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ZUMBIS, CIENTISTAS E EXPERIÊNCIAS

ESPECIAIS/VE ZUMBIS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/09/2023
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Além de serem criados de forma sobrenatural, os zumbis também surgiram no cinema devido à ação de cientistas, experiências malogradas e até mesmo intervenção alienígena.

Empire Pictures.

No já citado ensaio de Peter Dendle, The Zombie as Barometer of Cultural Anxiety, ele diz que, nos anos 1950, o zumbi já estava pronto para personificar o maior medo da América: “a invasão de dentro”. Segundo ele, filmes como Invasores de Marte (Invaders From Mars, 1953) e Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers, 1956) apresentavam famílias americanas de classe média repentinamente virando-se umas contra as outras, transformadas por alienígenas que tomaram seus corpos, aniquilaram suas personalidades e modelaram seus comportamentos segundo as ideias alienígenas de homogeneidade. “Da mesma forma”, diz Dendle, “os cadáveres levantados e animados em Cadáver Atômico (Creature With the Atom Brain, 1955), Plano Nove do Espaço Sideral (Plan Nine From Outer Space, 1957) e Invasores Invisíveis (Invisible Invaders, 1959), são assustadores pela mesma razão de que eles não se parecem, de modo algum, com inimigos externos: eles se parecem de modo perturbador com nossos colegas de trabalho, vizinhos, amigos e familiares”.

Lon Chaney Jr. e Lionel Atwill em O Monstro Elétrico (Universal Pictures).

Na matéria Os Zumbis Chegam ao Cinema, Peter Dendle disse que, diferentemente da maioria dos filmes de zumbis anteriores, A Vingança dos Zumbis (1943) lida mais com ciência do que com vodu. O que é verdade, ainda que existam alguns poucos filmes anteriores que podem ser tidos como antecessores dos zumbis como resultado da “ciência”.
Um desses filmes é A Cidade Infernal (The Lost City, 1935), no qual um cientista louco quer dominar o mundo e, entre outras coisas, tem uma máquina para criar zumbis.
Outro filme é O Monstro Elétrico (Man-Made Monster, 1941. Também conhecido como The Atomic Monster), dirigido por George Waggner. Ainda que não tenha qualquer zumbi propriamente dito, a criação de um exército de zumbis é o objetivo do cientista louco dr. Paul Rigas (Lionel Atwill), realizando experiências com o coitado do Lon Chaney Jr., em seu primeiro filme de terror.

                                                                          J. Carrol Naish e Lewis Wilson, em O Morcego (Columbia Pictures).

Também em O Morcego (Batman, 1943), dirigido por Lambert Hillyer e adaptado das histórias em quadrinhos criadas por Bob Kane e Bill Finger em 1939, o famoso herói Batman (Lewis Wilson) enfrenta o terrível dr. Daka (J. Carrol Naish) que, é claro, pretende dominar o mundo e, para tal, cria um exército de zumbis implantando um dispositivo eletrônico nos cérebros das pessoas, que ele controla por um microfone.
A produção foi apresentada no formato popular na época, como um seriado em 15 capítulos, e como os EUA estavam em plena Segunda Guerra Mundial, os principais vilões eram os japoneses e, segundo se diz, existiam muitos diálogos racistas, substituídos em edições posteriores. O filme estreou alguns meses antes de A Vingança dos Zumbis.

(Internacional Cinematográfica).

Mas a maioria dos filmes seguindo uma linha mais próxima da ficção científica surgiu mesmo a partir dos anos 1950, como O Monstro Ressuscitado (El Monstruo Resucitado, 1953), produção mexicana com direção de Chano Urueta, também conhecida pelo título Doctor Crimen.
Segundo Phil Hardy, o filme é importante por ser o primeiro grande filme na linha do “cientista louco” do México, “(...) vagamente baseado na história de Frankenstein, mas injetando ideias cirúrgicas sangrentas, lançando as fundações do gênero que iria dominar a ficção científica hispânica dos anos 1960 e 1970, como exemplificado no trabalho de Jesús Franco a partir de O Terrível Dr. Orloff (Gritos en la Noche, 1962)”.
O cientista louco aqui é o dr. Hermann Ling (José Maria Linares Rivas), que traz de volta à vida o jovem Ariel (Carlos Navarro) que cometeu suicídio, transplantando um novo cérebro nele e ordenando que ele seduzisse a jornalista Nora (Miroslava). Mas como os dois se apaixonam, o zumbi acaba se revoltando contra seu criador.

     S. John Launer e Michael Granger, em O Cadáver Atômico (Clover Productions).

Mais de acordo com a mania atômica da ficção científica dos anos 1950, O Cadáver Atômico (Creature With the Atom Brain, 1955. No Brasil, em DVD da Versátil) imaginou seres semelhantes a zumbis sendo criados a partir da remoção de seus cérebros e substituindo por energia atômica, sabe-se lá como. O filme foi dirigido por Edward L. Cahn, com roteiro do escritor Curt Siodmak, que já havia “trabalhado” com cérebros humanos antes em Experiência Diabólica (Donovan’s Brain, 1953), baseado em seu próprio livro de 1943, O Cérebro de Donovan.
O responsável é o cientista ex-nazista Wilhelm Steigg (Gregory Gay), financiado por um criminoso (Michael Granger), e as atrocidades que ele comete são descobertas por um médico da polícia (Richard Denning). Depois que um dos seres modificados por ele fica doidão e começa a destruir o que vê pela frente, a polícia fecha o cerco e o criminoso envia todo seu exército de zumbis para cima dos policiais, que matam todos.

                                                                                                     O Cadáver Atômico.

Phil Hardy disse que “Esse é um filme absolutamente horrível: o roteiro de Siodmak é desconjuntado, a direção de Cahn é pesada e os valores de produção não existem”. Ele complementou dizendo que “Filmes bem piores foram feitos e realmente conseguiram algum tipo de seguidores, como cult, mas poucos outros reuniram tantos elementos – gangsteres, poder atômico, zumbis, nazistas – e simplesmente os colocaram juntos, lado a lado, de forma tão inconsciente”.
Michael Weldon disse que esse é “O primeiro filme com um ataque em massa de zumbis atômicos”, e também “O primeiro de muitos filmes de terror divertidos do diretor Cahn”.
Peter Dendle tem uma opinião bem diferente da de Hardy, dizendo que “O fascinante filme de ficção científica de Cahn, de meados dos anos 1950, se deleita com duas tecnologias milagrosas da época: eletrônica e energia nuclear”. Dendle também ressaltou que os zumbis do filme parecem mais malvados do que aqueles dos anos 1940, “(...) e eles também são brancos ao invés de afro-americanos. Como em Invasores de Marte (1953) e em Vampiros de Almas (1956), o inimigo é interiorizado: o ‘outro’ acaba surgindo do próprio coração do local de trabalho e do lar americano. Ainda que o roteiro se esforce em racionalizar e esterilizar as criaturas, insistindo de todas as formas possíveis que eles não são ‘nós’, as imagens na tela simplesmente indicam o contrário”.

Katherine Victor, Mitzi Albertson, Don Sullivan e Chuck Niles, em Teenage Zombies (GBM Productions).

Não poderia faltar a combinação típica da época, aproveitando o tema dos zumbis com personagens adolescentes, em Teenage Zombies (1957), filme que, segundo Michael Weldon, só foi apresentado em 1960, “(...) um pouco tarde para a moda do terror adolescente”. Aqui surge uma médica louca, Dra. Myra (Katherine Victor) que, aparentemente em conluio com “potências estrangeiras”, desenvolveu uma bactéria que pode ser colocada no suprimento de água ou utilizada em forma de gás, e que é capaz de tornar toda a população em escravos obedientes e sem vontade própria. Ou seja, zumbis.
Até então, as experiências não deram muito certo, com aqueles que foram sujeitados aos testes tornando-se indiferentes ou então muito violentos. É então que chegam os adolescentes à ilha Mullet, e dois deles logo se tornam zumbis, mas os heróis encontram um antídoto e salvam o país do ataque.
Mais famoso ficou o filme de Edward D. Wood Jr., Plano 9 do Espaço Sideral (Plan Nine From Outer Space, 1957), durante muitos anos considerado o pior filme de ficção científica já realizado, um prato cheio para se tornar um cult movie. Os planos de conquista de extraterrestres que chegam à Terra incluem reviver os mortos e utilizá-los como zumbis assassinos. Os alienígenas revivem os corpos utilizando o que chamam de eletrodos de longa distância disparados nas glândulas pituitária e pineal por suas pistolas de eletrodos (sic).

                                                                 Invasores Invisíveis (Premium Pictures Inc.).

Parece que os alienígenas invasores têm ideias semelhantes, pois em Invasores Invisíveis (Invisible Invaders, 1959) mais uma vez eles querem reviver os mortos. Como diz o título, eles são invisíveis e podem habitar cadáveres humanos, preocupados com os avanços científicos dos terrestres, com a energia nuclear e as viagens espaciais. A ameaça deles é que se os terráqueos não se renderem, eles irão ocupar cadáveres em todo o planeta, e os mortos irão matar toda a população viva do planeta.
John Agar, presença frequente em filmes B de ficção científica da época, é o major Bruce Jay e é quem salva o mundo juntamente com o cientista Dr. Adam Penner (Philip Tonge). Os mortos-vivos saem pelo mundo causando muitos problemas e tomando os corpos dos que vão matando pelo caminho, enquanto Agar e outros se trancam em um abrigo de bombas e descobrem que podem tirar os alienígenas invisíveis dos corpos usando um som de alta frequência.

Invasores Invisíveis.

O filme geralmente recebe críticas negativas, mas acabou se tornando um cult do gênero. Phil Hardy disse que a direção de Edward L. Cahn é, na melhor das hipóteses, rotineira. Já Peter Dendle entendeu que, apesar de ser claramente uma pequena produção, produto de sua época, o filme é envolvente e com bom ritmo, com reviravoltas verdadeiramente inspiradas, ao lado de impossibilidades de tirar o fôlego.
O mais significativo a respeito do filme é que frequentemente ele é visto como um precursor de A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968) e, como disse Dendle, “(...) Esse fóssil da ficção científica dos anos 1950 representa o primeiro genuíno apocalipse zumbi das telas, ainda que, no final das contas, sua importância resida mais em sua influência na trilogia de Romero (especialmente A Noite dos Mortos Vivos) do que em seus méritos intrínsecos”.
A maioria dos críticos e estudiosos da FC e terror concorda que A Noite dos Mortos-Vivos foi um marco no gênero e que, depois dele, os zumbis nunca mais seriam os mesmos. Mas é claro que muitos filmes de zumbis posteriores a Romero – talvez a maioria – não foram tão criativos, repetindo fórmulas antigas, ou apenas sendo mal produzidos e dirigidos.

A seguir, veja mais alguns filmes de zumbis mais ligados à ficção científica, com os seres sendo criados por cientistas ou por acidentes, provocados ou não.

 

NAS GARRAS DO DR. MABUSE (Im Stahlnetz der Dr. Mabuse, 1961)

Direção de Harald Reinl.

(CCC Filmkunst/ Critérion Film/ SpA Cinematografica).

O personagem Dr. Mabuse surgiu no filme Dr. Mabuse, o Jogador (Dr. Mabuse, der Spieler, 1922), dirigido por Fritz Lang. Posteriormente, ele dirigiu mais dois filmes com o personagem: O Testamento do Dr. Mabuse (Das Testament der Dr. Mabuse, 1933) e Os Mil Olhos do Dr. Mabuse (Die Tausend Augen des Dr. Mabuse, 1960).
Esse filme foi produzido pela mesma companhia dos anteriores e apresentado como uma espécie de sequência ao último de Fritz Lang, quando ele recusou dar continuidade ao projeto, e apresenta o demoníaco dr. Mabuse (Wolfgang Preiss) utilizando uma droga desenvolvida pelo professor Julius Sabrehm (Rudolf Foster) e aplicando-a em prisioneiros de forma a torná-los zumbis controlados por transmissões de rádio. Claro que seu plano é formar um exército indestrutível e dominar o planeta.
Phil Hardy diz que o filme é medíocre quando comparado ao brilhantismo dos filmes dirigidos por Fritz Lang, e que Reinl dirige de forma rude, a partir de um roteiro que tem pouco a ver com o vigor dos filmes anteriores.


MONSTROSITY (1963)

Direção de Joseph V. Mascelli e Jack Pollexfen.

(Cinema Venture).

Também conhecido pelo título The Atomic Brain. A senhora Marsh, uma viúva rica e mal-humorada (Marjorie Eaton) une forças com o dr. Frank (Frank Gerstle) para tentar transferir seu cérebro para o corpo de mulheres jovens, em um filme que Peter Dendle disse ser merecidamente infame. As experiências nem sempre são bem sucedidas, mas uma mulher tem um cérebro de gato implantado e um homem um cérebro de cão.
A senhora Marsh não aceita cérebros que não sejam novos porque a deterioração do cérebro impedirá que a pessoa pense corretamente. Segundo Dendle, “(...) esse é o mais antiga relato explícito de que a deterioração do cérebro explica a inteligência diminuída dos zumbis, que mais tarde Romero tornaria canônico”.
 


THE EARTH DIES SCREAMING (1964)

Direção de Terence Fisher.

(Lippert Films).

Esse é um dos filmes que o crítico Peter Dendle diz ser um dos precursores de A Noite dos Mortos-Vivos, de Romero (outros que ele cita são Invasores Invisíveis, Os Pássaros e Mortos Que Matam). E, segundo ele, a habilidade ou desejo dos robôs invasores em ressuscitar cadáveres humanos como escravos é um toque estranho jamais totalmente explicado.

 

 


I EAT YOU SKIN (1964)

Direção de Del Tenney.

(Del Tenney Productions).

O filme foi rodado em 1964, mas só apresentado em 1971, com Del Tenney também produzindo e escrevendo o roteiro. Originalmente, tinha o título Voodoo Blood Bath, mudado para ser apresentado em um programa duplo com Eu Bebo Seu Sangue (I Drink Your Blood). Posteriormente, também recebeu o título Zombie.
William Joyce interpreta o escritor Tom Harris, que é enviado para a Voodoo Island, no Caribe, buscando inspiração para seu novo sucesso literário. Ele encontra uma ilha repleta de rituais e sacrifícios, além do cientista louco Dr. Auguste Biladeau (Robert Stanton), que quer criar um exército de zumbis, sob a direção do administrador local, Charles Bentley (Walter Coy). O cientista utiliza uma substância destilada do veneno de cobras para criar os zumbis.

 


AS AMANTES DO DR. JEKYLL (El Secreto del Dr. Orloff, 1964).

Direção de Jesús Franco.

(Eurocineac/ Leo Films).

Também com os títulos Dr. Orloff’s Monster, Mistresses of Dr. Jekyll, Brides of Dr. Jekyll, Dr. Jekyll’s Mistress. No Brasil, lançado em DVD (Vinny Filmes).
O filme é uma espécie de sequência a O Terrível Dr. Orloff (Gritos en la Noche, 1962), o filme que iniciou a carreira do diretor espanhol Jesús Franco, mas, como disse Phil Hardy, com relação apenas tênue com o primeiro filme.
Marcelo Arroita-Jáuregui interpreta o dr. Conrad Jekyll, um discípulo do dr. Orloff, e desenvolve um meio de controlar as pessoas à distância utilizando ondas de rádio. O cientista utilizou seus conhecimentos para trazer de volta dos mortos Andros (Hugo Blanco), utilizando ondas ultrassônicas, e transformando-o em um zumbi que dá às mulheres colares que têm transmissores ultrassônicos, para que o cientista doidão possa controlá-las e até matá-las.
Peter Dendle diz que o zumbi tem muita força e é imune às balas, exceto quando atingido atrás da cabeça, “(...) e assim, curiosamente, ele antecipa a vulnerabilidade na cabeça dos zumbis de Romero em vários anos”. Dendle também diz que os filmes de Franco geralmente são enfadonhos ou deliberadamente ofensivos, combinando violência e pornografia, e que pelo menos este filme sombrio é apenas enfadonho.
 


THE ASTRO-ZOMBIES (1968)

Direção de Ted V. Mikels.

Tura Satana, Rafael Campos, John Carradine e William Bagdad (Ram Ltd.).

Mais um candidato a pior filme de ficção científica de todos os tempos, e mais uma vez um cientista alucinado, dr. DeMarco (John Carradine), encontrando uma forma de controlar corpos humanos por meio do envio de “ondas de pensamento”. Primeiro, ele consegue limpar o cérebro das pessoas de qualquer emoção; depois, passa a controlá-las, e também substitui partes do corpo por órgãos sintéticos. Quando o filme inicia, ele conseguiu apenas produzir um protótipo, que ele envia para procurar vítimas que forneçam mais partes de corpos para ele construir seus “astro-zombies”. O filme foi feito com apenas 37 mil dólares, e o resultado, é claro, não poderia ser outro.
 


GARDEN OF THE DEAD (1972)

Direção de John Hayes.

(Millenium Productions).

Também conhecido pelo título Tomb of the Undead. Com pequena produção, o filme foi mal recebido pela crítica. Prisioneiros trabalhando com formaldeído em uma prisão são mortos após uma tentativa de fuga, mas retornam à vida após o produto químico entrar em suas covas. E eles renascem como zumbis alucinados matando quem encontram pela frente.
Segundo Peter Dendle, quando ressurgem de suas covas, eles ainda são lentos, mas logo voltam a ter velocidade e agilidade. Não tenho informações corretas sobre isso, mas pode muito bem ser a primeira vez que zumbis rápidos surgiram no cinema. Dendle ainda disse que “Essa produção desmazelada de baixo orçamento antecipa os filmes amadores de zumbis sem sentido e deprimentes do início dos anos 1990 em quase 20 anos”.

 

 


ZUMBI 3 (No Profanar el Sueño de los Muertos, 1974)

Direção de Jorge Grau.

(Star Films S.A./ Flaminia Produzioni Cinematografiche).

Produção conjunta da Espanha e Itália, no Brasil também com os títulos Não Se Deve Profanar o Sono dos Mortos (DVD Versátil) e A Revanche dos Mortos-Vivos II, apesar de não ser nem a segunda parte e muito menos a terceira, como indica o título com o qual foi lançado em VHS (Poderosa). Também com os títulos: The Living Dead At the Manchester Morgue; Don't Open the Window; Breakfast At the Manchester Morgue; Fin de Semana Para los Muertos; Non Si Deve Profanare Il Sonno Dei Morti; Let Sleeping Corpses Lie.
Um aparelho do Departamento de Agricultura é desenvolvido pera controlar uma peste que assola a lavoura, e dispara ondas de radiação ultrassônica; a ideia é que ela afetará sistemas nervosos mais primitivos, fazendo com que os insetos ataquem uns aos outros. Claro que tudo dá errado, e as ondas também afetam bebês e os mortos, que ressurgem de suas covas e começam a atacar as pessoas.
Segundo Peter Dendle, esses zumbis são mais fortes e, certamente, mais inteligentes do que os zumbis de A Noite dos Mortos-Vivos. Eles não gostam de luzes brilhantes e do fogo, mas não parecem sentir qualquer dor ou comportamento emocional, e a única forma de detê-los parece ser queimando-os. O filme também introduziu um estranho ritual, uma vez que os mortos-vivos conseguem reviver outros mortos untando suas pálpebras com sangue.
O filme acabou ganhando o status de cult, mas nem todos os críticos gostaram. Phil Hardy disse que “Ainda que feito com algum humor e uma habilidade para maximizar a eficácia de sequências individuais, a ingenuidade da política do filme torna a narrativa inconsistente”. Já Peter Dendle disse que o filme oferece muitas cenas de muito suspense, com um mínimo de falas embaraçosas ou de material apenas para encher espaço que é característica do gênero. “Uma direção limpa e atuações toleráveis dão ao filme um aspecto muito mais profissional do que muitos bons filmes de zumbis do período”.
 


AS UVAS DA MORTE (Les Raisins de la Mort, 1978)

Direção de Jean Rollin.

(Rush Productions/ Films A.B.C./ Off Production).

A culpa pela criação de zumbis é um pesticida que está sendo usado nas uvas da França, e, logo, no vinho, provocando uma doença que deixa as pessoas violentas. A história segue a personagem Élisabeth (Marie-Georges Pascal), que viaja por uma região do país para encontrar seu amor. Primeiro, ela é atacada em um vagão de trem e, depois de fugir, começa a encontrar mais seres transformados.
Ao contrário de outros filmes do gênero, aqui as pessoas não precisam morrer para serem transformadas. Segundo Phil Hardy, entre as muitas cenas nojentas, também se encontram cenas visualmente elegantes, “(...) como uma lembrança do que Rollin pode realizar”, como em Le Frisson des Vampires (1971), Réquiem Para o Vampiro (Requiem pour un Vampire, 1972) e Lábios de Sangue (Lèvres de Sang, 1975), “(...) mas no todo o filme permanece como uma obra de má qualidade e sangrenta, apesar da feliz ideia de fazer da bebida nacional da França e o principal bem de exportação na fonte da putrefação”.
 


BLOODEATERS (1979)

Direção de Charles McCrann.

(CM Productions).

Também com os títulos Toxic Zombies e Forest of Fear. Mais uma vez produtos químicos são responsáveis pelo surgimento de zumbis. O governo utiliza uma droga experimental e pulveriza plantações de maconha, afetando também as pessoas que cultivavam. Como resultado, elas se tornam mutantes canibais, zumbis assassinos. O filme é considerado simplesmente pavoroso.
 

 

 


ZUMBI HOLOCAUSTO (Zombi Holocaust, 1980)

Direção de Marino Girolami.

(Flora Film/ Fulvia Film/ Gico Cinematografica S.r.l.).

Também com o título Holocausto Zumbi (DVD Versátil), Dr. Butcher MD, Queen of the Cannibals, The Island of the Last Zombie, La Regina dei Cannibali.
Filme fraquíssimo com péssima produção, aproveitando dois temas que invadiram o cinema italiano de terror da época, com canibais e zumbis e, no caso do diretor Girolami, com um histórico de filmes semelhantes considerados racistas.
A história inicia em Nova York, onde começam a surgir partes de corpos e cadáveres mutilados que indicam haver um ritual canibal ocorrendo. Alexandra Delli Colli e Ian McCulloch investigam o caso e vão parar em uma ilha do Pacífico. Lá, além dos canibais de plantão, encontram o dr. Abrero (Donald O’Brien), que faz experiências médicas com corpos humanos, e acaba criando zumbis.
 


OS PREDADORES DA NOITE (Inferno dei Morti Viventi, 1981)

Direção de Bruno Mattei e Claudio Fragasso.

Margie Newton (Beatrice Film/ Films Dara).

Também com os títulos Virus, Zombie Creeping Flesh, Apocalipsis Canibal, Cannibal Virus, Virus – L’Inferno dei Morti Viventi, Hell of the Living Dead, Virus Cannibale. Mais uma produção italiana típica da época, aqui em coprodução com a Espanha (no Brasil, em DVD da Versátil), e mais um filme péssimo. Uma experiência é realizada na Nova Guiné, um projeto que visava resolver o problema da fome e superpopulação, mas que acaba fazendo com que os mortos voltem à vida e ataquem as pessoas. Uma equipe de especialistas é enviada para tentar solucionar o problema e entra em choque com os zumbis.
 


RE-ANIMATOR – A HORA DOS MORTOS VIVOS (Re-Animator, 1985)

Direção de Stuart Gordon.

Jeffrey Combs (Empire Pictures).

A estreia do diretor Stuart Gordon no cinema, trabalhando nos gêneros terror e ficção científica que iriam marcar sua carreira, geralmente com filmes inferiores a este, com a possível exceção de Do Além (From Beyond, 1986), seu segundo filme.
Re-Animator foi baseado no conto Herbert West: Reanimator (1921), de H.P. Lovecraft, e tornou-se um dos mais interessantes filmes do gênero em sua época, unindo sustos a um humor extremamente mórbido e eficaz. O diretor também disse que estava apresentando o que chamou de “a nova geração de zumbis”, esquecendo aqueles seres lentos e desajeitados e mostrando-os como extremamente ágeis e espertos.

Jeffrey Combs e David Gale, com a cabeça separada do corpo e muito ativa.

Jeffrey Combs interpreta Herbert West, que realiza experimentos na Universidade Miskatonic, um nome tirado de Lovecraft, para reviver corpos mortos, e com sucesso, ainda que os corpos revividos tenham se tornado zumbis um tanto violentos. Ele é ajudado pelo colega estudante Dan Cain (Bruce Abbott), mas eventualmente o Dr. Carl Hill (David Gale) tenta roubar sua fórmula e ficar com os louros da descoberta.
Peter Dendle disse que “(...) o filme permanece visceral e, apesar disso, engraçado, tem uma direção firme e uma trilha sonora repleta de suspense, e tem sucesso em criar uma sensação de depravação efervescente, ligeiramente escondida debaixo de uma camada de profissionalismo clínico”.

Uma das cenas mais marcantes do terror dos anos 1980, com Barbara Crampton prestes a ser lambida pela cabeça do cientista louco.

E, claro, tem a sensacional invenção do filme – além dos zumbis rapidíssimos – que é a cabeça decepada do dr. Hill, ainda consciente, sendo segurada por seu corpo também reanimado, lambendo o corpo nu de Megan (Barbara Crampton), no que Peter Dendle chamou de “(...) um dos mais ousados momentos do terror dos anos 1980”.
Claro que nem todos os críticos foram muito simpáticos com o filme. Peter Nicholls disse que o filme apresenta um tipo de humor colegial segundo o qual é engraçado ser nojento, e que abriu novas perspectivas em filmes de mau gosto, ajudando a introduzir a tendência humorística que dominou o cinema de terror no final dos anos 1980.
Duas sequências foram produzidas, ambas com Jeffrey Combs repetindo seu papel como Herbert West. A primeira foi A Noiva do Re-Animator (Bride of Re-Animator, 1990), com direção de Brian Yuzna, que tem mais a ver com Frankenstein, já que o dr. West percebe que pode reanimar partes de corpos, decidindo então criar uma pessoa usando partes de corpos distintos. Mais zumbis são criados, em um filme que sequer se aproxima do original, com personagens fracos, situações forçadas, cenas mal elaboradas e um roteiro fraquíssimo. E o pior, sem o senso de humor do original.
A segunda sequência foi Re-Animator: Fase Terminal (Beyond Re-Animator, 2003), dirigido por Rob Cohen e Brian Yuzna. Aqui, West está cumprindo pena na prisão, mas continua com seus experimentos, e descobre uma forma de reviver os mortos mantendo suas funções motoras anteriores, assim como suas memórias.
 


SINAL DE PERIGO (Warning Sign, 1985)

Direção de Hal Barwood.

(SLM Production Group/ Twentieth Century Fox).

Cientistas estão desenvolvendo um projeto secreto visando a guerra bacteriológica quando ocorre um vazamento, contaminando os que estão no laboratório. Ele é selado automaticamente e uma equipe do governo é acionada para não deixar a informação vazar. Enquanto isso, lá dentro, as pessoas afetadas têm seu sistema nervoso alterado e se transformam em zumbis violentíssimos.
Trata-se de uma produção capenga, mas não dá para deixar de ver relação com a história básica de Resident Evil – que é bem melhor.
 


A VOLTA DOS MORTOS-VIVOS (The Return of the Living Dead, 1985)

Direção de Dan O’Bannon.

(Cinema 84/ Fox Films/ Hemdale).

Quando Dan O’Bannon dirigiu o filme ele já era mais conhecido como o roteirista de Dark Star (Dark Star, 1974), Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) e de Heavy Metal – Universo em Fantasia (Heavy Metal, 1981), a excelente animação baseada em histórias da revista americana com o mesmo título. Mas aqui ele conseguiu realizar um dos filmes de zumbis mais populares de todos os tempos, misturando muito humor negro com ação.
A base foi uma história de John A. Russo, o coautor do roteiro de A Noite dos Mortos Vivos com George Romero. Dan O’Bannon reescreveu a história com o objetivo de se diferenciar dos filmes de Romero, ainda que mantendo uma ligação com o original.
Um fornecedor de equipamentos médicos, Frank (James Karen), diz ao seu novo empregado Freddy (Thom Mathews) que a história por trás do filme A Noite dos Mortos-Vivos é verdadeira e que recipientes do exército contendo os zumbis infectados tinham sido enviados a ele por engano. Os dois idiotas abrem um dos recipientes, liberando o gás 245-Trioxin, que se espalha e contamina os mortos de um cemitério próximo, fazendo com que renasçam com fome de cérebros humanos. Os dois e mais alguns conhecidos armam barricadas na casa funerária, enquanto os mortos avançam com força. Quando os militares percebem o que está acontecendo, eles simplesmente soltam uma bomba nuclear acabando com toda a cidade.
São zumbis diferentes daqueles mais antigos, conseguindo movimentar-se mais rapidamente, e com alguma inteligência, sendo capazes de responder perguntas; uma zumbi cortada pelo meio diz aos personagens que ela tem desejo por cérebros porque comê-los faz parar a dor de estar morta. Peter Dendle diz que essa ideia dos zumbis comerem cérebros tornou-se algo comum no gênero após esse filme, assim como a introdução do conceito de que eles não podem ser mortos apenas destruindo seus cérebros.
O filme rendeu mais quatro sequências. Em A Volta dos Mortos Vivos – Parte II (Return of the Living Dead: Part II, 1987), com direção de Ken Wiederhorn, mais uma vez os cilindros com corpos dos mortos-vivos caem de um caminhão do exército e vão parar perto de um cemitério, com os mortos renascendo e matando muitas pessoas em uma pequena cidade. Em A Volta dos Mortos Vivos 3 (Return of the Living Dead Part III, 1993), dirigido por Brian Yuzna, os militares continuam realizando experiências com o gás em um laboratório secreto, e o filho de um dos responsáveis entra no local para ressuscitar a namorada morta, e ela acaba espalhando a praga dos zumbis. Em A Volta dos Mortos Vivos: Necropolis (Return of the Living Dead: Necropolis, 2005), um grupo de adolescentes tenta resgatar um amigo de uma corporação que estava fazendo experiências e acaba soltando uma horda de zumbis. O último é A Volta dos Mortos Vivos – Rave (Return of the Living Dead: Rave to the Grave, 2005), dirigido por Ellory Elkayem, no qual estudantes descobrem que a droga Tryoxin utilizada nas experiências anteriores também pode ser usada como uma droga recreativa chamada Z. Mas é claro que quem usa acaba virando zumbi.
Todos os filmes subsequentes são muito inferiores ao original, e os dois últimos são patéticos.

 

AQUI CAIU UM ZUMBI (Chopper Chicks in Zombietown, 1989)

Direção de Dan Hoskins.

(Troma Entertainment/ Chelsea Partners).

Também com o título Chrome Hearts. Uma produção da Troma, que se especializou em fazer filmes muito ruins, de propósito ou não, e que despertaram a atenção de alguns fãs. Apresenta um grupo de motoqueiras, as Cycle Sluts, que chega à pequena cidade de Zariah, onde um coveiro está revivendo os mortos por meio de um implante de bateria na cabeça, fazendo com que eles cavem à procura de substâncias radioativas em uma mina. As mulheres ajudam a combater os zumbis. Uma curiosidade é a presença de Billy Bob Thornton no elenco, ainda em início de carreira.
No Brasil, lançado em VHS (Globo Video).