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No último sábado de novembro, o canal History apresentou a série “A Verdadeira História da Ficção Científica”, com várias entrevistas de escritores, atores e diretores que trabalharam com o gênero.
Um dos destaques foi o livro A Mão Esquerda da Escuridão (The Left Hand of Darkness), da escritora norte-americana Ursula K. Le Guin, publicado em 1969. E não é por acaso, uma vez que se trata de uma das mais importantes obras do gênero, de uma das mais importantes autoras de literatura fantástica de nosso tempo – entre seus principais trabalhos estão Os Despossuídos (The Dispossessed, 1974), O Flagelo dos Céus (The Lathe of Heaven, 1971), a série Earthsea – que inclui O Feiticeiro de Terramar (A Wizard of Earthsea, 1968), Os Túmulos de Atuan (The Tombs of Atuan, 1971) e O Outro Lado do Mundo (The Farthest Shore, 1972) – e Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest, 1976).
No programa do History, Le Guin disse que para escrever a história partiu da suposição de como seria uma sociedade na qual os seres não tivessem gêneros sexuais definidos; não só como ela se desenvolveria, mas se eles ainda poderiam ser considerados humanos. Para ela, a resposta é: sim, seriam humanos. Mas o livro aborda muitas outras questões, da dificuldade de comunicação entre terrestres e outras raças, às diferenças culturais, em particular aquelas envolvendo religião.
O livro já é considerado um clássico da ficção científica, vencedor dos dois mais importantes prêmios da área – o Hugo e o Nebula. É parte da série de obras da série “Hainish”, na qual a civilização do planeta Hain estabelece contato com várias civilizações humanas, inclusive a Terra, liderando a formação de uma federação pacífica. Na série, os terrestres são descendentes de colonos de Hain, que aqui chegaram milhares de anos atrás.
A história é situada no planeta gelado Gethen, ou Inverno. Seus habitantes são andróginos, e tanto podem assumir o sexo masculino como o feminino nos períodos de acasalamento, que ocorrem uma vez por mês.
Um emissário terrestre chega ao local para procurar estabelecer uma relação de amizade e intercâmbio de ideias, cultura e mercadorias. Ele conta com a ajuda de um gethiano para conhecer melhor a cultura local, mas tem imensas dificuldades não só para entender as relações políticas entre os grupos locais, mas também para não ser dominado por seus preconceitos com relação à sexualidade.
O livro está entre as melhores abordagens do tema do contato com civilizações alienígenas – para alguns críticos, o melhor – jamais se contentando com observações superficiais.
A questão da sexualidade dos seres é central, uma vez que ela afeta a própria história da civilização. Além disso, grande parte da dificuldade do emissário em entender a cultura local vem de sua incapacidade de entender os habitantes do planeta como eles são. Ele não pode colocá-los numa categoria, ou seja, classificá-los como homens ou mulheres.
Também pode ser vista como uma história de amor pela humanidade e pelo conhecimento, amor que se manifesta de modo particularmente forte no personagem gethiano que ajuda o terrestre, capaz de abdicar de tudo o que possui para que um objetivo maior possa ser atingido.
Quem gosta de ficção científica e ainda não leu este, está perdendo tempo.