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GIGANTES ATÔMICOS E OUTROS MONSTROS

ESPECIAIS/VE ALGUNS MONSTROS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data12/07/2019
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Nos anos 1950, os monstros enlouqueceram, cresceram devido a testes atômicos – ou outras esquisitices – e resolveram partir para a ignorância.

(Toho Film)

Lembram-se da bomba atômica? Muitos leitores certamente nem eram nascidos quando o medo do fim do mundo por meio de uma guerra atômica tomou conta do planeta. A guerra fria, que se instalou entre os EUA e a União Soviética após a Segunda Guerra Mundial, levou esse temor às raias do absurdo. E, em algumas ocasiões, pelo que a história conta, estivemos, de fato, próximos da aniquilação.

Explosão nuclear no estado de Nevada, EUA, em 1953 (Foto: National Nuclear Security Administration).

E, para quem ainda não sabe, nos anos 1950 as radiações atômicas tinham como efeito colateral provocar o crescimento desproporcional de animais que, então, passavam a ameaçar o planeta, ou pelo menos partes consideráveis do planeta.
O resultado inevitável das explosões de Nagasaki e Hiroshima – e das centenas de explosões realizadas posteriormente em testes – foi o desenvolvimento de uma série de histórias em que o perigo atômico era o ingrediente principal. Especialmente no cinema.
Rapidamente, a humanidade descobriu que a radiação atômica era capaz de produzir monstros, alguns horrendos e apavorantes – pelo menos para a época –, e outros ridículos e engraçados.
No entanto, nem todos os monstros da época surgiram devido às explosões nucleares ou à radiação. Outros motivos foram desenvolvidos pelos roteiristas para apresentar ameaças ao planeta e, às vezes, eles surgiam sem que qualquer motivo específico fosse apresentado para sua existência. Bastava ser um monstro, e ser ameaçador. Descobrimos que várias criaturas gigantescas estavam adormecidas nas entranhas de nosso planeta e, eventualmente, foram despertadas para suas caminhadas (ou voos) de destruição de cidades.
Mesmo quando o “perigo atômico” não era o ingrediente principal para o surgimento dos monstros, ele podia estar presente no inconsciente, com os filmes funcionando como uma espécie de metáfora para tempos difíceis. Jeff Rovin escreveu, em A Pictorial History of Science Fiction Movies (1975): “Gigantes, ogros e animais imensos têm sido parte da cultura humana desde os tempos bíblicos. De Davi e Golias e Beowulf, até os tempos atuais, nossas artes visuais e literatura tem demonstrado uma propensão acentuada para o colossal. Então, não chega a ser uma surpresa que os monstros fossem imensos nos anos 1950, como era a catástrofe em escala galáctica. (...) Verdadeiramente, todas as formas de ameaças plausíveis viram a luz das telas de cinema durante esse período”. E eu diria que principalmente as ameaças nem um pouco plausíveis.

É certo que o auge do desenvolvimento dessas criaturas no cinema aconteceu nos anos 1950, mas esses monstros não se restringiram à época, e ainda hoje podemos encontrá-los nos filmes.

                                                                                                  (Mutual Pictures of California).

Segundo o crítico Phil Hardy, O Monstro do Mar (The Beast From 20.000 Fathoms, 1953), dirigido por Eugène Lourié, foi o primeiro filme dos anos 1950 a apresentar um monstro gigante que estava adormecido e é acordado, e ele estabeleceu a fórmula básica que seria seguida por muitos outros filmes.
A produção ficou famosa tanto por contar com os efeitos especiais de Ray Harryhausen, quanto por ser baseada no conto de Ray Bradbury, A Sirene do Nevoeiro (The Fog Horn, 1951. No Brasil, no livro Os Frutos Dourados do Sol). E, é claro, por ter sido um imenso sucesso de bilheteria; com uma produção de cerca de 200 mil dólares, faturou mais de 5 milhões, uma fortuna imensa para a época, abrindo caminho para as demais produções do gênero. Harryhausen ficaria ainda mais famoso pelos trabalhos subsequentes, mas esse fez um grande sucesso.
O monstro em questão é um dinossauro carnívoro que estava congelado no Ártico e é despertado por testes atômicos, iniciando seu caminho de destruição em direção a Nova York. Para azar da cidade, ela está localizada onde era a habitação original da criatura.

Joan Weldon, em O Mundo em Perigo (Warner Bros.).

O ano seguinte, 1954, marcou a estreia de outro sucesso do gênero, O Mundo em Perigo (Them), de Gordon Douglas. A história aproveita o fato de que o governo dos EUA estava realizando testes nucleares no Novo México para imaginar que a radiação teve o efeito de tornar as formigas imensas e sua expansão territorial ameaça a cidade de Los Angeles. Claro que os efeitos, vistos nos dias de hoje, são hilariantes, mas o filme é muito bom.
Phil Hardy disse que o filme, rodado em estilo semidocumentário, é um dos melhores filmes de ficção científica dos anos 1950 e, como muitas obras desse período, foi entendido por alguns críticos como sendo anticomunista, com as formigas como os comunistas e o agente do FBI (James Arness) combatendo-as e limpando os EUA de sua presença maléfica. Mas o fato é que quase todo filme de ficção científica do período apresentando monstros destruidores ou alienígenas invasores poderia ser visto dessa maneira, o que é um exagero. Para Phil Hardy, “Em resumo, o filme contrasta os abrigos artificiais das cidades humanas com o mundo hostil do deserto onde a natureza reina suprema”.
O início do filme é muito legal, com uma menina (Sandy Descher) andando a esmo pelo deserto, sendo encontrada por dois policiais, e a única coisa que ela consegue falar em seu estado de choque é “Them! Them!” (Elas! Elas!). E logo “elas”, as coisas monstruosas que se desenvolvem no deserto, surgem. Outro artifício utilizado no filme é o som que as formigas fazem, um ruído irritante que sempre surge antes dos ataques.

                                                                                                                   (Toho Film).

E 1954 foi o ano de Godzilla, provavelmente o mais famoso monstro despertado por uma explosão atômica. Devo ter assistido ao filme lá por meados dos anos 1960, na TV, e é claro que fiquei impressionado, como ficaria com todos os monstros posteriores, inclusive os mais ridículos monstros do cinema japonês.
Visto hoje, Godzilla não é um filme impressionante, mas isso parece não importar diante do ícone que o lagartão se tornou. Esse ponto de vista encontra semelhanças em alguns críticos. Jeff Rovin, no livro citado anteriormente, disse, referindo-se aos monstros dos anos 1950 em geral: “Talvez olhar para eles com nostalgia, mais do que com um olhar crítico frio, não é profissional. Apesar disso, nesses filmes que antecedem a descida na Lua e os filmes dos anos 1960, não limitados pela sofisticação política e tecnológica, a imaginação corre solta e desenfreada”.
Thomas Weisser e Yuko Mihara Weisser (em Japanese Cinema Encyclopedia) lembram que Godzilla não foi o primeiro dinossauro no cinema, e sequer o primeiro a invadir e destruir uma grande cidade industrializada. “Mas Godzilla”, dizem, “conseguiu capturar a fantasia e a imaginação do mundo. Hoje, ele é um dos personagens mais reconhecíveis de todo o cinema”.

John Scalzi (em The Rough Guide to Sci-fi Movies) reitera a importância de Godzilla como um símbolo, mais do que como um bom filme. Godzilla é “(...) na realidade, um filme horrível”, diz ele; “atuações deploráveis, roteiro pobre (...) e apresentando efeitos especiais que consistem em algum pobre camarada japonês engolido por uma roupa de borracha de 90 quilos, pisando em cenários de papelão. É tão ruim que qualquer observador objetivo teria de notar que a merecidamente pichada reinvenção americana do monstro de 1998 (dirigida por Roland Emmerich) é, na verdade, melhor em quase todos os sentidos – melhores efeitos (é claro), melhor história, e até com Matthew Broderick no modo ‘gato espantado’, melhores atuações”.
Está bem claro o que Scalzi pensa do filme. Mas ele prossegue: “E é claro, isso não tem a menor importância. Godzilla é um filme ruim, mas Godzilla, o monstro, é um símbolo carregado de imensa importância psicológica para o Japão; ele é uma metáfora de borracha com 45 metros de altura para uma nação literalmente traumatizada pela guerra, e de forma criativa lidando com o fato de ter sido o único país a ter uma arma nuclear utilizada contra si, e o seu medo pelos subsequentes testes nucleares norte-americanos no Pacífico”.

                                                                         Momoko Kôchi e Takashi Shimura, em Godzilla.

A respeito das “péssimas interpretações” a que se refere Scalzi, é de notar que um dos atores centrais do filme é Takashi Shimura, um dos preferidos de Akira Kurosawa, tendo trabalhado em alguns clássicos do diretor como Os Sete Samurais (1954) e Rashomon (1950); assim, é possível que o demérito esteja no roteiro, porque Ishiro Honda também é considerado um dos melhores do gênero no Japão, ainda que ele também seja creditado como roteirista juntamente com Takeo Murata.
Phil Hardy coloca Godzilla ao lado de King Kong e Frankenstein como os monstros mais populares do cinema em todos os tempos. O réptil japonês deu início a uma verdadeira avalanche de filmes nipônicos com monstros, muitos deles realizados pela produtora Toho, e com Ishiro Honda dirigindo e Eiji Tsuburaya nos efeitos especiais. Hardy disse que “muitos aspectos desse modelo ritualístico”, ou seja, o dos monstros do cinema japonês, “tornaram-se características padrão do gênero”. Por exemplo: lançar fogo pela boca (às vezes, gelo ou raios laser); praticamente não existem intrigas amorosas nos filmes; o monstro é a estrela, e as pessoas são as vítimas; a violência é impessoal e generalizada, mas não apresentada com detalhes ou crueldade; os monstros não comem pessoas – na verdade, raramente eles comem.
O filme foi comprado pelo produtor norte-americano Joseph E. Levine, que deu início a uma prática que durou vários anos, filmando novas cenas com atores americanos e inserindo no filme original. É assim que Raymond Burr aparece como um repórter e presencia os eventos e a destruição provocada por Godzilla, no filme distribuído nos EUA em 1956. Segundo Thomas Weisser e Yuko Mihara Weisser, essa versão norte-americana teve uma imensa campanha publicitária que escondeu completamente a origem japonesa do filme, segundo eles “supostamente porque a companhia não estava certa de que um filme japonês iria render bem nos EUA, logo após a Segunda Guerra Mundial”. Seja como for, a exibição americana foi um sucesso absoluto.

Godzila, na versão americana de 1998 (TriStar Pictures/ Centropolis Film Productions/ Fried Films/ Independent Pictures).

E é claro que não parou por aí. Até 2018, eram 32 filmes com Godzilla, mais quatro reedições estrangeiras dos filmes originais, três versões de Hollywood, incluindo Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters, 2019); e um quarto filme já previsto para 2020, Godzilla Vs. Kong.
John Scalzi disse que raramente existiu outro filme, seja ficção científica ou não, cujo significado cultural tenha sido tão diferente entre dois países. Nos EUA, não havia a necessidade da catarse pós-guerra, uma vez que os americanos estavam “do outro lado da equação nuclear”. Assim, para os americanos Godzilla era um filme divertido para assistir no drive-in beijando a namorada ou namorado.
Scalzi ainda lembra que os filmes posteriores com o monstrão foram tão ruins quanto o original, “mas quando seu personagem principal é uma metáfora culturalmente significante, e possivelmente a mais significante metáfora no cinema de ficção científica, seus filmes não precisam ser bons; eles apenas têm de existir”.
 

                                                           O Monstro do Mar Revolto (Clover Productions).

Depois do bom trabalho em O Monstro do Mar, Ray Harryhausen voltou a mostrar seus efeitos especiais em O Monstro do Mar Revolto (It Came From Beneath the Sea, 1955), dessa vez construindo um polvo gigantesco, também despertado por testes atômicos realizados no fundo do mar. O polvo gigante surge em São Francisco e acaba com a famosa Golden Gate – preferida de 6 entre 10 monstros e catástrofes. O detalhe ridículo é que Harryhausen teve tão pouco dinheiro para produzir os efeitos que o polvo tinha apenas seis tentáculos.
O monstro é enfrentado por um capitão de submarino (Kenneth Tobey) e por dois cientistas (Donald Curtis e Faith Domergue, que também esteve na ficção científica Guerra Entre Planetas, com os filmes estreando nos EUA no espaço de um mês), e eventualmente derrotado com, adivinhem, um torpedo atômico.
Phil Hardy lembra que o teste atômico submarino que acaba por libertar o monstro é utilizado apenas como um recurso do enredo, ao contrário do que ocorreu em Godzilla ou em O Mundo em Perigo.
Esse também foi o primeiro de uma série de 12 filmes em que Ray Harryhausen fez os efeitos especiais para o produtor Charles H. Schneer, o último deles sendo Fúria de Titãs (Clash of Titans, 1981).

 

MAIS ALGUNS FILMES DO GÊNERO


O COMEÇO DO FIM (The Beginning of the End, 1957)
Direção de Bert I. Gordon.

(AB-PT Pictures Corp.).

O diretor Bert I. Gordon foi um dos mais ativos nos anos 1950, geralmente realizando filmes muito ruins como esse, mas quase sempre com cartazes chamativos que atraíam um bom público aos cinemas.
Aqui, ele aproveita o sucesso de O Mundo em Perigo (1954) e, no lugar de formigas gigantes, apresenta gafanhotos gigantes. Dessa vez, o governo fez a besteira de derramar material radioativo no solo e, é claro, isso faz com que os gafanhotos cresçam de forma desproporcional. Famintos, inclusive por carne, eles se dirigem a Chicago, causando destruição, até que o cientista (Peter Graves) tem a ideia de gravar o chamado de acasalamento dos bichos e faz com que se dirijam a um lago, onde se afogam. Além de dirigir, Gordon produziu e foi responsável pelos efeitos especiais.


A MALDIÇÃO DO MONSTRO (The Cyclops, 1957)
Direção de Bert I. Gordon.

(B&H Productions Inc.).

Seguindo firme em sua fixação por seres gigantescos, o diretor, produtor, roteirista e responsável pelos efeitos especiais, Bert I. Gordon, apresenta Gloria Talbot como a mulher que está procurando pelo marido (Dan Parkin) desaparecido no México. Chega a um vale afetado por radiação (e o que mais seria?), que provocou o crescimento exagerado de alguns animais e do próprio maridão. Além de gigante, ele ficou deformado e com péssimas intenções.


O MONSTRO ATÔMICO (Amazing Colossal Man, 1957)
Direção de Bert I. Gordon.

                           O gigante Glenn Langan urubuzando o banho de Jean Moorhead (Malibu Productions).

No Brasil, em DVD, também com o título O Incrível Homem Colossal. Mais uma vez Gordon fazendo de tudo no filme, em um ano bem movimentado para ele. Aproveitando o sucesso do sensacional O Incrível Homem Que Encolheu (The Incredible Shrinking Man), que estreou no início de 1957, o diretor seguiu na direção oposta, com Glenn Langan interpretando um sujeito que sofre os efeitos da explosão de uma bomba de plutônio, o que por si só já seria absurdo, e cresce até se tornar um gigante com quase 20 metros de altura. Como geralmente ocorre com as pessoas que se tornam gigantes, esse também fica enlouquecido e começa a destruir e matar tudo e todos que vê pela frente. O cientista que resolve o problema – e sempre tem um – é William Hudson, que tem uma imensa seringa para injetar no doidão.


A VOLTA DO HOMEM COLOSSAL (War of the Colossal Beast, 1958)
Direção de Bert I. Gordon.

Duncan 'Dean' Parkin (Carmel Productions).

Também com os títulos The Terror Strikes e Revenge of the Colossal Man. Sim, teve mais um. O monstrão do primeiro filme não morreu, mas continua vivendo no México, onde é capturado e levado a Los Angeles. Claro que ele consegue escapar e iniciar a destruição de praxe, até que tem um encontro com sua irmã, que lhe dá uma tremenda bronca. Arrependido, ele se suicida jogando-se em fios de alta tensão.
 


A MALDIÇÃO DA ARANHA (Earth Vs The Spider, 1958)
Direção de Bert I. Gordon.

                                                                                                                                                     (Santa Rosa Productions).

Também com o título The Spider. Mais uma de Gordon, agora com uma aranha que se torna gigante devido aos efeitos da radiação de um teste nuclear. Ela começa a matar pessoas e causar destruição, é capturada e, como sempre, escapa e continua causando problemas, sendo combatida por um grupo de adolescentes. É dose!

 


O ESCORPIÃO NEGRO (The Black Scorpion, 1957)
Direção de Edward Ludwig.

(Amex Productions/ Frank Melford-Jack Dietz Productions).

Mais um na esteira de O Mundo em Perigo, com a vantagem sobre alguns dos filmes da época por ter os efeitos especiais de Willis O’Brien, o responsável pelos efeitos de King Kong. No entanto, os efeitos de stop-motion foram originalmente criados para um filme sobre a vida pré-histórica que nunca foi terminado.
Mais uma vez a radiação nuclear é a vilã, causando o crescimento desproporcional de escorpiões, aranhas e vermes que lutam entre si, até que reste apenas um escorpião negro. Ele saí de sua caverna no México e inicia a destruição de praxe, até ser destruído pelo herói do momento (Richard Denning), que usa um arpão eletrificado.


FÚRIA DE UMA REGIÃO PERDIDA (The Deadly Mantis, 1957)
Direção de Nathan Juran.

                                                                                                                                       (Universal International Pictures).

Dessa vez, nenhum explicação de natureza atômica é apresentada para a existência de um louva-a-deus gigantesco que se encontrava congelado no Ártico. Um terremoto faz com que ele se solte, revivido, e inicie sua destruição obrigatória ao se dirigir para o sul, chegando a Washington e, depois, dirigindo-se para Nova York, onde é detido pelos militares. Nada a ser lembrado.

 


O MONSTRO QUE DESAFIOU O MUNDO (The Monster That Challenged the World, 1957)
Direção de Arnold Laven.

(Gramercy Pictures).

Mais uma vez é um terremoto que causa problemas, liberando do fundo do mar os ovos de uma criatura pré-histórica. Os seres que nascem parecem lagartas gigantescas que começam a atacar bases navais, matando as pessoas ao sugarem todo o líquido de seus corpos.
Geralmente, o filme é considerado acima da média das produções com monstros da época, com bons efeitos de Augie Lohman e uma direção segura de Arnold Laven.
 


MONSTER FROM GREEN HELL (1958)
Direção de Kenneth G. Crane.

                                                                                                                                  (Gross-Krasne Production).

Parece que nos anos 1950 os produtores ficavam tentando imaginar que outros animais eles poderiam tornar gigantes para fazer outro filme ridículo. Aqui, um foguete carregado de vespas tem problemas e cai em uma selva da África. Como as vespas foram expostas à radiação, eles cresceram muito e, por isso, não conseguem voar, o que não as impede de causar muitos problemas para a expedição científica enviada à região para procurar o foguete perdido. Para resolver o problema dos monstros, uma erupção vulcânica providencial acaba com as vesponas.

 


CALTIKI, O MONSTRO IMORTAL (Caltiki, Il Monstro Immortale, 1959)
Direção de Riccardo Freda (com o pseudônimo Robert Hampton) e Mario Bava (não creditado).

Gérard Herter e John Merivale (Galatea Film).

Segundo Phil Hardy, esse foi um dos primeiros filmes italianos feitos visando o mercado norte-americano; por isso, o diretor Freda assinou com outro nome, assim como boa parte da equipe técnica e alguns atores e atrizes, algo que se tornaria comum em vários filmes italianos nos anos seguintes. Mario Bava, um dos principais diretores do cinema de terror italiano, finalizou as filmagens, apesar de não receber o crédito, além de ser o diretor de fotografia e de efeitos especiais, com o pseudônimo John Foam.
Cientistas realizam pesquisas em templos dos maias e encontram uma criatura radioativa, uma espécie de massa disforme, e matam o bicho. Quando ele é levado para o laboratório para ser examinado, o monstro volta à vida e começa a destruição obrigatória.


THE HIDEOUS SUN DEMON (1958)
Direção de Robert Clarke e Thomas Bontross.

                                                                                                                                    Robert Clarke e Nan Peterson (Clarke-King Enterprises).

O próprio diretor Robert Clarke interpreta um cientista que, contaminado pela radiação de uma usina nuclear, transforma-se em um homem-lagarto. As coisas pioram ainda mais quando ele é exposto à luz do Sol, aumentando de tamanho e transformando-se num monstro assassino sedento por carne humana. Um lixão.

 


O MONSTRO SUBMARINO (Behemoth, the Sea Monster, 1959)
Direção de Eugène Lourié e Douglas Hickox.

(Artistes Alliance Ltd./ Diamond Pictures Corp.).

Também com o título The Giant Behemoth. O diretor, que já havia apresentado um monstro em O Monstro do Mar (1953), iniciando o ciclo de monstros despertados no cinema de ficção científica, retorna ao tema, praticamente utilizando o mesmo enredo básico. Aqui, trata-se de um dinossauro que estava quietinho, dormindo, quando foi acordado por uma explosão atômica e começou a se dirigir para Londres, já que a produção é inglesa. Claro que, ao longo do caminho, vai destruindo tudo que encontra pela frente.
O filme é bem fraquinho, ainda que o crítico Phil Hardy tenha encontrado alguns méritos, entendendo que, em alguns momentos, Lourié consegue recriar o clima de suspense de seu primeiro filme.
Omo sempre tem um cientista para salvar o dia, aqui ele é um americano, interpretado por Gene Evans, que consegue matar o bichão com um torpedo de rádio (seja lá o que isso for). O dinossauro morre, mas, quando cai, arrasa com a Ponte de Londres.


GORGO (Gorgo, 1961)
Direção de Eugène Lourié.

                                                                                                                    (King Bros. Productions Ltd).

Mais uma vez Lourié apresenta um monstro, ou melhor, dois. Não existe explicação para o surgimento deles, a não ser uma erupção de um vulcão, próxima à costa da Irlanda. E é na região que surge um monstro tipo Godzilla, com 20 metros de altura, causando problemas até ser capturado por uma equipe que está no local procurando tesouros de naufrágios. A criatura é levada para Londres e vendida a um circo como atração, já que uma exibição de um monstro de 20 metros sempre dá uma boa grana.
Só que ninguém contava que o monstro, Gorgo, é na verdade um filhote. E logo chega a Londres sua mãe, Ogra, com quase 80 metros de altura, arrebentando com vários pontos turísticos da cidade, até libertar seu filhote e fugir com ele para o mar.
Um destaque é que os efeitos com os monstros segue o mesmo estilo dos filmes japoneses, ou seja, com um pobre coitado suando em bicas dentro de uma roupa de borracha enquanto estapeia e pisa maquetes de Londres.


REPTILICUS (Reptilicus, 1961)
Direção de Sidney Pink.

(Saga Studio).

Produção conjunta EUA-Dinamarca, e muito fraca. Uma expedição de prospecção de petróleo encontra uma cauda de um réptil pré-histórico e ela é levada a um laboratório. Acreditem, o animal inteiro se regenera a partir da cauda e começa a criar as destruições costumeiras.
 

 


FORMIGAS GIGANTES (Empire of the Ants, 1977)
Direção de Bert I. Gordon.

                                                                                                                                           (Cinema 77).

Também com o título O Império das Formigas. É incrível que o diretor Bert I. Gordon tentasse reproduzir seus truques dos anos 1950 duas décadas após, inclusive utilizando o mesmo tipo de efeitos especiais da época, num período em que os efeitos entravam na era Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ambos de 1977. E ainda por cima com o já antigo tema dos animais gigantes.
Aqui, um grupo de corretores imobiliários vai a uma ilha para comprar lotes de terrenos quando são ameaçados por formigas que cresceram desproporcionalmente por terem sido expostas ao lixo atômico jogado no local. A líder do grupo é ninguém menos do que Joan Collins, que sofre como os espectadores dessa bomba.


TENTÁCULOS (Tentacoli, 1977)
Direção de Ovidio G. Assonitis (com o pseudônimo Oliver Hellman).

(A. Esse Cinematografica/ American International Pictures).

Também com o título Tentacles. Produção EUA-Itália, com nomes incríveis no elenco: Henry Fonda, John Huston, Shelley Winters. Completamente perdidos em um filme tenebroso sobre um polvo que se desenvolve de forma espantosa devido aos efeitos da radiação.
 


O MONSTRO QUE VEIO DO MAR (The Intruder Within, 1981)
Direção de Peter Carter.

                                                                                                                                                                                                    (Furia/Oringer Productions).

Também com o título Panic Offshore. Produção fraquíssima para a TV. Uma equipe de prospecção de petróleo em alto mar encontra ovos de uma criatura pré-histórica que estavam enterrados há milhões de anos. Claro que eles se desenvolvem e surge um ser, ou seja, mais um pobre coitado dentro de uma roupa vagabunda de borracha causando problemas.
 


ABISMO DO TERROR (Deepstar Six, 1989)
Direção de Sean S. Cunningham.

(Carolco Entertainment/ Carolco Pictures).

Mais do que um retorno aos filmes de monstros dos anos 1950, esse se enquadra na série de filmes no fundo do mar que invadiram o cinema na época. O Deepstar Six do titulo original é um laboratório secreto da marinha dos EUA no fundo do oceano, construído como base para pesquisar a possibilidade de colônias submarinas, mas também transformado em base de mísseis. Os cientistas que trabalham no local encontram uma caverna gigantesca embaixo do local e resolvem explodi-la, após o que surge um monstro, supostamente pré-histórico, dando início do terror. Um filme fraquinho que tem, entre inúmeros problemas, um monstro mal construído.

 


O ATAQUE DOS VERMES MALDITOS (Tremors, 1990)
Direção de Ron Underwood.

            (Universal Pictures/ No Frills Film Production/ Wilson-Maddock Production).

Finalmente uma homenagem bem feita aos filmes de monstros dos anos 1950, também com muito bom humor, com Kevin Bacon e Fred Ward no centro dos eventos. Eles são amigos que trabalham fazendo um pouco de tudo em um deserto de Nevada, inclusive limpando fossas. Cansados daquela vida, resolvem abandonar a cidade de Perfection, que tem no máximo uma dúzia de moradores, mas quando estão saindo pela estrada encontram o corpo de um morador, e suas vidas vão mudar completamente.
Eventualmente, descobrem a existência de criaturas semelhantes a vermes gigantescos, deslocando-se por baixo da terra como os vermes de Duna, e atacando pessoas e quaisquer objetos que encontrem pelo caminho.
Os efeitos são muito bons, os diálogos excelentes, com muitos momentos de humor negro e sarcástico. É um filme que chega sem muitas pretensões e vai ficando, vai ficando...
Mas é claro que os produtores não deixariam uma história bem sucedida ficar por aí e criaram uma sequência de filmes. Foram seis até 2018, além de uma série de TV, todos inferiores ao original.


GARGANTUA (Gargantua, 1998)
Direção de Bradford May.

(Fox Television Studios).

Feito para a TV. Difícil de acreditar que seja uma produção da Fox, de tão ridícula. Um biólogo marinho e seu filho vão para uma ilha perto da Austrália investigar tremores de terra, mas o que encontram é um mistério, com pessoas desaparecendo no mar. Depois, o filho do sujeito encontra um pequeno animal semelhante a um dinossauro que sai do mar. Depois, surge um exemplar ainda maior, supostamente à procura do filho, e é capturado. E, para completar, surge um ainda maior, comendo barcos e o que encontra pela frente. Os seres são ridículos, a história é banal e antiga, os personagens mal desenvolvidos. Nada funciona.


TENTÁCULOS (Deep Rising, 1998)
Direção de Stephen Sommers.

                                         (Calimari Productions/ Cinergi Pictures Entertainment/ Hollywood Pictures).

Treat Williams e Famke Janssen perdidos em produção mediana apresentando mais um monstro das profundezas, nesse caso um polvo gigantesco que tem bocas enormes em cada tentáculo e que vive nas fossas abissais próximas ao Japão. O que salva o filme do ridículo são os bons efeitos especiais e algum senso de humor.
 


OCTOPUS – UMA VIAGEM AO INFERNO (Octopus, 2000)
Direção de John Eyres.

(Millennium Films/ Martien Holdings A.V.V.).

Ou apenas Octopus, para os chegados. Outro lixão. Nos anos 1960, um submarino soviético transportado material radioativo para Cuba foi afundado, e a radiação fez com que um polvo se desenvolvesse e se tornasse um gigante que ameaça pessoas no ano 2000. Nada se salva. Para completar, no ano seguinte fizeram uma sequência, Octopus – Uma Viagem ao Inferno 2 (Octopus 2: River of Fear), dirigido por Yossi Wein, com um polvo gigante surgindo no Rio Hudson, em Nova York. Lamentável.