Necronomicon e Outros Livros malditos
O livro Necronomicon foi inventado pelo escritor H.P. Lovecraft, mas ainda hoje existem pesquisadores que insistem que a obra realmente existiu.
Gilberto Schoereder
É bem pouco provável que, ao criar o livro Necronomicon, o escritor de terror H.P. Lovecraft (1890-1937) tivesse imaginado o impacto que iria causar no meio esotérico e místico. As discussões a respeito da existência real ou imaginária do livro se estendem até hoje.
Alguns juram que o Necronomicon realmente existiu, ou existe, e que Lovecraft obteve informações sobre o livro e transferiu para suas histórias. Outros, no entanto, garantem que ele jamais existiu de fato, sendo inteiramente criação da mente do escritor.
Lovecraft ficou famoso não apenas por essa criação, mas também por inventar outros livros tidos como "malditos", geralmente relacionados com os seres das estrelas, alienígenas que estiveram na Terra milhões de anos atrás, realizando experiências genéticas, criando raças de escravos e instalando suas cidades amaldiçoadas em várias partes do planeta.
Algumas pessoas dizem que o Necronomicon é um livro de magia, um grimório, mas na verdade ele foi concebido como um livro que traz os conhecimentos desses seres ancestrais, assim como a história de sua passagem por nosso planeta e fórmulas para se acessar dimensões paralelas nas quais eles continuariam existindo. A simples leitura seria capaz de levar uma pessoa à loucura; e, quando isso não acontecesse, o contato com os conhecimentos secretos inevitavelmente subverteriam a mente humana de tal maneira que a pessoa estaria condenada para toda a eternidade.
Segundo é dito nos livros de Lovecraft, o Necronomicon foi escrito – ou mais propriamente, compilado – pelo árabe demente, Abdul al-Hazred, e pode ser considerado um guia para tudo o que esses deuses do mal alienígenas eram capazes de fazer ou fizeram em nosso planeta.
Os defensores da noção de que o Necronomicon é um livro real, citam uma longa trajetória até ele chegar ao conhecimento de Lovecraft. Até onde se sabe, o livro foi citado pela primeira vez na história O Sabujo (The Hound, 1922), mas o nome do suposto autor, Abdul al-Hazred, foi mencionado em 1921, no conto A Cidade Sem Nome (The Nameless City).
Diz-se que o título original do livro em árabe era Al Azif, que é uma referência ao som provocado por insetos noturnos, que se acredita ser o uivo de demônios. O autor teria vivido em Damasco, onde o livro foi escrito, em 730. No ano 738, ele foi tomado por um monstro invisível, que o devorou em público.
O livro foi traduzido para o grego por Theodorus Philetas, de Constantinopla, que lhe deu o título Necronomicon. Depois, Olaus Wormius teria feito uma tradução para o latim, em 1228, mas algumas fontes dizem que Wormius era secretário de Tomás de Torquemada, que viveu de 1420 a 1498, de modo que a tradução teria sido feita, então, em 1487. Wormius teria obtido uma cópia do Necronomicon durante a perseguição aos mouros da Espanha. Ele teria enviado uma cópia a Johannes Trithemius (1462-1516), mas posteriormente todas as cópias foram queimadas juntamente com Wormius; alguns dizem que cópias foram salvas, provavelmente na Biblioteca do Vaticano. Outros dizem que, já em 1232, o papa Gregório IX teria banido as versões em latim e grego.
Diz-se ainda que o enigmático John Dee (1527-1608) teria traduzido o texto para o inglês, mas hoje só existiriam fragmentos dessa versão. Os pesquisadores do tema insistem em afirmar que uma tradução do século 15, em latim, pode ser encontrada no Museu Britânico; que traduções do século 17 estariam na Biblioteca Nacional de Paris, na Widener Library, em Harvard, na Universidade de Buenos Aires, e na Miskatonic University, em Arkham. Esta última, na verdade, também é uma invenção de Lovecraft. Diz-se que a edição latina tem sete volumes e mais de 900 páginas.
Pesquisadores acreditam que, ao contrário do que Lovecraft escreveu, a tradução de John Dee jamais foi impressa, mas o manuscrito passou para a coleção do colecionador Elias Ashmole, e daí para a Bodleian Library, em Oxford.
Aleisteir Crowley, que teria conhecido a obra, entendeu que se tratava de uma primeira tentativa, mal-sucedida, de transmissão do Thelemic Book of the Law por parte de uma entidade extra-humana. Em 1918, Crowley teria encontrado a modista Sonia Greene, em Nova York, com quem teve um relacionamento. Em 1921, Sonia encontrou Lovecraft e, no mesmo ano, o escritor publicou o primeiro texto em que Abdul al-Hazred é citado. Em 1924, ele se casou com Sonia. Assim, entende-se que Crowley contou a história do livro para Sonia, que contou para Lovecraft, que o utilizou em suas histórias, com alguns acréscimos como o nome dos seres malditos Yog-Sothoth, Azathoth ou Nyarlathotep.
O livro não pode ser encontrado hoje em dia porque, dizem, as cópias desapareceram por volta de 1933-38, mas alguém no governo nazista de Hitler se interessou pelo livro e obteve alguns exemplares. A suposta tradução de John Dee teria desaparecido da Bodleian Library em 1934. Também a edição atribuída a Wormius teria desaparecido do Museu Britânico, e foi retirado do catálogo. Outras bibliotecas também perderam seus exemplares.
A versão oposta é bem mais simples, entendendo que a história em torno do Necronomicon é apenas uma invenção, ainda que muito bem urdida. As pessoas que, ao longo dos anos, tentaram dar credibilidade à existência real do livro, ou estavam mal intencionadas, ou simplesmente acreditaram na ficção elaborada por Lovecraft de tal forma que embarcaram numa pesquisa sem sentido. Assim, o encontro de Sonia Greene com Aleister Crowley, ainda que pudesse ter ocorrido, não aconteceu. O nome Abdul al-Hazred foi inventado por Lovecraft – como ele mesmo disse em suas cartas – ainda quando ele era criança, devido ao seu interesse pelos contos das 1001 Noites.
Em outras palavras, o Necronomicon é uma das maiores criações da literatura de terror. Mais recentemente, vários artistas criaram versões do livro, como Philippe Druillet e H.R. Giger, baseadas nas histórias do escritor e em sua própria imaginação. A primeira versão surgiu, muito provavelmente, nos anos 1970, nos EUA, elaborada por Peter Levenda, que assumiu o pseudônimo de Simon; reunia elementos de vários textos e mitos da Suméria e Babilônia, recheados com os nomes inventados por Lovecraft. A pesquisa para o texto, ao que se sabe, foi realizada na biblioteca de Universidade da Pensilvânia. A primeira edição teve apenas 666 cópias.
E essa é a história.
Muitos Livros
Além dos livros inventados pelo próprio Lovecraft, outros escritores seguiram pelo mesmo caminho, criando livros assustadores, relacionados com os seres malditos das estrelas. Alguns desses livros são:
O Livro de Eibon ou Liber Ivonis. Inventado por Clark Ashton Smith, um dos escritores prediletos de Lovecraft, e citado por ele em algumas histórias.
Culte des Goules, do Conde d’Erlette. Inventado por Lovecraft e baseado no nome de August Derleth, outro autor muito chegado a HPL.
De Vermis Mysteriis, de Ludwig Prinn. Criado por Robert Bloch, um seguidor e admirador de Lovecraft. O livro é citado em poucas histórias, e também foi utilizado por Stephen King.
Manuscritos Pnacóticos. Criação de Lovecraft, surge em inúmeros contos. Ele não falou muito sobre o conteúdo do livro, mas supostamente teria sido escrito antes dos seres humanos surgirem na Terra.
Os Sete Livros Crípticos de Hsan. Criação de Lovecraft.
Livros que realmente existem também foram citados: O Livro de Dzyan; A História da Atlântida e da Perdida Lemúria (de W. Scott-Elliot); O Livro de Thoth; O Ramo Dourado (de Sir James George Frazer); Poligraphia (de Johannes Trithemius); Thesaurus Chemicus (de Roger Bacon); o Zohar; e dezenas de outros.