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OS FAMOSOS

ESPECIAIS/VE ROBÔS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data10/10/2016
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Certamente, o cinema e a televisão foram os veículos que mais contribuíram para tornar alguns robôs mundialmente conhecidos.

Provavelmente, o primeiro caso de um robô a atingir a fama mundial foi, na verdade, uma robô, mais exatamente a réplica da personagem Maria, em Metrópolis, filme dirigido por Fritz Lang em 1927. No filme, ela é chamada de "Maschinenmensch" – ou “máquina humana”. Para quem ainda não conhece a história, a Maria original (interpretada por Brigitte Helm, que também interpreta sua réplica mecânica) é uma protetora dos trabalhadores explorados na cidade de Metrópolis, dirigida por Joh Fredersen (Alfred Abel). O cientista Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) havia construído uma robô, e Fredersen ordena que ele dê a ela a aparência de Maria. É a réplica que instaura uma revolta entre os trabalhadores, já que o dirigente queria acabar com a reputação de Maria entre a classe explorada. Não funcionou, mas no final tudo acaba bem.

A robô de Metrópolis.

O roteiro é bem fraco, ao contrário dos valores cinematográficos propriamente ditos, e essa tem sido uma discussão entre os críticos desde que o filme surgiu.
A imagem da robô – ou robotrix, como às vezes é chamada – é tão forte e importante que está em quase todos os pôsteres do filme, mais do que as incríveis construções arquitetônicas idealizadas para mostrar a cidade do então futuro ano de 2000. E os 90 anos que se passaram desde sua criação só aumentaram sua popularidade.

Depois de Metrópolis, alguns robôs tiveram seus dias de glória no cinema, como os que apareceram no seriado Flash Gordon (1936), comandados pelo terrível Imperador Ming (Charles Middleton), mas sem a abrangência da Maria mecânica.
Apenas em 1951 outro robô surgiria nas telas para conquistar o público e ganhar um espaço de destaque entre os mais famosos de todos os tempos. Era Gort, o gigantesco companheiro de Klaatu (Michael Rennie), em O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still), o clássico dirigido por Robert Wise.

O robô Gort cuida do seu mestre Klaatu, com Helen Benson (Patricia Neal) ao fundo, em O Dia em que a Terra Parou (20th Century Fox).

Gort e Klaatu chegaram a tornar-se referências constantes em histórias do gênero, para não falar da famosa e inexplicada frase “Klaatu barada nikto”, que o alienígena Klaatu pede para Helen Benson (Patricia Neal) memorizar e repetir para Gort caso algo acontecesse com ele. A frase ficou tão famosa que muitas pessoas dedicaram-se a tentar analisar o que ela poderia significar, e ela foi reutilizada várias vezes no cinema – talvez, a mais engraçada no filme Uma Noite Alucinante 3 (Army of Darkness, 1992), de Sam Raimi, quando o personagem Ash (Bruce Campbell) tem de repetir a frase para pegar o Necronomicon, mas esquece a última palavra e tosse para tentar enganar os mortos que protegem o local.
O filme foi baseado no conto Adeus ao Mestre (Farewell to the Master, publicado originalmente em 1940, na revista Astounding Science Fiction. No Brasil, publicado em Máquinas que Pensam), de Harry Bates. No conto, o robô chama-se Gnut e ele é o mestre, e não Klaatu.

O novo e poderoso robô da refilmagem de O Dia em que a Terra Parou (20th Century Fox).

Em 2008, tiveram a péssima ideia de refilmar o clássico, com Keanu Reeves como Klaatu e Jennifer Connelly como Helen Benson, e Gort sendo apresentado como um robô realmente gigantesco. E apesar dos efeitos especiais serem obviamente muito superiores aos do filme de 1951, esse Gort não emplacou. Afinal, o original foi até capa do disco de Ringo Starr, Goodnight Vienna (1974). Não é para qualquer um.

Gort com o ex-Beatle Ringo Starr.

 

 

 

 

 

 

Alguns anos depois foi a vez de Robby, o Robô, personagem do clássico O Planeta Proibido (Forbidden Planet, 1956), dirigido por Fred M. Wilcox, com Walter Pidgeon, Anne Francis e Leslie Nielsen. O crítico Peter Nicholls disse que Robby foi o primeiro “robô estrela” desde Metrópolis, mas ele certamente não considerou Gort. De qualquer forma, o sucesso foi tanto que no ano seguinte resolveram produzir outro filme – O Menino Invisível (The Invisible Boy) – apenas para apresentar o robô novamente.

Robby, em O Planeta Proibido (Metro Goldwyn-Mayer).

 

Em O Planeta Proibido, Robby surge como o robô criado pelo doutor Morbius (Walter Pidgeon) durante sua estadia no planeta Altair IV, onde ele e sua filha moram, estudando a já desaparecida raça alienígena conhecida como Krell. Com o conhecimento científico e tecnológico obtido a partir de seus estudos, ele conseguiu criar Robby, um robô muito parecido com os que Asimov imaginava, inclusive tendo de seguir algumas leis básicas, como a de não poder matar ou prejudicar seres humanos. Essa determinação será importante na parte final do filme, quando ele recebe uma ordem que contraria essa lei.

Robby em O Menino Invisível (Metro Goldwyn-Mayer).


Em O Menino Invisível, dirigido por Herman Hoffman, um garoto ganha Robbie de presente do pai, especialista em computação. Entre outras coisas, o robô é capaz de fazer com que o jovem fique invisível, e também é controlado por um computador que pretende dominar o mundo. Robbie consegue destruí-lo, é claro. A história original é do escritor Edmund Cooper, bastante conhecido na ficção científica, mas foi totalmente modificada para introduzir Robbie; o texto original não tem qualquer robô.
 

Não há comparação possível entre a qualidade dos dois filmes, mas o segundo serviu para sustentar a popularidade de Robbie, que se estendeu pelos anos seguintes. Ele apareceu em alguns seriados e programas de TV, como no episódio "A Guerra dos Robôs" (1966), na primeira temporada de Perdidos no Espaço, no qual ele é encontrado por Will Robinson e passa a ser utilizado pela família, provocando ciúmes no Robô, outro ser mecânico que se tornou muito famoso. Ou ainda no episódio Tio Simon (Uncle Simon, 1963), na quinta temporada do famoso seriado Além da Imaginação (Twilight Zone), com a cabeça de Robbie sendo modificada para “parecer mais humana”. Na mesma temporada, ele ainda apareceria no episódio The Brain Center at Whipple’s (1964). Em 1966, Robbie também apareceu em um episódio de A Família Addams. A lista de aparições é longa, incluindo as séries The Monkees, O Agente da U.N.C.L.E., Banana Split, Columbo, Projeto U.F.O., Hazel e ainda mais.
Ou seja: famoso pra caramba. Para se ter uma ideia, uma réplica em tamanho natural de Robbie, com cerca de 2 metros de altura, chega a ser vendida por 32 mil dólares. Os brinquedos em tamanhos menores chegam a 4 mil dólares.

Robbie, como inimigo do Robô, em Perdidos no Espaço

Robbie em Uncle Simon

 

A cabeça transformada de Robbie.

 

E por falar em grana, os fanáticos com dinheiro podem pagar um pouco menos (até 25 mil dólares) por uma réplica do não menos famoso Robô, da série Perdidos no Espaço (Lost in Space), também conhecido como B9. Sua participação no seriado foi ficando cada vez mais importante na mesma proporção que as histórias ficavam cada vez mais orientadas para o humor, muitas vezes com situações ridículas.
 

O Robô, com toda a equipe de Perdidos no Espaço (Irwin Allen Productions/ 20th Century Fox television/ CBS).

 

O Robô acabou tornando-se parte da família Robinson e personagem central da série. No episódio da primeira temporada em que há a participação de Robbie – que, é claro, não tem esse nome, mas é apenas chamado de robotoide – o Robô não apenas fica desconfiado do novo autômato, mas sente ciúmes e abandona o acampamento. Quando Will consegue encontrá-lo e tenta convencê-lo a voltar à nave, o Robô diz: “Cuidado! Meu inimigo se aproxima”. Will pensa que se trata do robotoide, mas o Robô responde: “Não. É o doutor Smith”.

 

O Robô e o Dr. Smith (Jonathan Harris), em Perdidos no Espaço.

 

O relacionamento entre o covarde doutor Smith e o Robô também foi um dos pontos altos da comédia na série, com Smith sempre xingando e tentando envolver o Robô em seus planos absurdos. O Robô foi apresentando uma personalidade cada vez mais próxima à humana, com indícios de sentimentos e senso de humor, muitas vezes devido à convivência com Will Robinson.

O Robô, apresentando comportamento cada vez mais próximo do humano.

 

A versão para o cinema produzida em 1998 tem pouco a ver com o clima da série, e o robô também. Este não só é maior, mas também não traz qualquer traço de humor do original ou, como alguns críticos escreveram, o clima “camp” do seriado, ou seja, com atuações e situações exageradas e, frequentemente, ridículas.

A nova equipe e novo Robô de Perdidos no Espaço, em 1998 (New Line Cinema).

 

Também teve sua parcela de fama, inclusive no Brasil, o robô transparente Robert, da série inglesa Fireball XL5 (1962-63), com as marionetes desenvolvidas pela dupla Gerry e Sylvia Anderson – eles já tinham criado a série Supercarro (Supercar, 1961-62), e iriam criar outros seriados igualmente famosos como Stingray, Thunderbirds e Capitão Escarlate e os Mysterons.

Fireball XL5, com Robert, o Robô pilotando a nave (AP Films/ ITC).

Robert, o Robô, é o copiloto da nave Fireball XL5, da Patrulha Espacial Mundial, comandada pelo Capitão Steve Zodíaco. Robert foi construído pelo professor Matthew “Matt” Matic (entenderam?) e é o ser mecânico mais avançado da Terra.
As histórias se situavam no ano 2062, e a base da Patrulha ficava na Cidade Espacial, situada numa ilha do Pacífico.
O seriado foi um sucesso na Inglaterra, e aqui no Brasil também foi muito bem recebido, especialmente pelas crianças, que não se importavam muito com os fios que seguravam as marionetes e que, frequentemente, podiam ser vistos.

Os anos 1970 trouxeram alguns robôs mais interessantes, ainda que nem sempre tão famosos, como o caso dos robozinhos do sensacional filme Corrida Silenciosa (Silent Running, 1972), dirigido por Douglas Trumbull, seu filme de estreia. Trumbull já era muito conhecido como especialista em efeitos especiais, responsável por 2001, Uma Odisseia no Espaço (2001 – A Space Odyssey, 1968) e O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain, 1971).

Bruce Dern e um de seus companheiros robôs, em Corrida Silenciosa (Universal Pictures).

 

Para alguns críticos, como John Brosnan (em The Science Fiction Encyclopedia) a premissa do filme é absurda, o que o torna “ocasionalmente espetacular e consistentemente estúpido”. Para Phil Hardy (The Encyclopedia of Science Fiction Movies), o filme é maravilhoso. A premissa é que no século 21 a Terra não tem mais qualquer tipo de vegetação, destruída pela poluição nuclear, e os espécimes restantes estão à bordo de uma gigantesca nave espacial, protegidas por domos, esperando que, algum dia, a atmosfera terrestre permita o replantio. Bruce Dern interpreta o botânico responsável pela manutenção da floresta no espaço. Tem como companhia três astronautas que não se importam absolutamente com o trabalho dele ou mesmo com a manutenção dos espécimes restantes. E eles recebem ordens para destruir os domos e retornar ao planeta, já que os humanos desistiram do projeto de replantar a Terra. Dern rebela-se, mata os três astronautas e foge com a nave, entendendo que sua ação se justifica para preservar o que resta da flora terrestre para o futuro.

Bruce Dern ensina os robozinhos a cuidar das plantas, em Corrida Silenciosa.

 

O botânico é ajudado por robôs que ele passa a chamar de Huguinho, Zezinho e Luisinho (Huey, Dewey e Louie, os três sobrinhos do Pato Donald), mas tanto Dern quanto dois dos robôs acabam morrendo, e apenas um se mantém cumprindo sua tarefa. Phil Hardy escreveu que as imagens finais estão entre as mais tristes e, ao mesmo tempo, mais otimistas dos filmes modernos de ficção científica – o robô remanescente segura um regador e vai regando a floresta protegida pelo domo e escondida dos terrestres que poderiam tentar resgatá-la e destruí-la.
O filme não foi um grande sucesso de bilheteria, e tudo indica que Trumbull não esperava que fosse, uma vez que não se trata de um filme de ação. Ele tem bons efeitos especiais, mas o andamento é bem mais lento do que a maioria do público espera.

 

Yul Brynner, como o androide malvadão, em Westworld (metro Goldwyn-Mayer).

Assim, não é de se estranhar que um filme não tão bom como Westworld, Onde Ninguém Tem Alma (Westworld, 1973) tenha obtido mais sucesso e seus robôs tenham se tornado mais conhecidos do que os pequenos ajudantes de Corrida Silenciosa. Ainda mais se considerarmos que os robôs de Westworld têm rosto e atitudes humanas, inclusive com relação ao sexo.
Dirigido por Michael Crichton, com história dele mesmo, Westworld é sua primeira experiência no cinema – ele tinha dirigido uma produção para a TV em 1972 (Pursuit) –, respaldado por seu sucesso como escritor, carreira que iniciou em 1966 e que se tornaria ainda mais importante nos anos seguintes.
A história se passa na cidade de Delos, construída no deserto com o único propósito de servir como um gigantesco parque de diversões para adultos. Os clientes podem escolher três diferentes ambientes, que reproduzem épocas e situações específicas – o Velho Oeste americano, a Roma antiga e na Europa medieval – e, nesses ambientes, interagem com robôs, ou androides, com aparência e atitudes iguais às dos humanos, programados para seguir determinados roteiros.

Richard Benjamin enfrenta o pistoleiro, em Westworld.


O roteiro inclui, por exemplo, relações sexuais com os seres mecânicos e duelos mortais, nos quais, é claro, os humanos sempre vencem. Ou melhor, sempre venciam, até algo sair errado na programação e os robôs começarem a apresentar comportamento errático, até chegar ao ponto de matarem humanos. O ponto alto é o confronto entre um dos clientes (Richard Benjamin) e o pistoleiro representado por Yul Brynner.
Portanto, estamos num território muito distante daquele dos robôs de Asimov, incapazes de fazer mal a seres humanos, e mais próximos dos problemas que de fato podem ocorrer. O próprio responsável pelos robôs chega a afirmar que eles são tão complexos, tão próximos de seres vivos e, muitas vezes, até mesmo construídos por outros robôs, que não se tem uma ideia exata de como eles funcionam.


Enquanto finalizava este especial, estreou no Brasil a nova série Westworld, da HBO, com uma produção impecável e grande elenco, incluindo Anthony Hopkins como o criador dos robôs que povoam a cidade visitada pelos humanos. E, apesar de ainda não saber exatamente qual será o futuro da história, tudo indica que na série os robôs são as vítimas, mais do que os humanos. Parece que vai ser legal. Mas como a produção é de J.J. Abrams, no final tudo pode mudar para pior.

 

 

 

 

 

 

Nenhum desses robôs foi páreo para o sucesso que teve a dupla de autômatos de Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977), R2-D2 e C-3PO. Eles começam a ganhar destaque já nesse primeiro filme da série – no Brasil, inicialmente chamado Guerra nas Estrelas, depois Star Wars (sabe-se lá por quais razões de mercado) e, finalmente (quem sabe?), Star Wars IV – Uma Nova Esperança. E o sucesso da dupla só aumentou com os filmes seguintes, O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back, 1980; ou Star Wars: Episódio 5 - O Império Contra-Ataca) e O Retorno de Jedi (Return of the Jedi, 1983; ou Star Wars Episódio 6, etc etc).

 

C-3PO e R2-D2, em Guerra nas Estrelas (20th Century Fox).

 

Como a série de filmes tornou-se um fenômeno mundial de vendas, atraindo fãs alucinados de todas as idades, o sucesso dos robôs acompanhou a onda. C-3PO parece uma mistura de mordomo inglês com o doutor Smith, de Perdidos no Espaço, sempre sem ter a compreensão exata do que se passa à sua volta e, digamos, um tanto atrapalhado. Na verdade, nunca tive muita certeza de qual a verdadeira função do robô para as atividades dos heróis. Nos filmes ele é o que se chama de “comic relief”, ou alívio cômico, o personagem que sempre tem uma tirada ou situação engraçada em meio a uma situação de drama ou tensão.
Seu companheiro R2-D2, que não tem uma linguagem humana, mas é compreendido por C-3PO, também tem seus momentos como “comic relief”, mas certamente tem uma participação mais ativa, por exemplo, ajudando na pilotagem de naves, entre outras coisas.
Isaac Asimov, que não era um grande fã de Guerra nas Estrelas, lembrou de R2-D2 como o personagem mais popular do filme, um “gracioso robozinho que parecia um hidrante”. Como um grande fã dos robôs, ele ironiza: “Os produtores naturalmente conhecem tudo que diz respeito a robôs. São engraçadinhos. Qualquer robô que apareça nesses filmes de hoje em diante terá de ser engraçadinho”. Claro que nem em todos os filmes isso ocorreu, mas Asimov não deixa de ter certa razão.

Os dois robôs são, provavelmente, os mais famosos do mundo hoje em dia, superando os que foram citados anteriormente, graças a um número de fãs que, em outros tempos, seria impensável para qualquer filme de ficção científica. A possível exceção para a fama dos dois podem ser os chamados “robôs sexuais”, que já vêm sendo anunciados por algumas empresas, para breve, em alguma loja perto de você.
O mesmo Asimov também comentou sobre os robôs da série Galáctica (Battlestar Galactica, 1978-79), dizendo que como “Não resta dúvida que um hidrante não é elegante por si mesmo”, R2-D2 teve de fazer “coisas graciosas para compensar essa característica”. No seriado Galáctica “foi decidido melhorar a situação. Obtenha-se um robô que pareça gracioso e ele não terá de fazer coisa alguma. Desse modo, será poupado o desgaste da criatividade de cada dia no que disser respeito aos autores dos roteiros”.
Asimov estava se referindo ao “robô-cão felpudo” que aparece na série. Contudo, a série ficou mais famosa pelos cylons, uma raça inteira de robôs que deseja destruir a humanidade. Eles foram criados por uma raça alienígena reptiliana que já foi extinta, ao que se supõe, pelos próprios robôs que criaram, e no momento em que a história começa, a humanidade, representada pelas Doze Colônias, está no fim de uma guerra de 200 anos contra os cylons, e sendo derrotada.

O robô-cão de Galáctica (MCA/Universal/ABC). 

Os cylons do seriado original Galáctica.


A Galáctica do título é a nave principal que, junto com outras naves menores, inicia uma fuga pela galáxia, em busca de um novo lugar para viver e evitar a extinção da raça humana. Procuram por uma suposta e mística décima terceira colônia, que seria nada mais do que a própria Terra.
Inicialmente, o seriado foi um sucesso de público, mas aos poucos foi perdendo audiência e sendo cancelado pela ABC em 1979. Chegou a ser acusada de copiar Guerra nas Estrelas ou, pelo menos, de seguir os passos do sucesso do filme de George Lucas. Na verdade, tem em comum com o filme o fato de apostar nos efeitos especiais – era um dos seriados mais caros na época, senão “o” mais caro – e de ser uma espécie de retrocesso para o que de melhor se produzia na literatura do gênero nos anos 1970 e 1980, voltando para a chamada “space opera” que dominou o gênero em seus primórdios, com muita ação e pouco conteúdo.

 

Dois tipos de cylons no novo Battlestar Galactica (Universal Television).

A série foi refeita e apresentada no Brasil como Battlestar Galactica (2004-2009), em quatro temporadas, sendo precedida por uma minissérie de três horas apresentada em 2003. E aí a história foi outra.

Tricia Helfer como a "réplica perfeita" dos humanos, a Número Seis, de Battlestar Galactica.


O novo seriado, apesar de também utilizar efeitos especiais excelentes, deu mais atenção aos detalhes do enredo, ao relacionamento entre os humanos e os cylons, às questões morais, políticas e, principalmente, filosóficas e religiosas. Na verdade, a religião compõe parte essencial do conflito entre as duas raças.
E os cylons, apesar de também terem sua forma metálica, conseguiram evoluir ao ponto de construir réplicas perfeitas dos humanos e, em alguns casos, ter emoções e sentimentos como eles, o que complica bastante as tentativas dos robôs em destruírem a humanidade.

 

 

 

E o que dizer dos replicantes? Talvez o termo tenha se tornado mais famoso do que os próprios androides do filme dirigido por Ridley Scott, Blade Runner – O Caçador de Androides (Blade Runner, 1982), baseado no sensacional livro de Philip K. Dick, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? (Do Androids Dream of Electric Sheep?, 1968). A palavra “replicante” foi desenvolvida para o filme, pois no livro Philip K. Dick usou apenas androide, ou “andy”.

Rutger Hauer como o replicante Roy, em Blade Runner (Warner Bros.).

Os robôs/androides da história são tão perfeitos que o simples contato ou uma conversa com eles é insuficiente para determinar sua natureza. São iguais aos humanos em tudo, ou quase isso, a ponto de alguns deles resolverem retornar à Terra, apesar de serem proibidos de fazer isso. Foram criados para explorar as estrelas, mas querem encontrar seu criador e saber por que foram elaborados com um tempo de vida bastante limitado. Nesse aspecto, eles têm uma possibilidade que os humanos não têm.

O replicante encontra seu criador. Dr. Tyrell (Joe Turkel), em Blade Runner.

São caçados pelo blade runner Deckard, especialista em determinar a natureza dos androides e realizar o trabalho policial de encontrá-los na cidade superpovoada e poluída, e eliminá-los. Os problemas surgem quando ele se envolve com uma androide e passa a ver os seres de outra maneira.

Sean Young como a androide Rachael, a paixão do caçador Deckard.

 

O livro não tinha atingido a mesma popularidade do filme, o que é compreensível, ainda que apresente uma história mais complexa. Antes de falecer, em 1982, antes da estreia do filme, Philip K. Dick chegou a ver uma copia do filme, e gostou, afirmando que ele se concentrava num dos aspectos do livro porque seria impossível tratar de todos os temas propostos na obra em pouco menos de duas horas de filme.
Porém, mesmo sem abranger a totalidade dos assuntos abordados por Philip K. Dick, a história foi muito bem elaborada pelos roteiristas David Peoples e Hampton Fancher, além de apresentar um visual entre os mais criativos da história recente da ficção científica; é só lembrar que o filme já tem 34 anos de vida e, visualmente, ainda supera muitas das criações atuais. Certamente isso se deve ao fato de não haver distanciamento entre a história e o aspecto visual, ou seja, os efeitos especiais não são o centro do filme, mas servem à história.
Além da presença de Harrison Ford como Deckard, os replicantes são sensacionais, com Rutger Hauer como Roy, Sean Young como Rachel, por quem Deckard se apaixona, e Daryl Hannah como Pris. E tem a trilha sonora de Vangelis.

                      Deckard (Harrison Ford) prestes a encontrar a replicante Pris (Daryl Hannah).

 

Entre outros temas, o livro de Philip K. Dick lida com o assunto que é uma presença constante em sua obra; a diferença entre o real e a cópia, o real e o imaginário, e como as pessoas lidam com essa questão e conseguem (ou não) identificar a realidade em que se encontram num determinado momento. Ainda assim, a questão da relação entre Deckard e os androides é ponto fundamental. Philip K. Dick disse que “a conclusão da história, para mim, é que, em seu trabalho de caçar e matar os replicantes, Deckard aos poucos se desumaniza, enquanto ao mesmo tempo a gente percebe que os replicantes, pelo contrário, não se humanizando. Finalmente, Deckard tem de se questionar: o que ele está fazendo e qual é a diferença essencial entre ele e os seres que está perseguindo? E, levando isso às últimas consequências, quem é ele, afinal, se não há grandes diferenças?”
 

E famoso mesmo ficou o robô exterminador de O Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), no filme que consolidou a carreira de Arnold Schwarzenegger em filmes de ação; ele já vinha de sucessos com Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, 1982) e Conan, o Destruidor (Conan the Destroyer, 1984, estreando alguns meses antes).

Arnold Schwarzenegger como o robô enviado ao passado, em O Exterminador do Futuro (Orion Pictures).

 

Claro que ele não faz quase nada a não ser perseguir Sarah Connor (Linda Hamilton, nos dois primeiros filmes da série) e dizer algumas poucas falas; ainda assim, com o imenso sucesso de público, a frase “I’ll be back” acabou tornando-se famosa.
 

O Exterminador do Futuro: Crônicas de Sarah Connor (Warner Bros. Television).

A série inclui: O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2 – Judgment Day, 1991), como o primeiro, também dirigido por James Cameron, iniciando sua carreira como um dos diretores mais bem sucedidos dos EUA – entre o primeiro e o segundo filme ele dirigiu Aliens, O Resgate (1986) e O Segredo do Abismo (1989) – O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (Terminator 3: Rise of the Machines, 2003); O Exterminador do Futuro – A Salvação (Terminator Salvation, 2009); O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator Genisys, 2015); e ainda a série para TV, O Exterminador do Futuro: Crônicas de Sarah Connor (Terminator: The Sarah Connor Chronicles, 2008/2009).

Para se ter uma ideia de como em 1984 os tempos eram outros, o primeiro filme da série custou 6,5 milhões de dólares, contra os 155 milhões de O Exterminador do Futuro: Gênesis. Não é muito difícil de entender, uma vez que os filmes de ficção científica foram ficando cada vez mais dependentes da utilização de mais e mais efeitos visuais, em particular um filme que chega à sua quinta edição sem muita história para ser contada. Além dos efeitos deslumbrantes e de muita porrada e destruição, pouco mais acontece.

                                                                 A versão mais recente: O Exterminador do Futuro - Gênesis (Paramount Pictures).

O primeiro filme é legal, e a notória incapacidade de Arnold Schwarzenegger para atuar caiu como uma luva no papel de um robô que não tem quase nada a dizer, e muito a fazer. Quase como seu papel em Conan, quando tudo o que ele tinha de fazer, basicamente, era lutar e ser um bárbaro. A base da história também não é de se jogar fora, com o robô sendo enviado de volta ao passado para tentar impedir o nascimento daquele que seria o líder de uma resistência aos robôs que tentavam controlar o planeta, sob o comando da rede inteligente chamada Skynet.
Claro que, mais uma vez, o cinema segue na direção de apresentar as máquinas como inimigas em potencial da humanidade, entendendo que assim que os seres humanos conseguirem desenvolver a inteligência artificial, as máquinas inevitavelmente irão se voltar contra a humanidade e tentar destruí-la ou controlá-la. Assim, aqui também estamos muito longe dos robôs de Asimov e seus seguidores. Esses não estão nem aí para leis da robótica ou quaisquer impedimentos que possam ter sido incutidos em suas memórias.
Na verdade, em seu aspecto mais amplo, não é um tema muito diferente daquele de Matrix (The Matrix, 1999), ainda que os filmes tenham abordagens e propostas diferentes. Matrix é repleto de referências religiosas e filosóficas, que passam longe dos filmes da série Terminator. O que ambas as série têm em comum é que todos os filmes da sequência são absolutamente dispensáveis; as histórias que interessam já foram contadas nos filmes originais, e os demais só surgiram porque, nos últimos tempos, os produtores não perdem qualquer oportunidade de ganhar dinheiro com algo que já rendeu dinheiro. Quase sempre, não precisam fazer muito esforço, mas apenas gigantescas campanhas de marketing para reforçar a “marca”; muitas vezes, como no caso de Matrix, os filmes seguintes conseguem até mesmo diminuir a força e a importância do filme original; outras vezes, como no caso de O Exterminador do Futuro, conseguem complicar a história, com idas e vindas no tempo e no enredo.

Outro destaque entre os famosos é o androide Data, da série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (Star Trek: The Next Generation, 1987/1994), criação de Gene Roddenberry, e um sucesso absoluto em suas sete temporadas.

Brent Spiner como Data, em Jornada nas Estrelas: a Nova Geração (Paramount Television).

Data, interpretado por Brent Spiner, é um androide que segue uma linha de ação e pensamento bem mais próxima dos melhores robôs e androides desenvolvidos pela literatura de ficção científica. A aproximação com o conceito geral de robôs desenvolvido por Isaac Asimov é reforçada pelo fato de Data ter um cérebro positrônico.
Além de ser o oficial de ciência da Enterprise, Data é também o chefe de operações e segundo oficial, e o primeiro androide do tipo a figurar na Frota Estelar, estabelecendo uma relação de absoluta confiança com os demais tripulantes.
Além de sua grande força, sua capacidade imensa em acumular dados, tomar decisões e agir de forma racional, Data marca sua presença na série por estar constantemente tentando aprender a forma de pensar e agir dos humanos, em particular seus sentimentos, algo que não tem. Tenta entender e aprender a contar piadas, ter relações sexuais e, durante algum tempo, até mesmo teve inserido em sua programação um “chip da emoção”, o que o tornou bastante instável. Na verdade, muitos fãs da série detestam “esse” Data. De qualquer forma, além de ser integrante essencial à nave, suas tentativas de entender os humanos renderam muitos momentos de humor na série.