Artigos

Mundos de Heróis e Feiticeiros

Livros/Matérias

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/01/2007
fonte
Os livros de espada e feitiçaria estão entre os mais vendidos no mundo hoje em dia. Conheça alguns dos escritores que tornaram isso possível e que estabeleceram as regras básicas do gênero e abriram caminho para milhares de autores.

Mundos de Heróis e Feiticeiros



Os livros de espada e feitiçaria estão entre os mais vendidos no mundo hoje em dia. Conheça alguns dos escritores que tornaram isso possível e que estabeleceram as regras básicas do gênero e abriram caminho para milhares de autores.

O termo "espada e feitiçaria" (sword and sorcery) foi criado pelo escritor Fritz Leiber (1910-1992), no início dos anos 1960, ainda que o tipo de histórias que ele descrevia – e escrevia – já existissem há algum tempo.

Robert E. Howard, em foto de 1934.

O "pai" de tudo, se é que se pode falar assim, foi Robert E. Howard (1906-1936), com suas histórias de Conan, O Bárbaro, escritas a partir dos anos 1930. As aventuras de Conan influenciaram dezenas ou centenas de escritores, e iniciaram um gênero cultuado ainda hoje, expandindo-se para os chamados RPG e jogos para computador.
É costume se dizer que o gênero não foi influenciado por J.R.R. Tolkien (1892-1973) e sua principal criação, O Senhor dos Anéis, mesmo porque o livro de Tolkien surgiu anos depois dos textos de Howard. Alguns pesquisadores entendem que o tipo de histórias de Tolkien se enquadram melhor na chamada "fantasia heróica". No entanto, é preciso reconhecer que as duas tendências são afins, e poucas são as diferenças entre elas. Mais que isso, hoje em dia as influências se misturaram de tal forma que se torna quase impossível definir qual é a principal fonte de influência.

John Clute e John Grant, autores de The Encyclopedia of Fantasy, contam que, em 1961, Michael Moorcock – editor, escritor de ficção científica e fantasia, criador da série com o personagem Elric – procurava um termo para definir o subgênero da fantasia em que surgiam heróis musculosos que entravam em conflito com vilões de vários tipos, feiticeiros, bruxas, espíritos malignos e outras criaturas com poderes sobrenaturais. Foi então que Leiber sugeriu "espada e feitiçaria", termo que pegou.
Os autores também entendem que a distinção entre "espada e feitiçaria" e "fantasia heróica" é sutil, se é que existe de fato. Mas diferente de outros pesquisadores, eles citam o verdadeiro "pai" do gênero como sendo Alexandre Dumas, pai (1802-1870), que foi uma influência para o próprio Robert E. Howard. Também são citados como influências de Howard as histórias de Tarzan escritas por Edgar Rice Burroughs (1875-1950), e ainda as novelas sobre raças perdidas, de H. Rider Haggard (1856-1925), como Ela (She, 1886).
Howard morreu muito jovem, mas uma série de escritores seguiram pelo caminho que ele abriu, como foi o caso da escritora Catherine L. Moore, com as histórias da heroína Jirel of Joiry. O mais conhecido dos seguidores imediatos na linha E&F foi o próprio Fritz Leiber. Ele elaborou uma série de histórias com muito humor, seguindo as aventuras do bárbaro Fafhrd e do ladrão Gray Mouser. Ele começou a escrever no final dos anos 1930, mas o primeiro livro reunindo as histórias, Two Sought Adventure (posteriormente expandido e publicado como Swords Against Death), só surgiu em 1957.

Como dito anteriormente, o inglês Michael Moorcock, também conhecido por suas histórias de ficção científica, enveredou pela E&F com imenso sucesso ao criar o guerreiro albino Elric de Melniboné, surgindo na revista Science Fantasy em 1961. As aventuras de Elric foram reunidas em livros como The Stealer of Souls (1963) e A Espada Diabólica (Stormbringer, 1965), entre outros. Elric é um herói com problemas de saúde que recebe energia e poder de sua espada Stormbringer, que drena a força vital de suas vítimas, repassando-a para Elric. O interessante é que Moorcock, como um escritor com um sentido de ironia e crítica mordaz, apresenta Elric como um herói triste, atormentado e odiando sua arma – que, como objeto semissenciente, também não gosta muito de Elric –, ainda que eles sejam inseparáveis.

É provável que A Espada Diabólica tenha sido o primeiro livro da série publicado no Brasil; posteriormente, surgiram Elric de Melniboné (dois volumes, da Editora Generale/ Évora), Elric, Os Mares do Destino (Editora Saída de Emergência) e Elric (Ed. Globo). Moorcock não apenas foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da chamada new wave da ficção científica inglesa nos anos 1960 – quando foi editor da revista New Worlds –, mas também esteve envolvido com música. Foi cantor de blues e colaborador da banda inglesa Hawkwind, cujo álbum The Chronicle of the Black Sword foi baseado principalmente nas histórias de Elric. Ele também escreveu letras baseadas em Elric para a banda norte-americana Blue Öyster Cult, como a da música Black Blade, do sensacional álbum Cultosaurus Erectus, ou para Veteran of the Psychic War, que consta da trilha sonora do longa de animação Heavy Metal (1981).
Esse tipo de histórias só se tornaria comum no cinema a partir da década de 1980, e até lá os livros do gênero não foram tão numerosos. Os pesquisadores entendem que, com o crescimento da influência de Tolkien, a fantasia heróica passou a englobar a E&F, apesar de utilizar muitos elementos desta última.
Quando os estudiosos dizem, por exemplo, que a E&F não foi influenciada por Tolkien, também se referem à própria origem das histórias, ou seja, a revistas conhecidas como pulp, fabricadas com papel barato e apresentando histórias de aventuras que, teoricamente, deveriam ser fácil e rapidamente consumidas, mas que no fim das contas originaram alguns dos subgêneros literários mais populares e duradouros e, por extensão, de algumas obras-primas da literatura do século 20 – ainda que a maior parte dos críticos literários sintam suas entranhas serem retorcidas quando ouvem esse tipo de afirmação; mas isso é probema deles.
Seja como for, a origem das histórias de Tolkien é outra, a mídia é outra, mas no fim ambos os subgêneros parecem ter seguido pelo mesmo caminho.

Alguns pesquisadores também costumam citar, entre os que deram início ao ciclo E&F, o estranhíssimo Clark Ashton Smith (1893-1961), amigo de H.P. Lovecraft e colaborador da revista Weird Tales, assim como Robert E. Howard. Chegou a escrever várias histórias incorporadas aos chamados Mitos de Cthulhu, criados por Lovecraft, e histórias situadas na Hiperbórea. Tambem elaborou a série ou ciclo Zothique, que se insere num subgênero chamado dying Earth (ver quadro), com histórias situadas num futuro tão remoto que o Sol e talvez o próprio universo estão morrendo.
Segundo Ashton Smith disse numa carta ao escritor L. Sprague De Camp, em 1953, a série foi vagamente baseada nas teorias da Teosofia sobre continentes do passado e futuro. Zothique é o último continente habitado do planeta; os demais já afundaram, reapareceram e afundaram novamente. Assim, Zothique engloba a Ásia Menor, Arábia, Pérsia, Índia, talvez partes do norte da África e a Indonésia. A oeste, existem apenas algumas ilhas, como Naat. na qual vivem os canibais. Os sobreviventes do continente são principalmente de origem ariana ou semítica, mas existe um reino negro a noroeste, Ilcar. A ciência e as máquinas de nossa época há muito foram esquecidas, assim como as religiões. O que sobreviveu e se desenvolveu foram os cultos a muitos deuses, e a feitiçaria e cultos ao demônio prevalecem. A primeira história do ciclo foi The Empire of the Necromancers (1932).
A personagem Jirel of Joiry, de Catherine L. Moore, também surgiu na Weird Tales, em 1934, e foi a primeira heroína do gênero. Ela também desenvolveu uma série com o personagem Northwest Smith, de grande sucesso. Uma das histórias foi escrita em parceria com Henry Kuttner (1914-1958), com quem ela se casaria e que também escreveu, no gênero E&F, a série Elak of Atlantis – com os títulos Thunder in Dawn (1938), Spawn of Dagon (1938), Beyond the Phoenix (1938) e Dragon Moon (1941). Kuttner também foi um conhecido escritor de ficção científica e se correspondeu com Lovecraft, como tantos outros autores. Mais tarde, Catherine Moore chegou a escrever roteiros para a série Maverick, na TV.

Peter Nicholls, editor de The Science Fiction Encyclopedia, entre outros trabalhos importantes, lembra que a E&F teve uma queda acentuada nos anos 1950, e provavelmente a popularidade que alcançou e que permanece até hoje se deve em grande parte às atividades da chamada Hyborian League e à publicação em formato de livro das histórias de Howard, Moore e outros escritores do gênero.
A Hyborian League foi fundada em 1956 por fãs do trabalho de Howard. Vários escritores profissionais faziam parte do grupo, que editava um fanzine chamado Amra (um dos nomes pelos quais Conan era conhecido). Um dos fãs e escritor era Fritz Leiber, e a revista foi editada por George R. Heap, até 1959, e depois por George Scithers (até 1985), que também trouxe de volta a Weird Tales, em 1986. Ele, assim como L. Sprague de Camp, foi responsável pela publicação de histórias de Conan, pela Gnome Press.
Apesar dessa queda nos anos 1950, alguns autores se destacaram, como o próprio Leiber e Jack Vance, outro que teve longa carreira também na ficção científica. Vance elaborou a série Dying Earth, iniciando com a publicação de A Agonia da Terra (The Dying Earth), ainda em 1950, reunindo histórias conectadas.
No entanto, outro ingrediente entrava em cena para despertar, e muito, o interesse do público e dos editores no gênero. O Senhor dos Anéis, de Tolkien, tornou-se um grande sucesso nos anos 1960, apesar de ter sido escrito entre 1954 e 1955. Também fez sucesso O Único e Eterno Rei (The Once and Future King, 1958), de T.H. White, que reescreve a história do jovem Arthur, que se tornaria o rei lendário e idealizador da Távola Redonda.
Mas não há dúvida de que Tolkien foi a influência que remodelou o gênero. Peter Nicholls diz que não há a menor possibilidade de que Howard e Tolkien tenham influenciado um ao outro, mas juntos representam as influências mais fortes e definitivas no gênero. Em comum, têm a elaboração de mundos e sociedades em que a magia existe, e em que os heróis lutam contra forças do mal, ainda que a elaboração dos heróis de ambos seja completamente diferente.

Alguns estudiosos dizem que apesar de não existir qualquer diferença básica entre a Espada & Feitiçaria e a Fantasia Heróica, talvez possamos entender que a palavra "heroica" pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja, que pode se aplicar não apenas a um personagem específico, mas a toda a criação, incluindo todos os personagens e o próprio mundo inventado pelo autor – e aí entramos naquilo que o próprio Tolkien definiu como sendo um "mundo secundário". Chega-se a dizer que o mundo em si se torna mais importante para o escritor e para os leitores do que o herói propriamente dito.
Não seria por acaso que os livros de Tolkien e de quase todos os que vieram depois dele trazem mapas e, muitas vezes, glossários, dicionários e inúmeros outros apêndices explicando o mundo que foi elaborado.
O escritor e pesquisador David Pringle diz que, geralmente, aquele que é considerado o antecessor desse tipo de história é William Morris (1834-1896), com seu livro The Well at the World's End (1896), uma fantasia situada num passado medieval imaginário em que um cavaleiro vai em busca de um poço mágico. O livro não foi muito popular na época da publicação, mas foi influência para vários escritores, entre eles o próprio Tolkien.
Pringle também ressalta o imenso sucesso de Tolkien nos anos 1960, especialmente depois que o livro foi publicado nos Estados Unidos, em 1965, tornando-se um dos maiores best-sellers do século 20. No entanto, ele diz, o ano de 1977 foi fundamental para o desenvolvimento posterior do gênero. Primeiro, porque foi publicado O Silmarillion, que vinha sendo aguardado há muito, mas também porque surgiram dois escritores norte-americanos até então desconhecidos: Terry Brooks e Stephen R. Donaldson. Seus livros, respectivamente The Sword of Shannara e The Chronicles of Thomas Covenant, the Unbeliever, tinham mais de 700 páginas (mais de mil, no caso de Donaldson), e certamente não teriam sido publicados não fosse o sucesso de Tolkien.
Os críticos discordam com relação à qualidade dos trabalhos – uns entendendo que a obra de Brooks é quase uma imitação de Tolkien, e a de Donaldson mais original –, mas o fato é que as vendas foram sensacionais, e abriram o caminho para os escritores que vieram posteriormente. E não foram poucos. Alguns com imensa qualidade e originalidade, outros apenas repetindo os clichês do gênero, muitas vezes com ideias e cenários tirados diretamente das histórias de Tolkien.
Infelizmente, essas obras não foram publicadas por aqui, ainda que alguns livros de Brooks possam ser encontrados, em particular a trilogia A Viagem, composta pelos livros Ilse, A Bruxa, Antrax, A Criatura e Morgawr, O Bruxo (Ed. Bertrand Brasil).

Os Dragões
Parece que as histórias de fantasia resgataram a imagem dos dragões, que talvez sejam os seres lendários e mitológicos mais conhecidos do planeta. As histórias populares sobre dragões de várias espécies são encontradas em todo o planeta, da China à Europa.
A imagem que ficou no imaginário ocidental foi aquela elaborada na Idade Média europeia, com o dragão quase sempre sendo apresentado como um inimigo a ser vencido.
Nas histórias modernas, no entanto, o dragão ganha proeminência, sabedoria, torna-se companheiro dos que lutam pelo bem, ainda que existam exceções. É comum que os dragões sejam apresentados como os seres mais antigos do mundo em que está ocorrendo a ação, e também que sejam apresentados como carregados de magia, com uma linguagem articulada ou mental com a qual se comunicam com seus pares, como no recente Eragon, de Christopher Paolini – ainda que a ideia do contato mental tenha sido obtida da série de ficção científica escrita por Anne McCaffrey e situada no planeta Pern.

Robert E. Howard e Conan
O texano Robert E. Howard teve sua primeira publicação profissional em 1925, na revista Weird Tales, com o conto Spear and Fangs. Mas foi com as histórias de Conan que ele se tornou conhecido. Na Weird Tales, surgiram 17 histórias da série, entre 1932 e 36; outras quatro foram publicadas em outras revistas após sua morte. A primeira foi The Phoenix on the Sword.
As revisões e adições à sua obra feitas posteriormente ainda costumam provocar reações diversas, uns entendendo que pioraram a qualidade, outros achando que foi uma medida necessária, como foi necessária a publicação de suas histórias em 1954, pela Gnome Press, para que sua obra não fosse esquecida e se tornasse uma das principais referências de um gênero que ainda estava se estabelecendo no mercado.
Os responsáveis pelas adições foram os escritores L. Sprague de Camp, Lin Carter e, segundo algumas fontes, Bjorn Nyberg. Segundo o editor Malcolm John Edwards, existem quatro edições diferentes dos livros com as histórias de Conan. Na primeira, da Gnome Press, a série, na ordem cronológica, consistia em The Coming of Conan, Conan the Barbarian, The Sword of Conan, King Conan e Conan the Conqueror. De Camp e Nyberg adicionaram à série uma sequência pastiche, The Return of Conan, e uma série de histórias sem o personagem Conan que foram reescritas para incluí-lo.
Essas séries foram reorganizadas em 12 volumes, nos anos 1960 e 70; incluía todas as histórias já citadas e outras escritas por vários escritores, inclusive três volumes escritos inteiramente por De Camp e Lin Carter. São eles: Conan, Conan of Cimmeria, Conan the Freebooter, Conan the Wanderer, Conan the Adventurer, Conan the Buccaneer, Conan the Warrior, Conan the Usurper, Conan the Conqueror, Conan the Avenger, Conan of Aquilonia e Conan of the Isles.
A terceira impressão da série foi publicada por Donald M. Grant, edição de luxo contendo apenas histórias de Howard: The People of the Black Circle, A Witch Shall Be Born, Tower of the Elephant, Red Nails, Rogues in the House e The Devil in Iron.
A quarta série seguiu os textos originais da Weird Tales. Essas edições foram publicadas até o final dos anos 1970 e, depois disso, outras edições surgiram no mercado.
No Brasil, recentemente a Conrad publicou dois volumes, Conan o Cimério, reunindo várias histórias, inclusive as primeiras publicadas na Weird Tales.

J.R.R. Tolkien e O Senhor dos Anéis

Hoje em dia, a publicação de livros na linha de fantasia inspirada por O Senhor dos Anéis representa, segundo muitos editores, uma das principais frações do mercado editorial norte-americano e europeu, e também conquistou um espaço considerável no Brasil.
Mas é claro que o valor maior da obra de J.R.R. Tolkien não reside na expansão do mercado, por mais que isso possa agradar editores, escritores e leitores do gênero. O que Tolkien trouxe para o gênero foi um apuro com personagens, ambientações e detalhes específicos como a linguagem e genealogias que, até então, jamais tinha sido visto.
Nascido na África do Sul, mas residindo na Inglaterra desde 1895, Tolkien era um conceituado professor de anglo-saxão na Universidade de Oxford, e seu conhecimento, estudo e pesquisas extensas sobre filologia – o estudo de antigas sociedades e civilizações, especialmente a partir da língua escrita e literária –, credenciaram-no a elaborar a mais complexa e bem sucedida obra do gênero.
Os críticos John Clute e John Grant definem a busca da coerência interna do mundo criado pelo escritor como um fator decisivo para a ficção de fantasia que foi elaborada posteriormente. No ensaio On Fairy Tales (1939), Tolkien apresenta o termo "mundo secundário", definindo-o como um mundo autônomo, sem ligação com a realidade de nosso mundo, o qual é impossível de existir, de acordo com o senso comum, mas que possui coerência interna. As regras que definem a realidade nesse mundo são definidas ao longo da história, pela própria história.
Até então, os escritores do gênero utilizavam fórmulas para justificar a presença dos personagens ou do personagem central num determinado mundo, apresentando esses mundos como "contos de viagem", sonhos ou os chamados beast fables, as fábulas em que os animais podem falar.
A influência de Tolkien na fantasia atual – e até mesmo na literatura de terror: Stephen King é um fã confesso –, é quase absoluta. Muitos autores utilizam a base da Terra Média criada por ele para elaborar suas histórias, e nem sempre isso representa uma "cópia descarada" de Tolkien, mas apenas o reconhecimento da força, coerência e consistência do universo imaginado pelo autor.

Fritz Leiber, Fafhrd e Gray Mouser
Infelizmente, os personagens de Fritz Leiber não são tão conhecidos no Brasil. Ao que se sabe, eles surgiram por aqui em apenas duas histórias, nas coletâneas A Nave das Sombras e Encantamentos.
A primeira aparição da dupla foi na revista Unknown, em 1939, com o conto Two Sought Adventure, e Leiber continou a escrever e publicar histórias da dupla até 1988.
Do pouco que se pode ler em português, o humor ferino chama a atenção. As histórias situam-se no mundo (secundário) de Nehwon (que alguns vêem como um anagrama de "no when"), e especialmente em torno da cidade de Lankhmar.

As Histórias do Final dos Tempos
Às vezes relacionadas com a fantasia do gênero espada e feitiçaria, outras vezes mais próximas da ficção científica, as histórias do gênero dying earth também se tornaram muito comuns nos gêneros.
Clark Ashton Smith praticamente definiu o que seria o subgênero com seu Zothique, mas os estudiosos citam antecessores, escritores que situaram suas histórias num período em que o mundo, o sistema solar ou o próprio universo estavam chegando ao seu fim.

Um desses antecessores citados é William Hope Hodgson, com seu livro A Casa Sobre o Abismo (The House on the Borderland, 1908. Newton Compton Brasil), no qual um personagem vê o tempo avançando velozmente e levando o universo em direção ao seu fim. Hodgson é tido entre os precursores da ficção científica e influenciador do trabalho de H.P. Lovecraft. Em 1912, Hodgson voltaria ao tema de forma mais específica em The Night Land, descrevendo a Terra milhões de anos no futuro, quando o Sol está morrendo.
Inúmeros escritores desenvolveram histórias sensacionais nessa linha, como a conhecida série de Jack Vance, e a espetacular série de Gene Wolfe, O Livro do Novo Sol, composto por A Sombra do Torturador, A Garra do Conciliador, A Espada do Lictor, A Cidadela do Autarca e Urth do Novo Sol. Infelizmente, os livros só foram publicados em português pela editora portuguesa Europa-América, e são difíceis de se encontrar.


Linha do Tempo

1923
Criação da revista Weird Tales, onde o gênero "espada e feitiçaria" surgiu e se desenvolveu.

1932
A revista Weird Tales publica a primeira história de Conan, O Bárbaro, escrita por Robert E. Howard.
1932
Clark Ashton Smith escreve The Empire of the Necromancers, a primeira história no gênero dying Earth.

1934
Catherine L. Moore escreve The Black God's Kiss, a primeira história a figurar uma heroína, a personagem Jirel of Joiry.

1937
Tolkien escreve O Hobbit.

1939
Primeira aventura da dupla Fafhrd e Gray Mouser, criada por Fritz Leiber, no conto Two Sought Adventure, publicada na revista Unknown.

1950
Jack Vance começa a publicar sua série de livros no gênero dying Earth, com A Agonia da Terra (The Dying Earth).

1954
Publicação de A Espada Quebrada, de Poul Anderson.

1954/55
Tolkien escreve O Senhor dos Anéis.

1956
Fundada a Hyborian League, reunião de vários escritores – entre eles, Fritz Leiber –, com o objetivo de preservar e divulgar o trabalho de Robert E. Howard.

1958
Publicado O Único e Eterno Rei, de T.H. White.

1961
A pedido de Michael Moorcock, o escritor Fritz Leiber sugere o termo "espada e feitiçaria" para definir o gênero.
1961
Michael Moorcock publica as primeiras histórias de Elric de Melniboné, na revista Science Fantasy.

1970
Conan, O Bárbaro surge em HQ pela primeira vez, com desenhos de Barry Windsor-Smith e escrita por Roy Thomas.

1973
Criação do RPG Dungeons & Dragons, que modificaria o rumo dos games para sempre.

1977
Publicação de O Silmarillion, de Tolkien.
1977
A publicação de dois best-sellers que mudam o mercado editorial voltado para a fantasia: The Sword of Shannara, de Terry Brooks; e The Chronicles of Thomas Covenant, de Stephen R. Donaldson.

1981
Conan, O Bárbaro chega ao cinema, com Arnold Schwarzenegger.

1982
Publicação de As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley.

1982/89
Surgimento de vários autores de sucesso no gênero: David Eddings, Raymond E. Feist, Guy Gavriel Kay (A Árvore do Verão/ The Summer Tree. Edição portuguesa), Margaret Weis e Tracy Hickman (Crônicas de Dragonlance, Dragonlance Chronicles), Janny Wurts, Katharine Kerr, Melanie Rawn, Tad Williams.

2001/2003
A trilogia O Senhor dos Anéis é filmada por Peter Jackson.