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O PRÍNCIPE DE WESTEROS E OUTRAS HISTÓRIAS

Livros

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data17/10/2016
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Uma excelente antologia com histórias apresentando personagens canalhas, patifes e enganadores.

George R.R. Martin e Gardner Dozois organizam essa antologia dedicada aos personagens canalhas. E, apesar dos dois estarem mais relacionados à literatura fantástica, em especial à fantasia e à ficção científica, as histórias que apresentam não se restringem a esses gêneros.
Na “Introdução” ao livro, Martin diz que “(...) Gardner e eu amamos boas histórias de todos os tipos, não importa em qual tempo, lugar ou gênero elas estejam”.
Certamente é uma boa coisa, e um dos exemplos mais notáveis nessa antologia está no fato de o público brasileiro poder conhecer, por exemplo, um pouco da obra de Joe R. Lansdale, autor pouco conhecido por aqui e premiadíssimo, conhecido por livros nos gêneros faroeste, terror, ficção cientifica, mistério e suspense, além de ter escrito para os quadrinhos. A história apresentada aqui, “Galho envergado”, traz os personagens Hap e Leonard, dois amigos inseparáveis e detetives particulares, quando conseguem um trabalhinho. No caso, o trabalho é resgatar a filha prostituta e drogada da namorada de Hap. Os diálogos são sensacionais e o clima de humor é sustentado até mesmo nas cenas mais violentas, e elas não são poucas. Os dois viraram série de TV em 2016, apresentada no canal Sundance, nos EUA.
Entende-se que o livro, pelo menos em português, tenha como título o conto de George R.R. Martin, exatamente por se passar em Westeros, o ambiente de Guerra dos Tronos. Por outro lado, é o menos interessante dos dez contos apresentados. Provavelmente, vai chamar a atenção dos fanáticos por Guerra dos Tronos, mas na verdade é uma narrativa quase histórica de algumas tramas políticas ocorridas antes dos eventos de seus livros mais famosos.
Bem melhor é o conto de Neil Gaiman, “Como o Marquês recuperou seu casaco”, situado no mundo criado pelo autor no livro Lugar nenhum (Neverwhere), a Londres de Baixo, seguindo uma aventura do autointitulado Marquês de Carabas, que vive de golpes e atividades escusas, ainda que não seja um sujeito violento.
Também é sensacional o conto “Um ano e um dia na velha Theradane”, de Scott Lynch, autor dos excelentes livros com os Nobres Vigaristas – As mentiras de Locke Lamora, Mares de sangue e A república de Ladrões. O conto traz a mesma inventividade e bom humor apresentados na série, com outro grupo de vigaristas, desta vez numa cidade que sofre com uma batalha interminável e irritante entre magos. E esse grupo recebe uma incumbência quase impossível: roubar uma rua.
Destaca-se também a história “A caravana para lugar nenhum”, de Phyllis Einsenstein, trazendo o personagem Alaric, o bardo, que ela apresentou em outras histórias. Ele tem a estranha e inusitada capacidade de se teletransportar. Aqui, ele se une a uma caravana que atravessa o deserto para realizar um estranho comércio e, ao longo do caminho, está sempre vislumbrando uma cidade fantástica ao longe, uma cidade que jamais pode ser atingida, mesmo utilizando seu poder de locomoção.
Outra história que chama a atenção é “A árvore reluzente”, de Patrick Rothfuss, autor que teve publicados no Brasil O nome do vento e O temor do sábio. O conto situa-se no mesmo ambiente, com o personagem Bast, que é algo mais do que humano e que faz estranhas trocas de favores com os moradores da região.
E o livro ainda tem muito mais. Os contos “Proveniência”, de David W. Ball, e “Qual é a sua profissão?”, de Gillian Flynn, não relacionados ao gênero fantástico. Ou “Um jeito melhor de morrer”, de Paul Cornell, bastante conhecido por sua participação como escritor em séries de TV, inclusive com a famosa Dr. Who, além de histórias de Batman para a DC Comics. Aqui ele desenvolve uma história do seu personagem Jonathan Hamilton, um espião agindo numa Europa do século 19, porém em outra linha temporal; na verdade, é uma história bastante difícil de ser entendida por quem não conhece o ambiente.
E o conto “Em cartaz”, de Connie Willis, uma crítica bem humorada e mordaz à indústria do cinema dos EUA, com história situada num futuro em que os produtores de filmes inventaram os superdromes, locais com 100 ou até mais de 200 salas de cinema, mas que escondem um segredo sujo e criminoso das empresas.
Excelente oportunidade para conhecer novos autores, ou reencontrar alguns antigos conhecidos.

O PRÍNCIPE DE WESTEROS E OUTRAS HISTÓRIAS
(Rogues, 2014)
Organizado por George R.R. Martin e Gardner Dozois
Editora Arqueiro
464 páginas