fantasia, os editores ainda dividiram o tema em mais um verbete, “time in faerie”, uma designação geral para a terra das fadas, que pode ser um ou mais locais, mais ou menos relacionados com o nosso mundo, mas nos quais o tempo tem propriedades diferentes do tempo em nosso mundo. Eu preferi não abordar essas histórias nesta matéria, entendendo que se enquadram melhor no tema “universos paralelos”.
Edição de 1802.
Seja como for, a história mais antiga que consegui localizar envolvendo um deslocamento no tempo foi citada no livro The Science Fiction Encylopedia (1979), editada por Peter Nicholls (que também tem John Clute como editor associado). Trata-se de L’an deux mille quatre cent quarante (1771), de Louis-Sébastien Mercier (1740-1814). É um dos muitos exemplos de histórias utópicas da literatura mundial, na qual um homem simplesmente dorme e acorda no ano 2440. Também encontrei o livro com o título ampliado, Rêve síl em fut jamais (“O ano 2440: um sonho, se alguma vez houve algum”). Até onde pude averiguar, não foi publicado no Brasil ou em Portugal.
Da mesma época é Anno 7603 (1781), de Johan Herman Wessel, só que dessa vez uma fada envia duas pessoas, Leander e Julie, para o ano 7603, para uma sociedade em que os sexos têm funções “opostas”, de modo que apenas as mulheres são militares.
(Puffin).
Stableford considera esses primeiros exemplos de deslocações temporais como fantasias que antecedem os saltos no tempo propriamente ditos, e podem ser associados com o “tempo na terra das fadas”. Para ele, nessa classificação estaria também o famoso conto Rip Van Winkle (1819), de Washington Irving, publicado no Brasil com o título A Misteriosa Alucinação do Sr. Rip, sobre o homem que dorme por 20 anos. Existem algumas referências mais antigas da história, remontando à antiga Grécia, passando pelos primeiros cristãos, sempre com personagens dormindo por muito tempo e acordando para perceber o mundo à sua volta bastante modificado. No caso do conto de Washington Irving, geralmente entende-se que foi baseado no conto Peter Klaus (1800), de Johann Karl Christoph Nachtigal (1753-1819).
Ebenezer Scrooge é visitado pelo fantasma de Marley (Ilustração de John Leech para a edição do livro, 1843).
Uma das histórias mundialmente mais conhecidas de deslocamentos temporais é Um Conto de Natal (A Christmas Carol, 1843), de Charles Dickens. Traz como personagem central Ebenezer Scrooge, um velho avarento que odeia o Natal e que, na véspera do Natal, é visitado, inicialmente, pelo fantasma de Jacob Marley, seu antigo sócio, falecido há sete anos, e que vagueia pela Terra, pagando por seus erros do passado. Ele diz a Scrooge que ele tem uma oportunidade de evitar o mesmo destino. Ele será visitado por três espíritos e deve escutar o que eles lhe disserem. É assim que surgem os fantasmas do Natal Passado, do Natal Presente e do Natal Futuro. As viagens no tempo fazem com que Scrooge modifique completamente seu modo de pensar e de agir, tornando-se uma pessoa generosa e atenciosa com todos.
A quantidade de adaptações da história é impressionante, para teatro, cinema, televisão e rádio, além de algumas óperas. Para não falar de evidentes adaptações da história, como em Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (Ghosts of Girlfriends Past, 2009), com Matthew McConaughey sendo visitado pelo fantasma do tio, que lhe diz que os “fantasmas” de namoradas do passado, presente e futuro vão aparecer para ensinar algumas coisas a ele.
Também muito popular – segundo informações, foi o terceiro maior best-seller de sua época – foi Daqui a Cem Anos (Looking Backward, 1888. Editora Record), de Edward Bellamy. Não deve ser confundido com o filme que recebeu o mesmo título em português (Daqui a Cem Anos/ Things to Come, 1936), ficção científica com história de H.G. Wells.
O livro conta a história de Julian West, jovem americano que é induzido a um sono por meio de hipnose e dorme por 113 anos, acordando no ano 2000, na mesma cidade de Boston onde estava, porém num mundo completamente mudado, com os Estados Unidos transformados numa utopia socialista. As ideias de um futuro melhor apresentadas no livro chegaram a ter impacto na vida real do país, com o surgimento de dezenas de grupos dedicados a propagar os conceitos socialistas de uma sociedade mais justa e equilibrada. No entanto, o próprio autor disse que não escreveu o livro com o propósito explícito de propagar ideias políticas, mas de escrever uma fantasia literária, um conto de fadas de felicidade social.
Tendo um homem como seu guia, todas as modificações benéficas da sociedade do futuro são explicadas por intermédio dos diálogos entre eles. Os analistas da obra costumam dizer que muitas das coisas que ele apresenta existem de fato nos dias atuais, entre elas o uso de cartões de crédito, mas a igualdade social prevista está longe de ser uma realidade.
Segundo Brian Stableford, um dos principais antecessores das modernas histórias de deslocamentos temporais foi Um Ianque na Corte do Rei Arthur (A Connecticut Yankee in King Arthur's Court, 1889), de Mark Twain. A história mostra o americano Hank Morgan transportado para a época mítica do Rei Arthur, onde utiliza seus conhecimentos científicos do futuro para, primeiro, salvar sua vida, e depois para ganhar status na Corte. O livro funciona como uma sátira e crítica, tanto à sociedade contemporânea quanto às ideias românticas sobre os cavaleiros e seus códigos de ética, além de apresentar várias críticas sobre a Igreja Católica.
A história teve dezenas de adaptações para o teatro, cinema, televisão e desenhos animados. No cinema, começou em 1921, com A Connecticut Yankee in King Arthur's Court, dirigido por Emmet J. Flynn. Outra versão surgiu em 1931, Um Yankee na Corte do Rei Arthur (A Connecticut Yankee), com direção de David Butler, e com Will Rogers, Maureen O’Sullivan e Myrna Loy no elenco. A terceira versão, de 1949, Na Corte do Rei Arthur (A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court), foi dirigido por Tay Garnett e tem como astro principal Bing Crosby, o que já indica que se trata de um musical: você não elenca Bing Crosby se não for para ele cantar.
Will Rogers e Myrna Loy, na versão de 1931 (Twentieth Century Fox Film Corporation).
Até mesmo um desenho do Pernalonga foi adaptado a partir da história de Mark Twain, assim como uma versão da Disney, O Estranho Aliado do Rei Arthur (The Spaceman and King Arthur, 1979. Também com o título Unidentified Flying Oddball; e em português, Um Astronauta na Corte do Rei Arthur). O filme da Disney tem direção de Russ Mayberry, mas muda o enfoque básico do deslocamento no tempo das histórias de fantasia, uma vez que o personagem central está viajando em uma nave espacial à velocidade da luz e recua no tempo. Claro, a origem da viagem ao passado também não é identificada. Mas é um filme muito inferior ao que a produtora fez de melhor.
Outro musical também apresentou uma viagem ao ano (então) futuro de 1980. Fantasias de 1980 (Just Imagine), dirigido por David Butler, não teve boa recepção por parte do público, mas apresentou efeitos especiais muito admirados na época, e o filme chegou a ser indicado ao prêmio de Melhor Direção de Arte da Academia.
A "cidade do futuro", em Fantasias de 1980 (Fox Film Corporation).
Mesmo em 1930, a história já apresentava alguns clichês que desagradavam os leitores do gênero e estava distante do que havia de melhor nas revistas especializadas. El Brendel interpreta um sujeito que é atingido por um raio, em 1930, e é revivido por cientistas em 1980, entrando em contato com as “maravilhas” do futuro, entre as quais as pílulas alimentícias, portas automáticas, telefones com televisão e bebês que surgem de máquinas. Hoje, é mais interessante para se ter uma ideia, por exemplo, de como o cinema da época imaginava as vestimentas do futuro.
(Metro-Goldwyn-Mayer).
Também de 1933 é Voltando ao Passado (Turn Back the Clock), dirigido por Edgar Selwyn, com Lee Tracy e Mae Clark. Mais uma vez, não existe explicação para o retorno ao passado do personagem que, ferido num acidente de carro, de repente se vê no hospital, mas como jovem novamente. Assim, ele tenta modificar sua vida, casando-se com uma mulher rica e aumentando sua riqueza com o conhecimento que tem do futuro, entendendo que sua vida será melhor do que antes. Mas sua esposa faz um investimento errado e eles perdem tudo na crise da Bolsa de 1929. Eventualmente, ele retorna a 1933, satisfeito da vida com a esposa que tinha. É mais uma história com final moralizante do que qualquer outra coisa.
Um retorno no tempo envolvendo algum tipo não explicado de magia ocorre em O Destino Se Repete (Repeat Performance, 1947), filme dirigido por Alfred Werker, com Louis Hayward e Joan Leslie. O filme começa com uma mulher observando o corpo morto do marido, segurando uma arma. Ela deseja que o ano de 1946 se repita, de modo que ela possa corrigir os erros que levaram àquela situação. Como o pedido dela foi feito exatamente à meia-noite da passagem do ano, ela consegue seu intento, mas os acontecimentos seguem de tal forma que parece impossível mudar o destino.
O Destino se Repete (Aubrey Schenck Productions/ Bryan Foy Productions).
As viagens no tempo podem ser engraçadas e ameaçadoras ao mesmo tempo, como podemos ver no sensacional filme Aventureiros do Tempo (Time Bandits, 1981), uma produção inglesa dirigida por Terry Gilliam, do famoso grupo Monty Python, e ainda tem as presenças dos “pythons” John Cleese e Michael Palin, além de um elenco que inclui grandes atores como David Rappaport, Shelley Duvall, Ian Holm, David Warner e Sean Connery. O ex-Beatle George Harrison ajudou a financiar a produção e é creditado como um dos produtores executivos, além de ter composto a canção que fecha o filme.
O grupo de viajantes e o mapa do universo, em Aventureiros do Tempo (HandMade Films).
O jovem Kevin (Craig Warnock) é envolvido numa aventura que jamais poderia imaginar, quando um bando de anões aparece em seu quarto. Eles trabalhavam para um Ser Supremo (Ralph Richardson), com a missão de consertar irregularidades no espaço-tempo, e para isso receberam dele um mapa do universo que indica os locais exatos das passagens de um tempo para outro. Só que eles roubaram o mapa, entendendo que seria uma excelente oportunidade para conquistar tesouros e riquezas de todo tipo. Assim, eles e Kevin passam por vários períodos de tempo, sempre perseguidos pelo Ser Supremo, que quer o mapa de volta, e também por um Gênio do Mal (David Warner).
Eles têm encontros com personagens como Napoleão (Ian Holm), Robin Hood (John Cleese) e Agamenon (Sean Connery), além de seres mitológicos como ogros e gigantes.
John Grant, escrevendo sobre o filme em The Encyclopedia of Fantasy, disse que “Aventureiros do Tempo, talvez a mais significante realização do cinema fantástico, é um cruzamento extremamente complexo e movimentado utilizando imagens dos sonhos da infância para sua construção”. Grant lembra os elementos que existem na vida real de Kevin – um jovem que, ao contrário dos pais, só preocupados com a tecnologia da vida moderna, tem imenso interesse em história; o jovem lê um livro sobre heróis da Grécia antiga; tem um pôster de Napoleão em seu quarto; algumas das pedras que compõem a fortaleza do Mal lembram peças gigantescas de Lego; o interesse do Gênio do Mal pela tecnologia lembra a obsessão dos pais de Kevin por objetos para o lar.
O Gênio do Mal (David Warner) e seus ajudantes.
Para Grant, o filme pode levar algumas pessoas a interpretá-lo como uma “fantasia racionalizada”, de forma que todos os eventos seriam parte de um sonho de Kevin, mas essa possibilidade se desfaz com o ressurgimento de um pedaço do Mal em nosso mundo. E ele observa uma questão que parece ser bastante comum nos filmes dirigidos por Terry Gilliam. Algumas cenas no início do filme parecem ser apenas diversão, como ocorria com os programas do Monty Python’s Flying Circus; mas, uma vez que a busca que centraliza boa parte da história se inicia, podemos perceber que existe muita seriedade na base da história. Baird Searles, em Films of Science Fiction and Fantasy, segue por um caminho semelhante, dizendo que algumas pessoas podem achar que o filme é para ser visto como uma comédia, ou como uma aventura para crianças, mas que suas sequências mais efetivas não são nem uma coisa, nem outra.
Brian Stableford diz que as histórias em que ocorrem deslocamentos temporais no cinema são numerosas demais para serem listadas, e parece que é assim mesmo. Algumas dessas histórias vão ser comentadas nas demais matérias, mas ainda assim apresentamos abaixo uma listagem de mais alguns filmes e livros em que eles ocorrem.
ANTES DE ADÃO (Before Adam, 1906)
Jack London.
KINDRED
Octavia E. Butler.
1979
Octavia E. Butler, falecida em 2006, aos 59 anos, é uma das escritoras mais premiadas da ficção científica, tendo recebido as maiores premiações do gênero como o Prêmio Hugo (em 1984 e 1985), Nebula (1984 e 1999) e Locus (1985), entre outros. É o primeiro livro da autora publicado no Brasil, pela Editora Morro Branco.
Seus livros são marcados por fortes personagens femininas e pela discussão de questões raciais, num ambiente de ficção científica e, como é o caso deste livro, da fantasia. Conta a história de uma jovem escritora afro-americana que, sem saber como, começa a ter vertigens, após o que é transportada para uma plantação, na época anterior à Guerra Civil dos EUA, em Maryland. A história tem idas e vindas da personagem entre a época da escravidão – quando ela encontra seus ancestrais – e o ano de 1976.
OS PORTAIS DE ANÚBIS (The Anubis Gates, 1983)
Tim Powers.
THE DEVIL’S ARITHMETIC
Jane Yolen.
1988
Inédito no Brasil, o livro geralmente é apresentado como uma ficção histórica. A personagem Hannah Stern, de origem judia, morando nos EUA, é transportada no tempo e no espaço, para a Polônia em 1942, quando é enviada para um campo de extermínio. O livro foi indicado para o prêmio Nebula.
A história foi adaptada em filme para a televisão, Matemática do Diabo (The Devil’s Arithmetic, 1999), com direção de Donna Deitch, e com Kirsten Dunst interpretando Hannah Stern.
Matemática do Diabo (Lietuvos Kinostudija/ Millbrook Farm Productions/ Punch Productions).
UMA NOITE ALUCINANTE 2 (Evil Dead II, 1986)
(De Laurentiis Entertainment Group/ Renaissance Pictures).
A sequência de A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981), também dirigido por Sam Raimi, com Bruce Campbell repetindo seu papel como Ash, mais uma vez enfrentando um demônio, porém abrindo um vórtice temporal pelo qual Ash também passa, surgindo numa época medieval com seu rifle e sendo saudado como um enviado dos céus para combater os demônios que existem no local, preparando o enredo para o terceiro filme da série. Fizeram uma bagunça enorme com o título do filme: primeiro, foi lançado como Uma Noite Alucinante; depois, como Uma Noite Alucinante 2; mas o primeiro já tinha sido lançado como A Morte do Demônio e, depois, foi rebatizado como Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio.
Na sequência, surgiu Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness, 1992), novamente com direção de Sam Raimi, e o mais engraçado dos três. A ação se passa no tempo medieval, com Ash enfrentando muitos demônios, e depois conseguindo retornar ao seu próprio tempo graças a uma poção mágica.
PEGGY SUE, SEU PASSADO A ESPERA (Peggy Sue Got Married, 1986)
Direção de Francis Ford Coppola.
Kathleen Turner volta a 1960 para encontrar seu namorado Nicolas Cage (TriStar Pictures/ Rastar Pictures/ Zoetrope Studios/ Delphi V Productions).
Kathleen Turner é a Peggy Sue do título, que está se separando do marido Charlie Bodell (Nicolas Cage), e resolve comparecer a uma festa de 25 anos da escola. Quando é eleita rainha da festa, desmaia na hora de subir ao palco, e quando acorda percebe que retornou ao passado, à época em que tudo começou de fato para ela. Começa a agir de maneira diferente, tendo a oportunidade de refazer sua vida, consertar o que estava errado, aproveitar oportunidades que deixou passar. Quando volta a si, no hospital e no tempo presente, Peggy Sue reconcilia-se com o marido, dizendo não o ter entendido. Não chega a ser um filme bom. Tudo é tratado meio superficialmente e a personagem não chega a refletir realmente sobre o que lhe aconteceu. Apesar disso é uma diversão a não ser desprezada, e muito bem recebida pela crítica.
NAVIGATOR: UMA ODISSEIA NO TEMPO (The Navigator: A Medieval Odyssey, 1988)
(Arenafilm/ Film Investment Corporation of New Zealand/ The Australian Film Commission/ New Zealand Film Commission/ John Maynard Productions).
Excelente produção da Nova Zelândia e Austrália, com direção de Vincent Ward. Uma fábula extraordinária, iniciando com os problemas da peste enfrentados pelos habitantes de uma aldeia inglesa na época medieval. Um garoto com visões psíquicas lidera um grupo deles numa expedição que deverá aplacar a ira divina. Atravessam um túnel numa mina e surgem numa cidade moderna, fazendo uma verdadeira viagem no tempo. Uma proposta muito original, assim como a forma como os homens do passado encaram o presente, e cumprem sua missão.
O filme chegou a ser apresentado no Festival de Cannes, sendo muito bem recebido pelo público e pela crítica. Recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema Fantástico de Sitges em 1988, e no Fantasporto, em 1989.
OUTLANDER
Diana Gabaldon.
(Editora Arqueiro)
Uma série de livros que se tornou best-seller mundial e virou seriado de televisão (Outlander, 2014. No Brasil, exibido pelo canal Fox Play). Os livros são: Outlander – A Viajante do Tempo (Outlander, 1991); A Libélula no Âmbar (Dragonfly in Amber, 1992); O Resgate no Mar (Voyager, 1993); Os Tambores do Outono (Drums of Autumn, 1996); A Cruz de Fogo (The Fiery Cross, 2001); A Breath of Snow and Ashes (2005); An Echo in the Bone (2009); Written in my Own Heart’s Blood (2014). Além disso, a história virou uma obra musical lançada em CD, com uma tentativa de transformar em produção teatral. Também virou graphic novel e originou alguns contos situados no mesmo ambiente.
Segue a aventura da enfermeira Claire Randall que, após a Segunda Guerra Mundial, vai para a Escócia com seu marido. Ao investigar a origem de um estranho som próximo de uns menires, ela desmaia e vai parar em 1743. As obras são apresentadas como romance, mistério, aventura e ficção histórica, mas com bastante ênfase ao aspecto romântico e relacionamentos da personagem central.
OS VISITANTES – ELES NÃO NASCERAM ONTEM (Les Visiteurs, 1993)
Jean Reno e Christian Clavier, perdidos no século 20 (Alpilles Productions/ Amigo Productions/ Canal+/ France 3 Cinéma/ Gaumont International).
Produção francesa dirigida por Jean-Marie Poiré, com Christian Clavier, Jean Reno e Valérie Lemercier. Uma comédia muito bem recebida pelo público e crítica, com história que se inicia em 1123, quando o guerreiro Godofredo da Popa Curta recebe um título de conde e a mão da filha do rei, só que ele é enfeitiçado por uma bruxa e mata o rei. Para resolver o problema, procura um mago que o faz voltar no tempo. Só que as coisas dão erradas e ele vai parar na França atual, onde ele e seu escudeiro envolvem-se em muitas confusões.
O sucesso originou uma sequência, Os Visitantes II (Les Couloirs du Temps: Les Visiteurs II, 1998), também dirigido por Poiré, e com Jean Reno e Christian Clavier repetindo seus personagens, mas que não teve a mesma recepção de crítica e público. Poiré ainda dirigiu a versão americana Os Viajantes do Tempo (Just Visiting, 2001), com Reno e Clavier, além de Christina Applegate, e resultados ainda piores do que o segundo filme. E as coisas pioraram com Les Visiteurs: La Révolution (2016), mais uma vez com Reno e Clavier viajando no tempo e surgindo na França na época da Revolução. O melhor mesmo é ficar com o primeiro filme.
HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 1999)
J.K. Rowling.
(Editora Rocco)
No terceiro livro da série, uma das mais populares dos últimos tempos, é apresentado o objeto chamado Vira-tempo (time-turner), uma joia com uma mágica acoplada e que é capaz de levar a pessoa a uma viagem no tempo ao passado, de preferência por pequenos períodos de tempo. Hermione recebe um Vira-tempo de modo que possa participar de várias aulas ao mesmo tempo.
DE REPENTE 30 (13 Going on 30, 2004)
Jennifer Garner, assustada com seu corpo de 30 anos (Revolution Studios/ Thirteen Productions).
Filme dirigido por Gary Winick, com Jennifer Garner como a jovem Jenna Rink que, no dia do seu décimo terceiro aniversário, faz um desejo de já ter 30 anos e, no dia seguinte, acorda no futuro, com 30 anos. Assim, ela pode perceber a pessoa que se tornou devido às suas escolhas do passado, e quanto mais fica sabendo mais sobre sua vida em 2004, mais ela percebe que se tornou uma pessoa não muito legal.
Ela começa a mudar as coisas, revertendo muitas de suas ações, mas percebe que existem algumas coisas que não podem ser mudadas. Ao final, ela volta à casa dos pais, ao mesmo local onde sua vida começou a mudar para pior, e retorna a 1987; e dessa vez ela resolve agir da forma correta.
ARTEMIS FOWL: O PARADOXO DO TEMPO (Artemis Fowl: The Time Paradox, 2008)
Eoin Colfer.
(Editora Record/ Galera)
O sexto livro da excelente série com o jovem prodígio Artemis Fowl, de Eoin Colfer (ver aqui entrevista com o autor já publicada em Vimana). Artemis convence a Capitã Holly, do povo das fadas, a realizar uma viagem no tempo, até oito anos antes, para reverter uma situação que pode salvar sua mãe doente.
PRÍNCIPE DA PÉRSIA: AS AREIAS DO TEMPO (Prince of Persia: The Sands of Time, 2010)
Jake Gyllenhaal e Gemma Arterton (Walt Disney Studios).
Filme dirigido por Mike Newell, com Jake Gyllenhaal como o príncipe Dastan, Gemma Arterton como a princesa Tamina, e Ben Kingsley como o malévolo Nizam. O filme é baseado no vídeo game com o mesmo título e segue basicamente a mesma história.
Aqui vemos um artefato semelhante ao Vira-tempo de Harry Potter, só que se trata de uma adaga, protegida por Tamina na cidade sagrada de Alamut. A adaga contém uma areia especial e, quando um botão é apertado em sua empunhadura, a areia faz com que a pessoa recue no tempo por alguns segundos; só a pessoa em posse da adaga percebe que o tempo recuou.
MEIA-NOITE EM PARIS (Midnight in Paris, 2011)
Marion Cotillard e Owen Wilson (Mediapro/ Versátil Cinema/ Gravier Productions/ Pontchartrain Productions/ Televisió de Catalunya).
Um dos bons filmes de Woody Allen, em sua fase mais recente, com Owen Wilson como o escritor e roteirista Gil Pender, que viaja a Paris com sua noiva Inez (Rachel MacAdams) e os pais dela. Ele quer terminar seu livro, mas a noiva insiste para que ele se dedique a projetos mais lucrativos, como escrever roteiros para o cinema. As coisas não vão bem entre eles, com Gil percebendo cada vez mais claramente que ela não é exatamente a mulher de seus sonhos e, em uma noite, perdido pelas ruas de Paris, ele vê um carro antigo parar ao seu lado. Os passageiros, vestidos como se estivessem nos anos 1920, convidam-no a entrar, o que ele faz, indo parar no passado, numa festa onde encontra Jean Cocteau, Cole Porter, o casal Zelda e Scott Fitzgerald. Não por acaso, os anos 1920 eram vistos por Gil como uma época de ouro. Ele ainda tem encontros com Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso e outras personalidades da época. Outra viagem ainda mais para o passado levam-no a outra “época de ouro”, à Belle Époque, um período anterior à Primeira Guerra Mundial.
A ideia geral é a de que uma geração sempre entende que um período anterior era melhor, mais interessante; mas não importa quanto a pessoa recue no tempo, sempre vai encontrar uma geração insatisfeita, procurando referências em um momento mais interessante do passado. O escritor Gil finalmente parece perceber isso, e passa a viver na Paris de seu próprio tempo.