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AS ORIGENS E A QUEDA

ESPECIAIS/VE DEMÔNIOS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data13/06/2017
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A história da humanidade, em particular a que se refere às religiões, é marcada por uma série de erros de interpretação e erros de tradução que originaram uma infinidade de lendas e mitos.
O conceito da existência de Satã, ou Lúcifer, é apenas mais um capítulo nesse livro que vem sendo escrito há milhares de anos. A confusão é extrema e ficou no ambiente dos estudiosos das religiões e especialistas em traduções. Por exemplo, muitos dizem que Satã é citado pela primeira vez no Antigo Testamento, assim como Lúcifer, apresentado como o “astro brilhante”, ou ainda como o “portador da luz”. No entanto, entende-se que o “astro brilhante” citado em Isaías 14:12 se referia ao rei da Babilônia, e não a um “anjo caído”.
Ao que tudo indica, Lúcifer ganhou o status definitivo de principal diabo na versão do Rei James da Bíblia, completada em 1611. O diabão já havia aparecido em A Divina Comédia (1320), de Dante Alighieri, e ainda surgiria na peça Lucifer (1654), de Joost van den Vondel, e em Paraíso Perdido (1667), de John Milton, tornando-se ainda mais popular.
Por outro lado, dando continuidade à confusão, alguns historiadores entendem que a ideia da “estrela caída” tem paralelo com a mitologia cananeia; assim, estaríamos falando de um conceito que remontaria a cerca de 3 mil a.C.
Hoje em dia, Lúcifer e Satã, ou Satanás, geralmente são vistos como a mesma coisa, ou o mesmo ser. Mas a tradução para Satã é diferente. Os tradutores afirmam que o termo hebreu “satã” é um substantivo originado de um verbo que significa “obstruir” ou “opor”. Assim, Satã é apresentado na Bíblia como o Adversário, ou o Diabo, como ficou conhecido.
Com o passar do tempo, surgiram vários diabos, atuando em conjunto com o Capetão ou como enviados para missões específicas. Muitos dos nomes pelos quais esses diabos ficaram conhecidos foram derivados dos nomes de antigas divindades que, com o avanço das religiões monoteístas, passaram a ser identificadas com algo ruim, maligno.

Brian Stableford, escrevendo no verbete sobre Satã para The Encyclopedia of Fantasy (1999), lembra que a Igreja passou a se preocupar cada vez mais com a figura do diabo, de Satã, o que originou o período terrível da Santa Inquisição e, certamente, essa preocupação teve como efeito tornar ainda mais popular a figura do diabo e do Mal em geral, fortificando a posição da Igreja como a única capaz de combater esse Adversário.

Exemplo do deus com chifres, do Caldeirão Gundestrup, de origem celta, com o deus Cernunnos.

Mais que isso, a Igreja deu uma cara para o diabo, aproveitando a imagem do “deus cornífero” (horned god), ligado aos cultos pagãos da Europa. Na verdade, o termo é incorreto, uma vez que existiam vários cultos pagãos a deuses ou semideuses com chifres. Com o objetivo de expandir suas crenças, nada mais natural que a Igreja relacionasse essas imagens ao próprio Mal, a Satã, que passou a ser conhecido por sua representação clássica, com chifres, patas de bode – como era representado o deus Pã – e um rabo.
Stableford lembra que, na literatura de terror, Satã foi apresentado como um adversário implícito ou explícito, “ainda que normalmente permaneça como uma figura um tanto vaga”. Ele também ressalta a literatura que apresentava Satã como uma figura um tanto diferente, não necessariamente um Adversário. Por exemplo, ele cita a visão do poeta Percy Bysshe Shelley, para quem, em Paraíso Perdido, Satã não era um vilão, mas um rebelde heroico lutando contra a tirania. Stableford cita ainda o livro A Rebelião dos Anjos (Le Révolte des Anges, 1914. Axis Mundi), de Anatole France, no qual Satã está vivendo tranquilamente como jardineiro e se recusa a liderar um novo exército e nova batalha contra Deus, entendendo que “a luta contra a tirania do absolutismo moral deve ser realizada nos corações e mentes dos homens mais do que no campo de batalha”.

Paraíso Perdido de John Milton parece ter sido a maior influência literária para estabelecer o conceito de Satã como o representante do Mal, assim como a ideia da guerra dos anjos revoltados contra Deus, e a consequente queda – segundo alguns pontos de vista, a queda para o Inferno; segundo outros, para a Terra. A obra de Milton, segundo se diz, foi influenciada pelas peças Lucifer e Adam in Exile From Eden (1664), de Joost van den Vondel, mas certamente foi a obra de Milton que se tornou mais popular e ajudou a concretizar a imagem do diabo e da queda.
O capeta já havia aparecido em obras anteriores, como A História Trágica do Doutor Fausto (The Tragical History of Dr. Faustus, 1592), de Christopher Marlowe, que se acredita ter sido baseado num folheto publicado na Alemanha em 1587 (Veja a matéria "Pacto com o diabo").

 

 

O diabo teceu suas obras em Vathek, O Califa Maldito (Vathek, 1787), de William Beckford, dessa vez como Eblis (ou Iblis), o demônio-chefe citado no Islamismo. O livro foi escrito originalmente em francês, apesar de Beckford ser inglês. Segundo Mike Ashley (em The Encyclopedia of Fantasy), o livro utiliza os cenários que se tornaram populares com As Mil e Uma Noites, e incute nesse ambiente uma atmosfera de fantasia gótica.
Ashley ainda diz que o livro serviu para consolidar a reputação que William Beckford já tinha devido às suas preferências sexuais, apresentando-o como um homem ligado ao demônio. Segundo se diz, Beckford era bissexual e se autoexilou da sociedade britânica após um escândalo envolvendo um possível caso sexual com uma criança. Nada foi provado, mas a fama permaneceu.
Seja como for, o livro foi admirado por muitos autores de fantasia e terror, entre eles Edgar Allan Poe, H.P. Lovecraft, Clark Ashton Smith e Jorge Luis Borges.
Com relação aos cenários das fantasias orientais, Lovecraft (em O Horror Sobrenatural na Literatura) diz que Beckford, “(...) versado no romance oriental, captou a atmosfera com rara sensibilidade; e em seu volume fantástico refletiu com grande força a ostentosa suntuosidade, a lábia sonsa, a blandiciosa malícia, a traição cortês e o lúgubre horror espectral do espírito sarraceno. O tempero do ridículo raramente compromete o impacto do tema sinistro, e a narrativa progride com uma pompa de fantasmagoria em que o riso é o de esqueletos a banquetear-se sob domos arabescos”.

O capeta também surge em O Monge (The Monk: A Romance, 1796. Pedra Azul Editora), de Matthew Gregory Lewis. Primeiro, na figura de uma mulher, Matilda, enviada – ou, segundo alguns críticos, construída – por Satã, para levar o monge Ambrosio à perdição; depois, o diabão aparece pessoalmente, para um último encontro com Ambrosio. A mulher, Matilda, primeiro se disfarça de noviço, depois seduz o monge e, por meio de truques e magias fornecidas por Satã, faz com que ele violente sua própria irmã e mate sua mãe, ainda que no momento ele não sabia quem elas eram. Depois de ser descoberto e torturado pela Inquisição, Ambrosio pede a ajuda do demônio para ser libertado da prisão e escapar à morte. Mas é claro que qualquer ajuda do diabo nunca é o que se espera.
Escrevendo sobre o livro em Horror: 100 Best Books (1988), o escritor Les Daniels ainda lembra que a história tem os enredos paralelos essenciais a qualquer novela gótica, além do surgimento do Judeu Errante e de um fantasma conhecido como A Freira Sangrenta. Mais do que isso, Daniels diz que, por ter ido além dos “horrores educados” de Ann Radcliffe e Horace Walpole, Lewis conquistou a admiração de personagens como Byron e de Sade. Daniels entende que O Monge pode ser considerado a primeira história de terror moderna em inglês. Os dois autores que ele citou, Radcliffe e Walpole, ainda que tenham sido pioneiros do conto gótico, contavam histórias que tendiam a ser “angustiantemente educadas e moralistas”. Les Daniels diz que “Isso não era suficiente para Matthew Gregory Lewis que, ainda um pouco mais do que um garoto, produziu um trabalho que era escandaloso, ofensivo e ultrajante, e que ainda mostra seu poder de apavorar. Uma história convencional da literatura inglesa declara que ele mostra ‘a pervertida luxúria de um sádico’. Pode haver recomendação maior?”
O Monge, diz Daniels, “despreza as convenções: seus capítulos incluem bebês mortos, freiras mutiladas, mães assassinadas, virgens defloradas e sacerdotes loucos por sexo”. E ele fez isso muitos anos antes que esse tipo de material começasse a ser utilizado pelos artistas do século 20 como mostra de sua emancipação. O personagem Ambrosio, diz Daniels, fala de modo constrangedor a leitores séculos depois. É um personagem Faustiano, mas “ele não representa o desejo por poder, ou o desejo por dinheiro, e nem mesmo o desejo por conhecimento. O que ele mostra, de forma embaraçosa, mas importante, é o desejo pelo desejo. Ele é o antepassado de uma lista de vilões lascivos, de Drácula a Norman Bates e Freddy Krueger”.

                                                                                                                                                                   (Dover Publications)

“Apesar de sua linguagem pretensiosa e suas coincidências forçadas”, continua Daniels, “O Monge é um trabalho revolucionário. Ele desafia a sociedade polida e também desafia os limites de seu gênero. O diabo, nessa história, não é exterior, um mal exterior que precisa ser subjugado pelo representante da civilidade e bom gosto. Mais exatamente, o mal está dentro do protagonista e não existe qualquer materialização benigna de virtude para ficar em seu caminho. (...) Não é melodrama, mas tragédia, e como tal ele envergonha muitos dos contos de terror populares do século 20, cujo único impulso é reforçar o status quo”.
H.P. Lovecraft não foi tão condescendente com a linguagem utilizada por Matthew Gregory Lewis em O Monge. Segundo ele escreveu no ensaio O Horror Sobrenatural na Literatura (Supernatural Horror in Literature, 1927), “(...) em seu todo O Monge é uma leitura terrivelmente enfadonha. É por demais longo e disperso, e grande parte de sua força se perde pela irreverência e pelo exagero grosseiro da reação contra os padrões do bom-tom, que Lewis a princípio desprezava como falso moralismo”.
Mas Lovecraft também reconhece que, com o autor, o terror atingiu um novo nível, “um novo grau de virulência”. Ele diz que Lewis, “(...) educado na Alemanha e imbuído de uma massa barbaresca de mitologia teutônica desconhecida de Mrs. Radcliffe, dedicou-se ao terror em formas muito mais brutais do que a sua gentil predecessora jamais se atrevera sequer a imaginar; e assim se produziu uma obra-prima de pesadelo vivo em que o cunho geral gótico é exacerbado por doses adicionais de diabolismo”.
Um dos aspectos a favor do livro, destacado por Lovecraft, é o fato de que “(...) Lewis nunca deitou a perder as suas visões dantescas com explicações naturais, Teve o mérito de romper a tradição radcliffiana e alargar o campo do romance gótico”.

 

O Monge, na versão de 1972, com Franco Nero (Tritone Cinematografica/ Maya Films/ Comacico).

O romance gerou pelo menos três adaptações conhecidas para o cinema. A primeira surgiu em 1972, uma produção conjunta da França, Itália e da então Alemanha Ocidental, com direção do grego Ado Kyrou. Segundo informações, o famoso cineasta Luis Buñuel tentou filmar a história nos anos 1960, mas não conseguiu financiamento. Assim, Kyrou recuperou o roteiro que Buñuel tinha preparado e rodou a história, com Franco Nero interpretando o monge Ambrosio, e Nathalie Delon como Mathilde, ou Matilda. No entanto, o filme não fez muito sucesso.
A segunda adaptação surgiu bem mais tarde, em 1990, O Monge (The Monk), com direção de Francisco Lara Polop, uma produção anglo-espanhola com Paul McGann no papel principal, dessa vez com o nome do personagem trocado para Padre Lorenzo Rojas, e Sophie Ward como Matilde.
Outra versão, O Monge (The Monk), surgiu em 2011, com direção de Dominik Moll em produção franco-espanhola. Vincent Cassel interpreta Ambrosio, e Déborah François interpreta Matilda, inicialmente apresentando-se ao monge como Valerio. O filme até que teve uma boa recepção, mas certamente a grande adaptação do clássico ainda está por surgir.

O Monge, na filmagem de 2011 (Diaphana Films).

Outra obra frequentemente citada como grande influência na literatura do gênero é Memórias e Confissões Íntimas de um Pecador Justificado (The Private Memoirs and Confessions of a Justified Sinner, 1824), de James Hogg. No Brasil, foi lançado há muito pela extinta Bruguera, e em Portugal ainda circula em edição da Editora Sistema Solar, com o título ligeiramente alterado de Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado.
Um dos destaques do livro é sua estrutura complexa que consiste em apresentar a história contada duas vezes; uma, por um suposto editor, que comenta os eventos; outra, pelo próprio “pecador”, Robert Wringhim. A história começa na Escócia do século 17, com o personagem George Colwan, um nobre que passa a ser sistematicamente perseguido por seu meio-irmão, Robert, que finalmente o mata e se torna o senhor das terras do irmão. Só que Robert acaba se enforcando.
Cem anos depois, seu corpo é encontrado, ainda estranhamente preservado, e junto dele uma confissão. Wringhim tem uma estranha crença: a de que sua salvação está predestinada e, assim, ele tem o direito de cometer qualquer tipo de atrocidade e sair impune.
Ele também tem uma companhia constante, uma espécie de duplo, ou doppelgänger, chamado Gil-Martin, e que pode ser o próprio Diabo. Esse ser também tem a capacidade de alterar sua aparência da forma que desejar.
Em Horror; 100 Best Books, os editores (Stephen Jones e Kim Newman) dizem que o livro influenciou muitos autores, entre eles Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson. No mesmo livro, comentando a obra de James Hogg, o escritor Garry Kilworth entende que o personagem Gil-Martin é “a personificação do lado diabólico de sua própria natureza. Fratricídio, matricídio e homicídios simples e comuns são racionalizados por Gil-Martin e aceitos por Wringhim como trabalhos bons e necessários, realizados em nome do Senhor”.
Em seu comentário, Kilworth levanta um aspecto interessante, não apenas desta, mas de todas as histórias envolvendo a figura do demônio. “Um dos efeitos da ficção de horror”, ele escreve, “é dar ao Diabo um rosto e um nome, mas ainda manter a credibilidade do personagem. Isso é algo difícil de fazer sem criar um monstro que pareça ridículo. O Diabo pode ser absurdo e grotesco, mas ele não pode parecer tolo ou provocar risos. Com Gil-Martin, Hogg consegue infundir medo sem a perda da personalidade demoníaca. Como muitas novelas de horror gótico com uma base psicológica, esta submerge o leitor num poço escuro de caos, onde é difícil separar a razão da insanidade, e as reversões de bem e mal são sustentadas por argumentos persuasivos”.

Memoirs of a Sinner (Zespol Filmowy "Rondo").

Até onde consegui saber, foi feita apenas uma adaptação para o cinema, em 1986, numa produção polonesa dirigida por Wojciech Has – o mesmo diretor do estranhíssimo Sanatorium pod klepsydra (que alguns críticos dizem ser uma fantasia, e outros, ficção científica). O filme é conhecido pelo título Memoirs of a Sinner, mas o título original é Osobisty pamietnik grzesznika przez niego samego spisany.

 

As origens, no cinema

L'Inferno (Milano Film/ SAFFI-Comerio).

O Diabo apareceu pouco, diretamente, nos primórdios do cinema. São conhecidas duas adaptações do Inferno de Dante Alighieri, a primeira vinda da Itália, em 1911, com o título L’Inferno. A direção é de Francesco Bertolini, Adolfo Padovan e Giuseppe de Liguoro. O filme tem mais de uma hora de duração e, segundo se diz, além de ser baseado em A Divina Comédia, também foi inspirado pelas ilustrações de Gustave Doré. Mais recentemente, o filme foi restaurado e reapresentado com trilha sonora do grupo alemão Tangerine Dream.
O filme pode ser visto aqui.

 


Outra versão apareceu em 1924, Dante’s Inferno, produção da Fox com direção de Henry Otto. As informações sobre a história são discordantes. Apresenta um homem de negócios avarento e sem escrúpulos, cujos negócios provocam a falência de um amigo, que resolve se suicidar. Aí, algumas fontes dizem que o homem é acusado e condenado à cadeira elétrica; após sua morte, os demônios levam sua alma às profundezas, onde ele percebe a realidade do Inferno. Então, ele acorda, percebendo que teve um pesadelo, e resolve remediar os males que causou.

Dante's Inferno (Fox Film Corporation).

Outra fonte diz que o homem que ele levou à falência lhe dá uma cópia de A Divina Comédia, juntamente com uma maldição. Quando ele lê o livro, um demônio o visita e faz com que tenha uma visão do Inferno.

Dante's Inferno.

O filme também ficou conhecido pela quantidade de cenas com pessoas nuas, incomum para a época, e muitas delas foram censuradas em alguns locais de exibição.
Aparentemente, originalmente o filme tinha cerca de 91 minutos de duração, mas dois rolos foram perdidos.

                                                              A Nave de Satã (Fox Film Corporation).

Em 1935 surgiu uma adaptação, A Nave de Satã (Dante’s Inferno), também produzido pela Fox Film, com direção de Harry Lachman, e com Spencer Tracy no elenco.
A história em si não tem nada a ver com A Divina Comédia, mas o filme ficou marcado por uma sequência de oito ou dez minutos mostrando o Inferno. A ação está centrada num parque de diversões que mostra cenas do Inferno, de Dante. A cena em questão surge durante o delírio do personagem interpretado por Tracy, com cenários gigantescos, muitos efeitos especiais e pessoas nuas. Algumas fontes afirmam que algumas cenas foram reaproveitadas do filme da Fox, de 1924, enquanto outras não veem semelhança entre as cenas dos dois filmes.

A visão do inferno, em A Nave de Satã.

 

Páginas do Livro de Satã (Nordisk Film).

Bastante comentado foi o filme do dinamarquês Carl Theodor Dreyer, Páginas do Livro de Satã (Blade af Satans Bog, 1920), apresentado no Brasil em 1991, em mostra dedicada especialmente ao diretor, tido como um dos maiores da história do cinema.
Provavelmente inspirado pelo clássico Intolerância (Intolerance, 1916), de D.W. Griffith, Dreyer contou com a produção inspirada da Nordisk, companhia de cinema dinamarquesa que tinha uma visão bem aberta e artística de como os filmes deveriam e poderiam ser feitos.
Assim, Dreyer dividiu a história em quatro partes. A primeira é situada na época de Jesus, mais especificamente, a tentação de Jesus; a segunda, durante a Inquisição; a terceira, na Revolução Francesa; e a última durante a guerra russo-finlandesa em 1918. Em todos esses momentos históricos, Satã tenta os humanos, sabendo que para cada alma que ele conquistar, aumentará seu tempo de punição por Deus, assim como cada alma que resistir às suas tentações, diminuirá seu tempo de punição.

Em 1922, foi a vez da produção sueca Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos (Häxan), dirigido pelo dinamarquês Benjamin Christensen (no Brasil, lançado em DVD pela Magnus Opus).

O diabo, em Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos (Svensk Filmindustri).

Hoje em dia, o filme parece bem suave, com efeitos pueris, mas teve um imenso impacto na época. O diretor passou alguns anos pesquisando a história da feitiçaria na Europa, e compôs seu filme em formato de documentário, porém com a encenação dos supostos contatos das feiticeiras com o Diabo – interpretado pelo próprio Christensen – além das terríveis torturas elaboradas pela Inquisição para punir as “bruxas”. Ele também atualiza as antigas crenças e superstições a partir dos conhecimentos psicológicos da época, mostrando como muitas doenças mentais eram erroneamente interpretadas.
O filme chegou a ser proibido em muitos países, como os Estados Unidos, devido às cenas de nudez e torturas apresentadas.

Links para outras matérias:

Um inferno para cada um
Lúcifer
Em busca da gnose
A teoria gnóstica da intromissão alienígena

Links para ensaios:


O bem e o mal na literatura e no cinema
O mal e o terror absolutos