Livros

Vathek, O Califa Maldito (Vathek, Conte Arabe) – 1788, William Beckford. Ed. Civilização Brasileira (1971), 139 páginas.

Também publicado pela L&PM (2007). Vathek é geralmente considerado um dos livros básicos para a formação e desenvolvimento da literatura de horror, juntamente com O Castelo de Otranto, e também relacionado na lista das obras “góticas” que surgiram na época. Apesar disso, o estilo segue numa direção um tanto distante do Castelo, uma vez que é inspirado pela forma narrativa dos contos árabes, representados de forma maior pela histórias das Mil e Uma Noites. Por outro lado, é um livro mais bem estruturado, melhor escrito e com tema e enredo muito mais interessantes que a obra de Horace Walpole, dando um passo à frente na elaboração da literatura de horror. Narra a história do califa Vathek, vivendo em opulência em sua cidade de Samara, mas que almeja riquezas e conhecimentos muito maiores do que os prazeres e riquezas que o mundo real pode lhe proporcionar. Para atingir seus objetivos, então, afasta-se da religião de seus ancestrais, renega o Profeta Maomé e Alá, e inicia uma ligação com o Giaour, um dos enviados de Eblis, o demônio dos árabes, iniciando uma série de ações nefastas para poder chegar ao trono de Suleiman, nas profundezas do reino do demônio. É ajudado por sua mãe, Carathis, conhecedora da magia negra, que o incita a buscar as riquezas que o estariam aguardando no reino subterrâneo, e leva consigo a linda filha de um Emir que encontra pelo caminho, e que também pretende obter as riquezas. Claro que o desfecho mostra que o reino do mal não é nada daquilo que o califa esperava, e ele encontra no reino de Eblis uma multidão de pessoas que vagam sem rumo, sem se reconhecerem, e eternamente com a mão apertando o coração que arde em chamas, uma vez que lhes foi tirada a maior das dádivas, que é a esperança. Vathek, sua mãe e sua amada também sofrem o mesmo destino, condenados ao sofrimento eterno. Uma história deliciosa, guardando muito da fantasia original dos contos árabes, ainda que os momentos de terror estejam longe de representar o que o gênero ainda iria elaborar nos anos futuros. Uma referência obrigatória.