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COLOCANDO A LEITURA EM DIA: MESTRE DAS CHAMAS

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data14/03/2019
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Excelente visão de Joe Hill para o fim do mundo.

Quando se tornou conhecido o fato de que Joe Hill é o filho de Stephen King, não faltaram comparações entre o que ele escrevia e a obra do pai mais famoso. Mas está mais do que na cara que Joe Hill tem voz própria, ainda que sujeita a muitas influências benéficas, entre elas, a do pai. Quem ainda não conhece seus livros, deveria conhecer: A Estrada da Noite, O Pacto (adaptado para o cinema em Amaldiçoado [Horns, 2013], com Daniel Radcliffe), Fantasmas do Século XX e Nosferatu (transformado em seriado que estreia em 2019), são todos muito bons.
Em Mestre das Chamas, Hill percorre um ambiente bem conhecido dos fãs de ficção científica, apresentando um apocalipse para a sociedade humana que lembra os bons momentos do gênero, e com muita criatividade na forma pela qual o mundo começa a se despedaçar. Além de ser sua tentativa, segundo ele disse em entrevistas, de mostrar “um lado alegre do apocalipse”, ou os aspectos positivos que podem surgir de situações extremas como as que ele apresenta. “Existe tragédia em Mestre das Chamas”, ele disse, em entrevista ao Huffington Post, “mas você só pode ter tragédia quando você também reconhece as coisas que são boas. Quando você vê algo maravilhoso que pode ser protegido, é isso que traz à tona os sentimentos trágicos”. Além disso, ele afirmou que queria escrever sobre o poder da conexão social, que por sua vez também tem um lado escuro, perigoso.
O fim do mundo começa quando um fungo infecta os seres humanos fazendo com que eles se incendeiem. Não está bem claro qual seja a origem do fungo, mas em alguns momentos é dado a entender que ele poderia estar dormente ao longo da história do planeta, despertando e sendo levado aos humanos quando o aquecimento global começou a derreter partes da calota polar do planeta.
A doença passa a ser conhecida como Escama do Dragão, devido aos desenhos que forma na pele das pessoas, e, aparentemente, os infectados não têm qualquer chance de sobrevivência; depois de alguns dias, eles inevitavelmente vão entrar em combustão interna, e queimar até só sobrar cinzas, que irão se espalhar e infectar mais pessoas. Além disso, os incêndios provocados pelas combustões começam a ameaçar as cidades e florestas do planeta.
Apesar de o título original do livro ser “O Bombeiro”, que é um dos personagens centrais da história, a narração centra-se na enfermeira Harper Willowes, anteriormente Grayson, vivendo uma existência apagada (sem trocadilho) com um marido dominador e, para falar a verdade, totalmente alucinado, até contrair a doença e ser salva pelo Bombeiro de morrer nas mãos do marido. O Bombeiro lhe mostra que a Escama não apenas pode ser vencida, mas dominada e utilizada pelos hospedeiros.
Com o desmoronamento da sociedade provocado pelo número cada vez maior de infectados, pelos incêndios que se tornam incontroláveis e pelo esfacelamento dos governos, o mundo se torna um local pouquíssimo atraente para se viver, em particular para os infectados que não entraram em combustão e que são caçados implacavelmente por milícias violentas e com suas próprias ideias de como as dificuldades devem ser resolvidas.
Joe Hill construiu sua história sem favorecer resoluções fáceis, sem soprar as feridas, revelando a maldade e a bondade humanas nas mais diversas (e adversas) situações.
Como seus livros anteriores, esse é um daqueles para não deixar de ler.


MESTRE DAS CHAMAS (The Fireman, 2016)
Joe Hill
Editora Arqueiro (2017)
592 páginas