Após o sucesso de Caixa de Pássaros, publicado em 2014, em 2016 Josh Malerman publicou essa história curta, o que os americanos chamam de novella – menor do que um romance, maior do que um conto – sem os elementos de ficção científica de seu livro de estreia, mas com forte dose de fantasia e com alguns momentos de terror. E, mais uma vez, uma casa está no centro dos acontecimentos.
Também podemos dizer que se trata de uma história de amor adolescente, apresentando Amelia e James, ambos com 17 anos, ambos sem experiência em relacionamentos, ambos sem saber muito bem o que falar ou fazer quando estão juntos. E, ainda assim, eles têm o “melhor primeiro encontro” de todos os tempos, quando James vence seus medos e convida Amelia para um passeio no lago.
Existe um lago; e um segundo lago, um pouco menor, conectado ao primeiro. Mas é no terceiro lago que as coisas realmente acontecem. A passagem para esse terceiro lago é através de um túnel, no qual o barco a remo que James pegou emprestado do seu tio quase não cabe. Mas eles atravessam, e encontram algo que, ao que tudo indica, está ali apenas para eles. A casa no fundo do lago.
Não é uma casa corroída pela água ou pela passagem do tempo, mas completa, perfeita, com todos seus móveis intactos. É claro que, sendo adolescentes, os dois resolvem explorar a casa, indo cada vez mais longe em seus aposentos e objetos, encontrando cada vez mais mistérios, que eles resolvem sequer tentar desvendar; apenas vivem o momento, e não contam para ninguém de sua descoberta, mantendo a casa e as situações que vivem ali apenas para eles.
O livro pode perfeitamente ser entendido de forma simbólica, representando a descoberta do primeiro amor dos jovens, algo que, naquele momento, parece que só eles têm, como a casa no fundo do lago, trazendo mistérios e descobertas diárias, mas também, em alguns momentos, o medo do desconhecido, do que pode estar atrás da próxima porta, aguardando no próximo quarto.
Lendo algumas impressões publicadas na internet, tanto por leitores quanto por críticos, percebi que ninguém conseguiu, de fato, desvendar o sentido que o autor quis dar para o final da história, se é que ele queria dar “um” sentido em especial. Bem... eu também não. Pode ter vários significados. Se formos pensar em termos de uma história fantástica, podemos imaginar que a casa (e os eventos que viveram nela) causou uma impressão tão forte e profunda nos dois que eles a carregarão consigo para sempre, ou pelo menos por muito tempo. Se formos pensar em termos do suposto simbolismo de um primeiro relacionamento entre os jovens, também podemos imaginar que essa relação sempre pode ser renovada com novas descobertas, ou com a descoberta de que o que eles precisam para continuar juntos sempre esteve com eles, e não em algum lugar do mundo. Vai saber.
Seja como for, é uma leitura bem legal, ainda que não atinja o grau de tensão e suspense de Caixa de Pássaros. E, para ser sincero, nem me parece que tenha sido essa a intenção do autor.
Vale a pena conhecer e tentar descobrir significados, ocultos ou não.
Uma Casa no Fundo do Lago (A House at the Bottom of a Lake, 2016)
Josh Malerman
160 páginas
Editora Intrínseca (2018)