O PREDESTINADO

Para quem gosta de ficção científica, é sempre muito legal quando a gente encontra um filme bom e que siga por caminhos fora do óbvio, ou seja, longe das superproduções do cinema – elas às vezes até são bem legais, mas quase sempre estão repletas de clichês, ideias manjadas e soluções fáceis. Encontrar um filme bom, baseado numa história clássica do gênero, então, é melhor ainda. E encontrar um filme muito, muito bom, baseado num dos melhores contos de viagem no tempo, é o máximo, é o paraíso dos fãs de fc.
Este é o caso de O Predestinado, baseado no conto All You Zombies, de Robert A. Heinlein, que teve uma divulgação pífia da Sony e quase passou despercebido pelo Brasil, não fosse algumas marolas feitas na internet pelos fãs.

Nem chegou a ir para as telas de cinema, sendo lançado no final de 2014 diretamente para locação. Uma pena, para quem gosta de ver tudo na tela grande.
É mais uma obra australiana dos Irmãos Spierig – Michael e Peter – que também foram os diretores do excelente e igualmente diferente 2019 – O Ano da Extinção (Daybreakers, 2009), que apresentava uma história de vampiros de outro ponto de vista.
Como no filme anterior, em O Predestinado Ethan Hawke interpreta o personagem central, enredado num círculo de viagens temporais capaz de queimar o cérebro de qualquer um.
A história original de Heinlein trata do que ficou conhecido no gênero como “arco fechado no tempo”. Basicamente, é impossível determinar, na história, o que é a causa e o que é a consequência, o início e o fim, porque os eventos estão definitivamente ligados num arco de acontecimentos sem fim.

Não e fácil falar sobre um filme desta natureza – em que cada detalhe fornece indicações sobre a trama – sem entregar a história. Basicamente, Ethan Hawke interpreta um agente temporal, com a missão de realizar viagens no tempo para impedir que crimes sejam cometidos antes que ocorram. Dito assim pode até lembrar um pouco o enredo de Minority Report, mas as semelhanças não existem, acreditem.
Estamos falando de uma Terra alternativa, ou de um segmento de tempo diferente daquele em que nos encontramos. No tempo do filme, as viagens no tempo foram desenvolvidas em 1981, e logo foi criada uma agência regulamentadora, uma vez que os deslocamentos temporais podem provocar sérias consequências nos viajantes.

Viagens no tempo e suas "consequências".

O agente interpretado por Hawke – cujo nome só é dito ao final do filme – está particularmente interessado num terrorista que está explodindo bombas em Nova York. Ele sabe que, em 1975, ele irá realizar seu maior ataque, matando mais de 10 mil pessoas. E, segundo o agente repete para si mesmo algumas vezes, esta é sua última oportunidade de deter o terrorista.
A atriz Sarah Snook é outra parte da história, diretamente envolvida nos acontecimentos, ainda que sem saber disso, e o agente temporal tem como parte de sua missão fazer com que ela entenda o que está ocorrendo, e participe ativamente.

Sarah Snook, em seu uniforme de treinamento.

Algumas críticas foram desfavoráveis à interpretação de Sarah Snook, mas ela me pareceu perfeita para o que se propõe a obra; deve existir uma dúvida constante nos personagens, uma vez que estão envolvidos numa trama sem fim; sem falar que o que acontece com ela não é algo, digamos, comum. Mesmo para viajantes no tempo. Na verdade, os diretores chegaram a comparar Snook a Cate Blanchet, também australiana.
Melhor do que contar mais alguma coisa é assistir ao filme. Já! Não é sempre que se pode ter acesso a grandes histórias de ficção científica tratadas com tanta consideração pelo cinema.

O PREDESTINADO (Predestination, 2014. Austrália)
Direção e roteiro: The Spierig Brothers (Michael e Peter Spierig)
Com Ethan Hawke, Sarah Snooke, Noah Taylor.
Fox-Sony Pictures H.E.

O CONTO

All You Zombies foi publicado em 1959, na Fantasy and Science Fiction Magazine, e nunca foi publicado no Brasil.

Ele foi baseado num conto anterior de Heinlein, Pelos Cordões de Suas Botas (By His Bootstraps), publicado em 1941 na Astounding Science Fiction, com o pseudônimo Anson MacDonald. Este, sim, foi publicado no Brasil, na coletânea A Ameaça da Terra (The Menace From Earth), lançada no Brasil em 1977, pela falecida Francisco Alves Editora, e que traz outras sete histórias.

Faz parte do período mais criativo de Heinlein, que se estendeu até os anos 1960, e que lhe deu uma posição de destaque entre os maiores nomes da literatura de ficção científica.

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