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OS VIZINHOS

ESPECIAIS/VE COLONIZAÇÃO ESPACIAL

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data17/05/2019
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NASA

Marte e Vênus sempre estiveram na linha de frente das histórias de ficção científica, desde as primeiras narrativas que antecederam a fase moderna do gênero. Certamente, não apenas porque são os planetas mais próximos da Terra, mas porque são os mais facilmente observáveis, até mesmo a olho nu. Existem referências e estudos a respeito de ambos desde os tempos das civilizações da Suméria e Egito, milhares de anos antes de nossa era, e estiveram associados a deuses em diversas culturas ao longo da história humana.

Ilustração de missão em Marte (NASA).

Assim, nada mais normal que histórias sobre os planetas vizinhos fossem escritas à profusão. No entanto, existem muitas histórias de visitas de terrestres aos planetas, ou de visitas e invasões de marcianos e venusianos à Terra, e nem tantas histórias a respeito da colonização dos planetas.
E mesmo em tempos mais recentes, quando as informações científicas sobre Marte e Vênus já indicavam a impossibilidade de existência de vida neles, muitas histórias continuaram a tratar os dois ambientes como capazes de desenvolver civilizações mais ou menos avançadas e, em alguns casos, até mesmo monstros ameaçadores.
Em The Science Fiction Encyclopedia, Brian Stableford lembra que em As Crônicas Marcianas (The Martian Chronicles, 1946-1950), a obra clássica de Ray Bradbury, as histórias mudam de tom e são substituídas por um planeta Marte que está morto, “(...) mas ainda assombrado pelos fantasmas de uma civilização extinta, e que é visitado por terrestres que se tornam duplamente assombrados devido aos ecos de seu próprio passado terrestre que os seguem. As histórias são carregadas de nostalgia e de uma atmosfera alienígena extraordinária e sedutora”.

Concepção artística de missão humana em Marte (Les Bossinas/ NASA Lewis Research Center).

Stableford também considera que, nos anos 1950, as histórias românticas apresentando um planeta Marte exótico rapidamente foram deixadas para trás como o tema dominante devido ao problema da colonização de um planeta com muito pouca água e oxigênio. Algumas histórias que se destacaram nesse aspecto foram Areias de Marte, de Arthur C. Clarke; Outpost Mars (1952), de Cyril Judd; Crucifixus Etiam (1953), de Walter M. Miller; Colónias do Espaço (Alien Dust, 1955. Coleção Argonauta, Portugal), de E.C. Tubb; e Police Your Planet (1956), de Lester Del Rey.

Imagem de radar da superfície de Vênus (NASA).

Com relação a Vênus a situação não foi muito diferente, com as histórias passando por alterações significativas a partir dos anos 1950, ainda que mesmo antes disso Henry Kuttner e C. L. Moore tenham abordado a questão da colonização do planeta em Clash By Night (1943, com o pseudônimo Lawrence O’Donnell) e na sequência, Fury (1947); a diferença é que, nessa época, Vênus ainda era frequentemente visto como um planeta oceânico, quase sempre propenso a sustentar a vida humana, e outras vezes até mesmo apresentado como uma espécie de Éden. Nas histórias de Kuttner e Moore a humanidade vive em Vênus em construções como fortalezas, embaixo do mar, após a vida na Terra ter se tornado impossível, e os colonos têm a missão de tentar colonizar a superfície inamistosa do planeta.
Brian Stableford estabeleceu uma comparação entre as histórias situadas em Marte e em Vênus: “Ainda que Marte fosse mais popular como cenário para romances exóticos, Vênus tinha a vantagem de ser mais versátil. Com Marte, sempre existia a restrição do deserto vermelho perene, mas as nuvens de Vênus podiam esconder uma profusão de maravilhas. (...) No entanto, em parte devido a essa versatilidade, nunca se desenvolveu uma ‘mitologia venusiana’ comparável, em poder, à mitologia de Marte”. Stableford também diz que, após a descoberta da verdadeira natureza da superfície venusiana, o interesse dos escritores de ficção científica diminuiu consideravelmente.

 

A seguir, apresentamos algumas histórias envolvendo colônias em Marte e Vênus.

 

 

EM MARTE



AS CRÔNICAS MARCIANAS (The Martian Chronicles, 1950)

Ray Bradbury.

(Capa: Mick Brownfield/ The Folio Society).

Um dos livros mais comentados da ficção científica, reuniu contos escritos entre 1946 e 1952, estes últimos acrescentados em edições posteriores, de modo que as edições variam entre 26 e 28 contos. Alguns foram publicados originalmente em revistas, outros, escritos especificamente para o livro.
Apesar de ter ficado conhecido como um clássico da ficção científica, existem pontos de vista diferentes a esse respeito, com alguns críticos sequer considerando o livro como parte do gênero.
Adam Roberts (em A Verdadeira História da Ficção Científica) ressaltou que o livro “(...) é uma compilação de histórias relacionadas sem muita firmeza, que narram uma futura colonização humana de Marte não em termos dos detalhes práticos (tecnológicos ou sociais) de tal empreendimento, mas como uma ocupação quase onírica de espaços vazios ainda assombrados pela presença enigmática dos ardilosos nativos marcianos. Escrito em uma prosa que foi muito bem avaliada, poética sem jamais ser pretensiosa ou exibir ostentação, o livro interpreta o futuro que imagina através do passado americano da infância de Bradbury em uma pequena cidade”.
Toda a produção de ficção científica de Ray Bradbury tem essa característica, de apresentar o futuro, mas sem ênfase no aspecto tecnológico. Em The Science Fiction Encyclopedia, Peter Nicholls entende que, além de ser um trabalho maravilhoso, ele consegue combinar muito bem os contos, conectados por imagens e temas recorrentes. As histórias, diz Nicholls, falam sobre as repetidas tentativas dos humanos em colonizar Marte e, nesse processo, levam com eles seus antigos preconceitos, inclusive uma expectativa de que a colonização possa reproduzir um tipo de vida suburbana que tinham na Terra. Nicholls é um dos críticos que observam a relação das histórias com a ficção científica tradicional realçando o fato de que, apesar do cenário ser de FC, não existe ênfase na tecnologia. “O clima é de solidão e nostalgia; um pesar pensativo estende-se pelo livro. Em A Terceira Expedição (publicado originalmente em 1948, na revista Planet Stories, com o título Mars is Heaven), os colonos encontram uma perfeita cidade do meio oeste esperando por eles no deserto de Marte”. Ele diz que, ao longo do livro, aparência e realidade mudam constantemente, como se fosse um sonho.
Em Science Fiction: 100 Best Books, David Pringle diz que foi esse livro que estabeleceu a reputação de Ray Bradbury. Segundo ele, devido ao tema e o fato de que a maioria das histórias apareceu em revistas de FC menores no final dos anos 1940, é natural presumir que o livro é inequivocamente ficção científica. “Na realidade”, ele continua, “essa definição muitas vezes foi contestada, uma vez que Bradbury não mostra interesse na ciência em si. Seus foguetes espaciais são como fogos de artifício; suas pessoas de Marte são como fantasmas de Halloween, enquanto sua paisagem marciana é uma versão árida do meio oeste americano”.
Pringle lembra que nenhuma das “histórias marcianas” de Bradbury apareceu na revista Astounding Science Fiction, a revista editada por John W. Campbell e que era considerada a líder na ficção científica chamada “hard”, ou racionalista. Campbell era um “editor purista”, segundo Pringle. “As histórias podiam ter ‘religião’, mas não tinham física; elas eram quase blasfemas em sua negligência com os fatos do tempo e espaço. Ou pelo menos assim parecia. A moderna ficção científica tornou-se bem mais diversa desde os anos 1950 e, hoje, o radicalismo de Bradbury parece particularmente inofensivo. Eu certamente sustento que As Crônicas Marcianas se incluem na definição de FC, uma vez que usam todos os artifícios da ficção interplanetária, assim como temas familiares como telepatia, invisibilidade e o ameaçador armagedom nuclear. O que há de inovador no trabalho de Bradbury é que ele usou todos esses elementos para obter um resultado pessoal, privado, ignorando a visão de consenso de como uma boa história de FC deveria ser escrita. Ele deu muito mais ênfase ao estilo e à atmosfera do que aos detalhes técnicos e plausibilidade, dessa forma ofendendo a já obstinada sensibilidade de editores e escritores que cresceram com as revistas americanas de fc durante os anos 1930 e 1940. Sua recompensa foi um estonteante sucesso popular e de crítica”.

(Capa: Michael Whelan/ Doubleday).

Pringle ainda lembra que Bradbury foi aceito pelo mundo literário e convidado a escrever para revistas não especializadas no gênero, que pagavam muito mais, e também para Hollywood. “Com todo o clamor subsequente, seu efeito no gênero fc tem sido negligenciado; apesar da oposição de alguns, seu trabalho tornou-se um exemplo para muitos jovens escritores, e mesmo que eles não tenham seguido seus passos, eles sentiram que ele ajudou a libertá-los para que fossem eles mesmos. Assim, As Crônicas Marcianas é um trabalho historicamente importante. Hoje parece datado, sua poesia às vezes preciosa, sua melancolia mais do que um pouco sentimental, mas as melhores passagens ainda têm uma qualidade mágica”.

Algumas historias foram utilizadas para compor a minissérie O Planeta Vermelho (The Martian Chronicles, 1980), dirigida por Michael Anderson, em produção conjunta dos EUA e Inglaterra, inclusive com a participação de Milton Subotsky, o fundador da Amicus, histórica produtora de filmes de terror e fc britânicos, concorrente da Hammer.

O Planeta Vermelho (Charles Fries Productions/ Stonehenge Productions/ BBC/ Polytel International Film).

Foi uma produção cara, com roteiro de Richard Matheson e elenco estelar que incluiu Rock Hudson, Bernie Casey, Roddy McDowall, Darren McGavin, Maria Schell, Bernadette Peters e Fritz Weaver.
Originalmente, tinha 360 minutos, mas as diferentes edições chegaram a cortar para165 minutos, ainda que a edição brasileira em VHS (Vic Video) indicasse 148 minutos; ou seja, mais da metade foi cortada. A história foi dividida em três partes: As Expedições (The Expeditions), Os Colonizadores (The Settlers) e Os Marcianos (The Martians). A produção falhou em captar o clima existente no livro, mas ainda assim é uma minissérie interessante, com bons cenários e momentos realmente bonitos.
Alguns contos do livro também foram adaptados para a série de TV The Ray Bradbury Theater (1985-1992): Mars Is Heaven (1990), Usher II (1990), And the Moon Be Still as Bright (1990), The Long Years (1990), The Earthmen (1992), Silent Towns (1992) e The Martian (1992).


UMA SOMBRA PASSOU POR AQUI (The Illustrated Man, 1951)

Ray Bradbury.

(Capa: Charles Binger/ Bantam Books).

Em outro clássico do autor, ele voltou a apresentar histórias passadas em Marte (e uma em Vênus): O Outro Pé (The Other Foot) e O Visitante (The Visitor). A primeira apresenta Marte já colonizado e habitado apenas por negros, que se dirigiram ao planeta antes de uma guerra nuclear destruir a Terra. Após 20 anos, já estabelecidos, um foguete chega ao planeta trazendo um homem branco. Alguns dos colonos desejam impor uma vingança pelos anos de racismo e segregação que passaram na Terra, e preparam uma recepção violenta a ele. Mas o homem que chega na nave diz que a Terra foi completamente destruída, restando no máximo 500 mil pessoas, de todas as raças, e eles desejam a ajuda dos marcianos, que enfim resolvem ajuda-los e recebê-los como parte da nova comunidade humana em Marte.
É uma visão bastante otimista de Bradbury, acreditando que jamais haverá um fim de fato para a humanidade, e que o recomeço pode ser baseado em relações melhores que as antigas.
No segundo conto, Marte é visto como um local para o qual são enviadas as pessoas que sofrem de algum tipo de doença incurável, e ficam isolados, para morrerem. Um foguete chega ao planeta trazendo um homem que tem a capacidade de criar ilusões, de mostrar a Terra às pessoas, como se fosse real. Os habitantes entram em confronto, cada um querendo a capacidade do homem só para si, e como resultado disso, eles o matam, ficando apenas com o deserto de Marte e a espera pela morte.


AREIAS DE MARTE (Sands of Mars, 1951)

Arthur C. Clarke.


NÓS, OS MARCIANOS (The Martian Way, 1952)

Isaac Asimov.

                                                                                                                                                (Capa: Jack Coggins).

Conto publicado originalmente na revista Galaxy Science Fiction, e posteriormente na coletânea Nós, os Marcianos (The Martian Way and Other Stories, 1955). Asimov disse que escreveu o conto como uma espécie de resposta aos eventos da chamada Era McCarthy.
O conto apresenta os personagens Ted Long e Mario Esteban Rioz, “recuperadores” marcianos, ou seja, homens que saem ao espaço em suas pequenas naves para recuperarem todo tipo de material abandonado, especialmente cascos de naves espaciais. Eles deixam sua marca gravada no material, que então é levado aos satélites de Marte, sendo recolhidos para reutilização.
Long está bastante envolvido em pensamentos acerca do “modo de vida marciano”, irritando-se e preocupando-se ao ouvir os comentários de Hilder, um político da Terra, que reclama de Marte, Lua e Vênus, que não rendem à Terra os bilhões que foram investidos na colonização.
Um ano depois, a Terra inicia um racionamento de água enviada a Marte, por influência do partido de Hilder, que deseja o poder, e Long resolve agir. Tem a ideia de deslocar várias naves até Saturno, onde poderão conseguir toda a água que desejam nos anéis, apesar da longa viagem. Os manuais de voo dizem que ninguém consegue permanecer no espaço por mais de seis meses sem enlouquecer, mas Long entende que eles, os marcianos, podem, uma vez que sempre viveram na cidade fechada sob uma cúpula, uma vida muito semelhante à vida em uma imensa nave espacial.
Eles conseguem alcançar Saturno e tentam deslocar um fragmento de gelo dos anéis, representando meio bilhão de toneladas de água. Demoram um ano na empresa, mas conseguem, depositando o bloco de gelo no planeta, enquanto repórteres anunciam à Terra a notícia de que, se eles estão preocupados com os gastos de água, Marte poderá vender-lhe o que desejarem num futuro próximo.
Eles transformam os partidários de Hilder em uma grande piada, liquidando seu futuro político.
É uma excelente história de Asimov, bem narrada e sem excesso de detalhes técnicos, que aqui servem para realçar os esforços coletivos dos marcianos e o absurdo da proposta dos políticos da Terra.


NÃO PERMITAMOS QUE... (Let’s Not, 1954)

Isaac Asimov.
O conto foi publicado originalmente no jornal de graduação da Universidade de Boston e, posteriormente, incorporado na coletânea Júpiter à Venda. Um professor de física e um de química conversam sobre a necessidade de manterem vivo nos jovens estudantes o conhecimento das ciências, assim como o objetivo maior, o de abandonar o abrigo subterrâneo em que se encontram e voltar a ocupar a superfície da Terra, naquele momento radioativa e destruída. Ao final da história, sabe-se que eles se encontram em Marte, com centenas de sobreviventes de uma guerra nuclear.


BADGE OF INFAMY (1957)

Lester Del Rey.

(Capa: Alex Schomburg).

Conto publicado na revista Satellite Science Fiction. Imagina Marte já colonizado e lobbies poderosos agindo na Terram Marte, incluindo um lobby militar e um lobby médico que ganha força após uma pandemia assolar a Terra. Uma das leis que conseguem fazer passar diz que apenas os médicos autorizados pelo lobby podem praticar medicina, e apenas nos locais aprovados por eles. Mas o médico Daniel Feldman se coloca contra essas regras e, como resultado, precisa sair do planeta e ir para Marte, onde encontra os humanos sendo afetados por uma doença que afeta seus metabolismos já modificados e adaptados ao novo planeta.

 


AS SEREIAS DE TITÃ (The Sirens of Titan, 1959)

Kurt Vonnegut.
(Ver também a matéria Sem Controle)


MARTIAN TIME-SLIP (1964)

Philip K. Dick.

(Capa: Dember).

A história foi publicada originalmente em três partes na revista Worlds of Tomorrow (1963), com o título All We Marsmen e, segundo Brian Stableford, utiliza cenários de uma colônia (em Marte) como pano de fundo para enredos sobre alteração da realidade – o meio ambiente árido e esvaziado era ideal para o “paisagismo” de Philip K. Dick. Também diz que que a história cria um mundo repleto de percepções esquizofrênicas, e move-se com intensidade assustadora, e hilariante, em direção a um final elegante e transcendental.
Percebe-se que não é por acaso que o livro é o preferido de muitos fãs do autor e de críticos da ficção científica.

                                                                                                                      (Capa: Chris Moore).

Em A Vida de Philip K. Dick, Anthony Peake fala sobre o livro: “Nesse romance, PKD foca na natureza do autismo e da esquizofrenia. Ele se passa em Marte, em agosto de 1994. Um menino chamado Manfred Steiner tem habilidades cognitivas poderosas, facilitadas pelo autismo. O personagem central, Jack Bohlen, tem acessos de esquizofrenia. Alguns veem a esquizofrenia e o autismo como um perigo, enquanto outros, como Arnie Kott, líder do poderoso sindicato Water Worker’s Union, sentem que precogs como Manfred podem ser usados para a obtenção de poder político e vantagens financeiras. O romance concentra-se em falsas realidades psicodélicas e foi muito influenciado pelos escritos do psiquiatra existencialista suíço Ludwig Binswanger. PKD apresenta um universo em múltiplas camadas de ‘realidade’, onde autismo/esquizofrenia permitem acesso a fluxos temporais alternados”.
David Pringle é outro crítico que entende ser esse um dos melhores livros de PKD, dizendo que “Os personagens verossímeis, o humor e o terror se misturam efetivamente, em um dos melhores romances de Dick”.
Outro livro de Philip K. Dick que utiliza Marte como pano de fundo para uma história mais complexa é o sensacional Os Três Estigmas de Palmer Eldritch, publicado no mesmo ano.


RECORDAÇÕES POR ATACADO (We Can Remember It For You Wholesale, 1966)

Philip K. Dick.

(Capa: Jack Gaughan).

Conto publicado originalmente em The Magazine of Fantasy and Science Fiction e, posteriormente, na coletânea A Máquina Preservadora.
O personagem Douglas Quail tem a ideia fixa de viajar à Marte, mas não tem e jamais terá o dinheiro ou as qualificações necessárias para viajar. Dirige-se então à Rekal, uma empresa que introduz no cérebro as memórias que a pessoa desejar, por preços mais acessíveis. Após a operação, Quail não terá qualquer lembrança de ter procurado a empresa, mas apenas de ter vivido em Marte durante um período, guardando essas lembranças nos mínimos detalhes.
O problema começa quando ele é drogado para a operação, e o procedimento faz com que ele revele ser, na verdade, um espião que fora enviado a Marte e, posteriormente, tinha sido submetido a uma alteração na memória que apagara a viagem e seu objetivo, mas não o desejo de ir a Marte. Eles completam o processo e ele se lembra de tudo, recebendo seu dinheiro de volta. No entanto, não consegue se decidir se as memórias são reais ou não, pois tem duas memórias distintas implantadas no cérebro.
O clima de pesadelo continua quando se sabe que Quail tem um transmissor telepático instalado no cérebro, de modo que os policiais da Interplan sabem tudo o que ele pensa, e ele se lembra de que foi treinado pela Interplan como assassino e que essa era sua missão em Marte.
No decorrer da história, descobre-se que Quail tem ainda outra camada de memórias implantadas, de modo que fica difícil saber exatamente o que é realidade e o que é memória implantada.

            O ambiente em Marte colonizado de O Vingador do Futuro (Carolco Pictures).

O conto traz uma situação típica das histórias de PKD, com inúmeras camadas de “realidades” alternando-se, às vezes até mesmo tornando impossível definir uma “realidade” final. Aqui, uma fantasia final a ser introduzida na mente do personagem acaba se revelando ser uma realidade; o que seria uma memória falsa, na verdade, era o que realmente tinha ocorrido.
O conto foi adaptado para o cinema em O Vingador do Futuro (Total Recall, 1990. Ver a matéria Gente Saindo pelo Ladrão), com direção de Paul Verhoeven e com Arnold Schwarzenegger no papel principal, mas com a história bastante modificada. Da mesma forma com a refilmagem com o mesmo título, de 2012.


RELATÓRIO ESPECIAL: JORNADA PARA MARTE (Special Report: Journey to Mars, 1996)

Direção de Robert Mandel.
Uma missão de colonização é enviada a Marte sob o comando do capitão Slader (Keith Carradine), com cobertura ao vivo da televisão. Os problemas começam com uma doença que aflige o capitão e prossegue com falhas no sistema da nave. Na Terra, ocorrem manifestações contra a missão, e os tripulantes começam a achar que a missão pode ter sido sabotada. Fraquinho.


MARTE (Mars, 1997)

Direção de Jon Hess.
A mesma aproximação de faroeste apresentada em Outland, mas sem a mesma categoria. No futuro, um minério é encontrado em Marte e enviado à Terra como fonte de energia. Um segurança da empresa mineradora descobre algo de podre no processo e é morto, e seu irmão fortão chega para encontrar os assassinos. Muito ruim.


MISSÃO MARTE (Mission to Mars, 2000)

Direção de Brian De Palma.

(Touchstone Pictures/ Spyglass Entertainment/ Red Horizon Productions/ The Jacobson Company).

Uma produção cara, com elenco muito bom que inclui Gary Sinise, Tim Robbins, Connie Nielsen e Don Cheadle. E, como é comum acontecer com os filmes de Brian De Palma, parte da crítica adorou, parte odiou o que ele pretendeu que fosse um filme de ficção científica sem os clichês do gênero. Mas é claro que tem alguns clichês, o que não impede que seja um bom filme.
A história tem início em 2020, quando a NASA se prepara para a missão que levará astronautas a Marte pela primeira vez. O centro das atenções é a planície de Cidonia, o local que originou uma série de boatos a respeito da existência de uma imensa escultura de um rosto em uma rocha.

O primeiro grupo a chegar ao planeta tem problemas e uma equipe de resgate é enviada, não só descobrindo que o “rosto de Marte” realmente existe, mas também seus segredos e a relação entre os antigos habitantes de Marte e a Terra.
Uma das críticas mais severas ao filme se refere ao ambiente “espiritualista” criado, especialmente nas considerações finais, mas me parece uma crítica exagerada. Não há dúvida de que existe uma sensação de reverência por parte dos astronautas, e não é para menos, diante do que ficam sabendo. É claro que não se trata de um filme fora de série e está muito longe de causar qualquer transformação no gênero, mas nem todos fazem isso.


O PLANETA VERMELHO (Red Planet, 2000)

Direção de Anthony Hoffman.

(Warner Bros./ Village Roadshow Pictures/ NPV Entertainment/ The Canton Company/ Mars Production Pty. Ltd.).

O “outro” filme sobre Marte no ano, e bem inferior ao filme de Brian De Palma. Apresenta um futuro em que a Terra está agonizando, e os terrestres pensam em estabelecer uma colônia em Marte, enviando uma equipe de exploração ao planeta. Mas, lá, as coisas não saem como esperavam, com equipamentos apresentando problemas e os astronautas enfrentando suas dúvidas a respeito do universo. Além disso, percebem que o governo ocultou algumas informações sobre Marte – por exemplo, o fato de que existe um tipo de vida semelhante a insetos – e que suas vidas estão em perigo. O filme é ruim, repleto de clichês e com ações totalmente previsíveis.


FANTASMAS DE MARTE (Ghosts of Mars, 2001)

Direção de John Carpenter.

                                       (Screen Gems/ Storm King Productions/ Animationwerks).

A história situa-se cerca de 200 anos no futuro, quando Marte já conta com uma população humana de colonos explorando os recursos do planeta. Na escavação de uma mina é descoberta uma construção pertencente a uma antiga civilização marciana, repleta de esporos – ou fantasmas – que se alojam nos corpos humanos, transformando-os em seres semelhantes a zumbis alucinados.
É verdade que as cenas de ação de Carpenter são sempre muito boas, mas o filme não precisava ser apenas isso. É pauleira do começo ao fim, com atuações muito ruins e excesso de flash-backs, em obra muito inferior ao que o diretor fez de melhor.


PERDIDO EM MARTE (The Martian, 2011)

Andy Weir.


O PLANETA VERMELHO (The Last Days on Mars, 2013)

Direção de Ruairi Robinson.

(British Film Institute/ Screen Ireland).

No Brasil, nem se preocuparam em encontrar outro título para não confundir com o filme produzido em 2000. Aqui, uma estação de pesquisa é estabelecida em Marte por volta de 2040, e uma missão que se encontra no planeta há seis meses está prestes a retornar quando um dos cientistas encontra evidências de vida bacteriológica. Mais do que isso, os exploradores acabam descobrindo que a bactéria afeta os humanos, transformando-os em seres semelhantes a zumbis.
Haja paciência! Nos últimos tempos, parece que quase tudo existente na Terra ou no espaço é capaz de tornar os humanos em seres semelhantes a zumbis assassinos.


MARTE (Mars, 2016-2018)

Criação de Ben Young Mason e Justin Wilkes.

(Imagine Entertainment/ Pioneer Stilking Films/ RadicalMedia/ Zak Productions).

Seriado produzido pela National Geographic, baseado no livro How We’ll Live on Mars (2015), de Stephen Petranek, e desenvolvido parte como documentário, parte como ficção científica, com história iniciando em 2033, quando uma equipe de seis astronautas partem da Terra em direção a Marte, na espaçonave Daedelus. Eles têm problemas na descida no planeta, ficando distantes do local onde pretendiam estabelecer seu posto central. A segunda temporada se passa anos mais tarde, já com uma colônia estabelecida pelos viajantes.
A parte documentária inclui entrevistas com personalidades como Elon Musk, Andy Weir e Neil deGrasse Tyson, abordando as dificuldades envolvidas em uma viagem e eventual colonização de Marte.

 

 

EM VÊNUS

 


ENTRE PLANETAS (Between Planets, 1951)

Robert A. Heinlein.


A GRANDE CHUVA (The Long Rain, 1950)

Ray Bradbury.

(Capa: Allen Anderson).

Conto publicado originalmente na revista Planet Stories com o título Death-by-Rain e, posteriormente, com o novo título nas coletâneas O Homem Ilustrado e F de Foguete.
Alguns homens estão perdidos em Vênus, procurando um domo solar para se abrigarem da chuva eterna do planeta. Sem abrigo, começam a ficar perturbados, enlouquecendo aos poucos. A procura pelo local seguro arrasta-se e eles vão morrendo um por um, suicidando-se. Apenas um deles consegue persistir e alcançar o domo, mas a narrativa deixa em aberto a possibilidade de que o narrador e sobrevivente esteja alucinando e que o domo jamais tenha sido alcançado.

A adaptação do conto no filme Uma Sombra Passou Por Aqui (SKM).

A ideia que permanece ao final da história é a de que o ser humano não foi feito para aquilo. Os terrestres deslocam-se para outros planetas, percorrem distâncias fantásticas, apenas para perceberem que de nada adianta, e que seu lugar é na Terra, onde nasceram e onde conhecem seu ambiente.
O conto foi adaptado no excelente filme Uma Sombra Passou Por Aqui (The Illustrated Man, 1968), dirigido por Jack Smight, e também como um dos episódios da série The Ray Bradbury Theater, em 1992.


TODO O VERÃO EM UM DIA SÓ (All Summer in a Day, 1954)

Ray Bradbury.

(Capa: Fred Kirberger).

Conto publicado originalmente em The Magazine of Fantasy and Science Fiction e, posteriormente, na coletânea Remédio Para a Melancolia.
Bradbury mais uma vez visita Vênus, e novamente apresenta-o como um planeta sujeito a tempestades constantes, ainda que colonizado. A narrativa se passa durante uma aula em Vênus, e uma aluna é a única jovem que ainda se lembra do sol brilhando; em Vênus, ele é visível apenas durante duas horas a cada sete anos. Ela acaba sendo marginalizada pelos outros alunos depois de ler um poema sobre o Sol.
A história foi adaptada para a TV pela PBS, em 1982, com direção de Ed Kaplan.


THE DOORS OF HIS FACE, THE LAMPS OF HIS MOUTH (1965)

Roger Zelazny.

(Capa: Ed Emshwiller).

Conto publicado originalmente em The Magazine of Fantasy and Science Fiction. Ganhou o Prêmio Nebula de 1966 para Best Novelette (um texto entre 17.500 e 40.000 palavras).
A história se passa em um planeta Vênus habitável, parecido com a Terra, com flora e fauna diferente, o que inclui um ser conhecido como Ikky, que habita os oceanos venusianos e jamais foi capturado. Uma mulher de negócios financia uma expedição para tentar capturar um dos seres.
A maioria dos críticos entende que Zelazny obviamente sabia que Vênus não poderia ter o clima e ambiente descritos na história, mas ela funciona mais como uma espécie de homenagem nostálgica às antigas histórias do gênero. Para Brian Stableford, a história de Zelazny é um adeus nostálgico ao mundo do grande oceano, aquele que surgia nas histórias mais antigas.