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O CÉU DE PEDRA

Livros/Lançamentos

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data27/11/2019
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O espetacular final da trilogia A Terra Partida, de N.K. Jemisin.

Na trilogia A Terra Partida, de N.K. Jemisin, é difícil definir em que ponto termina a ficção científica e começa a fantasia. Ou vice-versa. Os dois gêneros estão intimamente conectados nos livros que, de qualquer forma, ganharam o Prêmio Hugo – ofertado aos melhores trabalhos nos dois gêneros – por três anos seguidos, o último em 2018 por este O Céu de Pedra.
A série que foi iniciada com A Quinta Estação e teve sequência com O Portão do Obelisco, aqui é finalizada de forma grandiosa, com eventos que modificam o planeta e iniciam uma nova fase nos relacionamentos tensos e conflitantes entre os diferentes grupos em ação na sociedade, cada qual com seus próprios interesses. E também dá uma nova dimensão ao conceito de que um planeta é um organismo vivo que, além de ter de ser compreendido, tem de ser respeitado, mesmo porque as consequências dos abusos contra o planeta são graves e gigantescas.
A narrativa concentra-se nas atividades de Essun e de sua filha, Nassun, contadas na segunda e primeira pessoas, respectivamente, e os eventos do passado, contados na primeira pessoa por um narrador que, aos poucos, é revelado. Assim, os eventos catastróficos do passado distante que causaram o afastamento da Lua e o início das Estações – os períodos de intensa atividade sísmica que originam anos de dificuldades para os habitantes da Quietude – são finalmente explicados, assim como a relação de proximidade dos estranhos seres de pedra com os orogenes, as pessoas que possuem a capacidade de interagir com a terra.
Jemisin conseguiu elaborar uma história que tem sua origem milhares de anos no passado, quando tanto a arrogância quanto o preconceito de um grupo de pessoas levaram o mundo a um estado de conflito e de perigo constantes, que não apenas não foram devidamente entendidos e resolvidos, mas que se perpetuaram, levando ao isolamento, nos casos mais leves, e ao assassinato, nos mais graves, de pessoas “diferentes”.
Em seu discurso na cerimônia de premiação do Hugo, em 2018, reproduzido ao final do livro, Nora K. Jemisin disse que é bem óbvio que, para escrever a trilogia, ela tirou inspiração da história humana de opressão estrutural, e que também foi inspirada em seus sentimentos sobre o momento atual da história americana. “Mas outra coisa que eu tento abordar com a trilogia A terra partida”, ela disse, “é que a vida num mundo difícil não é nunca apenas uma luta. A vida é família, de sangue e encontrada; a vida são aqueles aliados que se provam dignos por ações e não apenas discursos; a vida significa celebrar cada vitória, não importa quão pequena”.
Tudo isso e muito mais está presente em O Céu de Pedra e nos outros dois livros da série, em uma narrativa espetacular e uma história inventiva que, sem dúvida, já coloca Jemisin entre os grandes nomes da literatura fantástica moderna.

O CÉU DE PEDRA (The Stone Sky, 2017)
N.K. Jemisin
Morro Branco Editora
512 páginas