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PRÍNCIPE DOS ESPINHOS

Livros/Lançamentos

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data25/11/2013
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Prince of Thorns é o primeiro livro de uma trilogia com um dos mais interessantes e polêmicos personagens das histórias de fantasia e ficção científica.

OK. É mais uma série – no caso, uma trilogia – algo que parece ter se tornado comum hoje em dia, principalmente quando se trata de livros de fantasia ou terror. Sem dúvida, irrita muitos leitores, que não gostam de ficar esperando pelo final – em alguns casos, por anos. Prince of Thorns, o livro de estreia de Mark Lawrence, tem como sequência King of Thorns e Emperor of Thorns, este último publicado nos EUA em agosto de 2013. Portanto, pelo menos não há risco de que a trilogia não seja completada, de que o autor morra antes, ou qualquer coisa do gênero.
Não dá para entender por que o título não foi traduzido para Príncipe dos Espinhos, e isso é tudo o que pode se dizer de ruim, ou desagradável, sobre Prince of Thorns, que é apresentado numa edição excelente em capa dura. O autor já vem sendo apontado por parte da crítica como um dos novos grandes nomes da literatura de fantasia, e não é para menos. O livro é uma cacetada, e tem levantado algumas discussões sobre seu personagem central, o jovem príncipe Honório Jorg Ancrath.
Aos dez anos de idade ele passa por uma provação imensa ao ver sua mãe e irmão serem atacados, e ele próprio atirado num espinheiro que quase o matou e, de certa forma, moldou sua vida dali em diante. A reação do rei ao ataque à sua família fez com que Jorg abandonasse o reino e se unisse a um grupo de mercenários.
Aos 14 anos, já era o líder do grupo, espalhando violência por toda parte, um jovem capaz de assassinar sem pensar duas vezes, mesmo os “irmãos” de estrada, membros do grupo. Inicialmente movido por um desejo de vingança sem limites, ele passa a ter ambições maiores, como a de se tornar rei antes dos 15 anos, e imperador antes dos 20. Para tanto, precisa agir de forma completamente diferente de como agiram todos os reis que tentaram unir as dezenas de reinos que se mantêm em guerra constante por uma centena de anos.
Nada parece capaz de deter Jorg, que brinca com a morte, assusta fantasmas, investe contra necromantes e provoca monstros. Pode não ser um personagem muito fácil de ser aceito por alguns leitores, mas sua complexidade vai se revelando ao longo da obra, e existem muitos outros elementos que justificam a formação de sua personalidade.
Mesmo porque o mundo em que a história se passa também não é tão facilmente entendido. Inicialmente, a leitura indica mais um ambiente das histórias tradicionais de fantasia, com a existência de seres que podem ser tidos como sobrenaturais, com magos capazes de influenciar a mente das pessoas, e os grupos de guerreiros utilizando armas típicas da Idade Média. Um mundo dividido em reinos constantemente em guerra ou em atrito, com os governantes morando em castelos, e com nenhuma tecnologia característica do nosso século 20 ou 21.
Quando se avança na leitura, elementos da literatura de ficção científica começam a se tornar cada vez mais evidentes. Ao percorrer os reinos, Jorg e seus companheiros encontram várias obras atribuídas aos Construtores, seres não descritos que viveram nessa terra muito tempo atrás. Surgem referências a um cataclismo de algum tipo, o Dia dos Mil Sóis. Jorg, um jovem instruído como qualquer príncipe, frequentemente cita os sábios Plutarco, Platão, Aristóteles, Nietzsche; fala sobre a papisa que se encontra em Roma. Nos livros antigos que estuda, às vezes surgem palavras e expressões que não entende, apesar de conhecer o “discurso do Construtor”; neurotoxicologia, carcinógeno, mutagênico. Nos livros, também lê sobre armas de destruição em massa e frases como “Efeitos mutagênicos são inconvenientes comuns ao derramamento binário”. E o que Jorg irá encontrar mais à frente irá fazer referência à história do mundo, 1.100 anos antes. É difícil saber onde termina a fantasia e começa a ficção científica, se é que os livros seguintes irão fornecer qualquer indicação nesse sentido.
Numa entrevista ao site "Shadowlocked", o autor foi questionado a respeito do personagem Jorg, se ele não tinha receio de que os leitores se sentissem desconfortáveis com o personagem. Lawrence respondeu que nunca se preocupou com isso, em fazer com que ele fosse agradável ou fazer com que o leitor aprovasse o personagem. Lawrence disse ter lido alguns comentários na linha de “será que o autor quer que gostemos de Jorg?”. Para ele, essa é uma questão despertada pela leitura que normalmente se faz do gênero fantasia, em que os personagens já são apresentados como o herói, ou o cara ruim, ou o anti-herói que descobre sua força interna, etc.
Jorg certamente não é nada disso, e a complexidade de sua personalidade, a motivação de suas reações – sem dúvida violentas e muitas vezes aparentemente descabidas – deve ser vista dentro do contexto, e ao longo da história, enquanto novas informações vão sendo apresentadas ao leitor. O que não parece haver dúvida é que se trata de um daqueles personagens para entrar para a história do gênero, seja ele fantasia ou ficção científica.
O duro mesmo é esperar pelos livros restantes.


Prince of Thorns – Trilogia dos Espinhos (Prince of Thorns, 2011)
Mark Lawrence
Darkside Entretenimento
362 páginas