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COLOCANDO A LEITURA EM DIA: AMIGO IMAGINÁRIO

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/02/2021
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Um livro de terror com ação de proporções apocalípticas.

Não sei muito bem o que achei de Amigo Imaginário. Não tinha muitas informações a respeito do livro e fiquei sabendo que o autor, Stephen Chbosky, também escreveu As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 1999), que eu não li, mas assisti ao filme, que teve direção e roteiro do próprio Chbosky, e é um trabalho bem decente.
Esse Amigo Imaginário teve críticas muito positivas em diversos dos maiores jornais dos EUA, inclusive com as inevitáveis comparações com Stephen King. Talvez, ele se aproxime de King na extensão da obra – 770 páginas – na utilização de crianças como personagens centrais, na elaboração de uma relação de proximidade entre um garoto e sua mãe, e no envolvimento de toda uma cidade em eventos apocalípticos. Mas boa parte do terror moderno tem esses ingredientes em maior ou menor grau.
A história começa bem, apresentando a mãe, Kate Reese, e seu filho Christoper, que fogem de um relacionamento abusivo e vão parar na cidade de Mill Grove, na Pennsylvania. E, apesar das dificuldades que Kate – na narrativa, frequentemente apresentada apenas como “a mãe de Christopher” – enfrenta financeiramente, eles vão levando suas vidas. Até o dia em que o garoto desaparece no bosque da cidade, para ressurgir seis dias depois sem lembrar o que aconteceu naquele período, mas com o sentimento, ou conhecimento, urgente, de que precisa construir uma casa na árvore, no bosque em questão, e que a casa é fundamental para “salvar o mundo”.
A partir daí, os eventos seguem em uma direção totalmente diferente, não apenas mudando a sorte financeira dos dois, mas eventualmente levando Christopher e sua mãe a envolverem-se em uma batalha épica entre o Bem e o Mal. E o jovem é o epicentro dos eventos que poderão ou não libertar o Mal em nosso planeta.

É um tema legal para um livro de terror, com bom desenvolvimento da ação, com várias personagens interessantes que têm parte importante nos eventos e nas vidas de mãe e filho, além de serem cooptados para agirem a favor ou contra eles. Tudo isso em capítulos bem definidos e dedicados às apresentações dessas personagens e explicações sobre suas motivações psicológicas. Enfim, tudo dentro do normal para uma obra do gênero. E, ainda por cima, com uma virada interessante nos acontecimentos.
E aí vem a parte do “não sei muito bem o que achei”, porque a parte final do livro, quando o bicho pega pra valer e o pau come solto – com direito a cenas de violência explícita – a ação estende-se demasiadamente. Quando parece que vai acabar, mais alguma coisa acontece. Quando parece que vai para um lado, algo leva a ação para outro lado. Por muuuuitas páginas.
E, ainda que por vezes o clima de pesadelo seja apropriadamente elaborado nessas longas cenas finais, às vezes também torna o entendimento da narrativa um tanto complicado, truncado, sem sabermos exatamente em que universo os personagens estão agindo. É um final cansativo que poderia ter sido mais resumido sem perder a qualidade.


Amigo Imaginário (Imaginary Friend, 2019)
Stephen Chbosky
Editora Record (2020)
770 páginas