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UMA ODISSEIA NO ROCK

ESPECIAIS/VE O ROCK E A FC

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data10/07/2020
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Os anos 1960 trouxeram muitas transformações para o rock e a ficção científica.

As transformações pelas quais o mundo estava passando desde o final da Segunda Guerra Mundial – sociais, científicas, tecnológicas – atingiram novas proporções nos anos 1960.
O rock’n’roll, que tirou a tranquilidade de alguns pais e conservadores em geral no mundo ocidental, e que abriu novas perspectivas de comportamento e de vida para os adolescentes, entraria em uma nova fase, expandindo suas fronteiras musicais e incluindo em seu universo outros ritmos, inclusive passando a ser conhecido apenas como “rock”, exercendo uma influência definitiva na sociedade, colocando-se no centro de inúmeras transformações sociais e políticas.
Com a ficção científica não foi diferente. Apesar de muitos historiadores e escritores do gênero considerarem os anos de 1930 a 1950 como a “Era de Ouro” da ficção científica, os anos 1960 veriam algumas transformações interessantes e importantes. Além do que, como lembrou Isaac Asimov – um autor que fez parte desse suposto período áureo – esse tipo de classificação só existe retroativamente e nem sempre faz muito sentido. “Parece constituir um hábito invariável dos seres humanos”, disse Asimov, “encontrar idades áureas no passado, quer em suas próprias vidas como indivíduos, quer em suas sociedades” (em No Mundo da Ficção Científica [Asimov on Science Fiction], 1981. Editora Francisco Alves). Ele lembra que os leitores jovens que entravam em contato com o gênero nessa época, certamente mostravam-se fascinados com ele, mas aqueles que liam FC desde o final dos anos 1920 costumavam falar sobre os “bons e velhos tempos”. E, de fato, é uma postura comum entre os humanos, muito bem ilustrada no filme Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), de Woody Allen.
Seja como for, nos anos 1960 desenvolveu-se a chamada New Wave da ficção científica, a nova onda, uma série de escritores e histórias que abordavam temas até então um tanto distantes do gênero, às vezes com experimentações na forma de escrita e, geralmente, dando mais atenção a ramos do conhecimento como sociologia, psicologia e antropologia do que à física, química ou astronomia.
Esse tipo de retorno ao passado glorioso também existiu com o rock. Apesar do imenso sucesso de tantas bandas nos anos 1960, vários fãs do “bom e velho rock’n’roll” preferiam as músicas e ídolos dos anos 1950. Lembro de uma cena do filme Loucuras de Verão (American Graffiti, 1973), de George Lucas, que ilustra bem a situação. Paul Le Mat, interpretando John, o rei local das corridas, revolta-se com a música que está tocando no rádio, dizendo que o rock acabou; a banda em questão era nada menos do que The Beach Boys, uma das principais da década e da história do rock.

O Jefferson Airplane em um concerto na California, em 1967 (Foto: Bryan Costales/ Wikimedia).

O escritor e crítico Maxim Jakubowski, já citado na matéria anterior, ressaltou a importância do ambiente dos anos 1960 para a fusão entre o rock e a ficção científica. E, para ele, “Em nenhum lugar essa relação foi mais visível do que com os grupos de São Francisco, nos EUA, onde os temas e imagens da FC frequentemente tornaram-se o principal assunto das canções”, enquanto na Inglaterra a situação foi mais fragmentada. Adam Roberts também diz que “É só na década de 1960 que a FC penetra de fato na música popular”, dando destaque para as bandas e composições do final da década.
Escrevendo para a versão online da The Science Fiction Encyclopedia, Adam Roberts e o crítico e historiador musical Charles Shaar Murray, disseram que o surgimento da música popular no século 20, em particular o rock e o pop direcionado às paradas de sucesso, foi um fenômeno predominantemente do pós-Guerra. Consequentemente, a ficção científica que essa música cobria era principalmente aquela produzida nos anos 1950 e 1960, como a New Wave; e, posteriormente, a FC dos anos 1970 e o cyberpunk dos anos 1980. Segundo eles, essa relação não era tão visível nos anos 1950, “(...) uma época em que o pop tinha ambições mais humildes: a norma eram canções simples e energéticas enaltecendo o amor jovem, e baladas lamentando seus problemas. (...) Foi dos anos 1960 em diante que a FC tornou-se mais do que um fenômeno marginal: os interesses hippies e psicodélicos no espaço sideral, alimentados pelo entusiasmo com o programa Apollo, assim como histórias e romances de FC, resultaram em um discurso musical florescente do rock e do pop com temas espaciais”.


O “discurso musical florescente” ao qual os autores se referem envolvem bandas como The Byrds, Jefferson Airplane e Grateful Dead, nos Estados Unidos; e Pink Floyd, Hawkwind, Gong e Magma, na Europa; para não falar de Jimi Hendrix, que flutuava entre os dois continentes.
Às vezes o tipo de música realizada na época e ligada à ficção científica era chamada de space rock, termo que algumas fontes afirmam ter sido cunhado pela imprensa ao referir-se ao disco The Fifth Dimension (1966), da banda The Byrds, em particular com a música Mr. Spaceman. No entanto, o conceito de space rock, por mais vago que seja, ficou mais ligado ao Pink Floyd.
The Byrds começou como um trio formado por Roger (Jim) McGuinn, Gene Clark e David Crosby, o Jet Set, ao qual uniram-se posteriormente o baterista Michael Clarke e o baixista Chris Hillman, mudando o nome da banda ao final de 1964.
Adam Roberts disse que as músicas da banda com elementos de FC são relativamente raras, mas, no entanto, “são elementos significativos da discografia dos Byrds, notadamente o agradável country-rock Mr. Spaceman (do álbum Fifth Dimension), no qual um visitante extraterrestre é entusiasticamente saudado”. Ele também destaca a música C.T.A. 102, do álbum Younger Than Yesterday (1967), que dá uma visão atraente ao conceito convencional de que “pode existir vida em outros planetas”; o título da música vem do quasar CTA-102. Segundo explica Jason Heller (em seu livro Strange Stars, 2018), no meio da música surge uma passagem com sons que caberiam perfeitamente em um episódio de Jornada nas Estrelas.
No álbum The Notorious Byrd Brothers (1968) surge a música Space Odyssey, na qual a banda utiliza um sintetizador Moog para adaptar o famoso conto A Sentinela (The Sentinel, 1951), de Arthur C. Clarke, que alguns meses após o lançamento do disco surgiria adaptado no clássico do cinema, 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey), de Stanley Kubrick. A música foi composta na esperança de que Kubrick a incluísse na trilha sonora do filme, o que, como sabemos, não aconteceu. No entanto, como informa Jason Heller, foi uma das primeiras músicas de rock a utilizar o sintetizador Moog, inventado por Robert Moog, “(...) um aparelho com sons futurísticos que tinha fascinado McGuinn quando ele assistiu a uma demonstração no Monterey Pop Festival, em junho de 1967”.

Foto promocional do Jefferson Airplane, em 1967. Acima, a partir da esquerda, Jack Casady, Grace Slick e Marty Balin; abaixo, Jorma Kaukonen, Paul Kantner e Spencer Dryden (Foto: Herb Greene).

Uma banda importante no cenário do rock norte-americano, em especial no cenário de San Francisco, foi o Jefferson Airplane, que também teve suas andanças pela ficção científica e pela fantasia. Formado por Marty Balin, Paul Kantner, Grace Slick, Jorma Kaukonen, Jack Casady e Spencer Dryden, o Jefferson Airplane foi mais do que importante, estando no centro do movimento, como disse Robert McParland. Foi uma das primeiras bandas no chamado “rock psicodélico”, e a primeira do cenário californiano a assinar com uma grande gravadora. Seu segundo álbum, Surrealistic Pillow (1967), geralmente consta em qualquer lista dos maiores e mais importantes do rock em todos os tempos, e traz duas músicas que se tornaram ícones da música da época: Somebody to Love e White Rabbit, esta última uma espécie de versão psicodélica de Alice no País das Maravilhas e de Através do Espelho.
Jason Heller diz que, na época em que formou a banda, Kantner era um fã de ficção científica, tendo entre seus autores favoritos Theodore Sturgeon, Kurt Vonnegut, John Wyndham, Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke e Isaac Asimov. “Juntamente com sua geração”, diz Heller, “Kantner submergiu nos psicodélicos. A primeira vez em que tocou guitarra sob efeito de LSD, ele ‘atirou-se para dentro do cosmos’. Instantaneamente, a estonteante sensação de infinitas possibilidades – ou ‘universos quânticos alternativos’, como ele disse – que a ficção científica abriu em sua mente em sua infância, tornou-se muito mais navegável. Para ele, a rejeição da realidade social de San Francisco, em favor de uma utopia ideal por meio do amor livre, psicotrópicos, filosofia oriental e pacifismo antiguerra, representou ‘nosso novo universo paralelo’. Consequentemente, a música do Jefferson Airplane era ‘um reflexo do quantum’. Vindo de um hippie doidão básico, isso poderia soar como algo sem sentido – mas a base de Kantner na ficção científica fundamenta sua conexão entre o psicodélico e o cósmico. Mas levou um ano para o Jefferson Airplane atingir a altitude mais alta do sucesso antes de Kantner ousar injetar a ficção científica em sua música”.

                                                                Capa de Mike Salwowki (Penguin Books, 1987).

Heller está referindo-se à música Crown of Creation, do álbum com o mesmo título, lançado em 1968. A canção é baseada no livro As Crisálidas (The Chrysalids, 1955), de John Wyndham, obra que apresenta uma sociedade pós-apocalipse e também lida com questões religiosas e eugenia. No livro, as pessoas que nascem com habilidades telepáticas precisam manter isso em segredo para não serem eliminadas, e Heller diz que “(...) não é difícil ver porque Kantner, na vanguarda do choque cultural entre o rígido establishment americano e o paradigma libertino hippie, percebeu paralelos entre os sensitivos perseguidos de As Crisálidas e seus próprios amigos, seus fãs e sua banda”.
O disco também traz a música Triad, de autoria de David Crosby. Segundo Jason Heller, a canção foi o estopim para a saída de Crosby dos Byrds, uma vez que a banda não quis gravar a música em seu álbum The Notorious Byrd Brothers, comentado acima. Crosby e Kantner já se conheciam desde 1963, quando moraram juntos em Venice, em Los Angeles. Crosby também se interessava pela ficção científica e, como Kantner, leu Um Estranho Numa Terra Estranha (Stranger in a Strange Land, 1961. Ver também na matéria Novas Religiões), de Robert A. Heinlein. Heller diz que “Aparentemente, a música é uma celebração do ménage à trois, um esquema com o qual Crosby, em plena onda do amor livre, estava mais do que feliz em promover. Mas também reflete o ponto de vista de Heinlein a respeito do poliamor, que se tornou um tema recorrente em seus livros, começando com o livro que Crosby e Kantner costumavam ler juntos em Venice”. Assim, a música traz várias referências diretas ao livro, incluindo menções aos “irmãos de água”

A colaboração entre Kantner e Crosby ainda resultou na música Wooden Ships, criação da qual também participou Stephen Stills. Crosby tinha formado o trio Crosby, Stills & Nash, com Stephen Stills vindo da banda Buffalo Springfield, e Graham Nash dos Hollies. A canção acabou sendo gravada pelo Jefferson Airplane em seu disco Volunteers (1969), e por Crosby, Stills & Nash em seu disco de estreia (1969), com o mesmo nome da banda; nesse disco não constava o nome de Kantner como um dos autores, uma vez que ele estava envolvido em questões legais com o empresário do Airplane, e pediu que Crosby retirasse seu nome para evitar problemas.
Jason Heller diz que a música é um dos hinos de ficção científica mais assustadores do rock. “Situada em um futuro devastado por uma guerra nuclear”, (a música) “é uma conversa sobre sobrevivência e perda em meio ao um novo mundo assustador – um cenário que lembra As Crisálidas, ainda que a letra seja muito vaga e impressionista para insinuar um tempo e local exatos”. David Crosby disse que “Nós nos imaginamos como os poucos sobreviventes, fugindo em um barco para criar uma nova civilização”.
Crosby, Stills e Nash fizeram uma tentativa de transformar a música em um filme, pedindo que Theodore Sturgeon, o autor de ficção científica preferido de Crosby, escrevesse o roteiro. Ele pensava na possibilidade de Stanley Kubrick dirigir, mas a ideia morreu antes que Sturgeon terminasse de escrever o roteiro.
 

Em 1970, Kantner lançou o disco-solo Blows Against the Empire. Foi a primeira vez que surgiu o nome que seria utilizado pela banda a partir de 1974, com o álbum sendo apresentado como sendo de Paul Kantner and Jefferson Starship. Traz no elenco de músicos alguns oriundos da própria banda, como Grace Slick e Jack Casady, e músicos convidados, como Jerry Garcia, do Grateful Dead, David Crosby e Graham Nash.
É o chamado “álbum conceitual”, com as músicas construindo a narrativa de um grupo de pessoas envolvidas em uma revolução da contracultura contra a opressão do governo, envolvendo-se ainda na tomada de uma espaçonave que estava na órbita terrestre, com o objetivo de partir para as estrelas e procurar um novo planeta para morar.
O disco foi influenciado pelo livro Os Filhos de Matusalém (Methuselah’s Children, 1958), de Robert A. Heinlein, em particular o conceito da “nave geracional”, com o escritor foi citado nos agradecimentos publicados no álbum. E o disco foi indicado para o Prêmio Hugo de 1971.

         Capa de Gene Szafran (Signet / New American Library, 1975).

Como explica Jason Heller, o álbum inicia com a mordaz faixa Mau Mau (Amerikon), que diz “Nós somos o futuro/ Vocês são o passado”. Heller diz que Kantner estava falando sobre uma mudança geracional, mas as músicas seguintes aumentam muito a extensão da proposta, com uma história de ficção científica tomando forma, às vezes de forma crua e propulsiva, outras vezes de forma delicada e etérea.
A música The Baby Tree refere-se a engenharia genética e social, enquanto Sunrise é um “canto fúnebre” condenando a tendência da raça humana para a destruição. E, em Hijack, surge o plano de tomada de uma espaçonave, transformando-a em uma espécie de Arca de Noé, para fugir da opressão da Terra. “Dois breves interlúdios instrumentais”, explica Jason Heller, “Home e XM, são colagens de estática cósmica e efeitos de lançamentos de foguetes. (...) No entanto, o coração do conceito ficção científica de Kantner reside em Have You Seen the Stars Tonite? e em Starship. A primeira canção foi coescrita por David Crosby, e descreve uma alma pensativa no convés da espaçonave sequestrada, olhando para o universo e refletindo sobre a vida, o amor e o lugar da humanidade no grande plano da existência”.
Para Heller, a visão evangélica de Kantner a respeito da evolução humana, com a exploração espacial tendo papel vital nesse processo, chega ao clímax em Starship, a música que encerra o álbum e que projeta a humanidade nas maiores distâncias do tempo e espaço. “Até aquele momento”, diz Heller, “o rock não tinha visto nada como Blows Against the Empire. Foi o primeiro álbum conceitual realmente de ficção científica por uma grande banda de rock – ou, pelo menos, pedaços de uma das maiores bandas de rock, já que foi creditado como um álbum de Kantner”.
Ainda em 1970, Paul Kantner compôs a música Have You Seen the Saucers?, com o Jefferson Airplane, que foi lançada como o lado B do compacto simples que trazia como lado A a música Mexico, de Grace Slick. As duas deveriam estar no álbum seguinte do Airplane (Bark, lançado em 1971), mas a produção do álbum mudou bastante depois que Marty Balin deixou a banda. Segundo Heller, a música marcou uma virada, substituindo o misticismo e o assombro pela raiva, ao contar a história de visitantes alienígenas que chegam à Terra e ficam cada vez mais perturbados pela forma como a humanidade tem abusado do seu planeta.


Neil Young foi o último músico a juntar-se ao trio Crosby, Stills e Nash, em 1969, participando do famoso álbum de estreia do quarteto, Déjà Vu (1970). No mesmo ano, Young lançou o disco solo After the Gold Rush. A música que dá nome ao disco é o que Jason Heller chamou de “opus pós-apocalíptico”, uma história de ficção científica, ainda que narrada “com muita licença poética”, descrevendo a humanidade deixando seu berço em busca de um novo planeta. A “licença poética”, segundo Heller, de certa forma amenizava o duro impacto da ficção científica em uma geração ainda envolvida com o misticismo utópico.
O título vem de um roteiro para um filme jamais realizado, escrito por Dean Stockwell e Herb Bermann, Gold Rush. Young deveria compor a trilha sonora, mas como o filme não foi adiante, ficou apenas a música. Ao falar sobre a canção, Young disse: “É o futuro... O ar está amarelo e vermelho, naves estão partindo, algumas pessoas podem ir, e outras não... Eu acho que vai acontecer”.

Em 1968, o Grateful Dead também teve sua passagem rápida pela ficção científica, com a música Dark Star. Jerry Garcia, um dos líderes da banda, era um fã do gênero, mas as letras para as músicas da banda geralmente eram compostas por Robert Hunter, de modo que a FC não foi um elemento constante em sua discografia. Segundo Jason Heller, a música segue o caminho de muitas canções de fc dos anos 1960, traçando paralelos entre a expectativa e apreensão com a escalada da corrida espacial da humanidade e a busca psicodélica pelo significado visto na contracultura hippie.
Adam Roberts disse (em The Science Fiction Encyclopedia) que “Visto que os integrantes da banda eram conhecidos como grandes usuários de drogas, e por virem de uma cidade então associada com tudo o que era ‘hippy’ e ‘psicodélico’, era lógico presumir que, como o herói titular de Cosmic Charlie (apresentado no disco Aoxomoxoa, em 1969), eles teriam um interesse em questões ligadas à ficção científica. Na realidade, como seus álbuns posteriores e projetos paralelos demonstraram, eles dedicavam-se principalmente a redescobrir e revigorar as formas musicais que precederam o rock’n’roll, incluindo a música folk, bluegrass, música country, o blues e o jazz, combinando todas essas influências com o velho rock em concertos memoráveis que, por consenso geral, melhor exibiram seus múltiplos talentos. Em outras palavras, eles eram uma banda mais focada no passado do que no futuro”.
Ainda assim, Jerry Garcia era um grande fã de ficção científica, em particular de Ray Bradbury e Kurt Vonnegut Jr., e chegou a tentar produzir uma adaptação do excelente livro de Vonnegut, As Sereias de Titã (The Sirens of Titan, 1959), mas a produção não foi adiante. Adam Roberts ainda lembra que, alguns anos depois das músicas de fc já citadas, a banda compôs The Music Never Stopped, inserida no disco Blues for Allah (1975), canção que, como informa Roberts, “(...) toma seu título emprestado de uma frase do livro The Stars My Destination (1956. Em português com o título Tigre! Tigre!; também na matéria Poderes Naturais) e possivelmente foi inspirado pelo livro, (…) e uma canção mais tardia, Standing on the Moon (do álbum Built to Last, 1989), fala de um astronauta observando a humanidade em guerra daquele ponto elevado vantajoso”.
 

                                                                                                                                                                      Children of the Future.

The Steve Miller Band, outro grupo formado em San Francisco, na Califórnia, em 1966, também teve algumas músicas com temas de ficção científica. Segundo Adam Roberts, o primeiro álbum da banda, Children of the Future (1968), “(...) amarra um portfólio variado de canções de blues e psicodélicas em um conceito vagamente orientado para a ficção científica”.
Em 1969, a banda lançou seu terceiro álbum, Brave New World, e segundo Roberts, apesar do título, não é uma versão do livro de Aldous Huxley e desenvolve uma visão utópica sem ironias. O disco traz a música Space Cowboy, na qual “(...) Miller desenvolve uma personagem de ficção científica (‘I was born on this rock/ And I’ve been travelin’ through space’) à qual ele retornaria, por exemplo, em sua canção mais famosa, The Joker (no álbum The Joker, 1973)”.
Quando Adams fala da canção mais famosa de Steve Miller, provavelmente referia-se até aquele momento, uma vez que em 1976 ele lançaria Fly Like an Eagle, certamente mais popular. Miller ainda faria uma referência à fc na música Italian X Rays, no disco com o mesmo título (1984), na qual ele fala de uma mulher ciborgue sexy.
Jason Heller destaca que, em Space Cowboy, Steve Miller rejeita o pensamento “paz e amor” tão comum em San Francisco. Ele canta: “And I’m tired of all this talk about love/ And the same old story with a new set of words”. Assim, troca o pensamento hippie predominante “(…) pelos prazeres de ‘viajar através do espaço’ como um caubói do espaço, como que retornando aos prazeres pulp da fc dos anos 1950”.


Enquanto isso, do outro lado do Oceano Atlântico...