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2012: Fim, Início ou Transformação do Mundo?

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data17/05/2015
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À medida que a data se aproxima, a chamada profecia maia sobre uma alteração radical no planeta em 2012 vem gerando polêmica, com defensores e críticos acirrados.

Por alguma razão ainda não muito bem explicada, de tempos em tempos a humanidade passa a falar mais intensamente sobre uma possível catástrofe que deverá acabar ou, pelo menos, modificar drasticamente o planeta. Mais especificamente, surgem constantemente profecias ou visões que anunciam o fim dos tempos, o apocalipse, o julgamento final, ou alguma dessas versões combinadas.
A mais recente a ganhar espaço na mídia refere-se a profecias maias que indicam o dia 21 de dezembro de 2012 como a data do fim do mundo, para alguns, ou do fim de uma era, para outros. As interpretações variam de acordo com a bagagem cultural de quem está interpretando, assim como alguns não consideram o dia específico como o ponto mais importante, mas sim um período que se iniciou em 1999 e deverá terminar em 2012.


A estela de La Mojarra, no Museu de Antropologia de Xalapa, México, com o calendário contendo a chamada "contagem longa" do tempo.

A data marca o fim do atual ciclo, chamado baktun. Um baktun é composto por 20 katun, uma unidade de tempo utilizada no calendário maia equivalente a 7.200 dias. Um katun, por sua vez, é composto por 20 tuns, e cada tun equivale aproximadamente a 360 dias. As unidades seguintes no calendário são o uinal, formado por 20 dias, e os dias.
O calendário maia, que na verdade era utilizado por vários povos da América Central, conta o tempo a partir de uma data específica que, no atual calendário ocidental, seria equivalente a 11 ou 13 de agosto de 3114 a.C.
Assim, as datas dos maias eram representadas por grupos de cinco números, por exemplo, 13.0.0.0.0.; a data indica que, desde o início da contagem, passaram-se 13 baktuns, 0 katun, 0 tun, 0 uinal e 0 dias. E esta é a data atribuída ao fim dos tempos.
O fato de que a data prediz o fim de uma era parece ser correta. O problema reside nas diferentes, e opostas, interpretações da mesma. Uma visão apresenta a data como uma profecia dos maias referente a um período em que ocorreria uma alteração ou alterações profundas em nosso planeta. Algumas interpretações apontaram essas alterações como algo muito parecido com o final dos tempos previstos por textos cristãos, mas especificamente pelo Apocalipse de João. Outras, que se desenvolveram principalmente a partir dos anos 1960 e ligadas ao que se convencionou chamar de "nova era", entendem que essas alterações não implicam necessariamente em catástrofes, mas em mudanças de atitudes e de relacionamento entre a humanidade e a natureza.
Os cientistas especialistas na civilização maia e meso-americana rejeitam completamente essa visão. Segundo os estudos publicados até hoje, o 13.0.0.0.0. representa apenas o calendário sendo zerado. Mais do que isso, os estudiosos afirmam que não se trata sequer do fim do calendário maia, uma vez que em algumas estelas existem datas que vão além de 2012. Cita-se, por exemplo, uma citação no famoso Templo das Inscrições, em Palenque, cuja data avança a outubro de 4.772. O calendário meso-americano também utilizava mais raramente quatro unidades de tempo superiores ao baktun: eram piktun, kalabtun, k'inchiltun e alautun.
Segundo se sabe, o primeiro a trazer a questão do final do calendário maia a público foi José Argüelles, com seu livro O Fator Maia: Um Caminho Além da Tecnologia (The Mayan Factor: Path Beyond Technology, 1987. Ed. Cultrix). Argüelles é um norte-americano com ascendência mexicana, Ph.D. em História da Arte pela Universidade de Chicago, além de professor em Princeton e no Instituto de Arte de São Francisco. Também ficou conhecido por suas experiências com LSD em meados dos anos 1960 e por uma série de pinturas baseadas nessas experiências. Argüelles criou o Dreamspell, um calendário esotérico baseado vagamente no calendário maia.
Entre as maiores críticas ao calendário que ele criou está o fato de que ele tem influências de fontes não relacionadas aos maias, como o I Ching, além de ser baseado numa contagem de dias diferente da utilizada no calendário maia tradicional.
Em certo momento, Argüelles se disse herdeiro do legado de Pacal Votan e instrumento de sua profecia, que chamou de Telektonon. Essa profecia estaria relacionada ao famoso entalhe na tampa da tumba de Pacal, no Templo das Inscrições, em Palenque. Argüelles relacionou Pacal, governante maia, com Votan, figura mítica da cultura maia. O mesmo entalhe já foi visto por outros pesquisadores da chamada "arqueologia alternativa" como sendo nitidamente a figura de um humano sentado numa nave espacial. Argüelles relacionou Pacal Votan com dezembro de 2012, já que ele agiria como aquele que fecharia o ciclo. Da mesma forma, Argüelles e outros pesquisadores estabeleceram uma conexão entre Pacal Votan e o deus maia Quetzalcoatl.
Nenhuma dessas relações é sustentada pelos estudiosos maianistas; em momento algum ao longo dos anos de pesquisas e estudos de arqueólogos, linguistas e especialistas em inscrições, o nome de Pacal foi associado ao de Votan ou Quetzalcoatl. A versão mais comum para a inscrição é que representa a descida de Pacal ao Xibalba, o mundo subterrâneo dos maias.
Com o passar dos anos, as notícias referentes à profecia maia foram ganhando uma proporção ainda maior. Um dos grandes divulgadores do conceito de que o ano de 2012 representa uma mudança no paradigma humano – não um final dos tempos, tal como previsto em outras religiões, mas uma alteração nas relações – foi o escritor Daniel Pinchbeck, autor de 2012: The Return of Quetzalcoatl. Na obra, ele apresenta a hipótese que a humanidade estaria passando por um processo acelerado de conscientização global e transformação, que levaria a uma nova percepção do tempo e espaço. Na mesma obra, Pinchbeck também fala sobre sua visita ao Brasil em 2004. Na Amazônia, participando de uma cerimônia do Santo Daime, que utiliza ayahuasca para seus rituais, ele afirma que o deus Quetzalcoatl começou a falar com ele e transmitir informações proféticas.
É muito difícil definir quando, onde e quem começou a falar e apresentar o número exato de sete profecias dos maias. Segundo os cientistas, certamente não foram os maias, e a linguagem utilizada é típica dos textos que marcam grande parte da cultura da nova era, e que é bastante distante da forma pela qual os maias se expressavam.
Essas sete profecias marcariam o período final da transformação pela qual a humanidade iria passar, com início em 1992 (primeira profecia), e final em 2012 (sétima profecia). Entre uma e outra, uma série de eventos teriam sido profetizados, tal como a transformação do comportamento da humanidade a partir do eclipse solar de 11 de agosto de 1999; desta data em diante, a humanidade poderia seguir dois caminhos: ou perderia o controle de duas emoções, ou encontraria a paz interior. Tudo isso seria causado pela energia recebida do centro da galáxia, que provoca um aumento na vibração do planeta e das ondas cerebrais, alterando os comportamentos.
Diz-se que a terceira profecia afirma que a temperatura da Terra irá aumentar, provocando mudanças climáticas e geológicas, especialmente devido a falta de consciência da humanidade em proteger seus recursos naturais. Isso levará ao derretimento dos pólos. A humanidade terá de se reorganizar, inclusive no que se refere ao sistema financeiro e econômico. Já na sexta profecia existiria referência ao surgimento de um cometa que vai colocar o planeta em perigo. Fala-se ainda que um raio emitido pelo centro da galáxia, já no período final das transformações, vai ativar o código genético de origem divina dos seres humanos que estejam em alta frequência de vibração.
Para qualquer um que tenha um pouco de familiaridade com os conceitos da nova era, a mensagem é clara, e surge não apenas nos textos referentes à profecia maia, mas em centenas ou milhares de textos, de grupos xamânicos a grupos de contato telepático com seres de outras dimensões ou extraterrestres dos mais variados pontos da galáxia.
Os cientistas são bem claros ao afirmar que, nos documentos maias conhecidos, não existem referências a esses assuntos, em especial a alterações de código genético, conhecimento que os maias não possuíam.
A data de 2012 foi escolhida ao acaso, segundo os estudiosos, porque existem registros de que os maias situaram o fim do mundo em termo de éons no futuro, uma época inimaginável.
Como tem ocorrido ao longo dos anos com centenas de profecias que indicavam o fim do mundo ou da civilização, de uma forma ou de outra, quando a data se aproxima as discussões aumentam. Foi assim com o ano 500, com o ano 1.000, e muitas outras datas, inclusive a recente virada do milênio.
Até agora, nada aconteceu, a não ser as transformações e evoluções esperadas nas civilizações e culturas do planeta. O que nos resta é esperar mais dois anos e ver o que acontece.