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TERROR E DROGAS

ESPECIAIS/VE ESTADOS ALTERADOS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data28/03/2020
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As drogas também têm um papel importante em muitas histórias de terror, às vezes como forma de entrada para o Mal.

Alucinações do Passado (Carolco Pictures).

De forma geral, no terror, e em particular nos filmes do gênero, as drogas têm funções diferentes das que apresentam na ficção científica e na fantasia. É comum que elas sejam utilizadas como meios de transformação dos personagens, como portais para mundos demoníacos, como sinais de degradação moral e ponto de partida para crimes horrendos, ou como um meio de contato com o mundo sobrenatural. Entre outros usos.
David Langford e Peter Nicholls disseram que é um clichê bastante desgastado, em particular nos filmes que misturam terror e ficção científica, que qualquer droga, soro ou outro tratamento derivado de animais, irá afligir seu usuário com várias características da criatura a partir da qual o soro em questão foi obtido, efeitos geralmente não desejados.

Glenn Strange, em O Monstro Sinistro (Sigmund Neufeld Productions).

Entre os exemplos que eles citam está O Monstro Sinistro (The Mad Monster, 1942), dirigido por Sam Newfield. O filme foi rodado em cinco dias e, segundo Phil Hardy, parece mesmo ter sido feito em cinco dias. George Zucco interpreta o costumeiro cientista louco, tão comum na época que o próprio Zucco interpretou dois personagens semelhantes no mesmo ano; o outro foi em O Homem Sem Alma (Dr. Renault’s Secret), dirigido por Harry Lachman. Em O Monstro Sinistro ele entende que pode criar um exército invencível injetando sangue de lobo nos soldados. Ele testa em um sujeito (Glenn Strange) e, como era de se esperar, ele vira um lobisomem e acaba criando muitas confusões.

                                                                      Boris Karloff e Evelyn Keyes em O Mago da Morte (Columbia Pictures).

Mas não são apenas os animais que podem transportar suas características para as pessoas. Em um exemplo ainda anterior ao citado, no filme O Mago da Morte (Before I Hang, 1940), dirigido por Nick Grinde, Boris Karloff interpreta um cientista que está tentando obter um soro de rejuvenescimento utilizando sangue humano, e tem sucesso quando experimenta em si mesmo. No entanto, transforma-se em um assassino porque usou o sangue de um assassino condenado.

Lon Chaney em A Blind Bargain (Goldwyn Pictures Corporation).

Phil Hardy disse que, no início dos anos 1900, vários filmes lidaram com o tema do rejuvenescimento, em particular nos anos 1920, e alguns desses filmes abordaram a utilização de algum tipo de droga ou soro. É o caso de The Screaming Shadow (1920), um seriado em 15 capítulos, dirigido por Duke Worne. Também pode ser enquadrado na linha da “ficção científica médica”, bastante comum na época e nas décadas seguintes. O personagem interpretado por Ben Wilson presencia um ritual na África envolvendo as glândulas de macacos, supostamente como forma de alcançar longevidade e, de volta aos Estados Unidos, resolve fazer suas próprias experiências. Ao mesmo tempo, o barão Pulska (Joseph Girard) também está fazendo experiências semelhantes, mas utilizando cobaias humanas.
Em A Blind Bargain (1922), dirigido por Wallace Worsley, foi a vez de Lon Chaney interpretar o médico dr. Lamb, realizando experiências com glândulas de animais com o objetivo de desenvolver um soro rejuvenescedor. Ele acaba produzindo um ser semelhante a um macaco, interpretado pelo próprio Lon Chaney.

                                                                                                                         John Beal e Coleen Gray em The Vampire (Gramercy Pictures).

Langford e Nicholls também citaram entre os exemplos de transformações animais o filme The Vampire (1957. Também com o título The Mark of the Vampire), dirigido por Paul Landres. Segundo Phil Hardy, esse é o primeiro filme em que Landres e o roteirista Pat Fielder tentaram desmistificar a lenda do vampiro. Não tiveram muito sucesso, de modo que o filme parece apenas uma variação de Jekyll e Hyde. John Beal é um médico que, inadvertidamente, ingere uma pílula de uma garrafa pertencente a um colega que estava fazendo pesquisas com morcegos vampiros. Apenas após dois assassinatos e um ataque a sua enfermeira (Coleen Gray) ele percebe que as pílulas o transformaram em um vampiro, e ele próprio é o assassino.

O Jacaré Humano (Associated Producers).

Outra transformação surge em O Jacaré Humano (The Alligator People, 1959), dirigido por Roy Del Ruth, filme em que o cientista interpretado por George Macready tenta desenvolver um soro baseado no DNA de jacarés com o objetivo de ajudar pessoas a desenvolver novos membros para substituir os que perderam. O escolhido não apenas tem sua pele coberta por escamas, mas também apresenta um desejo em alimentar-se de carne animal, inclusive de animais humanos (sobre o filme, também em Alguns Filmes com Cientistas Loucos e Seus Monstros).

                                                         A Mulher Vespa (Film Group Feature/ Santa Cruz Productions Inc.).

Roger Corman também passeou pelo tema com seu A Mulher Vespa (The Wasp Woman, 1959), com Susan Cabot como a mulher que dirige uma empresa de cosméticos. Segundo Phil Hardy, o filme de Corman segue na pista dos filmes com tema de rejuvenescimento dos anos 1920, com a premissa da busca pela juventude eterna e seus custos. Aqui, como o próprio título deixa bem claro, trata-se da utilização de enzimas de vespas, a partir do trabalho do cientista meio doidão (Michael Marks). Funciona... mais ou menos. Ela rejuvenesce, fica lindona, mas à noite os efeitos colaterais aparecem e ela se transforma em um monstro semelhante a uma vespa imensa, matando pessoas, é claro. “O roteiro de Leo Gordon”, diz Hardy, “é inteligente, mas Corman falha em tornar as atividades da mulher-vespa suficientemente assustadoras”.

Sssss, O Homem Cobra (Universal Pictures/ Zanuck-Brown Productions).

Essas transformações provocadas por cientistas estenderam-se até os anos 1970, quando também se tornaram comuns os filmes na linha chamada “vingança da natureza”, de modo que, algumas vezes, era possível combinar os dois temas. Um desses filmes é Sssss, O Homem Cobra (Sssssss, 1973), dirigido por Bernard L. Kowalski. Além de ter um dos títulos mais estranhos do gênero, traz Strother Martin como o dr. Carl Stoner, um sujeito que acredita que o mundo vai ter um fim e que apenas os seres de sangue frio sobreviverão. Então, começa a fazer experiências com cobras e humanos, utilizando um jovem estudante (Dirk Benedict) que vai trabalhar com ele. Prepara um líquido especial e aplica injeções no rapaz que, lentamente, começa a se transformar no homem cobra do título nacional. Benedict seria o tenente Starbuck de Galáctica: Astronave de Combate (Battlestar Galactica, 1978-1979). O filme foi reapresentado várias vezes na TV brasileira dos anos 1970 e, apesar da produção com pequeno orçamento e do insucesso nas bilheterias, tem seus atrativos, entre eles a atuação de Strother Martin e as maquiagens de John Chambers, o mesmo que criou os macacos de O Planeta dos Macacos original.

 

Os exemplos mais nítidos na literatura são os já citados na matéria As Drogas na Ficção Científica, como o clássico O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, que também se enquadra na categoria terror.
Em Horror: 100 Best Novels, é comentado o livro de Algernon Blackwood, John Silence, Doutor Psíquico (John Silence, Physician Extraordinary, 1908. Clube de Autores), obra dividida em várias histórias. Na história Acampamento do Cão (The Camp of the Dog), o autor apresenta uma nova visão da lenda do lobisomem segundo a qual o lobisomem pode ser identificado em sua forma humana caso o observador tenha fumado haxixe.
H.P. Lovecraft cita o livro de Arthur Machen, The Three Impostors (1895), que traz um prólogo e 13 contos, entre eles O Pó Branco (Novel of the White Powder), no Brasil publicado no livro Arthur Machen, O Mestre do Oculto (Editora Clock Tower, 2017). A história, segundo Lovecraft, aproxima-se do auge absoluto do terror abominável. Conta a história de um jovem estudante de direito, Francis Leicester, passando por um período de esgotamento nervoso devido ao isolamento e excesso de estudo, que resolve utilizar uma receita de um velho farmacêutico, não muito cuidadoso com o estado de suas drogas. “A substância”, conta Lovecraft, “vem-se a saber mais tarde, é um sal incomum que o tempo e as variações de temperatura transformaram acidentalmente em algo estranho e terrível: numa palavra, em nada menos que o vinus sabbati medieval, cujo consumo nas horríveis orgias do Sabá dos Feiticeiros provocava metamorfoses e – se imprudentemente usado – levava a medonhas consequências”.
A princípio, o estudante parece melhorar, misturando o pó em água e tomando todos os dias, mas logo as coisas se complicam, e ele passa por uma “repulsiva transformação psicológica”. E pioram ainda mais, com o rapaz transformando-se fisicamente, até ficar como uma “massa escura e putrefeita, fervilhando em corrupção e meio decomposta, nem líquida nem sólida, mas derretendo e mudando de forma”.
Lovecraft também cita outro de seus livros favoritos, The Dark Chamber (1927), de Leonard Cline. “É a história de um homem que”, escreve Lovecraft, “com a ambição característica do herói-vilão gótico ou byrônico, se propõe desafiar a natureza e recapturar todos os momentos da vida passada pela estimulação anormal da memória. Para isso se vale de uma infinidade de notas, registros, retratos e objetos mnemônicos – e finalmente de odores, música e drogas exóticas. Por fim sua ambição vai além da sua vida pessoal e passa a buscar os negros abismos da memória hereditária – até mesmo as idades pré-humanas entre os charcos fumegantes do período carbonífero e as profundezas ainda mais inconcebíveis do tempo e existência primevos”.
Talvez tenha sido esse acesso a memórias ancestrais por meio do uso de drogas que tenha levado o acadêmico especialista em ficção científica, Neil Barron, a dizer (em Horror Literature: A Reader’s Guide) que a história de Cline antecipa o livro Mergulho no Subconsciente (Altered States, 1978), de Paddy Chayefsky.
Lovecraft complementa a sinopse do livro dizendo que o personagem “Recorre a músicas cada vez mais enlouquecedoras e a drogas cada vez mais estranhas”, com uma transformação física ocorrendo e um confronto que o leva à morte.
As drogas não surgem tão frequentemente na literatura de terror quanto na ficção científica, sendo mais comuns os estados alterados semelhantes a alucinações e delírios provocados por outros motivos.
No entanto, o cinema do gênero explorou mais o tema, e apresentamos exemplos abaixo.


MAIS ALGUNS FILMES DO GÊNERO

 

O CRIME DO DR. CRESPI (The Crime of Dr. Crespi, 1935)
Direção de John H. Auer.

Erich von Stroheim, em O Crime do Dr. Crespi (Republic).

Vagamente baseado no conto O Enterro Prematuro (The Premature Burial, 1844), de Edgar Allan Poe, com o famoso ator e diretor Erich von Stroheim como o doutor Andre Crespi do título, em um filme de terror na linha dos “médicos loucos” bastante comuns na época. Ele quer muito vingar-se do homem (John Bohn) que se casou com a mulher que ele ama (Harriett Russell). Ele tem sua oportunidade quando Bohn precisa ser operado pelo dr. Crespi, e morre durante a operação. Só que, na verdade, o dr. Crespi desenvolveu uma droga que induz um transe cataléptico, e sua vingança é ver o sujeito ser enterrado, ainda vivo. Nada dá certo para o médico doidão, uma vez que o sujeito é desenterrado por outros dois médicos e começar a vagar pelo hospital como se fosse um fantasma, levando o doutor à loucura e ao suicídio.



THE YOUNG DIANA (1922)
Direção de Albert Capellani e Robert G. Vignola.

                                                  Marion Davies e Pedro de Cordoba em The Young Diana (Cosmopolitan Productions).

Baseado no livro com o mesmo título (1918), de Marie Corelli, uma das mais populares escritoras de sua época, o filme geralmente é citado nas enciclopédias como ficção científica.
Segundo o crítico Phil Hardy, o enredo é uma versão mais leve de O Retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray, 1890), de Oscar Wilde. A Diana do título é interpretada por Marion Davies, que também produziu o filme, e segue na linha médica da época. O sinistro dr. Dimitrius (Pedro de Cordoba) convence Diana e beber o elixir da juventude que ele desenvolveu. A droga funciona, mas apenas exteriormente, mantendo sua aparência jovem ao longo dos anos, enquanto seus órgãos internos envelhecem normalmente. Em outras, palavras, ela morre de um ataque do coração.



O SEGREDO DO DR. HICHCOCK (L’Orribile Segreto del Dr. Hichcock, 1962)
Direção de Riccardo Freda (com o pseudônimo Robert Hampton).

Robert Flemyng, em O Segredo do Dr. Hichcock (Panda Film).

Também com os títulos: Raptus – O Diabólico Dr. Hichcock; The Terrible Secret of Dr. Hichcock; The Horrible Dr. Hichcock; The Terror of Dr. Hichcock; Raptus.
O diretor Riccardo Freda é um dos pioneiros do cinema de terror italiano e, curiosamente, chegou a filmar no Brasil – a comédia da Atlântida, O Caçula do Barulho (1949), com Oscarito e Grande Otelo – além de ter filmado na Itália uma adaptação do romance O Guarani, de José de Alencar.
O crítico Phil Hardy diz que O Segredo do Dr. Hichcock é sua obra-prima gótica, “(...) um poema tão macabro quanto perverso, poderoso e fascinante, na forma do melhor trabalho de Poe”.
As drogas surgem aqui na forma de uma dose brutal de anestésico que o dr. Hichcock (Robert Flemyng) injeta em sua esposa Margareta (Maria Teresa Vianello) para simular a morte durante um jogo sexual, já que o doutor tem uma queda para a necrofilia. Só que a dose é demais, e a mulher morre, sendo enterrada por ele. Anos mais tarde, o doutor retorna à mansão com uma nova esposa, Cinzia (Barbara Steele), mas descobre que a esposa ainda está viva e alucinada após ter sido enterrada viva. Os planos do doutor doidão mudam radicalmente, e ele pretende drenar o sangue na esposa nova para tentar rejuvenescer a esposa antiga.
Freda filmou uma espécie de sequência, O Demônio e o Dr. Hichcock (Lo Spettro, 1963), dessa vez com Barbara Steele interpretando Margareta que, com a ajuda do amante (Peter Baldwin), mata o marido dr. Hichcock, interpretado por Elio Jotta (com o pseudônimo Leonard Elliott). Só que o dr. Hichcock está apenas fingindo que morreu, e deixa a esposa louca ao injetar uma droga paralisante e fazer com que ela espere pela morte em imobilidade completa.



MANTIS IN LACE (1968)
Direção de William Rotsler.

                                                                                                                                    (Boxoffice International Pictures).

Também com o título Lila. Uma dançarina de strip-tease que tomou muito ácido atrai homens a um local com promessa de sexo e mata-os utilizando instrumentos de jardinagem, ao mesmo tempo em que alucina, imaginando que suas vítimas são insetos gigantes.
O diretor Rotsler foi, segundo Phil Hardy, um dos primeiros magnatas da indústria de filmes pornográficos, e também um cartunista bem conhecido para fanzines de ficção científica e, como escritor do gênero, chegou a ser finalista do Prêmio Nebula de 1973.



PESADELO DE CERA (Nightmare in Wax, 1969)
Direção de Bud Towsend.

Cameron Mitchell, em Pesadelo de Cera (Paragon International Pictures/ Productions Enterprises Inc.).

Também com o título Crimes in the Wax Museum. Museus de cera sempre deram bons cenários para filmes de terror, e aqui Cameron Mitchell interpreta o proprietário de um museu de cera que usa uma mistura de algumas drogas para manter as pessoas imobilizadas e utilizá-las como as estátuas do museu, ao mesmo tempo em que executa uma vingança alucinada após ter seu rosto desfigurado pelo dono de um estúdio de cinema.
Seus planos funcionam até o momento em que as estátuas retomam seus movimentos – ficamos sabendo que as tempestades elétricas podem cessar o efeito da droga – e empurram o doido até um caldeirão de cera fervente.



A BALADA DE TAM LIM (The Devil’s Widow, 1970)
Direção de Roddy McDowall.

                             Ava Gardner e Ian McShane, em A Balada de Tam Lim (Gershwin-Kastner Productions/ Winkast Film Productions).

Também com os títulos: Tam Lin; The Devil’s Woman. Segundo as informações, baseado em The Ballad of Tamlin, um poema tradicional da Escócia. Ava Gardner vai com seus acompanhantes de Londres para sua mansão na Escócia. Lá, seu jovem amante (Ian McShane) apaixona-se pela filha do ministro local, mas a amante de meia idade não pode suportar isso. O jovem é drogada e começa a sofrer alucinações, entrando em uma floresta enevoada, imaginando ser perseguido por cães do inferno.
Segundo Phil Hardy, após um início chato mostrando o nascer do romance entre os dois jovens, a direção de McDowall começa a dar vida ao filme, com várias sequências impressionantes e bons diálogos.

 


NECROPHAGUS (1971)
Direção de Miguel Madrid (com o pseudônimo Michael Skaife).

(Films Internacionales).

Também com os títulos: El Descuartizador de Binbrook; Graveyard of Horror. Produção espanhola, estreia de Madrid na direção, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Direção no Sitges Film Festival, dedicado ao cinema fantástico. A história situa-se na Escócia, com Bill Curran interpretando o sujeito que volta para casa e descobre que sua esposa morreu ao dar à luz. Desconfiado, ele abre seu caixão e vê que está vazio, assim como outros no cemitério. Também desaparecido está seu irmão, um cientista que fazia experiências com drogas que provocam mutações. Eventualmente, o sujeito fica sabendo que seu irmão experimentou uma droga e se transformou em um monstro que comeu todos os cadáveres do cemitério.

 


VENOM (1971)
Direção de Peter Sykes.

                                                                                                                                                  (Action Plus Productions Ltd./ Cupid Productions).

Também com o título The Legend of Spider Forest. Um turista na Bavária encontra uma mulher linda e misteriosa, tida como sendo uma “deusa aranha” que traz a morte aos que se aproximam dela. Ela mora em ua mansão com o pai nazista que faz experiências com um gás para atacar o sistema nervoso, feito a partir do veneno de aranhas.

 


A LÂMINA DE AÇO (Il Coltello di Ghiaccio, 1972)
Direção de Umberto Lenzi.

(Mundial Film/ Tritone Cinematografica).

Também com o título The Dagger of Ice. O filme estreou quase ao mesmo tempo que Mundo Canibal (Il Paese del Sesso Selvaggio, 1972), filme de Umberto Lenzi que ficou marcado por sua abordagem racista. Aqui, uma mulher que ficou muda devido a um trauma de infância, começa a perceber mortes misteriosas que ocorrem em sua casa, envolvendo rituais demoníacos e drogas. Chegou a ser lançado no Brasil em VHS (MacVideo). Lenzi dirigiu outros filmes de terror e ficção científica, mas jamais chegou ao nível de Mario Bava ou Dario Argento, para ficar só em alguns dos principais diretores italianos do gênero.

 


NIGHT OF THE COBRA WOMAN (1972)
Direção de Andrew Meyer.

                                                                    Joy Bang, em Night of the Cobra Woman (New World Pictures).

Também com o título Movini’s Venom. Produção conjunta EUA e Filipinas, com a participação de Roger Corman na produção, e com péssimos resultados. O diretor Meyer começou como um cineasta experimental, ligado a Andy Warhol. Um sujeito encontra uma princesa da selva que tem uma cobra cujo veneno lhe concede juventude eterna. Os dois tornam-se amantes e descobrem que o sexo é necessário para estimular a droga da imortalidade. Quando ele fica esgotado pelas exigências sexuais da “mulher cobra”, começa a arranjar parceiros para ela. Com o tempo, a mulher acaba se transformando em uma cobra de fato.

 


A FREIRA ASSASSINA (Suor Omicidi, 1978)
Direção de Giulio Berruti.

Anita Ekberg, em A Freira Assassina (Cinesud).

Também com o título Killer Nun. Anita Ekberg interpreta uma freira que passa por uma operação para retirar um tumor do cérebro e, depois disso, fica viciada em morfina e heroína, ao mesmo tempo em que trabalha em um hospital para pessoas idosas. As drogas fazem com que ela fique violenta e mate algumas pessoas.

 

 

 

 


TERRORES DA NOITE (Nightwing, 1979)
Direção de Arthur Hiller.

(Polyc International BV).

Baseado no livro Terrores da Noite (Nightwing, 1977), de Martin Cruz Smith. Bandos de morcegos vampiros começam a atacar gado e pessoas em uma reserva indígena no Arizona, não apenas sugando o sangue, mas liquidando as pessoas completamente. Um xerife indígena e um cientista meio maluco unem-se para acabar com os bichos. O xerife, que tem uma relação muito próxima com o xamanismo local, usa uma droga potente para entrar em contato com um feiticeiro recentemente falecido que dizia ser o responsável pela chegada dos morcegos e pelo fim dos indígenas da reserva. Arthur Hiller, diretor que trabalhou em muitas séries de TV e que ficou marcado por Love Story (1970), não conseguiu o mesmo sucesso e o filme é bem ruinzinho.

 

 


MORBUS (1982)
Direção de Ignasi P. Ferré.

                                                                                                                                                                                                               (TA S. Coop.).

Também com o título Morbus (o bon profit); Morbus, O Que Aproveche. Produção espanhola falada em catalão. Segundo o crítico Phil Hardy, “Seguindo o exemplo de Jesús Franco e seu Macumba Sexual (1981), o estranho filme de Ferré combina elementos de zumbis com sexo e satanismo, e termina com nada mais do que uma piada macabra”. Um cientista louco desenvolve um soro para reviver os mortos, criando vários zumbis. A parte do sexo surge quando duas prostitutas levam seus clientes a uma floresta e são atacados pelos zumbis, que também atacam os membros de uma seita satânica que pratica rituais de sangue e sexo.
A “piada macabra” à qual se referiu Hardy é que, afinal, tudo não passava da imaginação de um escritor drogado. E quando a porta de sua casa se abre e várias criaturas monstruosas entram, descobre-se que elas eram amigos do escritor fazendo uma brincadeirinha com ele. “No processo”, diz Hardy, “foram exploradas todas as oportunidades para mostrar sadismo, canibalismo e, especialmente, muita nudez feminina, no limite do comercialmente aceitável”.

 


TERMINAL CHOICE (Death Bed, 1982)
Direção de Sheldon Larry.

(Magder Film Productions).

Também com os títulos: Trauma; Critical List; Death List. Produção canadense lançada em VHS no Brasil (Office) com um dos títulos em inglês, sabe-se lá por qual motivo. Um computador de hospital está sendo usado para marcar apostas se os pacientes irão ou não morrer. E alguém está liquidando os pacientes. David McCallum (o dr. Mallard de NCIS) quase não aparece no filme, a não ser para ser identificado como o médico louco que está experimentando uma nova droga proibida pelo governo, testando nos pacientes. Filme chatíssimo, arrastado e mal feito.

 

 


GÊMEOS: MÓRBIDA SEMELHANÇA (Dead Ringers, 1988)
Direção de David Cronenberg.

Geneviève Bujold e Jeremy Irons, em Gêmeos: Mórbida Semelhança (Morgan Creek Entertainment/ Téléfilm Canada/ Mantle Clinic II).

Um dos melhores filmes de Croenberg, traz Jeremy Irons no papel duplo como os irmãos Beverly e Elliot Mantle, e Geneviève Bujold como a atriz Claire, que se envolve com eles. Os gêmeos, absolutamente idênticos, desde jovens são fascinados pela anatomia feminina e tornam-se médicos operando em uma clínica internacionalmente famosa, especializando-se em curar a infertilidade feminina.

Os estranhos aparelhos ginecológicos.

Eles cresceram com personalidades diferentes, um retraído, o outro expansivo, mas trocam experiências e mulheres. Tudo corre bem entre eles até o surgimento de Claire, procurando ajuda para sua infertilidade, com um caso raro na ginecologia. O irmão mais tímido apaixona-se por ela e, assim como Claire, começa a abusar das drogas, iniciando um processo de desagregação mental e delírios paranoicos envolvendo mulheres mutantes. Ele pede a um artista da metalurgia que desenvolva uma série de aparelhos ginecológicos para utilizar nessas “mulheres mutantes”, o que faz com que os irmãos sejam impedidos de continuar trabalhando.
Para ajudar o irmão, o gêmeo também começa a utilizar drogas para entrar em sincronia com ele e poder ajudá-lo, mas o ressurgimento de Claire leva a um desfecho violento, com um final arrepiante, em um filme em que o terror é construído aos poucos.
 


A MALDIÇÃO DOS MORTOS-VIVOS (The Serpent and the Rainbow, 1988)
Direção de Wes Craven.

Bill Pullman, em A Maldição dos Mortos-Vivos (Universal Pictures).

O filme foi inspirado no livro de Wade Davis, A Serpente e o Arco-Íris (The Serpent and the Rainbow, 1985. Editora Zahar), que era um estudo polêmico do antropólogo Wade Davis a respeito do vudu haitiano.
O antropólogo é interpretado por Bill Pullman, iniciando com sua viagem à Amazônia, onde um xamã lhe dá uma droga (provavelmente yagé) e ele tem visões, entre elas a descoberta de seu animal totem, o jaguar. De volta aos EUA, ele é contratado por uma empresa para pesquisar um material químico no Haiti, que se diz ser capaz de reviver os mortos, e ele fica sabendo a respeito de um homem que morreu há sete anos e que foi visto novamente vivo.
No Haiti, seus problemas começam a aumentar à medida que se aprofunda nos mistérios da religião local, e os Tom Tom Macoutes perseguem-no, uma vez que seu líder é um feiticeiro negro da seita, dominando todos sob o reinado do pavor. Ele é torturado, apaixona-se pela psicóloga que dirige um sanatório, fica conhecendo todas as práticas locais e tem sua própria alma aprisionada pelo maléfico feiticeiro.
A trama prossegue com o antropólogo retornando aos EUA com o pó que, aparentemente, dá a impressão de morte; e ele ainda retorna ao Haiti para ajudar a psicóloga que está em perigo.
Um dos aspectos mais interessantes do filme é o constante jogo que Craven estabelece entre religião e poder, a utilização da magia negra como forma de dominar um povo que nela acredita. Craven conseguiu manter um equilíbrio não muito fácil entre realidade e sonho, entre ciência e superstição, em um bom filme.
 


SONHO MORTAL (Bad Dreams, 1988)
Direção de Andrew Fleming.

Jennifer Rubin, em Sonho Mortal (No Frills Film Production).

Suspense e terror em filme mais do que razoável, apesar de algumas falhas. Jennifer Rubin interpreta Cynthia, que sai de um estado de coma em que esteve por 13 anos, como sobrevivente de um grupo dos anos 1970 que cometeu suicídio em massa. Ela não se lembra do que aconteceu e participa de um grupo de terapia e, aos poucos começa a ver a imagem do líder do grupo, Harris (Richard Lynch), que deseja que ela também se suicide para juntar-se aos que morreram. Quando ela se recusa, Harris começa a matar os pacientes de seu grupo de terapia. O médico que tratava dela percebe que sua medicação foi trocada por um alucinógeno fornecido pelo psiquiatra que chefia a equipe e que desejava provar uma tese.
 


ALUCINAÇÕES DO PASSADO (Jacob’s Ladder, 1990)
Direção de Adrian Lyne.

Tim Robbins, em Alucinações do Passado (Carolco Pictures).

O diretor Adrian Lyne vinha dos sucessos de 9 e Meia Semanas de Amor (Nine ½ Weeks, 1986) e Atração Fatal (Fatal Attraction, 1987), mas esse filme é bem superior, ainda que com menos sucesso de bilheteria. Tim Robbins interpreta Jacob, jovem veterano do Vietnã, separado da esposa (Patricia Kalember) e vivendo com Jezebel (Elizabeth Peña). Sua vida se transforma em um pesadelo quando ele começa a sentir os efeitos alucinatórios de uma droga que lhe foi administrada no Vietnã, inserida na alimentação, para aumentar a agressividade.
O roteiro de Bruce Joel Rubin consegue deixar o espectador sempre na dúvida sobre o que realmente está acontecendo, com imagens de delírio e realidade habilmente mescladas, com efeitos especiais extremamente criativos e um clima de pesadelo kafkaniano angustiante.
Toda a história, na verdade, transcorre na imaginação do personagem, ou em um mundo paralelo em que ele vive entre o momento em que é atingido, no Vietnã, e o momento de sua morte, revendo sua vida de forma irregular, com passagens fora do tempo real e imagens de pesadelo imiscuindo-se nas recordações. Além disso, ele consegue ter consciência, enquanto está morrendo, de que foi inoculado com uma droga violentíssima, assim como seus companheiros, pelo próprio exército dos EUA. Um filme sensacional.

 


LOUCA OBSESSÃO (Misery, 1990)
Direção de Rob Reiner.

Kathy Bates, em Louca Obsessão (Castle Rock Entertainment/ Nelson Entertainment).

Baseado no livro Angústia (Misery, 1987), de Stephen King. Aqui, as drogas surgem como forma de controle, em filme que deu o Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates, interpretando a enfermeira Anne Wilkes, a fá número um do escritor Paul Sheldon (James Caan) que, para seu azar, sofre um acidente de carro em um local isolado, e é socorrido por ela, que passa a mantê-lo prisioneiro em sua casa, com as pernas quebradas, dopando-o e tornando-o dependente das drogas, enquanto faz de tudo para que ele volte a escrever as aventuras da personagem Misery, que o escritor havia abandonado para escrever outro tipo de livros.


BELEZA PROIBIDA (Forbidden Beauty, 1995)
Direção de Jim Wynorski.

(Concorde-New Horizons/ Libra Pictures/ Showtime Networks).

Produção da empresa de Roger Corman, praticamente retornando ao seu filme A Mulher Vespa, de 1959, mas com um tratamento ao tema sem qualquer atrativo e não ser uns poucos efeitos visuais. Uma mulher dirige sua companhia de cosméticos e é sempre a modelo dos produtos, até que dizem que ela está ficando velha demais para isso. Ela entra em contato com um cientista que realiza experiências com vespas, a partir das quais produz um soro de rejuvenescimento. Claro que a mulher resolve experimentar a droga, que funciona, mas que tem o efeito colateral de transformá-la em uma vespa gigante que ataca os homens durante o sexo.