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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data22/06/2021
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A parte final da trilogia Xenogênese, de Octavia E. Butler.

Para quem não sabe – e eu não sabia – imago é o estágio final ou adulto de desenvolvimento de um inseto durante sua metamorfose. O título está relacionado com o personagem central, Jodahs, um constructo, tanto humano quanto alienígena, ainda que seus pensamentos e suas ações tenham pouco de humano. E é ele o narrador da história, fechando o ciclo complexo do contato entre os alienígenas oankali e os terrestres, iniciado após a humanidade quase extinguir-se por meio de uma guerra nuclear.
Jodahs é algo inédito, não apenas entre os humanos, mas também entre os aliens, e ele vai ajudar a iniciar um novo período no relacionamento entre as duas raças. Como encerramento da história é um livro interessante, ainda que menos do que os anteriores, especialmente por concentrar-se quase inteiramente nos intrincados caminhos dos relacionamentos, sexuais e afetivos, proporcionados pelos aliens.
Mais interessante do que tudo, me parece, é a forma pela qual Octavia E. Butler explorou um tema bastante comum na ficção científica. A Terra já foi invadida e visitada inúmeras vezes no gênero, mas poucas vezes, se é que alguma vez aconteceu, a história foi contada primordialmente do ponto de vista dos alienígenas. E, por mais que eles sejam muito mais inteligentes do que nós, por mais que desejem nosso bem, não se enganem, pois trata-se de uma invasão. Ou, ainda melhor, de uma assimilação.
É perfeitamente possível entender o ponto de vista extraterrestre, uma vez que, para eles, não há outra coisa a fazer a não ser ajudar os humanos, mesmo que eles não queiram. Mas a questão básica da perda da identidade, que foi comentada nas resenhas dos livros anteriores, permanece. E fica bem claro que os aliens precisam dos humanos e da Terra para continuarem sua trajetória de assimilação de outras raças e mundos pelo universo.
Para eles, a humanidade não tem solução: se deixados sozinhos, o ciclo de violência que levou à sua quase destruição irá repetir-se, uma vez que está em seu DNA. Por outro lado, os aliens também possuem capacidades quase mágicas de reparação e transformação de corpos, humanos ou não, o que lhes possibilitaria, por exemplo, mudar o DNA humano de forma que o ciclo destrutivo não se repita. A autora não tocou nesse ponto, mas parece que os extraterrestres preferiram simplesmente assimilar os humanos e a Terra porque isso lhes é favorável.
Seja como for, a trilogia destaca-se como uma das obras mais importantes e interessantes a abordar o contato entre humanos e alienígenas, abrindo espaço para inúmeras considerações e discussões interessantes sobre nossas motivações e ações no planeta.

Os outros livros são: Despertar e Ritos de Passagem.


IMAGO (Imago, 1989)
Octavia E. Butler
Editora Morro Branco
320 páginas