O mundo vai ser destruído. O asteroide que passou a ser chamado de Maia vai se chocar contra a Terra e provocar a extinção de toda ou quase toda a vida. E não há nada que se possa fazer a respeito.
Claro que, quando o evento chega ao conhecimento público, as pessoas agem de formas variadas, indo da indiferença a uma onda de suicídios sem precedentes. E algumas pessoas simplesmente continuam suas vidas da melhor maneira possível, e tentam continuar a agir de forma correta.
Quando a história de O Último Policial inicia, uma das pessoas vivendo no mundo a poucos meses da destruição e que procura agir de forma correta, é o detetive Hank Palace, e ele está investigando o que parece ser mais um suicídio. Mas ele desconfia que pode ser mais do que isso.
Assim, temos uma história policial num ambiente de ficção científica apocalíptica, o que justifica que, em 2013, O Último Policial tenha recebido o Prêmio Edgar de “Best Paperback Original” (Melhor Original em Brochura) – um dos mais conceituados para a literatura policial – e que, também em 2013, o segundo livro da trilogia, Cidade dos Últimos Dias, tenha recebido o Philip K. Dick Award, um dos principais da ficção científica.
Ben H. Winters compõe e apresenta as transformações dos ambientes social, político e econômico do planeta, e em particular dos EUA, com calma, sem grandes explanações, introduzindo as informações no dia a dia dos personagens, sem forçar a situação goela abaixo, de modo que vamos sendo envolvidos, tanto no fim do mundo, quanto na persistência do detetive.
E pode ser que ele seja uma pessoa absolutamente correta, desejando fazer seu trabalho o melhor possível, simplesmente porque tem de ser feito. Pode ser que ele utilize o trabalho como uma forma própria para evitar falar sobre o fim que se aproxima. Seja como for, sua intuição e desejo de cumprir sua função levam-no a não desistir de uma investigação que ninguém mais iria seguir.
E surgem insinuações de que toda a situação mundial com relação ao asteroide pode envolver um mistério ainda maior. Ou pode ser tudo apenas paranoia e teorias conspiratórias, ideias loucas à solta num mundo cada vez mais caótico.
Esse caos se aprofunda no segundo volume da trilogia, Cidade dos Últimos Dias, com Maia cada vez mais próximo do planeta e as mudanças na sociedade e no comportamento das pessoas cada vez mais nítidas e radicais. Falta de tudo, de comida a eletricidade, com situações violentas multiplicando-se e ameaçando a segurança de todos. Apesar de saberem que o fim é inevitável, á maioria das pessoas não quer ir antes do tempo e faz de tudo para sobreviver, apegando-se à possibilidade ínfima de que nem todo o planeta seja destruído.
Nesse segundo livro, o detetive Hank Palace já não está mais na força policial, mas continua procurando agir da forma mais correta, e é essa postura que o leva a envolver-se em um novo caso, ajudando uma conhecida de infância a encontrar o marido que, apesar de ter prometido ficar ao seu lado até o fim, de repente desapareceu.
No segundo livro, a personagem Nico, irmã de Hank, tem papel mais importante do que no primeiro, tanto ajudando-o em momentos importantes quanto aprofundando as teorias conspiratórias apresentadas anteriormente, e que, em alguns momentos, dão a impressão de serem algo mais do que apenas teorias.
O volume final, Mundo das Horas Finais, traz Hank Palace envolvido em sua última e mais importante investigação, à procura de sua irmã, com quem deseja passar os últimos dias da Terra, sempre tentando desesperadamente manter a objetividade na observação das pistas que surgem, por maiores que sejam as dificuldades que surjam em seu caminho.
Palace é um personagem sensacional, obcecado com a verdade. O fim do mundo é apenas mais um percalço em suas investigações, o asteroide apenas uma nova verdade com a qual tem de lidar, não apenas para conseguir as informações de que necessita, mas uma verdade que tenta desesperadamente fazer sua irmã, Nico, entender e aceitar.
A trilogia surge como um dos textos de ficção científica mais bem elaborados sobre o fim do mundo, jamais focando nos aspectos científicos e técnicos, mas no efeito que o conhecimento de que tudo irá acabar pode ter nas populações humanas, e como o comportamento das pessoas pode ou não ser afetado, para o bem e para o mal.
Imperdível.
O ÚLTIMO POLICIAL (The Last Policeman, 2012)
320 páginas
CIDADE DOS ÚLTIMOS DIAS (Countdown City, 2013)
320 páginas
MUNDO DAS HORAS FINAIS (World of Trouble, 2014)
320 páginas
Editora Rocco